Capítulo 42 - Sistema dos exames atualizado!
Okawara estava de mau humor comigo desde que entrei na sala; ele não respondeu ao meu bom dia e nem sequer perguntou se eu havia estudado as matérias em casa na noite anterior.
Esse cara é um verdadeiro mistério, um livro fechado a cadeado dentro de um baú trancado com uma chave especial guardada em uma gaveta com senha do diretor. Esse é o Okawara, indecifrável.
A manhã toda ele ficou comigo, ensinando com a cara fechada, a normal de sempre, mas dessa vez sem se importar comigo.
— Senhor… Okawara? Está tudo bem com você?
Ele estava escrevendo no quadro um pouco da explicação da matéria de física, nem sequer me respondeu.
Antigamente, a matéria era apenas passada via televisão, mas agora tem um quadro também para explicações mais detalhadas.
— Por que está me ignorando, professor?
Dessa vez acho que ele vai me responder, porém com ignorância, tenho certeza, do jeito dele de sempre.
Parou de escrever no quadro e fez uma pose dramática enquanto segurava a caneta preta com a ponta no quadro, fazendo um buraco de tinta.
— Por que estou te ignorando? Não me venha com isso, eu não gosto de você, então obviamente eu sempre te ignoro, porém agora estou desapontado com seu comportamento — disse ele, com um tom de voz firme e grosso, ainda olhando para o quadro.
— Meu… comportamento?
Okawara se virou com raiva parecendo que ia tacar o pincel em mim, assim como fez uma vez com um copo.
— Não me faça repetir, moleque! Você é inteligente, então sabe do que estou falando! — disse ele, tampando o pincel enquanto sentava na sua cadeira.
— Eu… ham… eu… — murmurei, tentando pensar no motivo.
O único motivo seria…
Entendi agora, me esqueci que ele me observa com o relógio, ele provavelmente me viu com o bilhete que havia rasgado na cachoeira, assim como me viu afogando na piscina.
Estou ferrado.
— Você o quê? — perguntou, me encarando com os braços cruzados.
— É que… você pode me falar… o que eu fiz? Só para ter certeza mesmo…
Preciso confirmar se é isso mesmo, caso ele diga o que espero, então vai ser um bom momento para perguntar sobre o símbolo no papel.
— Moleque imprestável… não sabe nem as coisas que faz agora???
— Eu sei, hehe… só quero saber o certo mesmo, faço tanta coisa, sabe? — disse, fazendo careta.
— Enfim, antes de ontem, simplesmente você me aparece com outro moleque em um horário quase proibido, e pelo que me lembro eu te contei sobre o horário, correto?
— Correto!
— E mesmo sabendo, ainda assim se arrisca. Se não fosse por mim, o guarda teria informado a diretoria e você estaria em apuros!
— Eu sei, mas não cheguei fora do horário, o guarda estava tentando de tudo para pegar a gente, poxa!
— Sim, o guarda do dormitório é assim mesmo!
— Viu? Até você sabe disso, então por que está desapontado comigo?
— Ainda não acabei! — disse ele, levantando da sua cadeira. — Tem mais coisas ainda, moleque!
— Eita… — murmurei.
— Lembra do dia em que você me pediu ajuda para tirar a Ayumi do quarto dela?
— Lembro sim, por quê?
— Eu te disse para esperar 40 minutos, e depois desse tempo ir para o meu quarto e bater na porta. Você, por algum motivo, fez isso?
— Bom… senhor Okawara, eu vi você saindo com a Ayumi e então fui imediatamente, não esperei os quarenta minutos e não bati na sua porta porque vi você saindo com ela.
— Seu moleque burro! Independente, era para bater na porta porque aí haveria motivo para você ter ido até o quarto dela!! — gritou, com uma vontade imensa de me enforcar.
— Como assim?
— Em todos os corredores há câmeras escondidas. Se você tivesse ido no meu quarto, eu não atenderia, mas veria um bilhete que eu deixei dizendo para ir até a Ayumi me procurar por lá, entendeu?
— Ah, entendi… genial, Okawara! Mas desculpa… eu não fui até seu quarto, será que a câmera me pegou?
— Com certeza! E a Ayumi daqui a pouco deve saber que você foi até o quarto dela, depois de ontem… — disse Okawara, colocando a mão no queixo.
— Depois de ontem?
— Sim, ela me ligou e me disse tudo que você falou ontem à noite, e você lembra, né? Que citou sobre viver preso no quarto?
— Lembro…
— Então, ela não é burra, vai ligar os pontos e vai querer ver as câmeras de segurança. O resto você vai descobrir.
— Saquei… eu estou ferrado então!
— Com certeza! — disse Okawara rindo de mim.
Isso será um problema enorme para mim, não pensei direito nas palavras e acabei falando aquilo. Se ela ver nas câmeras eu entrando no quarto dela… sinto o pior vindo.
— E você está desapontado comigo por não ter te obedecido e por chegar tarde no quarto? — indaguei, com um tom melancólico.
Okawara se virou e foi até sua mesa novamente para se sentar.
— Estou desapontado com você por dois motivos: o primeiro é porque você não me obedece, e o segundo é sua falta de inteligência!
— Falta de inteligência? Não entendi, o que você quer dizer com isso?
— O que eu quero dizer é que você foi muito burro em falar daquela maneira para a Ayumi, literalmente falou do problema da Itsuki para ela, logo para ela!! — disse Okawara, levantando a voz.
— Na verdade eu estava com raiva, sabe, hehe… eu quero ajudar a Itsuki a pelo menos sair um pouco do quarto, por isso falei aquilo…
— Ajudar? Por que você se importa tanto com ela?
— Ela é minha amiga, e também é errado deixar alguém trancado a tarde toda no quarto. Somos crianças e precisamos ver o mundo do lado de fora! — disse, levantando a voz com minha indignação.
— Hm… Eu entendo o que você quer dizer, mas isso não lhe permite falar imprudências com alguém de alta importância aqui na escola. Entendeu? Ou quer que eu escreva? — disse Okawara com um tom grosseiro enquanto mostrava um papel para mim.
— Entendi, entendi… mas poxa, me desculpa se te desapontei, mas você podia me ajudar com a Itsuki.
— Ajudar? Eu não tenho cara de ser ajudante e nem faço caridade, não, moleque. Não sei por que você sempre insiste em pedir minha ajuda para tudo, sabe fazer sozinho, não?
— Mas como vou fazer isso sozinho? Ela não tem cargo de importância aqui na escola? Ela nunca vai me escutar, ainda mais depois de ontem.
— Culpa sua, tá vendo? Toda ação tem consequência, e suas ações passadas também terão consequência no futuro, como a Ayumi vendo você entrando no quarto dela.
— Eh… mas isso era para ver se ela estava bem… eu me importo com ela — disse, com uma expressão de tristeza no rosto.
— Ah, moleque!! — gritou Okawara, com raiva. — Você é insuportável demais, ainda bem que é só dois meses que vou ficar com você. Enfim, vou te ajudar, acabar logo com isso!
De alegria pela última frase dele, já que o restante foi desagradável, me parece que mesmo com nosso tempo junto ele ainda não gosta de mim.
Levantei da cadeira com um sorriso no rosto, feliz por ele ter aceitado me ajudar.
— Sério??? Obrigado, senhor Okawara, de verdade!!
— Senta aí, garoto, e sem alegria, por favor. Eu vou ajudar, mas não é garantido que a Ayumi vai aceitar, já que há um vínculo entre elas.
— Vínculo? Como assim? — perguntei, sentado na cadeira novamente.
— Enfim, não é da sua conta. Vou te ajudar e isso já está bom, mas preciso que você faça uma coisa para mim em troca.
E lá vem ele com mais um pedido, parece que ele só aceita me ajudar se eu fizer algo para ele também.
— Fazer o quê?
Okawara levantou de sua mesa e veio andando com passos leves até mim, enquanto ajeitava sua gravata.
— Quero que você entregue mais uma coisa para aquela pessoa, no mesmo lugar e na mesma hora, entendeu?
— Entendi… mas e se o quarto na volta me perturbar?
— Dá um jeito, você é esperto! Mas sem levar o Arushi com você, entendeu?
— Mas por quê?
— Entendeu ou não? — disse ele, fixando seus olhos nos meus, esses olhos intensos e ameaçadores.
Acenei com a cabeça, o encarando de volta.
— Aliás, cadê sua calça da escola? Por que está usando essa calça moletom, de cor… verde?
A calça da escola acabei rasgando quando estava na cachoeira, por conta disso acabei pegando uma calça aleatória e usando com o restante do uniforme.
Mas se ele está perguntando, então a Ayumi não disse para ele sobre meu machucado?
Ou ele está fingindo? Com certeza ele sabe o motivo, já que me observa pelo relógio, e deve saber que eu estou procurando saber sobre o pedaço de papel que peguei na água, mas como para ele eu não sei sobre isso, então está tentando chegar na cereja do bolo com perguntas.
— É porque minha calça está suja e acabei esquecendo de colocar para lavar…
— Hm… presunçoso. Depois vamos comprar mais roupas para você, pelo visto está em falta.
— Sim!!! Mais roupas, por favor.
Eu gosto da roupa da escola, essa blusa preta com listras vermelhas e manga longa é bem legal, lembra um pouco a roupa que os demônios usavam no mangá de Touca Anki.
Depois dessa conversa, Okawara me entregou um pequeno envelope e me disse para esconder no bolso.
A aula havia acabado e saí da sala, com a esperança de que ele poderia me ajudar com a Itsuki.
Acabou que o Okawara não me deu detalhes de como iria ajudar, mas eu confio nele já que vou entregar esse envelope para ele novamente.
Enquanto eu estava indo de volta para o dormitório, acabei passando perto de uma quadra onde havia uma aglomeração enorme de alunos e uma barulheira enorme.
Curioso, fui até lá para ver o que estava acontecendo; no meio da galera acabei vendo o Sasori.
— Sasori, e aí amigo, tudo bem?
Ele virou para mim com um sorriso no rosto, parecia que estava gostando do evento.
— E aí, Yuki. Estou ótimo, e você?
— Que bom, estou bem também! Mas me conte, o que está acontecendo aqui?
— É um dos exames especiais, aquele que vale pontos no ranking, sabe? Aprendeu isso com o Okawara, certo?
— Pelo que me lembro, esses exames especiais ocorrem na ultima semana do mês, valendo pontos no ranking mensal. Mas tem dois tipos de ranks, o anual e o mensal, certo?
— Sim, porém o rank mensal tem por sala e o da escola em geral. O primeiro do rank geral vira o rank VIP, que escolhe os exames especiais durante o mês todo.
— E o rank da sala? Faz o quê?
— O rank da sala, assim como o rank geral, ganha pontos em nota e em valor, que são como dinheiros. É igual o geral, porém sem VIP, e o geral ganha mais pontos.
— Sim, isso mesmo, mas pelo que me lembro esse exame só ocorre uma vez por dia durante os cinco dias da última semana do mês, não? E nem é a última semana ainda.
— Sim, mas como estamos em dezembro, então os exames estão ocorrendo essa semana. As duas últimas semanas de dezembro são férias. Aleluia.
— Hm… faz sentido!
— Então, e mais uma coisa: o rank anual ganha 12 vezes mais pontos que o rank mensal, e como o valor de pontos do primeiro lugar no rank mensal é 100 pontos, você ganha 10 mil pontos de compra no mensal; no rank anual você ganha 120 mil pontos de compra.
— Meu Deus!!! Isso eu não sabia… e os pontos de nota? Ganha quantos?
— No rank anual você ganha o dobro de pontos do mensal, então o máximo que consegue é 200 pontos de nota.
— E quantos precisa no mínimo para passar de ano escolar?
— Aqui não tem isso, todos passam de ano, mas os pontos escolares servem para no final decidir qual faculdade você irá cursar no Horizonte. A faculdade menos influente você consegue entrar com 5 mil pontos escolares.
— Entendi, e se eu não conseguir os 5 mil pontos? — indaguei, com uma expressão assustada.
— Você não vai pra faculdade nenhuma. Mas pelo que sei todos que formaram aqui foram pra faculdade.
— Entendi… mas parece que mudaram um pouco as regras, pois tem coisa que não era assim quando o Okawara me disse.
— Mudaram sim, foi semana passada que mudaram para o ano que vem.
— Ahh entendi, agora tudo faz sentido hehe.
— E esse exame que está acontecendo agora é o futebol, um jogo onde se chuta a bola com os pés no gol; se entrar, é gol; se terminar o jogo quem tiver mais gol ganha!
— Que legal, nunca vi esse jogo não.
— Pois é, ele é popular no mundo todo, o rei desse jogo é um país chamado Brasil, os caras jogam muito esse jogo.
— Que país legal — disse, enquanto tentava ver o jogo, já que tinha muita gente na frente.
— Espera… — murmurei. — Aquele é o… Fuutaro??
— Uhum, ele mesmo. Os exames são para todos da escola, mas quem não quiser participar também é permitido.
— E você escolheu não jogar? — perguntei.
— Não, meu jogo é o último do dia.
— Entendi, poxa, queria jogar também, parece ser legal…
— Ano que vem você joga, relaxa!
Sasori está completamente diferente do normal dele, parece que esse jogo o deixa animado.
Enquanto eu assistia o jogo, senti um cheiro familiar de perfume, o mesmo que havia sentido uma vez no prédio escolar quando estava indo para a reunião do conselho.
Olhei para o lado e vi um monte de alunos em pé na minha frente, e outros sentados na arquibancada ao redor do campo de futebol.
Mas ao me virar para trás, vi uma garota familiar; é dela que estava vindo esse cheiro de perfume.
Lembro bem dessa aparência dela, esses cabelos castanhos enormes amarrados com rabo de cavalo e esses olhos azuis. É mesmo a menina que encontrei antes de ir para a reunião do conselho, no dia em que havia pegado o livro no sótão.
— Ah, é você, Yuki, e Sasori, como estão? — disse ela, com um sorriso no rosto.
Ela lembra meu nome. Mas eu não lembro o dela.
— Estou… bem. Como sabe meu nome? — perguntei.
— O Fuutaro deve ter dito para ela. Estou bem, Rita, e você? — disse Sasori, erguendo a mão para cumprimentá-la.
— Que bom, Sasori, estou bem também. E sim, Fuutaro que me falou seu nome, Yuki, mas engraçado que não se lembre do dia, você estava com ele quando nos vimos.
— Hehe…desculpa mas eu não lembro não, — disse, colocando a mão atrás da nuca com vergonha por ter esquecido. — aconteceu tanta coisa nessas semanas que é complicado lembrar de tudo que faço, sabe?
— Sei sim, realmente é complicado mesmo lembrar, esta acontecendo comigo recentemente e acabo do nada esquecendo certas coisas e minhas amigas precisa me lembrar depois. — disse ela, com um sorriso vergonhoso estampado no rosto.
— Pois é, que bom que você me entende hehe… mas prazer em rever você, Rita — disse, erguendo minha mão para cumprimentá-la também.
— Tudo bem. Prazer rever você de novo… hihi.
O sorriso em seu rosto estava perfeito demais, me parece ser um sorriso falso.
— Bom, foi legal ver vocês aqui, mas agora tenho que ir fazer o teste semanal de rank azul, até depois, Sasori e Yuki.
— Certo, foi rápido, mas você precisa ir, né? Então até depois — disse Sasori, com um tom firme em sua voz e sua expressão séria.
Ela saiu acenando para a gente enquanto sorria.
— Ela conversou bem rápido com a gente, mas que exame é esse que ela vai fazer? — indaguei, com um pingo de curiosidade.
— É o exame que os rank azul fazem, para ver como está indo seu sistema celular e, claro, as habilidades e saúde.
— Entendi, os que têm olho azul, né? Os que podem sonhar… como será que é sonhar?
— Não faço a mínima ideia, na real nem tenho esse desejo que todos têm, de sonhar. É algo normal, algo que todos têm, e nós teremos um dia — disse Sasori, com seu tom habitual, firme e sério.
Sua mudança de humor foi bem rápida, até um minuto atrás estava feliz, agora está sério, estranho demais.
— Mas… você não se sente, tipo, diferente de um modo ruim comparado ao restante das crianças do mundo afora?
Ele deu de ombros, dizendo:
— Para mim tanto faz as crianças do mundo, eu me preocupo comigo e com meus amigos, apenas! Até o restante dos alunos que estão aqui eu não ligo.
Sua voz ríspida e o seu tom ignorante ficaram à tona nessa frase.
Alguma coisa aconteceu com ele que mudou sua forma de pensar e agir, e acho que isso tem a ver com o que aconteceu com aquele amigo dele que ficava onde é o meu quarto hoje.
— Entendi… diferente essa forma de pensar.
— Diferente para ruim, né? — disse ele, me encarando.
— Não! Cada um pensa de uma forma diferente, não estou aqui para julgar, até porque você é meu amigo…
Na real, eu quero mudar essa forma dele de pensar, isso é ruim sim.
— Entendi, hehe. Que bom que você me entende, assim como o Fuutaro me entende.
— Isso é ótimo, ter pessoas que te entendem deixa melhor a amizade — disse, dando um tapinha em seu ombro.
Sasori deu um sorriso para mim.
— Bom, agora estou indo, tenho algumas coisas para fazer.
— Ah, nem vai ver eu jogando, o que você contra mim? — disse ele, me encarando.
— Q-quê? Não…nada disso poxa, eu não tenho nada contra você, eu só tenho que ir mesmo…
Fiquei até nervoso com o que ele disse, não esperava uma frase dessa.
Ele estava olhando diretamente nos meus olhos, com seu olhar de águia, mas após alguns segundos ele começou a rir.
— Estou brincando cara relaxa haha… tinha que ver sua cara haha.
— Affer Sasori! Me assustou com isso serio mesmo, faz isso mais não!
— Hahahaha! Relaxa, só estou de bom humor mesmo, vai lá, depois a gente se vê. — disse ele, com as bochechas coradas.
Sai de perto dele com a cara toda vergonhada enquanto acenava para ele de despedida.
Ele acenou de volta.

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