Capítulo 5 - A Garota do Cabelo Rosa
Após alguns minutos, ela retorna com um prato de comida que nunca tinha visto, mas o cheiro é delicioso.
— Obrigado! — agradeci, pegando o prato.
Sigo até a mesa indicada e me sento para comer.
— UAAAU! Você é muito grande, menino! Nunca te vi aqui antes, quem é você? — disse uma menina pequena, sua voz cheio de entusiasmo.
Ao me virar, vejo uma garotinha com cabelo rosa e curto. Seus olhos brilham, como se visse algo impressionante pela primeira vez.
— Eu sou novo aqui, me chamo Yuki e tenho 7 anos.
— NOOOSSAA! Não tem ninguém aqui com essa idade! Por que você está aqui e não na escola?
— É uma longa história. Qual seu nome?
— Me chamo Emiko, prazer! — comentou, fechando os olhos e sorrindo amplamente.
Ela é adorável e parece ser muito alegre.
— Vou sentar com você, menino! — disse ela, levantando-se da mesa e vindo até mim.
Após sentar-se, lhe pergunto;
— Emiko, você está aqui há muito tempo?
— Mas é claro, bobinho! Estou aqui desde que era um bebezinho.
— E quantos anos você tem? — perguntei, intrigado.
— Eu tenho 5 anos! E MEU DEUS, você está comendo salada de rabanete! Que delícia! Me dá um pouco? Por favor, por favorzinho? — disse ela juntando as palmas das mãos, seu olhar implorando para que eu dissesse sim.
A expressão dela mostra que parece não ter essa comida com frequência. Como não estou com fome, decidi ceder.
— Tá bom, calma… aqui, pode pegar.
— AEEEEE OBRIGADO, YUKI! Você agora é meu amigo favorito! Hihihi!
Ela está eufórica, e isso me faz sentir bem.
— Emiko, uma mulher me disse que as crianças ficam aqui até os 5 anos. Você já não devia estar na escola?
— Ah… sobre isso… né!
A alegria dela, que brilhou por um momento, rapidamente se esvaiu com a minha pergunta. Ela virou o rosto para o lado, como se tentasse esconder seus sentimentos, e seu tom de voz ficou visivelmente mais baixo.
— Eu não fui liberada para a escola da ESA… Mas vou para outra escola. Só que… para crianças normais — disse ela, tentando disfarçar a tristeza. Logo em seguida, forçou um sorriso, como se tentasse convencer a si mesma de que aquilo não era tão ruim assim.
Eu, no entanto, percebi algo estranho. Seus olhos… não estavam cinzas. Eles eram totalmente de uma cor linda e única.
— E você não vai para a ESA porque seus olhos não são cinzas? — perguntei, enquanto observava ela comer uma salada de rabanete com apetite.
Ela parou por um momento, a expressão um tanto desconfortável, e então respondeu com a boca cheia de comida:
— Sim… Não sei nem como estou aqui, sabia? A tia disse que meus olhos eram cinzas quando eu era bebê, mas com três anos eles ficaram pretos, e aí eu continuei aqui até hoje.
Eu franzi a testa, confuso. Isso parecia um absurdo para mim. Se ela nasceu com os olhos cinzas, mesmo que mudassem com o tempo, ela ainda assim deveria ser especial! Qual a lógica disso?
— Mas que droga! — exclamei, batendo levemente a mão na mesa, irritado com a injustiça da situação.
— Isso é um absurdo! Você perdeu tanto tempo aqui à toa, então? Você deveria estar com seus pais agora, e não aqui, debaixo dessas regras!
Ela me olhou de boca cheia, mas, ao invés de ficar ofendida, abriu um sorriso largo, como se tivesse achado graça no que eu disse.
— Fufu… Não tem como eu ficar com meus pais, seu bobinho. Você devia saber disso, não? — perguntou ela, rindo da minha reação.
Como eu poderia saber? Pensei. Eu só tinha chegado ontem! Mesmo assim, a curiosidade me consumia.
— Ah, mas eu não sei! Por que você não pode ficar com eles? — perguntei, tentando obter uma resposta mais clara.
Ela continuou mastigando calmamente, e, antes de responder, fez um sinal de espera com a mão, sem pressa alguma. Aquela garota…
Tirei os dedos do meu rosto, frustrado, e comecei a respirar fundo. Como é que alguém consegue manter a calma diante disso? Ela parecia tão tranquila, com um sorriso sem fim, enquanto eu só queria respostas.
O tempo parecia arrastado enquanto ela comia. Passaram-se minutos, e eu estava quase perdendo a paciência quando finalmente ela terminou a refeição.
— Acabou? — perguntei, com um tom ameaçador, tentando manter a calma.
Ela, ainda com um sorriso maroto, agradeceu a comida e se endireitou.
— Ainda não, cabeçudinho! —disse ela, fazendo uma careta engraçada.
— Agora falta levar o prato até a cantina e voltar. Aí, sim, eu falo com você, tá bom? Hihihi!
— AAARRGH, você pensa que é quem, hein? — perguntei, exasperado, batendo a mão na mesa.
Ela não respondeu. Apenas se levantou e foi embora, com um sorriso divertido estampado no rosto. Sem um pingo de preocupação ou de pressa. O que essa garota pensa que está fazendo?!
A observei enquanto ela saía, e percebi que estava caminhando de maneira peculiar — pulando como se estivesse desviando de pedras invisíveis. Que menina estranha, pensei.
Ela logo retornou e se sentou com a mesma calma, como se nada tivesse acontecido. Quando me olhou novamente, seus olhos brilharam com um toque de travessura.
— Então… o que você queria saber mesmo? — perguntou, como se o tempo todo fosse uma brincadeira.
Olhei para ela, mais desconcertado do que nunca.
— Bem, agora nem lembro mais o que eu ia perguntar… Ah, lembrei! Por que você não pode ficar com seus pais? Eles morreram?
Ela deu um pulo tão grande na cadeira que me assustei.
— WOOO, PAROU AÍ! — exclamou, olhando-me com olhos arregalados, visivelmente abalada.
Eu, desesperado, rapidamente me desculpei:
— Calma, calma! Foi só um palpite! Não queria ofender…
Ela cruzou os braços e fechou os olhos, como se tentasse se recompor.
— As palavras têm poder, sabia? Você não pode dizer essas coisas assim para alguém… —ela suspirou, antes de continuar com um tom mais sério. — e sobre eles… não! Eles não morreram. Estão bem e saudáveis, em algum lugar… que eu não sei onde.
Ela fez uma pausa, seus olhos escurecendo por um instante.
— Eles estão bem. Isso é o que importa.
Eu fiquei em silêncio por um momento, tentando processar tudo. O que estava acontecendo com ela?
— Tá bom, entendi! — disse eu, levantando as mãos em sinal de rendição.
— Mas ainda não me disse por que não pode estar com eles agora.
Ela me olhou com um sorriso travesso.
— QUE CURIOSO, VOCÊ, HEIN, MENINO!
— Eu sou mesmo. Qual o problema? — perguntei, me sentindo um pouco desconfortável com o tratamento.
Ela riu baixinho, como se me achasse uma piada.
— Curiosidade já matou o gato, sabia? — disse, com a voz suave, cheia de significado.
— O quê? Como assim, já matou um gato? — perguntei, sem entender a referência.
Ela me olhou como se eu fosse um extraterrestre.
— Você é de onde, menino? Nasceu numa caverna, é?
— Hahaha, quase isso! Morei perto de uma montanha. Ah, e meu nome é Yuki, como já te falei antes. Pare de me chamar de menino! — respondi, rindo, apesar de toda a confusão.
Ela fez uma careta de desagrado, mas não disse nada. Em vez disso, olhou para um canto da sala e apontou com o dedo.
— Olha ali, menino! Está vendo aquela criança? Chegou semana passada, e até agora ninguém conseguiu fazer ela parar de chorar. E olha que aquelas mulheres são boas nisso!
Fiquei curioso, mas também um pouco apreensivo. Crianças pequenas não eram exatamente minha praia.
— Como elas conseguem cuidar desses bebês? Tipo… eles precisam da mãe pra se alimentar, não?
Ela balançou a cabeça, como se eu fosse completamente ingênuo.
— Precisam, sim. Mas… essas mulheres amamentam os bebês mesmo assim. Todas elas dão de mamar. É assim que funciona.
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