Capítulo 40 - O Símbolo no papel.
Depois de alguns minutos conversando com Sasori e Fuutaro, estava na hora de partir para encontrar Arushi.
— Então, quando você estiver com o Arushi, chama a gente para a reunião. Temos muita coisa para discutir! — disse Fuutaro.
— Claro! Aí nós combinamos como vai ser o desenho que vai representar nosso grupo! — comentei, sorrindo.
Fuutaro sorriu de volta.
Saí do quarto dele depois de me despedir. A câmera que vigiava o corredor estava focada em mim. Que sensação horrível isso causa…
Ainda mais vendo que a câmera acompanhou meus movimento como se estivesse me observando e não vigiando o corredor.
Abri a porta do meu quarto enquanto focava na câmera, não sei se era uma boa ideia encarar quem estivesse do outro lado me vendo, poderia passar um ar de suspeito em mim, mas também quero mostrar que estou achando isso desconfortável.
O sol já estava se pondo e a noite chegando. depois desse momento estranho com a câmera, tomei um banho e comi meu macarrão instantâneo preferido: o de galinha, edição apimentada.
Como não posso usar o fogão, o que me resta é comer essas coisas prontas que vão no micro-ondas.
Mas o gosto especial e a ardência do miojo… é maravilhoso.
Enquanto terminava de comer, tentava resolver ao mesmo tempo o cubo mágico da Emiko.
É impossível esquecer da Emiko e da mãe da CDA que cuidou de mim. Como será que elas estão?
Queria tanto ver as duas mais uma vez.
Resolver esse cubo está ficando cada vez mais difícil. A primeira camada eu consegui, mas o resto… é complicado demais. Ainda faltam duas camadas fora o topo. Que coisinha mais chata.
Como será que resolve essa coisa, acho que não sou inteligente o suficiente para resolver esse enigma.
Passei alguns minutos nesse ciclo interminável do cubo, trocando os lado e as cores sem parar, mas agora preciso ir atrás do Arushi. Guardei o cubo na minha gaveta e escovei meus dentes.
Ainda não está no horário limite para ficar do lado de fora, mas está quase. Se eu não for logo, vai dar ruim.
Saí do meu quarto e fui para o segundo andar do prédio — o andar onde fica o quarto do Arushi.
— Vish… acho que tenho um problema… qual é o número do quarto dele?
Arushi só me disse o andar, não o número.
Minha única alternativa agora é gritar o nome dele… ou bater porta por porta.
Por favor, Arushi, esteja na primeira porta desse andar…
Caminhei devagar pelo corredor para não fazer barulho. O chão é duro, mas tem um forro enorme percorrendo o corredor inteiro. Vai saber se piso em algo que faz barulho e acaba chamando atenção.
Escolher qual porta bater primeiro está sendo um desafio. Olho porta por porta, tentando achar alguma pista. Talvez o nome “Arushi” escrito bem pequeno… ou uma placa “Aqui fica o Arushi”.
Seria bom demais.
Olhei para o relógio no meu pulso. Ainda está cedo. Não sei por que estou com tanto medo.
Então escuto uma porta se abrindo. Era a penúltima porta do corredor, surgiu um menino e nao era o Arushi.
Sua aparência era assustadora, cabelo preto bem curtinho, quase careca, e sua sobrancelha era grossa e muito escura, além de andar com as mãos no bolso.
Não era quem eu procuro mas eu posso perguntar pra esse garoto…
Isso pode levantar suspeita. E se ele contar ao diretor que tem um menino suspeito perguntando dos outros quartos?
Eu poderia levar punição. Não posso ser punido nem por brincadeira .
O menino veio andando na minha direção, com uma cara estranha, meio desconfiada. Será que ele quer falar comigo?
— O-lá… tudo bem? — perguntei, meio travado.
Ele só estava indo para o elevador.
Ele virou o olhar para mim — um olhar misterioso, como se estivesse me analisando.
— Tudo sim. O que você quer? — disse ele, franzindo a testa.
Ele realmente não queria papo.
— Eu queria saber qual o quarto do Arushi… você sabe?
Ele cruzou os braços, fez uma expressão fechada e olhou para cima, pensando.
Talvez estivesse tentando entender por que eu queria saber isso.
Comecei a suar frio.
Espera. Por que estou agindo assim?
Qual o problema em visitar o quarto de um amigo?
— Hm… sei, sei. Arushi, né… Ele fica no primeiro quarto, do lado da escada. — disse ele, sem mudar a expressão.
— Certo… obrigado.
Ele assentiu e seguiu seu caminho novamente, indo em direção ao elevador.
Que tensão desnecessária da minha parte.
Segui em direção à escada no final do corredor.
Espera aí… se o Arushi fica no quarto da última porta e esse menino saiu da penúltima… por que ele demorou tanto pra responder?
Talvez estivesse analisando minhas intenções.
Ou pensando se devia ou não dizer.
Ou talvez… estivesse me observando agora de longe.
Virei discretamente para confirmar, não desconfiando dele por conta de sua aparência, mas preciso ser cauteloso com tudo.
Mas não — ele já tinha descido.
Enfim, preciso manter o foco.
Fui até o quarto do Arushi. Bati de leve — duas batidas fracas.
A porta abriu lentamente e, pelo espaço pequeno, vi o rosto dele.
— Arushi!! — sussurrei animado.
— Oxe… o que faz aqui, Yuki? — perguntou no mesmo tom baixo.
— Queria te falar umas coisas. Pode?
Ele olhou para dentro do quarto, depois para mim, e assentiu.
— Certo, mas vamos para outro lugar? Aliás, eu te disse ontem que hoje iríamos para a médica, não disse? Vamos conversando no caminho.
Verdade… esqueci completamente.
— Tá bom, mas pelo horário, será que a médica vai estar lá?
— A clínica vai estar fechada, mas a médica da escola vai estar sim. É com ela que vamos falar.
— Entendi, então vamos!
— Vamos! Vou só pegar minha blusa e já volto. — disse Arushi, fechando a porta novamente.
Agora quero saber o motivo dele estar agindo dessa forma, como se estivesse escondendo algo dentro do quarto dele.
Mas não posso ser intrometido desse jeito.
Depois de alguns segundos, ele saiu do quarto com uma blusa de frio.
Partimos rapidamente, antes do horário limite.
Na saída, percebi o olhar do segurança. Ele parecia doido pra nos pegar fora do horário.
— O segurança tá só esperando a gente vacilar, né?
— Sim. E acho que isso é um problema… ele já marcou a gente. É a segunda vez que estamos andando tão tarde. — disse Arushi.
Ele ficou mais tenso, quase assustado.
— É um… é um… problemão ficar marcado por segurança, Yuki!
— Ham? Por quê? Você já foi marcado?
Ele negou rapidamente.
— Eu nunca fui… mas teve um menino que ficava exatamente no seu quarto. Ele foi marcado e no final…
Arushi desviou o olhar, triste.
— No final, descobriram umas coisas que ele estava fazendo e ele acabou expulso.
O amigo do Fuutaro e do Sasori… ele de novo.
— E quando expulsa alguém… vai pra onde?
— Só tem um lugar: a prisão militar do Horizonte.
A expressão do Arushi ficou bem triste… e com um pouco de medo.
— Que exagero… então vamos ficar presos em lugar fechado com trancas e uma janela apenas para ver a luz do sol?
— Não, não! O diretor disse que lá também tem aulas. Os alunos ficam numa área separada dos criminosos.
— Entendi… mas deve ser um clima horrível.
— Pois é! Por isso digo pra termos cuidado! Alias, voce deixou isso jogado perto da cachoeira quando eu te resgatei.
Arushi retirou de seu bolso um pequeno pedaço de papel, e entregou para mim.
— Esse papel…
Como esqueci disso? Era por causa desse papel que eu quase afoguei e ainda consegui esquecer.
— Esse papel? Sim, esse papel ai, você não se lembra? estava segurando ele quando te peguei.
— Sim! Eu lembro, muito obrigado por pegar para mim Arushi.
— Por nada, mas o que tem nesse papel?
Abri o papel, mostrando para o Arushi também seu conteúdo.
Sinceramente, eu me esqueci o motivo de eu estar querendo esse papel. Então não sei o que esperar.
Porem, nesse pequeno pedaço de papel, mostrava apenas um símbolo, que não faço ideia do que seja.
— O que esse símbolo significa… — murmurei para mim.
— Não faço ideia, mas posso descobrir para você se quiser!
— Serio??? Agradeço muito Arushi! — disse, com um sorriso enorme no rosto.
Entreguei o papel de volta para o Arushi.
— Vai ser tranquilo!
Após essa conversa, seguimos em passos largos até a escola. E agora finalmente era a hora certa para contar ao Arushi o que eu queria dizer.
Passamos pelo caminho principal que liga o dormitório ate o prédio escolar, caminho esse que é bem melhor que o caminho dos arbustos que fica atras do dormitório.
Da para ver muito bem tudo ao redor, uma vista aberta que mostra quase tudo desse lugar.
— Arushi, agora preciso falar umas coisas para você, posso?
— Claro, conte tudo!
Comecei contando o leve para ele, para depois ir para o pesado.
Cada detalhe, cada palavra — e a cada frase ele mudava a expressão.
Olhos arregalados.
Medo.
Nojo.
Surpresa.
E um milhão de “Meu Deus!”, “Não acredito!” no meio.
Quando terminei, respirei fundo.
— Então… mesmo sabendo que se formos pegos existe a chance de irmos pra essa prisão… você quer fazer parte do nosso grupo?
Arushi congelou.
Parecia que ia me dar um soco por perguntar algo tão perigoso.
Ele olhou para baixo, pensativo, totalmente em conflito.
— Yuki…
Mas antes que ele terminasse, uma pessoa indesejada saiu da escola.
A professora Ayumi.
— Aquela pessoa tá vindo pra cá? — perguntou Arushi.
Sim. Estava.
E logo ela.
A cobra de duas cabeças e dez metros de altura.
Não, apenas uma mulher bonita, alta e bem vestida.
— Deixa comigo. — disse.
Ela chegou com os braços cruzados e cara fechada.
— Ei, vocês dois! Tenho duas perguntas. A primeira: por que estão aqui agora?
Dei um passo à frente, firme.
Arushi me olhava como se eu fosse um herói de filme de ação.
— O que estamos fazendo aqui? Ah, não é da sua conta! A gente pode andar aqui até oito e quarenta. Então não enche!
A raiva na minha voz vinha do ódio que sinto por ela trancar a Itsuki no quarto.
E porque… bem… eu não vou com a cara dela.
— Yuki… — murmurou Arushi, chocado.
Ayumi apertou os dentes.
— Abusado, né? Okawara tá te ensinando além de matérias agora? Tá igualzinho a ele!
— Pelo menos Okawara não me deixa trancado a tarde inteira! — retruquei.
A veia na testa dela saltou.
— Como é, garoto?
O clima mudou.
O vento sumiu.
Até o coração do Arushi dava pra ouvir.
Mas eu não recuei.
— Isso mesmo que você ouviu. Eu não fico preso perdendo a diversão, nem o pôr do sol, nem o vento batendo na pele.
— O que você quer dizer com isso, peste? — rosnou ela.
— O que eu quero dizer é que o Okawara não é maluco de me deixar preso. o que mais seria?
Joguei verde sobre a Itsuki e colhi maduro.
Ayumi ficou me olhando com ódio puro… mas respirou fundo e se afastou.
— Ele é maluco sim, garoto. E se ele tivesse o poder, você não veria o sol nunca mais.
Até arrepiei com essa frase. Não duvidaria da capacidade do Okawara de fazer isso com todas as crianças.
— E a segunda pergunta? — perguntei.
— É pra você, Yuki. Por que você machucou sua perna?
Olhei minha perna. Eu estava de moletom. Como ela viu?
— Como você sabe do meu machucado?
— O segurança relatou ao diretor. Viu sua calça rasgada e uma cicatriz no mesmo lugar. E até onde sei rank cinza não se recupera tão…rápido.
Ela olhou fixo nos meus olhos franzindo as sobrancelhas.
Arushi se adiantou.
— Eu estava com ele! A calça rasgou num galho. O machucado já estava lá!
— Rasgou no lugar exato? — ironizou Ayumi.
— O segurança viu errado. Falou qualquer coisa para o diretor de raiva já que o Okawara apareceu pra ajudar. — completei.
Ayumi rosnou o nome “Okawara”, irritada.
— Enfim, estamos com pressa. Licença. — disse Arushi, passando direto.
Ela só murmurou:
— Abusado…
Continuamos para o prédio escolar. Mas, ao olhar para trás, vi Ayumi falando em um dispositivo preso ao ouvido.
— Arushi… será que ela vai contar tudo ao diretor?
— Espero que não. E não tem motivo. Vamos só falar com a médica. Nada demais.
Realmente, ultimamente estou muito intenso e exagerado, pensando sempre coisas no extremo sem necessidade.
Preciso manter o foco.
Dentro do prédio escolar finalmente, depois de dias, já que a ultima vez que tinha vindo aqui eu levei o livro que fala sobre a origem das partículas Oni comigo. E vou levar mais!
Olhei ao redor.
Vários alunos estudando, conversando, lendo…
Levando uma vida normal, mal sabem que existe coisas obscuras por trás dessas partículas que carregamos.

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