O teatro, no entanto, um mestre da comédia também, não os havia inspirado antes, porém, e com retidão, lentamente chegou com a guisa de seu comandante e capitão. Afinal, ninguém ganharia com uma piada vazia da qual ninguém riria, mas o som das risadas que vinham subindo as escadas faziam valer essa decisão. 

    A minúcia chegava ao mínimo, até mesmo para os improvisos, num tom claro e assertivo de que tudo estava ao comando de um grande roteirista, sem como dizer o contrário. A tensão colapsou sobre os olhos dos envolvidos, ao passo de dominá-los mentalmente. Ela cresceu sobre os seguranças, testemunhas da coragem alheia. Dessa forma, os dois guaritas foram rendidos em seguida ao chão. Foram massacrados pela cabeça para que pudessem ver o que não deviam fazer. Ali, tiveram toda a honra pisoteada pela astúcia, e se viram ao prazer dos criminosos, em destaque a um, que subia solenemente as escadas.

    “Saudações, senhores! Como é bom estar nesse país de merda!”, exclamou um homem destacado, trepidando fortemente de uma das escadas. 

    Um sorriso de imediato se estampou na cara, com honesta alegria. Ele havia finalmente chegado, e muito mais desejoso que os demais, sinalizou aos subordinados, apontando-lhes os dedos, que eram obedecidos, mesmo até a olhos vendados. Não faltou tempo no qual ele encarou mal aos civis. Por isso, perante a eles, e ao alto, agarrou seu rifle, apontou-o e deu três rajadas ensurdecedoras para lhes impor o silêncio, no melhor ritmo. 

    “Desculpem o atraso! Há muitos imprevistos nessa vida que fazem mal. Acontece com as melhores famílias”, ele olhava cada um de relance, arregalava os olhos e se aproximava violentamente. “No mais, aproveitem a estadia, enquanto ainda podem viver entre pessoas que não enlouqueceram a cabeça. Aí tudo fica pianinho.” 

    Abriu seus braços, olhando para os arredores como se estivesse diante de sua própria casa, apresentando-a no seu jeito. De repente, engatilhou-lhes a pistola, desenhando-a juntamente de si, para que ela fosse fiel à sua cuidadosa e elegante cor cinzenta que tanto ele amava como sua.

    “Mas temo que ficarão como eles se continuarem nesse ritmo”, seus olhos ressoavam como um dragão à espreita pela escuridão, até pararem sobre o horizonte, longe da estação. “Eu não gosto de me tratar com negligentes quando eles causam seus próprios problemas, sabiam?”

    Seus braços eram o maestro da dança dos desavisados. Para onde ele ia, os outros fugiam num toque de música. Cada passo rangia o chão pelo alarmante e esquisito som da borracha de suas botas. O homem as arrastava com vontade, até deixar uma pegada escura de terra sobre o concreto.

    “Sim, pois é! São muitos loucos dentro desse lugar, mas tantos, que vocês nem imaginam.” 

    Sem que vacilasse a mente, ele abanou a mão sobre o nariz, fungando-o enquanto murmurava de nojo. Sua bota tinha passos sonoros, suficientes como esmagadores calçados para a vingança, embora o capitão evitasse as mãos desamparadas, distendidas sobre o chão, como se porventura pudessem ser pisadas por impulsiva impiedade.

    “Às vezes. sinto que tenho a consciência fraca. Não sou bom de lidar com coisas ruins, entendem? Mas quando senti o fedor daqui pela primeira, eu caí duro no chão. Porém, só não foi pior que o ataque cardíaco de saber que os senhores são mais ingratos do que deviam! Mas não temam, solução sempre haverá para tudo”, continuou, enquanto aproveitava o silêncio que finalmente lhes impôs com a força que havia faltado. 

    “Se conseguirem correr rápido o bastante, no mínimo.” 

    Ele procurou com seu olhar até encontrar dois guardas perdidos que mantinham sob seus joelhos dois homens caídos. Num leve assovio, ele estendeu o polegar para o peito, para instituir a si uma pressa nem um pouco desejada.

    “Tragam os guardas para mim. Eu vou começar com eles.”, comandou, e num ritmo controlado e assertivo, seus subordinados trouxeram os dois seguranças rendidos. 

    Mas antes que virasse sua atenção, um idoso de olhar afiado viu o recém-chegado capitão logo ao seu lado. Assim que o mundo caiu à sua frente, sentiu-se bravo o suficiente para estufar o peito e apertar a testa. Então, ele resistiu aos traços da idade e atirou-se sobre o homem, para lhe dar força última de seu vigor. Porém, logo depois, o capitão deu-lhe uma coronhada sobre a cabeça e o agarrou pelo pescoço, pondo-lhe o cano da arma sobre a goela. Ali, retomou as rédeas do que de fato poderia estar em suas mãos. O mercenário, porém, desistiu para seu bem, e nada mais fez a ele. Mas sua curiosidade aumentou, não por ele, mas pelo homem rendido e picotado à frente, sob a bota de um dos homens.

    “Por que está fazendo essa cara?! Como assim nós somos o problema? De forma alguma que somos monstros aqui. Quem disse isso aos senhores?”, aproximou-se do parlamentar, levantando-o para cima. “Foi ele? Foram os belos engravatados das bolsas de valores? Os cantores? Os banqueiros? Os políticos? Ah! Não é nada difícil de entender. É só me escutar, gente!”

    Ele acenou para seus guardas, e dobrou os dedos, apontando para um grupo de jovens que estava deitado sobre suas mochilas e bolsas. Todos eles foram levados à força para as escadas, e brutalmente obrigados a terem as bocas cobertas por fita adesiva.

    “A derrocada de todo esse país começou quando deram a voz a sociopatas como vocês!”, caminhou com lentidão, observando-os de cima para baixo, e não lhes rendeu qualquer dúvida. “A saída é muito simples: podem se amarrar a uma forca e se matem, porra! Ou façam que nem ele, que ao menos terá a morte menos bosta daqui! Não era esse o homem que queria salvar o dia? Ou ele foi impulsivo como um desgraçado internado num manicômio?!” 

    “Ora, não me façam ter que desenhar e fazê-los quebrarem a porta com tanta falta de educação. Vocês desaprenderam tudo o que sabiam sobre o mundo. O preço disso é bem alto!”

    Subitamente, porém, o capitão teve a atenção chamada por um som tenro e baixo de uma mulher chorosa próxima a ele. Comovido por aquela tristeza, ele abaixou as sobrancelhas. Assim que a viu, riu suavemente e se levantou.

    “Não faz mal chorar, eu estou muito triste também! Que tragédia é essa na qual vivemos. Mas já está bom, pode parar…”, soltou aquele homem velho e se virou até o guarda rendido. 

    De imediato, o capitão agarrou, entremeando de força seus antebraços, um homem de camisa azul e um bordado hierárquico para pô-lo de joelhos. Debaixo de seu tronco ajoelhado, uma pistola ficou caída. O líder a retirou e virou os olhos a uma mulher de vestido semiformal. Atrás de seus olhos, logo depois da máscara, estavam os dentes cerrados pela irritação.

    “Ninguém quer sangue, moça. Pare de chorar! Será que a ‘boniteza’ jamais me entenderia? Já viu alguém se agradar vendo a si mesmo sangrar? Ninguém viu. Mas a lei natural, das coisas, deve prevalecer, embora haja algumas vezes que não queiram isso! Quando guerreiros respeitáveis são rendidos, em teoria, se deve respeito a eles.”

    “Mas que respeito eles tiveram nesse caralho com a gente?! Uma pena: eu não acredito nisso mais”, silenciou-se, deixando-lhe um vulto sinistro mudar seu semblante com violência, consagrado pela raiva e desatino de estar com os ouvidos estourados de dor e irritação. Puxou o pino da pistola, e engatilhou.

    O horizonte de quem via de longe estremecia-se perante o homem como um estandarte de guerra queimado. A mulher se debruçava, enquanto soluçava de medo para cada vez que sonhava com uma saída. Porém, ela não se segurou. O toque de uma mão amigável como a de uma moça logo atrás a assustou, e num chilique ela tremeu, acompanhada de um soluço muito mais alto que não pôde ensurdecer os ouvidos tapados do capitão.

    “É só parar de chorar, porra!” 

    Num passo de um clique forte, semelhante ao de uma maçaneta de um grande portão sendo destrancada, criou-se um estrondo que pareceu maior que a terra. Uma poça de puro e inacabável vermelho-sangue primeiro nasceu como uma cachoeira, até se tornar uma lagoa solitária, com nenhum oceano para desaguar. A face estava dilacerada, cocuruto até os olhos e esparramada de sangue, sem como afogá-lo. 

    A mulher gritou, se estremecendo de sofrimento, e pondo as mãos sobre a cabeça até ser agarrada como se tivesse uma corda ao pescoço. Sua nuca foi pressionada pela força bruta dos punhos do homem, que frente a frente encarou a moça no fundo de seus olhos, para que ele não escapasse.

    “Dá mais um pio para ver se eu não faço de você comida para meus cachorros. É bem melhor que ver um desses homens tascar a mão debaixo na sua boceta. Os idosos broxas estão querendo!”  

    Uma outra mulher a agarrou mais de perto e a puxou ao chão, fazendo-a se espremer naquele sofrimento. Mesmo que quisesse alinhar os olhos entre elas, não era suficiente para fazê-los entrar de cena por sua recusa de resistir a essa vilania. O capitão se adiantou com confiança, e acenou positivamente.

    “Ainda bem, vejo alguém que valoriza a própria vida aqui! De pouco a pouco, estamos revertendo a crise!”, exclamou, alegre, e depois, caminhou sobre a estação para que fosse ouvido com atenção. 

    “Viemos prestar contas. Acredito que não existem cabras-macho nesse governo acabado para levar as coisas como são. Vocês vivem reclamando das coisas ruins que acontecem, e agora estão tristes porque alguém colocou o pau na mesa?”

    Ele abriu a boca de surpresa, mesmo que ela estivesse escondida por trás de sua touca, e escancarou os braços em indignação e descrença. Com uma leve risada, ele se endireita até seu primeiro subordinado, para que ele desse um passo atrás e não o cobrisse de suas palavras.

    “Que bom que a sorte me deu o prazer de conhecê-los melhor. É mais sábio do que passear com um deputado qualquer limpando a boca com um guardanapo requintado”, os olhos da moça caíram em prantos, chorando profundamente para resistir à corda, sem haver alívio. Em seguida, ela recebeu um chute sobre o rosto, desmaiando em seguida. No decorrer em seguida, deu a ordem para se instalarem no campo de batalha, e ninguém mais deu um pio contra ele.

    “E o tempo se contará agora.”


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