“Sumam daqui”, exclamou, apontando-lhe o dedo violentamente. “Vamos! Se não quiser obedecer, pode ir embora. Casquem fora!”

    “Você não vai agradá-lo sem cumprir o mínimo que o acordo pede. Isto, somente, se houvesse alguma honra, pois o respeito que você deve a ele é maior que sua própria honra.”

    “Se quiser tomar o dia todo, então não espere a polícia vir aqui toda bonitinha para pagar, porque não vai acontecer”, olhou-o firmemente. Suas pupilas tremiam, saindo pouco a pouco de ver seu superior para outra direção. “A única coisa que está te protegendo são esses trens que colocamos aqui. Qual a porra da dificuldade para devolver gratidão? Você está prestes a morrer.”

    “Onde está o prosseguimento do plano, capitão? Seria a hora de acionar o protocolo vermelho se não fosse sua pirraça, não?”, as pupilas do homem sumiram, intocadas pelo medo. 

    “Combinamos que era para matarmos cada um dos reféns aqui para a polícia vir com fogo. Vamos seguir o plano, estrangeiro. Ninguém brinca quando se fala de graça”, duvidou, levantando as sobrancelhas em confusão, enquanto punha a mente para se lembrar sobre os preparativos.

    “Não coloque sal demais nesse bolo. Eu não quero saber a opinião de quem nunca viu um campo de batalha. A gente vai tirar alguma vantagem disso para não ficar feio!”, o capitão se fitou. De relance, observou seu subordinado segurar-se raivosamente, quase avançando sobre ele, e cruzou os braços. “Eu lhe darei duas opções: você me obedecerá, vai pegar o dinheiro e não vai encostar em nenhum dos reféns.” 

    “Mas se for para fazer festinha, o governo vai comer seu cu, filho da puta.” 

    “Se dinheiro passasse mensagem, então era mais fácil matá-los. O quão vocês são diferentes de nós, afinal? Não é tanta coisa”, respondeu. “Você é só um fracassado igual à seu paisinho. Nem tem amor pela própria pátria e agora está engolindo a própria fraqueza. Vigie as próprias costas para que elas não sejam punhaladas tão cedo. ”

    “Você já vestiu uma farda, pelo menos?”, retrucou. Logo, bateu os punhos e os segurou fortemente, sem se titubear em dúvida. O estrondo foi acompanhado de uma certeza nada relutante, e um silêncio desonesto.

    “Foi o que imaginei. Quanta merda tem na cabeça de aristocratas no lugar da razão para não saber obedecer?! Nasceram ontem, e acham que controlam o mundo porque o papai pagou a universidade, deu emprego. Que bonitinho!”

    “Vai lá e aponta essa arma sem justa causa, desalmado. Eu recebi a autoridade dessa missão, e tenho o direito de lhe apontar a merda que está fazendo em nos acusar de traição. Aí, chega o momento em que o cabeça de baleia veio dar opinião com um discurso cagado? É isso?”

    “Não iremos embora até conseguir nosso pagamento, e se não der, é fácil ir atrás da cabeça do seu fascistinha que comanda os putos dessa sociedade de virgens.”

    “É uma pena que tenham vindo tão tarde para a festa. Eu pensava que saberia melhor do que todos nós que dentro de cada casa existem regras”, respondeu, alterando brevemente seu sotaque para um ‘esnobe.’ Seus olhos se voltaram a olhar de relance, pelas costas do capitão. 

    “Agradeça os vistos e os passaportes fraudados. Temia que não fosse tão obediente”, disse, dando sequência para enxergar seus demais compatriotas, e todo o aspecto dos trens, para ver até onde eles terminavam.

    “Não viemos fazer compras nesse país, cabeçudo. São vocês que compram robôs sexuais e não sabem lidar com seus problemas”, retrucou, vendo-se cansado de dizer o mesmo. Porém, um leve barulho de um clique recumbiu atrás.

    O capitão se virou, e dali ele se viu num absoluto estado de terror. Um miliciano caminhou lentamente, pressionando-lhe um cano de uma arma sobre seu pescoço. O mundo parou. Ele levantou as mãos, e nesses instantes, percebeu que estava perdido. 

    Confiou demais no curiosamente indevido, e escolheu um serviço possesso pela audácia e desgraça. Refletiu sobre o tempo, o quanto a sobrar-lhe, e se foi corajoso demais, além de sua medida. Ele dobrou seu rosto para baixo, mostrando a finura da pele que dava aparência aos ossos.

    “Se não houver um massacre nesse lugar que honre nossos ancestrais enojados com esse governo fedido que retirou o orgulho de nosso Imperador, então não haverá paz!”, gritou, erguendo o peito para a direção do capitão, que o olhava resoluto. 

    “Matem se ainda querem viver!”

    Apenas restava cantar-lhe uma ode: anunciando o espelho erigido frente a seus anseios. Através desses momentos, constituiu-se sóbrio seu fado, a quem ele dava tanta estimação como aqueles que nomeava carinhosamente párias para si, talvez um pouco mais em relação às obras que fez durante sua longa carreira. Ele resistiu, e abanou a cabeça igual a um subordinado, enquanto retirava de si um sorriso pleno e alegre.

    “É o que nos sobrou fazer”, resmungou, enquanto sentia a ponta do cano encostar lentamente sobre o pescoço dele. Porém, ela se afastou para trás, sem o governo da velha sabedoria, e permitiu um olhar súbito o acometer.

    “Até mesmo pirralho já fez melhor contra mim”, replicou, retendo um sorriso leve.

    Os outros homens perceberam e não hesitaram. O capitão abaixou a cabeça de súbito; tenso e cansado, sua força brutal se esclareceu, assim como o ódio. Voraz na irracionalidade, ele agarrou a mão armada e puxou para si enquanto estava com o peito inclinado e o desespero se deu conta, sem que o cano da arma o alcançasse. Eis que o braço dele se esticou mais alto que seu pescoço, e o do homem se travou, ao passo de fazer seu cotovelo se contorcer sobre o braço do capitão. 

    Três tiros foram dados nessa confusão. Na disputa desesperada pelo desarme e pela vida, o assassino sentiu o gatilho leve, como se não pudesse controlá-lo durante a barbárie: atirou para sobreviver e fugir do predador. 

    Os reféns puseram as esperanças abaixo e choraram por medo, mesmo com os esforços para parar a insanidade. Era uma angústia sem dó que havia preenchido todos, tanto é que acabou numa catástrofe. 

    Empossado de muito brio, quebrou o dedo indicador de seu assassino, puxou a pistola de sua mão, chutou-lhe sobre a cabeça usando a sola e quando se virou, já era tarde. O dissidente, então, foi baleado pelo braço e caiu duro ao chão. 

    Desarmado, o outro homem foi posto sob custódia pelos membros do grupo. Imediatamente, foi posto de joelhos e a ponta de um rifle foi colocada sobre a cabeça. Já o outro homem, que o ameaçou, teve uma sorte maior que o outro; sofreu e grunhiu de dor sem parar, e então foi pisado sobre a mão pelo mesmo homem, gritando mais do que os reféns. Sorte foi a do capitão de se planejar e se cuidar; lançou-se sobre um quarto escuro e caiu de peito sobre uma porta para sair.

    “Esse é um grito pouco másculo para um japonês nato”, encarou-o mais abaixo, “eu não fiz nada. Foi seu amigo aqui, eu sinto muito.” 

    O sofrimento do homem reverteu sua aparência ameaçadora como nada. O capitão suou para sobreviver, ergueu toda sua força para o alto e respirava tranquilamente. Se for para causar um acidente, é só pôr o pé sobre o caminho e dar aviso. 

    “O líder de vocês havia separado cada um de vocês por pureza sanguínea, está tudo em documentos arquivados”, o capitão se virou ao mesmo homem e deu um tapa forte sobre a bochecha dele.

    “Vou explicar para os que não entenderam: vocês e os outros teriam morrido que nem bosta de qualquer jeito! Não tiveram as bolas de fazer isso contra o Imperador, então, foda-se, eu vou tirar a merda que tá entupindo a privada”, exclamou, ” e assim mundo vai ver a desgraça podre que tanto quer em vocês. Dessa vez, vocês não vão esconder.”

    “Ela… não perdoará,” disse o homem baleado, “vocês estão marcados para morrer. Nenhum dos seus homens estará vivo para contar a história.” 

    “O dinheiro sempre tem hora. Os seus camaradas lá estão com medo de mostrarem a nojeira. A gente sempre foi bom em esconder o podre dos outros. Colocar gasolina e queimar leva pouquíssimo tempo, menos que o tempo que sua nação medíocre levou para perder a guerra e virar fantoche capitalista,” disse, calmamente pisando sobre o braço do homem, fazendo-o grunhir até se desesperar. 

    “E nós vamos tirar um preço alto disso”, logo depois, virou-se aos demais, dando-lhe um alívio após seu perigoso esforço.

    “Quanto a vocês, meus soldados, já adianto uma coisa!”, alertou-os, “podem deixar os covardes com os reféns. Tudo o que sobrar nas mãos deles ficará com eles. Demos uma chance a esses traidores, mas não adiantou, deu na mesma essa desgraça!” 

    “O protocolo vermelho foi acionado, pode rasgar esse contrato!”, ordenou. Os outros então foram despidos, com suas vestes arrancadas. 

    A estação se cobria por outra camada de um desastre interminável. Olhavam para baixo, envergonhados, assim como os seus novos carrascos, como se seus olhares se cruzassem indevidamente, sabendo que nunca haviam se interessado naquela proposta, e no fim, não venceu o dinheiro e nem a fama. Apenas a morte, talvez, para aqueles que estavam querendo, a qualquer custo, para alastrar o caos. Outro homem veio apressado segurando um comunicador. Ele acenou para que entrasse no trem.

    “Capitão, estão querendo uma explicação para esse rolo que fizemos! Vai até a cabine o quanto antes. Os caras vão nos cortar a cabeça se tiver um japonês morto!” 

    “É problema deles, eles não têm nenhum laudo para essa operação”, no entanto, ele foi puxado pelo homem, que desesperadamente ainda o encarava pelos olhos.

    “Senhor, essas ordens vieram pelo chefe da Força-Tarefa no rádio, o maioral!”, disse ao capitão, calmamente. O homem, apertado pelas más oportunidades, sorriu.  

    “Os vagabundos ficam com a bunda virada para a lua quando os ratos aprendem a fazer perícia. Vai render bem se desconversar”, respondeu, com um riso sarcástico.

    Depois, não se absteve e subiu as escadas para entrar ao trem, cruzando lentamente todos os vagões num passo como de um equilibrista sobre uma corda. Agachou-se e então se escondeu, assentado sobre o chão. Estava todo bagunçado, caindo aos pedaços depois do caos que foi a saída dos passageiros. 

    Uma farpa havia ficado: um sacrifício desavisado, além da própria compreensão, que não cabia inventar razão aos instintos de sobrevivência, totalmente imprevistos pelo protocolo.

    Na escuta, pedindo checagem de rádio. Daremos sequência ao procedimento para iniciar negociações sob o preâmbulo para uma invasão coordenada se não houver resposta em dez minutos”, com peculiar atenção à elegância e eficiência, o policial manteve uma compostura bem difícil diante dos invasores. 

    “Operação Cinco-zero-zero-três-zero. Fim do Inglês. Se cumpridos os requisitos, a transferência será executada. Requisito resposta, câmbio.” 

    Dali veio a lenta realização de segurança que permeou seu corpo. O capitão se sentia tranquilizado, mas hesitante. Algumas partes do plano foram conduzidas à exaustão, para que não falhassem. 

    A noite toda estava sobre seu braço, bastando apenas aguardar e tomar uma ação imediata. Em sua mente estava a realização de que seria difícil convencê-los a reagir com hostilidade por pouca coisa; estava difícil crer que isso era possível de acontecer no país. 

    O capitão pressionou de leve o botão do comunicador, respirando profundamente. Mas, ao pior dos encalços, um grito desesperado lhe atacou a audição, como se desaparecesse para a escuridão. Um zumbido quase inaudível ensurdecia os ouvidos da estação. 

    Logo, segurou seu rádio para mais perto, sentindo-se apreensivo. Prostrou-se raivosamente, pondo-lhe a mão sobre o coldre. Porém, o metal sucumbiu ao som com força, num estrondo, envolto pelo nevoeiro nem um pouco de outrora.

    “Essa porcaria vai ficar muito cara na mão de vocês. Estragaram tudo,” apanhou uma pequena arma com metade do tamanho de sua pistola, semelhante a um utensílio qualquer de cozinha, dando-lhe um clique para que se iluminasse. Uma fumaça surgia de toda a sua arma, cobrindo-a totalmente, até desaparecer de vista.


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