Capítulo 32 - O Sótão Esquecido.
Fuutaro me chamou para o prédio escolar. Segundo ele, a líder do conselho me chamou para ajudar.
Estou curioso para saber quem é essa líder do conselho. Ela me conhece e quer minha ajuda. Possivelmente é a Itsuki.
Cheguei no prédio escolar e Fuutaro estava no primeiro piso conversando com uma menina.
Ainda não tinha encontrado com ela, nem a tinha visto em outro lugar.
Sua altura era maior que a do Fuutaro, seus cabelos castanhos estavam amarrados em estilo de rabo de cavalo. Será ela a líder do conselho?
— Eita, você já chegou? Está ansioso mesmo, hein, Yuki! — disse Fuutaro.
Não tinha por que demorar para vir, no meu quarto não há muita coisa para fazer.
— Sim, hehe. Quero resolver logo isso, estou ficando muito preocupado já.
— Esse gosta de trabalhar mesmo, hein, haha. — comentou a menina.
Olhei para ela e percebi o quão mal-educado fui. Nem sequer a cumprimentei.
— Ah, me desculpa pela má educação, hehe. Tudo bem, moça?
— Ele é viciado em trabalho, por isso está aqui, doido para botar a mão na massa.
— Estou vendo essa vontade mesmo, hehe…
No meio da frase da menina, ouvimos gritos vindos de longe. Várias garotas corriam e gritavam, todas com roupas combinando.
— Meninas, vocês demoraram muito! Têm noção do quanto tempo fiquei parada aqui??? — gritou a menina, cruzando os braços e batendo o pé firme no chão.
— O que está acontecendo aqui, Fuutaro? — cochichei baixo.
Fuutaro estava perplexo, mas virou lentamente para me responder com cara de paisagem.
— Elas são da equipe de queimada do nono ano, a quarta melhor equipe da escola.
— Que demais! Deve ser legal jogar queimada. Mas por que elas estão aqui?
Fuutaro me pegou pelo braço e me puxou para longe, com o rosto vermelho.
— Vamos logo, vamos!
— Espera… por que está agindo assim? Ei, Fuutaro??
Ele agiu completamente diferente do normal depois que aquele grupo de meninas apareceu. O que isso significa? Será que ele tem briga com elas?
Ele me levou até um elevador, e apertou o botão do último andar.
Olhei para a expressão do Fuutaro que demonstrava estar com vergonha, suas bochechas vermelhas e sua respiração acelerada indicava que não estava normal.
— Você está bem amigo? — perguntei, preocupado, enquanto tocava seu ombro tenso.
— Uhum… — murmurou, acenando com a cabeça.
Não demorou muito e chegamos no nosso destino. Nesse andar não consegui ver a escada que tem no primeiro andar, isso significa que para chegar aqui só usando o elevador.
Fuutaro começou a andar na frente rente ao final do andar, a qual dava para ver uma porta no fim do corredor, ela era dupla, marrom, com detalhes vermelhos em forma de laços nas laterais.
— Que lugar é esse? — indaguei, olhando ao redor.
Nesse andar havia apenas essa porta, bem no fim. O resto era só corredor cheio de quadros, parecendo algo saído de Barry Potter nos corredores de HogWatts.
— Ignora tudo isso. O conselho estudantil é muito fresco. E aquela porta ali é onde fica a sala de reunião deles.
— Entendi. É aqui que vamos olhar os papéis então, né?
— Isso mesmo. Vamos lá.
Fuutaro bateu três vezes forte e longo na porta e, logo depois, duas vezes fraco.
— Código Morse? — indaguei.
— Sim. Conhece código Morse?
— Sim sim, li no livro de codificações da minha mãe. Mas… por que disse “OI” em código Morse?
— Para isso…
De repente, a porta a nossa frente abriu lentamente em silêncio. Uma pessoa surgiu dessa porta sombria, era nada menos que Sasori.
— Entrem. — disse ele em uma voz baixa e rápida.
Entramos, e logo em seguida ele fechou a porta em um ritmo acelerado porém relaxado.
Entendi o código Morse: era para identificar se quem estava batendo era a pessoa esperada.
— Venham comigo. Estamos esperando vocês para começar a abrir os papéis.
— Por que desse segredo todo? — indaguei, olhando para o Fuutaro.
— Os professores não podem saber que estamos fazendo isso, entendeu? — disse Sasori, olhando de canto para trás.
Não havia corredores nesse lugar, apenas espaços abertos com alguns cômodos à vista e outros com portas fechadas. Era enorme.
Sasori nos levou até uma sala onde havia uma enorme televisão e três sofás diante dela, além de várias crianças sentadas e conversando.
— Pronto, estamos todos aqui, chamem a líder do conselho para começar. — gritou Sasori.
Todos pararam o que estavam fazendo e olharam para a gente. Apenas uma menina levantou do sofá e correu até uma porta à direita.
— Vamos esperar aqui. — disse Sasori, com um tom serio.
Senti um leve desconforto vendo todos olhando para nós com uma expressão diferente.
Fui andando até uma mesa encostada na parede esquerda, onde havia três cadeiras, duas já ocupadas.
Sentei-me para descansar, mas uma menina na cadeira à frente começou a me encarar, sem motivo nenhum.
— Hammm… — murmurei.
Tentei perguntar algo, mas nada saiu. O desconforto daquela cena me deixou sem palavras.
Ajeitei o cabelo, que caía sobre meu olho direito, e me levantei.
Menina esquisita… aqueles olhos enormes me deixavam desconfortável, parecia que estava devorando minha alma com eles.
— O que foi, Yuki? — perguntou Fuutaro.
— Nada não.
Assim que respondi, uma menina apareceu na porta à direita, a mesma por onde a outra tinha corrido.
Essa porta ficava na mesma parede da televisão, então todos viram as duas entrarem.
E a segunda menina… seria a líder do conselho?
— Olá, meus queridos! Estão todos bem?
A líder do conselho surgiu com um enorme sorriso, acenando com a mão direita.
Mas aquele sorriso era forçado, estava na cara que ela não gostava de sorrir.
E o problema não era só esse…
Ao ver seu rosto, fiquei perplexo, em choque e arrepiado.
Meu coração acelerou de repente. Nem piscar eu conseguia.
— Que foi, Yuki? — perguntou Fuutaro, encostando no meu ombro.
— Essa… é a líder do conselho? — indaguei, apontando.
— Sim, ela mesma. Conhece a Abe Hideki?
— Infelizmente… sim.
Agora entendi por que ela me chamou e como me conhecia.
Estávamos na sala principal. Uma mesa enorme no centro, várias cadeiras ocupadas. Sentei-me de pé mesmo, já que não havia mais lugar.
— Vamos começar! Em relação ao projeto da Emi sobre melhorar a segurança das piscinas grandes, está evoluindo lentamente, mas acredito que será aprovado pelo sindicato.
— Quanto tempo acha que vai precisar? — indagou um menino na ponta do sofá.
Eu não prestava atenção no assunto. Só conseguia pensar no motivo de Abe ter me chamado. Ela aceitou essa “brincadeira” dos meninos, mas tenho certeza que está tramando algo em cima disso.
— O grupo de artes, quero que apresentem logo a coleção para o diretor. Ele está ficando sem paciência, entenderam? — gritou Abe.
— Sim…
Um coro respondeu ao mesmo tempo.
— Agora, Fuutaro, Sasori e Yuki! Vocês ficam. O resto pode ir.
Todos saíram, nos deixando sozinhos.
— Bom, em relação aos papéis que recolhi de todas as salas, estão no sótão. Mas como Fuutaro e Sasori têm aula daqui a pouco, Yuki pode começar a separar tudo, e amanhã vocês terminam. Entenderam?
— Acho melhor todos fazermos isso amanhã. Deixar ele sozinho não é uma boa ideia, Abe.
— Cala a boca, quatro-olhos! Vocês queriam fazer essa brincadeira inútil e eu aceitei. Agora façam o que estou mandando! — disse Abe, fechando a cara.
— Você está abusando demais disso, Abe! Cuidado para não se perder. — comentou Sasori, franzindo a testa.
— Tudo bem, gente, eu faço isso de boas. Vai ser até rápido.
— O problema não é esse, Yuki. O problema é você ficar sozinho. Esqueceu da regra da escola? Não andar nos arredores do prédio fora da aula sem autorização.
— Ah, essa regra? Bom, eu não estudo aqui ainda, então não estou fora da aula, certo? — comentei, dando um sorriso de canto.
— Larga disso, Fuutaro. Estou dando autorização a ele, então não vai dar nada errado. — disse Abe, passando a mão no cabelo do Fuutaro.
Ele ficou vermelho de raiva e tirou a mão dela rapidamente.
— Tira a mão…
— Haha… enfim. Se entenderam, então somem daqui agora!
Abe saiu me encarando fundo, com um sorriso maligno no rosto. Arrepiei todinho.
Com certeza ela está tramando algo.
Nós três saímos e fomos direto para o elevador.
No caminho, conversei com Fuutaro:
— Como você conhece ela, Yuki?
— Bom, longa história, mas não importante. O que me deixa preocupado agora é se der algo ruim enquanto eu estiver lá.
— Pois é. Essa menina é uma cobra. Você tem que tomar bastante cuidado. Fica atento aos ouvidos. Se escutar passos, mete o pé. Entendeu?
— Por que estão assim? Ela disse que está tudo bem e que autorizou ele. Qual o problema agora? — perguntou Sasori.
— Sim, mas ela é muito perturbada. Tem rumores de que modifica a nota de algumas meninas que não vão com a cara dela. É bizarra essa garota.
— Mas ela consegue modificar nota? Ela tem esse poder?? — indaguei, arregalando os olhos.
Entramos no elevador e Sasori apertou o botão do penúltimo andar.
— Ela não tem esse poder. É apenas líder do conselho. Mas, se existe esse rumor, pode ser que consiga fazer alguma coisa.
— Por que estamos indo para o penúltimo andar?
— Porque, para ir ao sótão, precisa subir a escada que só tem no penúltimo.
— Hmm, entendi…
Eu já sabia que essa tal Abe era perturbada. Agora, saber que meus amigos também sabem disso me deixa aliviado. Posso contar a eles o que aconteceu antes.
Seguimos o caminho até o sótão, passando pelo penúltimo andar e subindo a escada que levava até ele — a mesma escada belíssima que compõe o prédio desde o primeiro andar.
Assim que chegamos ao destino, Fuutaro me instruiu e mostrou onde estavam todos os papéis escritos. Logo em seguida, eles me desejaram boa sorte e cuidado, partindo rumo à saída.
Aqui estou eu, sozinho no sótão desse prédio escolar. Não era assustador, nem sombrio. Estava bem cuidado, limpo, iluminado e cheio de vida.
Sem janelas, sem quartos e sem portas, havia apenas a da entrada: uma porta única e de madeira velha, diferente das outras do prédio.
Pelo que ouvi falar, esse sótão antes era a sala do diretor, mas após mudanças, ele se transferiu para o primeiro andar, deixando este sem utilidade.
O piso era liso, feito de madeira de pinheiros. As paredes, brancas como quartzo, tinham laços entrelaçados de aparência dourada desenhados de cima a baixo, em intervalos regulares.
Não havia mobília alguma, apenas luzes.
Mesmo sem ninguém, parecia que alguém ainda se importava com esse lugar, pelo quão limpo estava.
Ao andar mais um pouco, afastado da porta de entrada, vi no canto esquerdo uma estante que me chamou bastante atenção.
Meu ânimo subiu, e senti uma felicidade pulsando em meus olhos brilhosos.
— Uma estante de livros!!! — disse em tom baixo, mas agudo, transbordando de alegria.
Havia poucos livros, mas eram bem limpos e grossos, todos numerados. Pelo que parecia, eram do mesmo assunto.
Resolvi pegar o primeiro volume que estava embaixo da estante: um livro volumoso de capa branca. Nela, havia o semblante da escola, mas de uma forma diferente, parecia bem antigo.
O nome do primeiro volume era:
— ONI: Origem das Partículas Demoníacas.
Esse livro deve contar a origem dessas partículas que correm em meu corpo. Se for realmente antigo, então deve trazer fatos verdadeiros da época em que descobriram as partículas ONI.
Eu preciso ler esse livro!
Talvez posso descobrir o motivo de eu conseguir sonhar mesmo tendo olhos cinzas.
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