Capítulo 34 - Entregue o Envelope.
No dia seguinte, o senhor Okawara realmente foi até meu dormitório me pegar.
Fiquei surpreso com isso, ele tinha me dito antes que não iria me buscar nunca mais.
— Aula de hoje está finalizada. Espero que tenha entendido como aplicar as fórmulas da maneira correta! — disse Okawara, desligando a televisão.
Hoje aprendi algumas coisas sobre matemática, nada que eu já não tivesse aprendido com minha mãe.
Por conta disso, acabei nem prestando atenção nas aulas, mas sim no que poderia estar no livro que peguei do sótão.
Mal vejo a hora de chegar no meu quarto para ler.
— Estou indo embora então, professor Okawara. Obrigado pela aula de hoje! — disse, enquanto devolvia o tablet.
Ele pegou o dispositivo da minha mão, me encarando.
— Espere mais um pouco. Tenho uma coisa para lhe dizer.
— Ham? Tá bom… mas sobre o quê?
— Um assunto sensível.
Okawara, tirando o dia em que ele me levou até a caverna de uma cachoeira para rasgar a carta que eu iria entregar para a Emi, não costuma fazer drama e nem me chamar para conversar sobre algo importante. Agora eu fiquei bem curioso.
Depois daquele dia, escondi um pouco da raiva dentro de mim. A raiva por ele não ter respeitado a mensagem importante da carta. Mas, pela reação dele agora, tenho certeza de que tem algo muito sério por trás.
Segui seus passos, passando pelos corredores do prédio dos professores, que estavam sendo pintados com uma nova cor.
— Você está usando essas mesmas roupas desde ontem? Que desagradável. — comentou Okawara, olhando para meus vestimentos.
Isso é verdade, estou usando o mesmo uniforme desde ontem, mas por um motivo: é confortável!
As roupas que aquela mulher da CDA me deu são muito apertadas, e odeio me sentir assim.
— Eu sei, é que eu gosto dessa roupa. O preto com essas linhas vermelhas é incrível. — comentei, puxando a blusa para frente.
— E você gosta de preto, é moleque? — indagou Okawara.
— Na verdade, não sei. Gosto de várias cores, não tenho uma preferida.
Okawara, com seu jeito misterioso, olhou de recanto para mim e apenas seguiu em frente, sem dizer mais nenhuma palavra.
Não demorou muito para chegarmos em seu quarto.
A última vez que vim aqui não estava desse jeito. Antes era um lugar bem sombrio, agora estava mais colorido: as paredes tinham uma cor bege clara, enquanto o piso era marrom.
Fui até a mesa e me sentei na cadeira, virado para a televisão que estava no centro.
Okawara voltou da cozinha com uma garrafa de café e dois copos. Obviamente, um era para mim também.
— Enfim, você deve se lembrar do que aconteceu entre você e a Emi, certo? — indagou Okawara, colocando um pouco de café para mim.
Acenei com a cabeça. Com certeza lembro de tudo, impossível esquecer aquele dia assustador.
— Certo. Ela agora está proibida de chegar a menos de 2 metros de você. Nem conversar ou entregar algo, muito menos vender.
Tomei um gole do café, que inclusive estava muito quente, mas ótimo. Até queimei minha língua quando ele disse isso.
— Mas… só por causa daquilo? Isso é absurdo! Ela só não estava bem na hora.
— Sim, foi por causa daquilo. O que ela fez foi fora de controle e arriscado. Ela estava fora de si e poderia ter sido perigosa.
— Eu sei… eu até fiquei com medo também de algo acontecer. Mas como eu disse, ela ficou daquele jeito por causa de uma coisa. E eu preciso saber o motivo… envolve o diretor também. — disse, tomando um gole de café.
Okawara estava com uma expressão séria, mas depois do que eu disse, fechou ainda mais a cara. Dessa vez bem mais assustador.
— O que você quer dizer com isso? Envolvendo o diretor?
Desviei meu olhar para o lado, para não encarar os olhos perigosos do professor.
— É que… ela citou o diretor várias vezes. Então acho que, de alguma forma, aconteceu algo no passado entre eles. É só uma suposição. — disse, tomando mais um gole de café.
— Ela citou? Então, quando estava atirando para cima de você, ela dizia sobre o diretor? Exatamente o que ela disse sobre ele?
Ele se aproximou mais de mim, colocando ambos os braços sobre a mesa, se interessando mais no assunto.
Não sei se é uma boa ideia eu falar a verdade. Já que ele rasgou a carta na minha frente, ele está escondendo algo de mim, tenho certeza.
— Ela disse nada com nada. Apenas citou o nome diretor. Nem chegou a falar o nome completo na verdade.
— Entendi. E ela ficou daquele jeito por qual motivo mesmo? Não me recordo direito dos detalhes que ela me disse.
— Pior que eu também não, professor. Faz um tempinho já, então meio que esqueci.
Ele deu um suspiro profundo enquanto estava com os olhos fechados, contendo a raiva, pelo visto.
— Você entende que o ocorrido foi muito perturbador, certo? Coisas assim não acontecem aqui na escola.
— Sim, eu sei. É algo bem estranho. Fiquei com muito medo também, surreal.
Okawara me encarou por três segundos sem piscar, com uma cara de paisagem.
— Você não entendeu? Foi só você chegar na escola que isso aconteceu, fora outras coisas estranhas também. Estranho é isso, não acha?
Agora caiu a ficha. Ele está tentando dizer que é minha culpa tudo que está acontecendo de estranho. E obviamente ele sabe de tudo, já que me vigia pelo relógio.
— Acho que entendi. Mas… que coisas estranhas, além do caso da Emi, você está se referindo?
Ele arregalou os olhos por dois segundos e logo em seguida colocou mais café para si.
— Enfim, queria dizer outra coisa para você, a respeito de ontem, quando você estava no lugar restrito. Lembra?
Acenei com a cabeça.
— Certo. Como eu te disse, é um lugar restrito e quem entra nele é severamente punido, indo para o labirinto de água.
— Labirinto de água? Como assim?
— Bom, você deve saber o que é um labirinto. Só que esse nosso é diferente: as paredes são contornadas com água. O problema é que a água continua enchendo o labirinto.
Acabei cuspindo um pouco do café que estava na boca, pelo que Okawara mencionou.
— Isso significa que enquanto eu não achar a saída, o lugar vai encher até ficar completamente imerso??? — indaguei, com um tom grosso e preocupado.
Okawara assentiu.
— Mas… e se eu morrer afogado? Que tipo de punição é essa? Alguém já morreu nesse labirinto? — perguntei, colocando ambas as mãos na mesa enquanto me levantava da cadeira.
— Não, ninguém morreu. Você acha que não teria alguém para socorrer? Essa punição serve para te dar uma lição, não para te matar, maluco.
Dei um suspiro de alívio.
— Ah… que susto.
Me sentei novamente na cadeira, envergonhado com meu comportamento.
— Voltando ao que eu ia dizer: você não precisa se preocupar com essa punição. Dessa vez você escapou porque o diretor não ficou sabendo do que fez.
— Você não dedurou eu para ele?
— Não, nada! — disse Okawara, cruzando os braços.
— Ahhh, sabia que você gostava de mim hehe. Você é muito gente boa, professor.
Okawara ergueu a mão direita, fazendo um sinal de espera.
— Calma. Não fique assim eufórico. Até porque tive um motivo para ter feito isso. Quero que faça algo em troca para mim.
Não sabia que ele era interesseiro, mas isso pode ser bom para mim.
— Pode falar, o que você quer que eu faça?
Ele levantou da cadeira e seguiu até uma estante debaixo da televisão. Abriu a gaveta e retirou um envelope de dentro dela.
— Quero que você vá até a Fonte Angelical do Medo, que fica no extremo leste da praça central, e entregue esse envelope para a pessoa que estiver lá. Entendeu?
— Entendi. Mas por que essa fonte tem esse nome?
— Uma longa história. Vai aprender sobre isso depois. Não pense nisso agora. — disse Okawara, entregando o envelope preto. — Agora foque nisso. Você entendeu o que tem que ser feito?
— Acho que sim. Mas por que você mesmo não entrega? Por que eu?
— O motivo não te interessa, garoto. Só faça isso, se não quiser ir pro labirinto. Agora, se quiser ir, tudo bem. Me entregue o envelope aqui! — disse Okawara, tentando pegar o envelope da minha mão.
Esquivei rapidamente, me afastando dele.
— Não, não. Eu vou entregar para você sim.
— Não, agora é tarde demais. Vem cá e me entrega essa porcaria!
Okawara começou a correr atrás de mim e eu correndo dele, literalmente um pega-pega.
— Você não me pega, você não me pega! — disse, rindo enquanto corria com o envelope na mão.
Depois de um tempo com essa brincadeira, Okawara ficou com raiva do que estava fazendo, sentou no sofá como se nada estivesse acontecendo e me disse: — Faça o que bem entender, contudo que entregue amanhã para a pessoa certa.
Ele me recomendou que eu levasse alguém comigo depois. Acho que vou levar o Arushi, tem um tempinho que não vejo ele.
Porém, não posso esquecer do meu objetivo de agora: achar o culpado encapuzado que escreveu o bilhete do tesouro e que esteve me procurando no depósito antigo.
Vou primeiro até a Itsuki. Preciso saber como ela está.
— E o que é esse envelope? O que será que tem dentro dele? — comentei sozinho, encarando o envelope em minha mão.
Ele é bem leve, pelo visto tem pouco conteúdo dentro, como uma ou duas folhas.
Sé o professor quer que eu entregue, então ele não pode ser visto por alguém? Ou pela pessoa que eu vou entregar?
Meu Deus são tantas perguntas, acho melhor eu abrir e ver do que se trata.
Mas ao pensar nisso, uma voz baixa ecoou pela minha mente, — Nem pense em abrir esse envelope!! Se não já sabe as consequências!
Melhor deixar quieto, longe de ser uma boa ideia.
O medo também de ser uma armadilha é grande, e se o cara que for pegar o envelope for o homem de capuz?
Não, Okawara não iria fazer isso, mesmo desse jeito eu confio nele, e por qual razão agora ele faria uma trairagem dessas? Também não faz sentido.
Estou pensando muito, tenho que acalmar um pouco minha mente, caso o contrario vou me perder de novo.
Comecei a olhar e girar meu anel, para me tranquilizar, e foi efetivo depois de alguns segundos.
Segui o caminho até meu dormitório antes de ir até a Itsuki, passei no meu quarto e tomei um banho bem quente. Troquei de roupa, até porque estava com a mesma há dois dias seguidos.
Vesti uma roupa normal, colorida, diferente do uniforme preto com listras vermelhas.
A blusa azul com a estampa do Goku é incrível, e leve também. A calça era fresca, diferente do moletom da escola.
Comi um ramen instantâneo de galinha apimentado enquanto tentava resolver o cubo mágico — algo indecifrável para mim, impossível de resolver.
Nunca achei algo que testaria tanto meu raciocínio.
Sem êxito.
— Droga de cubo! Vou resolver isso antes de encontrar com a Emiko, pode ter certeza!! — gritei, encarando o cubo mágico como se estivesse debatendo com ele.
Coloquei o cubo no bolso, e agora sim, parti para encontrar a Itsuki.
Com tantas coisas na cabeça, nem pensei em como vou encontrar com ela, já que não sei qual é o seu quarto.
Mesmo sem saber, segui rente até o dormitório das meninas.
Pela minha sorte, no caminho encontrei o Fuutaro, sempre acompanhado do Sasori.
— Yukiii! — gritou Fuutaro.
— E aí, amigos! Como vocês estão? — indaguei, cumprimentando-os.
Fuutaro e Sasori dessa vez estavam usando blusas verdes combinando, com a mesma estampa de um sapo amarelo com uma katana. Estranhos esses dois.
— Estamos bem. Falo por mim e pelo Sasori. Ele não pode falar agora. — disse Fuutaro, apontando para a boca do Sasori.
— Por quê não? — perguntei, curioso.
— Ele está vendo quanto tempo fica sem dizer uma palavra sequer.
Sasori acenou com a cabeça.
— Wow, que legal isso! E você está há quanto tempo sem falar, Sasori?
Sasori ficou me encarando com um olhar sério.
— Brincadeira haha. Tô brincando, Sasori.
— Se ele falasse, eu juro que dava um murro nele haha. — disse Fuutaro, dando um murro no ombro de Sasori.
— Mas aqui, Fuutaro, me diga uma coisa, você sabe em qual quarto a Itsuki fica?
— Uai, por que eu deveria saber em qual quarto uma menina fica nos dormitórios das meninas? — disse Fuutaro, com um olhar suspeito.
Fiquei estático, nem sabia o que dizer.
Fuutaro me deu alguns fracos tapas na cabeça, rindo de mim.
— Tô brincando, amigo haha. Mas ela não fica no dormitório das meninas, eu acho. Já vi ela indo com a senhorita Ayumi para o prédio dos professores umas cinco vezes.
— Espera… então quer dizer que ela dorme no quarto da Ayumi?
— Precisamente não tenho certeza, mas acho que sim.
— Entendi…
Fuutaro pegou no meu ombro e disse:
— Você não está pensando em ir lá, não é?
— Eu? Com certeza não, infelizmente.
Minha postura mudou drasticamente para baixo, triste com essa notícia.
— Bom, lamento por isso. Vai ter que ter a sorte de encontrar ela por aí.
— Pelo visto, sim.
Pensando bem, com essa informação do Fuutaro, agora sei onde itsuki está, posso apenas esperar ela sair de lá em algum momento. Ou até mesmo aproveitar que o professor Okawara está lá para me ajudar.
Com essa ótima ideia, minha postura voltou ao normal e meu animo também.
— Eureka! — gritei, do nada.
— Uai, o que foi isso, Yuki? — indagou Fuutaro, rindo do que gritei.
— Ah… nada não, hehe. Bom, estou indo. Até logo meninos. — disse, acenando enquanto me afastava correndo.
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