Índice de Capítulo

    Uma coisa que não sai da minha cabeça é o que a Abe Hideki fez comigo; por culpa dela quase me dei muito mal. Mas outra coisa que também está me incomodando é aquele homem que apareceu no sótão. Eu nunca o vi aqui, mas o problema é que, do nada, ele saiu correndo da minha frente como se estivesse sendo perseguido.

    Isso está muito suspeito. Será que foi brincadeira da Hideki? Espero que sim.

    Mas qual o problema dela? O que ela ganha incomodando a Itsuki e a mim?

    Agora preciso esperar o Arushi achar o significado do símbolo no papel, e me resta esperar o Okawara me ajudar com a Itsuki.

    Como o Sasori e o Fuutaro estão ocupados com os exames especiais, não vou conseguir ter uma reunião do nosso grupo.

    Vou aproveitar esse tempo para ir ao depósito antigo procurar alguma pista sobre o homem encapuzado.

    Segui o caminho até o depósito; demorou um pouco, já que eu estava longe.

    Depois de minutos, consegui chegar no caminho de pedra e fui até o depósito antigo.

    — Por favor, Deus, que esse seja o esconderijo dele e que ele não esteja aqui agora. — murmurei.

    Entrei de fininho no local. Não tenho boas lembranças daqui, principalmente porque sacrifiquei meu sapato para escapar; por causa disso, só ando de chinelo agora.

    Além disso, o homem de capuz ficou com meu sapato. Por que será?

    Comecei a olhar dentro do depósito e percebi uma coisa.

    — A janela não está mais quebrada… eu não tinha quebrado? — perguntei para o vazio.

    Foi o homem do capuz que consertou ou foi algum zelador ou segurança?

    E se o homem do capuz for um zelador ou alguém da segurança, faria sentido.

    Não havia um pedaço sequer de vidro quebrado, nem caco de vidro no chão; está bem limpo.

    Revistei cada canto do primeiro andar e não achei nada; está igual à última vez que havia vindo aqui.

    Porém o primeiro andar está com um cheiro diferente, perfumado eu afirmo.

    Hora de olhar no segundo andar.

    Ao subir a escada, senti um arrepio em todo o meu corpo. Como se fosse um sinal, um aviso de que algo está acontecendo aqui.

    Parei no sexto degrau da escada, degraus de madeira que fazem barulho ao serem pressionados.

    O motivo foi porque comecei a escutar vozes femininas, vozes vindo do segundo andar.

    Focando mais para tentar escutar, senti uma energia forte concentrando na minha cabeça; graças a isso, estou conseguindo escutar melhor sem sair do meio da escada.

    O problema é que meu corpo está tremendo e minha cabeça pesada; não vou conseguir ficar muito tempo com isso.

    Mas, por enquanto, estou conseguindo escutar a voz de três garotas conversando e rindo entre si.

    — O sorriso dele é muito feio, me dá até agonia só de ver aquilo hahahaha.

    — Haha, é feio mesmo, amiga, mas temos que tomar cuidado; quase que ele entrou aqui.

    — Pois é, amiga, se ele entrasse e visse tudo isso, seria o fim do nosso local secreto.

    — Relaxem, meninas. Ninguém vai entrar aqui, esqueceu que só nós temos a chave?

    — Verdade, mas e se entrarem enquanto estivermos aqui?

    — Temos outra saída, a do porão. Eu já disse, podem ficar tranquilas.

    — Eu estou tranquila, amiga!

    — Eu também!

    — Aliás, meninas, mais papel de letras chegou.

    — Aff… mais? Temos que pedir que parem com isso, já sabemos que nunca vão encontrar quem escreveu o papel, já que fui eu a autora.

    — Eu sei, Kinoshita, mas temos que fazer isso, senão fica suspeito.

    — Mas amiga, tá chato isso. E por que esse menino não veio atrás de nós? Ele não entendeu o bilhete, não?

    — Deve ser burro isso sim, ainda citamos um tal tesouro dele.

    — Só sei que vamos ter que pensar em outro plano para ficar a sós com ele aqui; Gyutaro já está enchendo o saco com isso.

    — Mas, pelo menos, a pilha de papel hoje foi da penúltima turma; falta só mais uma e pronto, finaliza!

    Essas vozes, sim. São aquelas três meninas que mexem com a Itsuki: Abe, Emi e Kinoshita.

    O que elas fazem aqui? Estão envolvidas com o homem do capuz?

    Eu preciso sair logo daqui.

    Desci bem lentamente as escadas novamente, torcendo para não fazer barulho e para o homem do capuz não estar na porta prestes a entrar.

    Mas, por sorte, ele não estava na porta. Saí do depósito entrando nos arbustos e seguindo o caminho de terra que é camuflado pelos arbustos.

    O que eu acabei de ouvir? É verdade mesmo? É muita informação para digerir.

    Elas estavam onde dentro da casa? Se elas falaram de chave, então estão num quarto fechado, e a Emi citou local secreto, então deve ser num local escondido da casa que precisa de chave.

    E a Kinoshita disse que escreveu o bilhete e deixou debaixo da minha porta; isso quer dizer que não foi o homem do capuz?

    O que está havendo aqui… eu estou perdido.

    Só sei que fui enganado e preciso contar isso para meus amigos.

    Assim que cheguei no dormitório, esperei a volta do Fuutaro daquele exame especial.

    Sentei, comi, deitei, li livro e tentei resolver o cubo mágico da Emiko, fazendo de tudo para passar o tempo.

    Depois de algumas horas e nada do Fuutaro e do Sasori.

    Bati na porta do quarto do Fuutaro, vai que ele chegou e eu não escutei sua voz.

    Mas a porta não se abria; ele realmente não estava.

    — Por que ele ainda não voltou? — questionei para mim mesmo.

    A melhor escolha agora seria ir atrás dele ou ficar e esperar?

    Sem chance que vou ficar aqui sem fazer nada.

    Saí do dormitório e fui atrás do Fuutaro. A última vez que o vi foi no campo de futebol, mas acho que já deve ter acabado todos os jogos.

    E se tiver acabado, por que será que ele não voltou?

    Enquanto isso, no prédio dos professores…

    Okawara, professor e vigilante da escola ESA, atualmente está ensinando Yuki sobre conteúdos passados.

    Parado em frente a uma porta bastante misteriosa, em um andar que tinha apenas dois quartos, ele bateu com batidas leves e refinadas.

    Toc Toc Toc…

    A porta se abriu, revelando uma mulher bela e misteriosa, com cabelos negros que chegavam até a nuca e uma franja cobrindo sua sobrancelha. O que mais chamava atenção eram seus olhos roxos, intensos e ameaçadores.

    — Okawara? O que lhe traz aqui no meu quarto?

    Okawara, grande como uma parede, forte como um tanque, bastante intimidador e grosseiro, mas estiloso com sua nobre etiqueta, usava um terno totalmente preto com uma gravata borboleta roxa. Olhava fixamente para Ayumi, seus olhos pretos, similares à escuridão, e sua expressão fechada tornavam a conversa ainda mais intimidadora.

    — Boa tarde, Ayumi! Eu preciso conversar com você, a sós… pode vir comigo?

    — Ah… con-conversar a sós? Mas agora? É que estou dando aula para a Itsuki nesse momento.

    — Entendo, o que eu queria conversar se trata dela mesmo!

    — Ham? Da… Itsuki?

    — Sim!

    — Certo! Espera um pouco, já vou!

    Após a espera, Ayumi saiu de seu quarto vestindo um enorme vestido cromático.

    — Vamos?

    — Vamos!

    — Por que demorou tanto?

    — Eu estava dizendo para a Itsuki arrumar umas coisas enquanto eu estiver fora.

    — Entendi. Vamos conversar no meu quarto, certo?

    — Ce-certo…

    Depois de alguns minutos, ambos chegaram e entraram no quarto do Okawara.

    — Bom, o que você queria falar comigo? — indagou Ayumi, com suas bochechas coradas.

    — É o seguinte, Ayumi! Eu nunca quis me intrometer nos seus assuntos, você sabe que eu te respeito e gosto do seu trabalho, e sei muito bem do seu vínculo com a Itsuki, mas qual o problema de não deixar ela sair do seu quarto?

    Ayumi que até então estava fora de si, olhando pela sua expressão corporal, tímida e vergonhada, após essa fala do Ocara ela se recompôs, ficando do jeito superior dela de sempre.

    — Belas palavras, Okawara, agradeço pelo seu respeito! Mas se me respeita mesmo, saberia que essa pergunta fere minha promessa, ou você esqueceu?

    — De forma alguma! Eu lembro da promessa que você me disse! Mas me conte qual o problema dela fazer amigos?

    — Nessa escola, amizades não existem; a maioria zomba da Itsuki! Por esse motivo, não deixo que ela saia do quarto! Entendeu agora?

    — Eu entendi, mas nem todos zombam dela; tem alunos que realmente querem ser amigos dela, e você está simplesmente tirando a felicidade dela!

    — Tirando? É o contrário! Eu estou dando felicidade e paz para ela! Mas você não saberia disso porque não fica tempo todo no quarto com a gente!

    — Eu sei… não fico com vocês, então não sei o que se passa no quarto, mas sei o que passa fora do quarto, e não é só tristeza! Tem diversão, felicidade e amigos verdadeiros; se encontrar os amigos certos, eles podem passar segurança e paz para ela!

    — E quem seriam esses amigos certos? Em? Isso não existe, só em conto de fadas! A verdade é que amizade verdadeira não existe, Okawara! Você sabe muito bem disso!

    — Eu sei muito bem mesmo, mas comigo foi de um jeito; para ela será de outro. Vidas diferentes, não entende isso?

    — Eu entendo, Okawara! O que não estou entendendo é seu comportamento. Você não odeia essas crianças? Por que isso do nada?

    — Isso não mudou! Eu continuo não gostando dessas crianças. Mas pelo que a Itsuki passou no passado, ela merece viver esses momentos, não ficar presa no quarto!

    — Hmf… Eu sei… Eu sei, Okawara!! Ela não merece isso, é como se fosse replay do passado! Mas eu estou fazendo diferente, eu quero é que ela seja feliz, só isso!

    — Então dê essa felicidade para ela, deixe ela livre! Seja diferente, Ayumi! Dessa forma que está, ela só te vê igual.

    — Não… eu não sou igual! Nunca!

    — Então mostre isso, para mim e para ela. Você vai fazer isso?

    — Eu… eu vou pensar nisso! Tá? Eu vou pensar…

    Ayumi saiu do quarto de Okawara com uma mistura de sentimentos intensos, a deixando confusa, triste e com raiva.

    No mesmo momento, do outro lado da área escolar, Yuki encontrou seus amigos Fuutaro e Sasori, que agora estão conversando.

    — A gente estava vendo as pontuações no quadro, por isso demoramos para voltar, mas por que está tão desesperado assim para falar com a gente, o que houve, Yuki? — perguntou Fuutaro, com uma toalha no ombro.

    Fuutaro e Sasori estavam com roupas de esporte, com números em suas costas e um símbolo estranho como estampa de suas blusas brancas sem manga.

    O engraçado são as meias enormes chegando até o joelho, quase tocando a bermuda preta que estavam usando.

    — É um problema sério, gente, tem a ver com aquele bilhete do tesouro que estava no meu quarto, lembram?

    — Sim, lembramos! Mas o que aconteceu? Você achou quem escreveu ele? — indagou Fuutaro, tirando a toalha de seu ombro.

    Sasori se aproximou de mim para prestar mais atenção no que eu ia dizer.

    — Sim, achei quem escreveu o bilhete, mas é uma situação um pouco mais crítica do que eu pensava…

    Engoli seco para dizer, mas ainda tenho minhas dúvidas se eles vão acreditar em mim.

    — E quem escreveu?? — perguntou em um tom alto Sasori.

    Foi a vez do Fuutaro se aproximar de mim agora, com uma cara assustada, perguntou: — Como assim situação crítica?

    — Bem, por onde começar…

    — Começa com quem escreveu o bilhete! — disse Sasori.

    — Mas aí perderia o contexto, pois só fui saber depois de um tempo.

    — Então começa do início, uai. — retrucou Fuutaro.

    — Certo! Tem razão…

    Comecei desde o início o que eu havia ouvido; era algo sério e que talvez ambos não poderiam acreditar em mim.

    Até porque se trata da presidente do conselho escolar.

    — E consegui escutar ela dizendo que havia escrito o bilhete; a Kinoshita é autora a mando da Abe.

    Ambos arregalaram os olhos, incrédulos, olharam um para o outro.

    — Continua… — disse Fuutaro.

    — Ok! Abe disse para as amigas dela informarem que não seria mais necessário continuar com a operação das assinaturas, já que eu não entendi o bilhete e já se passou muito tempo.

    — Mas isso é muito estranho! — disse Fuutaro, com uma cara fechada.

    Dava para ver em seus olhares a descrença.

    — Eu sei, se não quiserem acreditar em mim eu vou entender…

    — Ham? Que história é essa? — indagou de forma retórica Sasori.

    — É, como assim se a gente não quiser acreditar, Yuki? — complementou Fuutaro.

    — Pois… É difícil acreditar numa coisa dessas, não? Estou falando da presidente do conselho e suas amigas, acusando elas de terem feito algo sério…

    Fuutaro se aproximou ainda mais um pouco de mim, tocando no meu ombro, dizendo: — A gente entendeu, e nós acreditamos em você! Até porque conhecemos muito bem essa Abe, ela é capaz de fazer essas loucuras mesmo!

    Sasori fez o mesmo que o Fuutaro, com o meu ombro direito.

    — Principalmente eu… sei bem de perto as loucuras dela!

    — E mesmo se não soubéssemos, nós iríamos acreditar em você; somos amigos, certo? — disse Fuutaro, ajeitando seus óculos enquanto dava um enorme sorriso.

    — Certo! Somos amigos! — disse, com um sorriso no rosto.

    — E o que vamos fazer agora? — indagou Sasori se afastando de mim.

    Fuutaro fez o mesmo; ambos se afastaram e sentaram no banco; estávamos perto do campo de futebol ainda.

    O clima estava agradável, com um bom vento batendo em meu rosto. O céu estava nublado, com uma aparência de que ia chover.

    Mas, mesmo com esse vento agradável, não percebo as folhas caídas no chão voando com a força do vento, nem os galhos das árvores atrás das arquibancadas mexendo com o vento; isso é bem estranho e dá uma sensação misteriosa.

    Olhando em minha volta, escutando o som do vento, consigo escutar também um som estranho e diferente, que não condiz com o ambiente à minha volta, um som meio que… elétrico?

    — Yuki? Está escutando a gente?

    — Ham? A… foi mal, Fuutaro, eu estava boiando aqui, pode repetir?

    — Sasori deu uma ideia para a gente resolver esse problema dos bilhetes e da Abe, mas você não escutou o que ele disse, pelo visto.

    — Hehe… desculpa, pode repetir, Sasori? — disse, com um sorriso sem graça.

    — Posso! O que eu pensei é o seguinte…

    Ele começou a dizer o seu plano, que para mim parecia ser bem elaborado e pensado; como ele conseguiu pensar em algo assim em tão poucos minutos?

    Diria que um plano desses demoraria no mínimo uma hora para pensar.

    — E então? Acha uma boa ideia? — perguntou Sasori, me encarando.

    — Eu achei muito bom, ideal para nossa condição! — disse Fuutaro, ajeitando seus óculos.

    Coloquei a mão no queixo enquanto encarava o chão pensativo, uma forma de demonstrar pensamento profundo, mas estava fazendo isso de forma dramática, já que gostei do plano.

    — Bom, interessante o plano, e acho que vai funcionar bem, eu topo!

    Ambos acenaram a cabeça sorrindo e se aproximaram de mim de novo; Fuutaro ficou à minha esquerda e o Sasori na direita, ambos ergueram a mão e colocaram uma em cima da outra.

    — Vai, coloca a sua mão em cima da minha; isso é uma forma de acender a chama do grupo. — disse Fuutaro.

    Olhei com calma, dei um sorriso e coloquei minha mão junto.

    Nós olhamos um para o outro, e o Fuutaro começou a falar: — 1…2… Não sei o que gritar… o que podemos falar? Nossa irmandade ou só grupo de amigos não tem um nome específico, e agora?

    — Ah, por enquanto vamos chamar de Chiheisen. — disse, olhando para o céu.

    — Hmm, grupo Chiheisen, interessante…

    — Legal, gostei! — disse Sasori.

    — Então beleza… no três todos gritem Chiheisen! Ok?

    — Sim!

    — Certo!!

    — Um… dois…

    — …CHIHEISEN!!

    Todos levantaram a mão para cima; foi um momento bem legal, algo que nunca tinha feito; isso realmente acendeu algo em mim, como o Fuutaro tinha dito.

    Chiheisen será o nome do nosso grupo, que carregará amizade, respeito, felicidade e objetivos até o último dia nesta escola. Esse nome será o alicerce para tudo que for bom para cada um de nós, dentro e fora dela.

    Não sei exatamente por que escolhi esse nome, nem o significado dele; nunca sequer pensei nessa palavra antes. Mas, se ela surgiu na minha mente naquele momento, sem esforço, significa que é um nome importante e marcante.

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