Capítulo 41 - Enfermeira Pinkrine? Só Pink!
Entramos no prédio escolar, com a ala médica sendo nosso destino.
Eu ainda não conhecia muito bem esse prédio. Tinha vários lugares que eu ainda não tinha visitado e queria muito ir.
— Arushi, aqui tem uma sala de brinquedos? — indaguei, tocando no ombro dele.
— Tem não, Yuki. Só na CDA que tinha.
— Mas por que não tem?
— Simples: a escola quer que os alunos amadureçam rápido. Tem o parque pra gente brincar, mas brinquedos a escola não tem.
— Que pena… — murmurei.
Seguimos em linha reta desde a entrada da escola e viramos à direita, onde havia uma escada levando para o segundo andar.
— Essa escada leva pros fundos do segundo andar, onde fica a ala médica — disse Arushi.
Ao subir, vimos uma porta dupla alguns passos à frente. Arushi foi na frente até ela.
— Olá… doutora? — chamou Arushi, batendo de leve.
Acima da porta, uma placa enorme indicava que aquela era a ala médica. Do lado, um aviso dizia que apenas pessoas autorizadas podiam entrar. Por isso Arushi estava batendo em vez de entrar direto.
— Você tem certeza que ela vai estar aí, Arushi?
— Tenho sim.
Depois de alguns segundos, ele bateu de novo.
— Doutora… — disse ele baixinho, como se não quisesse que ninguém ao redor escutasse.
Eu já estava certo de que ninguém abriria. Estava quase comentando isso, mas Arushi parecia tão confiante que resolvi ficar quieto.
— Olá, meninos. O que precisam?
Uma voz veio de trás. Viramos e vimos uma mulher baixa, com olhos cianos e uma sobrancelha enorme que parecia cruzar os dois olhos, formando quase uma linha contínua acima do nariz. Uma mecha roxa ondulada escapava do boné branco listrado de rosa.
Pelo uniforme, dava pra ver que era uma enfermeira.
— Ahh, enfermeira P-Pink! Estamos procurando a dou-dou-doutora Purplerine… sabe onde ela… ela está? — perguntou Arushi, sorrindo, com as bochechas coradas.
Se os olhos dele pudessem, estariam em formato de coração.
A enfermeira sorriu ao ver o jeito dele gaguejando. Passou entre nós, foi até a porta, tirou uma chave do bolso e destrancou.
— A doutora Purplerine não está agora, meninos, mas eu posso ajudar vocês. Entrem! — disse, com um sorriso no rosto.
Arushi entrou devagar, olhando para ela. Entrei logo em seguida.
O lugar era bonito, cheio de decorações infantis roxas — parecia mais uma sala de terapia do que uma ala médica. Ursos e brinquedos dividiam espaço com frascos de remédios. O chão era um quebra-cabeça gigante roxo. Nas paredes, quadros de personagens de anime. Até a Nezuko de Daibo Slayers estava lá.
— Então, garotos, o que está acontecendo? — perguntou ela, pegando um objeto enorme de uma gaveta.
Parecia uma cobra com dois chifres nas pontas. Ela colocou as pontas nos ouvidos e apoiou o meio no coração do Arushi.
— Ehhh… senhora Pink… não sou eu dessa vez não… é meu amigo Yuki… — disse Arushi, quase sem ar.
— Mas Arushi, seu coração está acelerado demais. Tem certeza que está bem? — perguntou ela.
— T-tenho sim… tô bem.
Ele se afastou rápido, respirando fundo. A enfermeira riu do jeito dele e se virou pra mim.
— Então vamos ver. Você é novato, né? Nunca te vi por aqui. Seu nome é Yuki?
— Sim! E o seu é Pink, né? — indaguei.
— Uhum. — Ela colocou a ponteira do objeto no meu peito. — Na verdade é Charlotte Pinkrine, mas pode me chamar de Pink.
— Mas como diz esse… Pinkrine? É Pink-rine ou Pink-raine? — perguntei, confuso.
Ela riu, uma risada fofa.
— Não tenta falar. Só me chama de Pink, tá bom?
— Tá bom, senhora Pink!
— E você é irmã da Doutora Purplerine, né Pink? — perguntou Arushi, tentando parecer natural mas quase falhando.
— Sim, isso mesmo! A doutora Purplerine é minha irmã.
Ela ficou ao meu lado, e Arushi foi para perto da janela. Não entendi o motivo dele se afastar.
— Ahh, agora entendi o motivo do sobrenome Pinkrine… ambas têm o “rine” no final. — disse, fazendo aspas com as mãos.
— Quase isso hihi… Na verdade, eu e ela temos o mesmo nome, “Charlotte”. Pinkrine e Purplerine são sobrenomes.
— O quê?? — questionei, arregalando os olhos.
Pink deu um sorriso fofo, tampando a boca com a mão. Arushi ficou com cara fechada.
— O Purplerine é da nossa mãe, e o Pinkrine é do nosso pai. Os dois queriam que seus sobrenomes ficassem no nosso nome, mas seria estranho ter os dois no mesmo nome. Então cada uma ficou com um sobrenome separado, mas com o mesmo nome: Charlotte.
— Hmm, entendi agora. Que confuso, mas legal hehe.
— Interessante, mas Pink, temos que ir logo, sabe? O horário e tals… — disse Arushi, mais sério do que antes.
— Ah sim, verdade. Pois bem, Yuki, me diga: o que aconteceu? — pediu, puxando uma cadeira. — Senta aqui.
Sentei. Pink sentou ao lado. Arushi continuou perto da janela, braços cruzados.
— Bom, moça Pink… eu machuquei minha perna. Tá vendo? Só que cicatrizou muito rápido. Olha como tá.
Ela analisou e pediu que eu colocasse a perna em cima da mesa.
— Entendi. Normalmente Onis se curam rápido, mas depende do machucado. Quanto tempo faz que você se machucou?
— Onis? Mas esse nome é das partículas, não é? — perguntei, confuso.
— Sim sim. O nome é “partículas Oni”, e o usuário se chama “Onis”. Entendeu? — disse ela, acariciando meu cabelo.
— Entendi agora, moça Pink. E sobre sua pergunta, eu machuquei ontem.
Os olhos dela se arregalaram; seu corpo foi para trás. Ela parecia chocada.
— O qu-quê? Pode repetir?
— Eu machuquei ontem, moça. Por quê? É ruim?
Ela continuou me encarando, depois olhou para o machucado de novo. Após alguns segundos, respirou fundo e voltou ao normal, ainda séria.
— Ruim não é. Mas é estranho. É muito mas muito raro um rank cinza com uma cura tão alta, ainda mais superior à de um rank azul — disse ela, tocando minha perna.
— Quem tem cura avançada são os rank azuis, os de olhos azuis. Rank cinza tem cura básica e demorada, não tem cura avançada por não ter despertado ainda — explicou Arushi.
— Exatamente. E por você ser rank cinza, isso é… uma surpresa assustadora.
Meu coração apertou. Péssima ideia vir aqui. Pior ainda mostrar o machucado.
Se descobrirem que eu posso sonhar mesmo com olhos cinza… acabou.
— Mas pode ficar tranquilo! — disse Pink, sorrindo. — É incomum, mas não é perigoso. Já vimos isso antes algumas poucas vezes.
Arushi levantou rápido a cabeça.
— Como assim? Outros alunos tinham isso também?
Pink afirmou com a cabeça.
— Bem antigamente, sim, era comum ter meninos com cura avançada. Mas hoje em dia é muito raro.
— Mas da nossa geração, teve algum? — insistiu Arushi.
— Bom, tem uma menina na escola atual que, quando era rank cinza, tinha cura avançada também. Mas não lembro o nome dela. E agora tem o Yuki!
— Uma menina? Como ela é? — perguntou Arushi, fazendo pose de detetive.
Pink estreitou os olhos para ele — como se não gostasse da curiosidade.
— Hm… Ela tem cabelos cinzas e já despertou as partículas Onis. E só usa preto, um gosto meio… peculiar.
Arushi estalou os dedos.
— Ahh! Já sei quem é! A garota mais inteligente da escola, primeiro lugar no rank geral há três anos!
— É mesmo? Não sabia disso. Então faz sentido ela ter tido cura avançada antes de despertar. Ela é bem especial.
— Desculpa atrapalhar… mas o que vai acontecer comigo, Pink? — perguntei.
Minha perna estava cansando ali em cima, precisava falar.
Ela me olhou com um sorriso meigo. Levantou-se, foi até o armário e pegou esparadrapo e um frasco escuro.
— Não vai acontecer nada com você, Yuki. Só significa que suas partículas funcionam diferente. Não é ruim.
Ela abriu o frasco, colocou o líquido na tampa e molhou um pincel, passando sobre minha cicatriz.
— O que é isso? — perguntei.
— É pra tirar qualquer bactéria que tenha ficado. Partículas Oni atraem bactérias quando expostas.
— Isso é perigoso, Yuki! Bactéria maligna te mata! — disse Arushi, assustado.
— É sério, precisa cuidar bem — confirmou Pink.
Depois colocou o esparadrapo.
— Prontinho! — disse Pink, apertando minha bochecha.
— Obrigado, senhora Pink. Mas… eu preciso pagar, né? O Okawara paga por mim…
— Não não, dessa vez não precisa.
— Sério? Isso não vai te dar problema? O professor Okawara tem pontos!
— Você é um fofo, Yuki. Não precisa se preocupar.
Arushi ficou vermelho de raiva.
— Vamos logo, Yuki! — reclamou ele.
— Ah…tá bom… mas por que tá assim, Arushi?
— Nada!! Tô normal. Vamos. — disse Arushi, firmando os passos até a saída.
Olhei para a Pink e ela deu de ombros, não entendendo o comportamento do Arushi.
Tirei a perna de cima da mesa e me levantei da cadeira.
— Mais uma vez, muito obrigado enfermeira Pink!
— Por nada Yuki, se cuida e toma mais cuidado, viu?
— Certo! Vou tentar! hihi…
Saímos da sala, e ao me virar vi Pink acenando para nós. Como educação e agradecimento pela gentileza acenei de volta.
— Qual o motivo de você estar com raiva, Arushi?
— Nada não. Só epifania.
— Entendi…
Descemos as escadas quando ouvimos uma voz vinda da entrada. Arushi me segurou pelo braço, impedindo de eu andar.
— Essa voz… eu sei quem é.
— Que foi? quem é?? — indaguei, confuso.
— Vem comigo. Rápido. E em silêncio.
Passamos pela saída que segue o caminho de jardim, o mesmo caminho que havia passado no primeiro dia nesse lugar.
Corremos até o centro da ilha escolar. Não entendi o motivo dessa pressa e desespero todo, ele estava correndo igual carro de corrida.
Ao chegar, algumas meninas nos olharam estranho e foram embora.
Arushi cansado, sentou para respirar.
— Agora me diz: quem era?
— Espera… deixa eu respirar…
Pouco depois:
— Um menino. Um pirralho que só traz problemas. Melhor a gente não cruzar com ele.
— Entendi. Mas eu preciso saber quem é pra não chegar perto.
Pela voz… eu tinha um palpite. E pelo sorriso que o menino deu… mais ainda.
— O nome dele é… Gyutaro. Gyutaro Kobayashi — disse Arushi, com a voz tremendo.
— Ah, Gyutaro? Conheço bem esse garoto. Já passei um momento ruim com ele.
— Sério? Então toma cuidado, Yuki! Você pode estar na mira dele e do irmão. Eles são loucos. Muito mesmo.
— Sim, senti isso de perto. Obrigado pelo aviso. Mas é melhor irmos pro dormitório.
Corremos mais um pouco dessa vez para o dormitório. Ao chegar, não vimos o Porteiro chato, isso é estranho mas conveniente para nós.
Passamos com pressa e subimos até a porta do Arushi.
— Bom… agora você sabe que seu corpo tem partículas especiais. O que vai fazer?
— Nada. Pra mim é normal. Não muda nada — respondi firme.
Ele assentiu.
— Que bom que isso não subiu pra sua cabeça. Diferente do Gyutaro. Mas enfim, boa noite, Yuki!
— Diferente? Como assim?
— Longa história. Envolve a cicatriz dele. Depois te conto. Ah, vou pesquisar sobre aquela marca do papel pra você. Já vi ela antes.
Eu sorri e abracei Arushi.
— De verdade?? Muito Obrigado, Arushi. Sério mesmo. Você tá sempre me ajudando. Toda vez. Você é um amigo maravilhoso pra mim!
— Sou mesmo! hehe… mas você é muito legal, Yuki. Gosto de ser seu amigo — disse Arushi, sorrindo enorme.
Me despedi dele e subi para meu quarto. Comi um belíssimo biscoito do pacote vermelho.
Mas era hora de dormir. Amanhã tenho aula com o Okawara… e a bronca enorme pela frente.

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