Índice de Capítulo

    Após um dia cheio, finalmente posso deitar na minha cama e descansar.

    Enfrentei dois problemas hoje, mas, por sorte, tenho pessoas que estão me ajudando: a questão da Itsuki com a Ayumi, que o Okawara está lidando, e, em relação ao bilhete do tesouro, meus amigos estão me auxiliando.

    Mas fico pensativo: por que sempre tem alguém me ajudando? Por que não consigo fazer nada por conta própria?

    Desde a CDA, sempre tem alguém me ajudando, como a Emiko, e isso me deixa impotente.

    Não vou poder contar com a ajuda de todo mundo para sempre; tenho que dar conta sozinho, eu preciso disso.

    São muitos pensamentos, e isso me dá dor de cabeça. Já faz dois minutos que fico me mexendo para os lados na cama, sem achar uma posição certa para dormir.

    Depois de alguns minutos incomodado, finalmente consegui acalmar minha mente e encontrar a posição ideal para dormir.

    Sem janela para ventilar o quarto fechado, o clima nesse lugar deixa o ambiente fresco e perfeito para ter uma boa noite de sono.

    Boa noite, mãe. Boa noite, pai. Boa noite, Kuma…


    O sol. É impressionante como o brilho do sol está tão forte, mas o engraçado é que no meu quarto não tem janela. Como isso é possível?

    Só se eu estiver sonhando, a única explicação plausível para essa situação.

    Pena que não consigo fazer nada enquanto estou no sonho, nem dizer o que gostaria.

    No meu campo de visão, vejo apenas o céu aberto e limpo, com o brilho do sol cobrindo a maior parte dele, como se eu estivesse deitado em algum lugar olhando para cima.

    Será que desta vez estou sozinho? Nas últimas vezes, sempre estava com aquela mulher, mas agora não a escuto nem a vejo.

    Um sonho solitário, sem graça, mas com um sentimento de paz, uma tranquilidade que eu queria ter ao lado dos meus pais.

    Uma mão apareceu no meu campo de visão; parece que é… a minha mão?

    Mas a mão, diferente das vezes anteriores, está bastante diferente, como se fosse minha mão do mundo real, é idêntica, na verdade.

    A mão está erguida para cima, como se quisesse tocar o céu, ao mesmo tempo que escuto o som de uma cachoeira… um som e ambiente belíssimo.


    Mas não durou muito; despertei do sonho e, ao abrir meus olhos, vejo o teto marrom e sem graça do meu quarto.

    Voltando para a realidade, o que me despertou foi o som do alarme, indicando que preciso me arrumar para ir à aula do Okawara.

    Talvez hoje ele me traga uma boa ou ruim notícia, se conseguiu ou não convencer a Ayumi a deixar a Itsuki sair do quarto pelo menos um pouco por dia.

    Isso está me deixando louco já!

    Depois dos meus afazeres iniciais do dia, fui ao prédio dos professores para ter minha aula de hoje. A primeira coisa que fiz ao entrar na sala dele foi perguntar se ele conseguiu convencê-la.

    Mas a resposta foi dura.

    — Começa o dia já enchendo o meu saco, garoto? Senta nessa cadeira aí!

    — Sempre ríspido, né professor…hehe

    Ele deu a aula, aprendi a matéria de matemática de hoje, mas ainda estava ansioso pela resposta.

    — E agora, pode me dizer se conseguiu???

    — Oh, moleque chato! Todo dia isso, não consegue ficar um dia calado, incrível!

    — Desculpa, mas… conseguiu? — insisti, sorrindo para ele.

    Se fosse possível, Okawara iria criar uma arma feita de sangue nesse momento só para atirar em mim de tanta raiva que estava segurando; seus punhos fechados com força mostram isso.

    Mas ele parou, respirou um pouco, quase dava para sentir o fedor de seu sopro a metros de distância.

    — Escuta aqui, garoto, presta bem atenção no que eu irei dizer!

    — Sim, estou escutando!

    Ele se aproximou de mim calmamente, enquanto me encarava com ódio.

    Seus olhos negros, funcionando como buraco negro, me puxavam para sua gravidade; parecia até que o chão estava tremendo e a escuridão surgindo.

    Mas por que essas sensações? Não é como se ele fosse fazer algo de ruim comigo. Eu acho…

    — Não-sufoca-o-artista! Já ouviu falar dessa frase? — indagou, apontando para mim.

    Fiz pose de pensativo enquanto tentava lembrar a origem da frase, mas nunca li algo parecido com isso no livro “Mundo Artístico.” da minha mãe.

    — Hmmm, não senhor, nunca ouvi falar dessa frase…

    — Mas dá para entender o que significa, certo? Ou você não consegue entender, pestinha?

    — Eu… entendi muito bem, senhor Okawara!

    — Então, me diga. O que você… entendeu???

    — Que você é um artista do tipo palhaço e que não é para eu te sufocar com perguntas e deixar você fazer seu trabalho de palhaço, hehe.

    Eu tive que fazer essa piada, não sei se foi uma boa ideia, mas não consegui me segurar, me perdoe, Okawara.

    Ele ficou me encarando enquanto escapavam risos de mim; já sua expressão era de raiva, mas ao mesmo tempo de alguém que estava prestes a rir, uma risada de raiva.

    — Vou fingir que não escutei isso! — disse ele, arrumando sua gravata com veias formando em seu rosto.

    O restante da aula foi tranquilo, já que parei de fazer perguntas para ele. Foi difícil segurar a ansiedade e o nervosismo, já que se tratava de algo importante para mim, mas também não quero estragar meu baixo vínculo com o Okawara, então deixei ele em paz por enquanto.

    Assim que a aula acabou, me levantei da cadeira, deixei o tablet que ele me empresta em cima da mesa e parti para a saída, fingindo que havia me esquecido do assunto.

    Mas saí de forma dramática, lentamente, com as mãos no bolso e cabisbaixo, para o Okawara que estava me observando; era como se estivesse escrito bem em cima de mim “Por favor, fala comigo”.

    Se tivesse como, eu faria isso em cima de mim.

    Mas como não consigo fazer uma mágica dessas, preciso que algo dentro dele o toque, ou ele realmente é tão frio assim?

    Já estou perto da saída e até agora nada dele; é a primeira vez que demoro mais de dois minutos para sair da sala.

    — Argh… posso saber por que você está demorando tanto assim para sair da sala? Já está me dando agonia de ver essa sua lentidão.

    — É que… nada! Já estou indo… tchau, professor, você é o melhor professor do mundo todo!

    — Há, com certeza! — disse ele, com um sorriso cínico.

    Não funcionou minha estratégia; finalmente saí da sala e ele não me disse o que eu queria saber.

    Triste com isso, andava lento olhando para o chão, pensando se o fato dele não ter me dito foi porque ele não conseguiu convencer a Ayumi a liberar a Itsuki, e por conta disso me deixaria triste e, como consequência, eu não iria mais às aulas dele por raiva da situação. É uma possibilidade plausível, mas sem sentido, até porque não é culpa dele se ela não aceitar.

    — Você deixou cair, ó!

    Uma voz disparou atrás de mim; como estava pensativo, nem prestei atenção no tom da voz, apenas nas palavras ditas.

    — Deixei cair o quê? — indaguei, me virando para a direção da voz.

    — Deixou cair seu ânimo, hihi.

    O rosto, a aparência, agora que prestei atenção na voz, é a Itsuki, parada na minha frente com um sorriso enorme no rosto.

    — I-Itsuki? O que você faz aqui? A Ayumi também está aqui??

    Virei para todos os lados, mas, como estava no corredor, tinha apenas duas direções para olhar: a que eu estava indo e a que eu vim. Nada da Ayumi, apenas a Itsuki.

    — O que eu faço aqui? Seu bobinho, eu fico no quarto da Ayumi, esqueceu?

    — Ah, verdade, né, hehe… Ayumi e todos os professores dormem aqui no prédio dos professores, e como você dorme no quarto dela, então faz sentido você estar aqui agora.

    — Exatamente, senhor Erlock Holmes! Hihi.

    Algo estava diferente; ela me parece bem mais feliz, como se tivesse realizado um sonho de longa data.

    Seu sorriso estava mais aberto e sincero, era um sorriso bonito e livre.

    — Mas, na verdade, por que você está aqui, nesse exato momento? Pensei que a Ayumi não te deixava sair para fora sem ela por perto.

    — Pois é, era isso mesmo até ontem! Mas não sei o que aconteceu que simplesmente ela me chamou para conversar e agora eu posso sair do quarto por uma hora todo dia! — disse ela, rindo com os olhos quase em lágrimas.

    Seus olhos azuis estavam enxarcados de água, à beira de estourar e derramar pelo seu rosto abaixo.

    — Yuki… eu estou… eu estou muito feliz… — disse ela correndo até mim.

    Chorando, ela me abraçou bem forte; pude sentir seu coração batendo leve, seu corpo tranquilo e sua alma em paz. O que ela tanto queria, ela finalmente conseguiu.

    Pelo visto, acho que o Okawara conseguiu convencer a Ayumi.

    Mas por que ele não me contou? Algo assim eu deveria saber, pois eu estou muito feliz agora.

    — Itsuki… eu também estou muito feliz, feliz por você, feliz que você finalmente vai poder fazer as coisas que queria do lado de fora, vai poder ir aonde quiser! — disse, abraçando ela de um jeito forte e confortável.

    Ainda abraçada, ela tentava segurar as lágrimas enquanto falava:

    — Eu… eu… te agradeço muito… muito mesmo… Yuki!

    — Me agradecer? Por quê?

    Ela me soltou, enxugando suas lágrimas que estavam por toda sua bochecha.

    — Você sabe, você me disse que iria me ajudar, eu sempre confiei nas suas palavras e acreditei que iria conseguir; se não fosse por você, ninguém mais teria feito a Ayumi me liberar.

    Ela limpou seu rosto que estava molhado, mas ainda faltava o queixo; com todo o respeito e delicadeza, passei a manga da minha blusa no queixo, terminando o trabalho dela, enquanto seus olhos fixavam nos meus olhos, suas bochechas ficaram vermelhas.

    — Ah, desculpa, não devia ter feito isso!

    Bochechas vermelhas significam vergonha; devo ter deixado ela com vergonha.

    — Não, tudo bem! — disse ela, rindo de um jeito fofo para mim.

    — Eu fico feliz que você tenha acreditado no que eu disse, porém o que eu fiz foi só pedir o Okawara para convencer a Ayumi a te liberar.

    — O Okawara? Mas ele odeia as crianças. Como você conseguiu convencer ele a fazer isso?

    Eu apenas consegui porque preciso fazer as entregas dele; se não fosse por isso, ele não iria me ajudar, mas eu não posso falar com ela que faço essas entregas suspeitas.

    — Bom, ele deve gostar de mim, hehe.

    — Entendi! Hihi, você é incrível mesmo, Yuki! Fico feliz de ter você como amigo!

    — Eu também, Itsuki, fico feliz de ter você como amiga! Mas ainda é cedo para comemorar, temos que fazer você ficar livre mais do que apenas uma hora.

    — É verdade, uma hora é bem pouco! Mas para quem ficava o dia todo no quarto, uma hora é maravilhoso! — disse ela, balançando seu corpo de forma feliz.

    — Com certeza, hehe! Mas não se contente com isso, pois você terá mais tempo depois! Aliás, sua hora livre é agora?

    — Sim! Já deve fazer uns cinco minutos que saí da aula da Ayumi. Ou seja, tenho mais cinquenta e cinco minutos livres, hihihi.

    — Saquei! Então vamos aproveitar esse tempo para ver o que você quiser!

    Os olhos dela brilharam por alguns segundos; ela realmente está muito feliz com isso, e eu fico muito feliz também.

    Levei ela para fora do prédio dos professores, com o objetivo de fazer, nesse pouco tempo, o que ela quiser.

    Itsuki está usando um vestido vermelho com flores de sakura dispersas por todo o vestido, seu cabelo amarrado estilo cavalo com um broche de borboleta segurando a amarração. Sua testa estava coberta com a franja vermelha de seu cabelo, combinando com a cor do vestido e sua pulseira vermelha no braço esquerdo.

    Ela está toda estilosa, levando a sério sua pouca liberdade disponível.

    Já eu estou completamente diferente dela; meu cabelo castanho está levemente bagunçado, já que não arrumo ele direito, e a roupa? A mesma roupa de quase sempre, o conjunto da escola: blusa de manga longa e a calça moletom preta com linhas vermelhas, de acessórios o relógio espião do Okawara e o anel que minha mãe me deu, ambos no braço direito.

    Diferente dela, eu não estava arrumado para esse passeio, eu nem esperava ver ela agora.

    — Itsuki, você acha que eu estou… desengonçado? — perguntei, com um sorriso envergonhado no rosto.

    Ela olhou para mim, olhou para meu corpo do pé até a cabeça, e abriu um sorriso enorme para mim.

    — Não! Está fofo, hihi.

    — Oras, eu não sou fofo!

    — É sim! Se eu disse, então você é! Pronto, acabou a conversa!

    — Oh, autoridade agora, senhora excelência?

    — Sou! Haha! Sou a mega autoridade e você deve aceitar tudo que eu digo e peço! — disse ela, andando mais à frente de mim.

    — Mas aí eu seria escravo, não? — disse, fazendo pose de pensativo.

    Ela se virou para mim com um sorriso meigo, enquanto os braços estavam para trás, mas o sorriso meigo era um disfarce; sua risada ficou gradualmente maligna.

    — Que risada maligna é essa, haha, você está realmente animada, né?

    Itsuki assentiu com a cabeça para mim enquanto sorria.

    Ela voltou até mim e segurou minha mão.

    Estou sentindo que seremos melhores amigos; só espero que ela não seja ciumenta, já que tenho outros amigos também.

    Na verdade, será que meus amigos vão aceitar o fato de ter ela no grupo? Isso será complicado…Mas depois penso nisso.

    O caminho que estamos andando é o caminho que conecta o prédio dos professores com a praça central desse lugar.

    Cada ponto final tem um caminho específico e adequado que conecta até o ponto central, que é a praça ou o prédio escolar; os caminhos mudam e cada um tem um nome detalhado.

    O caminho do prédio dos professores é o caminho dos pinheiros exóticos; o nome se dá por conta das árvores de diversos pinheiros diferentes espalhados em ambos os lados do caminho. A calçada que separa esses pinheiros e onde passamos é feita com pedras bem feitas, são pisos colocados e não naturais; os bancos e tendas que há nesse caminho são feitos de madeira.

    Fora o prédio dos professores que há nesse lado oeste, partindo do ponto do prédio escolar, também tem o pequeno estádio de futebol, o ginásio de treino de esporte e mais outra estrutura que ainda não sei o que é.

    Porém, tem outro caminho que leva até o norte, que liga o prédio dos professores até o antigo depósito, o caminho de pedra da lua, uma pequena pedra escura circular.

    Nesse antigo deposito onde fica o lugar secreto da presidente do conselho e suas duas amigas, é suspeitamente também o lugar onde o homem do capuz estava.

    Eu e a Itsuki estamos indo pelo caminho dos pinheiros exóticos em direção à praça central.

    — Aliás, Itsuki, não perguntei antes porque achei desnecessário, mas agora eu preciso perguntar!

    — Perguntar o quê, irmão?

    — Q-que? Irmão?? Do nada?

    — Sim! Você agora é meu irmão! Se não quiser, então corto seus dedos fora! — disse ela, sorrindo para mim.

    Ela está mostrando sua verdadeira personalidade agora ou está apenas feliz demais?

    Me parece que ela está se acostumando comigo.

    — Além de autocrata, é violenta ainda? Estou perdido, aiai!

    — É brincadeira, haha, não consigo fazer mal nem para uma mosca que me persegue…

    Pude ver uma aura triste sondando ela após essa frase, enquanto ela estava de cabisbaixa.

    — Hahaha! Mosca é difícil de pegar mesmo. Mas tudo bem! Pode me chamar de irmão, sem problemas.

    Agora sim a aura brilhou e seu sorriso voltou.

    — Mas, em relação à pergunta… você disse que sempre sofria com aquelas meninas, mas como você não podia sair de casa sozinho, como elas conseguiam te fazer mal?

    Seu sorriso sumiu, ela apertou firme minha mão e uma aura triste voltou a sondar seu corpo; o que estava feliz ficou triste em apenas segundos, seu rosto estava se preparando para receber grandes volumes de água vindo de seus olhos.

    — Ah… Itsuki, desculpa por isso, se não quiser falar, tudo bem! Não precisa…

    — Tudo bem… eu… eu estou bem! — disse ela, com um tom melancólico em sua voz

    Esse tom pesou meus ouvidos, apertando meu coração.

    — Tem… certeza?

    Apertei sua mão de volta, mostrando que eu estou com ela.

    — Sim! Eu… eu não consigo falar dessas coisas com a Ayumi e não posso contar a ninguém também, mas com você… eu me sinto confortável e consigo contar…

    Ela enxugou as poucas lágrimas descendo de seu rosto, se preparando para contar o que a aflige.

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