Capítulo 14: Uma rixa entre garotas
Goda
— Uwaa. — Era algo como 4 da manhã, eu estava bocejando de tanto sono, mas fazer o que. Eu tinha que reencontrar alguém.
Sabe, nunca fui do tipo de ter muitas amizades. Sempre fui muito interativo, claro, nesse mundo cruel eu descobri da pior forma a importância de contatos. Mas ainda assim, nunca me conectei muito com as pessoas.
Óscar tinha algo de diferente.
Ele apareceu do nada, com sua aura estranha permeando os arredores, e chamou a atenção de um demônio de alta classe. O cara não tinha nenhuma peculiaridade, não era forte nem conhecia o mundo exorcista. Não. Apenas a existência dele colocava medo em Beelzebub.
A linhagem do Óscar é bem famosa no Mundo Inferior, poucos são os que não conhecem(pessoas comuns, no geral).
Cruz. Esse é um nome poderoso. Eu ouvi algumas histórias sobre um certo homem que carregava esse nome, dizem que foi alguém que foi elevado à Anjo pelas mãos do próprio Deus.
Claro, não dá pra colocar muito crédito em histórias assim. Mas ainda sim…
De qualquer forma, estou ansioso para ver o quanto meu amigo cresceu nesse último mês. 4 semanas são um tempo extremamente curto para que ele possa ter evoluído muito, mas Kogo me disse que iria dar um jeito.
Só me resta confiar nele.
Me tirando dos pensamentos, duas figuras ao longe me chamaram atenção.
Do lado direito estava um homem de estatura média, com longos cabelos cinzas e um grande sobretudo negro.
À esquerda dele estava uma mulher, um pouco mais baixa e igualmente agasalhada com um sobretudo, este sendo menor e menos pesado que o do homem. Ela tinha longos e volumosos cabelos brancos.
O que mais chamava atenção neles não era o físico, mas a aura ao redor de ambos. Era enorme, o que indicava que não sabiam esconder sua presença. Ou seja, amadores.
— Yo! — Quando se aproximaram o bastante, acenei para eles.
Era Óscar, sem dúvida, seu físico não havia mudado nada. Mas a mulher eu não reconheci.
— Já faz um tempo — disse Óscar.
Uma olhada rápida foi o bastante, o cara tinha ficado mais forte. Sua energia corria de forma descontrolada, mas de uma maneira única. Eu não soube dizer porque, mas seu controle me pareceu muito bom para um iniciante.
— Ah, claro, essa é Cecília — esclareceu ele, ao perceber minha confusão com a presença da garota — Ela treinou um tempo comigo. E parece que ela também tem assuntos com Beelzebub!
— Oho — eu disse, enquanto passava meu braço pelo pescoço de Óscar — Mas você não perde tempo mesmo em… Em um mês já apareceu com outra garota.
— Outra? — falou baixinho a garota, sua testa enrubescendo.
— Tch, não é nada disso. Mudando de assunto, não esperava te encontrar aqui.
— Como posso dizer… achou mesmo que eu iria perder esse reencontro épico, guri?
Bom, a garota é uma surpresa, mas não acho que vai atrapalhar. Mas mesmo assim… talvez…?
— De qualquer forma, vamos com isso! — Óscar me tirou dos pensamentos.
Nos direcionamos à casa que estava logo atrás de mim. O ninho do demônio.
Demos passos curtos mas consistentes. Sendo sincero, eu estava com pressa, mas não quis estragar o clima dos dois.
Quando estávamos nos aproximando da porta, ela se abriu. Uma figura passou por ela e a fechou lentamente.
Era uma mulher, uma garota, na verdade. Sua figura era esplêndida, uma beleza rara que não se vê em todo lugar. Sua roupa era branca e justa, basicamente um macacão. Estava claro que ela se vestiu para lutar. Mas claro, sua roupa era o de menos, o que mais chamava atenção nela era seu cabelo. Uma juba escarlate que brilhava na penumbra da madrugada.
Olhando para o meu lado, estava a garota, Cecília. Seus olhos eram puro ódio, total contraste com o olhar de tédio de agora há pouco.
Óscar estava olhando para as escadas, não para Aka. Seus olhos estavam vazios.
— Olha só quem está aqui — eu disse, tentando quebrar o gelo.
— Vá embora Óscar, por favor — disse a garota no topo da escada. Seus olhos brilhavam e quase era possível ver lágrimas.
Ao invés de responder, o meu fiel amigo apenas começou a andar. Caminhou lentamente até Aka e…
Passou por ela.
— O quê? — resmungou Aka logo antes de avançar em direção à Óscar.
Num movimento extremamente rápido, Cecília voou até a porta escorregando por baixo do braço ereto de Aka, e num corte horizontal, empurrou ela com uma lâmina de luz.
— Vadia… sai da frente — rosnou Aka.
— Tente a sorte — respondeu Cecília.
Cara, isso vai ser bonito de se ver!
Aka disparou em direção à Cecília, puxou de uma dobra do macacão dois bastões e os imbuiu com energia do abismo.
Cecília prontamente ergueu sua lâmina de luz que saía do… seu braço? Wow isso é raro de se ver. Ela consegue projetar energia em seu próprio corpo? Interessante!
Aka deu um golpe duplo direto nas costelas dela, que foi defendida pela lâmina de luz. Em contra-ataque, Cecília chutou de forma vertical o queixo de Aka, a fazendo voar para o asfalto.
Sem perder tempo, Cecília avançou e tentou cortar horizontalmente o ombro de Aka, sendo barrada pelos bastões da garota. Aka prontamente chutou os calcanhares de sua oponente, a fazendo cair de joelhos. Logo após isso, desferiu um soco no estômago dela, Cecília cuspiu sangue.
Aka agarrou a garota pelo pescoço e a arremessou. Cecília rapidamente recuperou fôlego e pousou de pé, novamente avançando até Aka.
Com um movimento giratório de pés, Cecília chutou Aka nos ombros, a fazendo cambalear. Logo em seguida puxou sua lâmina de luz e acertou Aka no braço direito, a garota esquivou por pouco, mas ainda foi ferida e soltou seu bastão, enquanto pulava para trás.
Analisando friamente, Cecília tem vantagem. Ela é mais ágil e tem a liberdade de usar sua lâmina de luz a hora que quiser. Já Aka tem a necessidade de usar bastões físicos. Além do mais, Aka tem fraqueza natural contra luz, e ela já foi ferida uma vez.
Mas ainda assim… Cecília é nova nesse mundo, e Aka tem mais experiência, embora não pareça que lutou muitas vezes. Melhor eu manter a guarda alta, não quero estragar tudo e deixar a garota do Óscar morrer agora.
— Ei, você se lembra? — Cecília de repente começou a falar. — Minha mãe. Você a deixou nessa mesma situação, pouco antes de a matar sem mais nem menos.
Oho! Já entendi a situação. Então Aka matou a mãe dessa garota em… Não esperava essa determinação toda dela.
— Tch — resmungou Aka — É por isso? Todo esse show apenas porque matei sua mãe?
Pode até parecer uma pergunta fria e imbecil, mas olhando quem é a mãe de Aka, não é tão estranho assim.
— Veja, não vale a pena jogar sua vida fora por conta de uma puta aleatória. Vai embora e eu finjo que nada disso aconteceu.
Nesse momento um sorriso desagradável apareceu no seu rosto. Por outro lado, uma expressão terrivelmente odiosa estava no rosto de Cecília.
A companheira de Óscar avançou abruptamente contra Aka, que prontamente puxou uma faca e a enviou até Cecília.
— Merda — gritei, me preparando para intervir.
Não foi preciso.
Cecília deu um giro para a esquerda, desviando da faca. Rapidamente alcançou Aka, segurando seus cabelos vermelhos e pregando um soco no meio do rosto da garota. Cecília continuou a desferir socos contra Aka, amassando o chão com a cabeça do demônio.
— Ei, Cecília — chamei —, poderia não matá-la agora? Ela vai ser útil ainda.
A garota me lançou um olhar por cima do ombro, mas retomou seus socos.
— Ei — disse novamente, mas dessa vez deixando sair minha energia — Por favor?
Eu gostaria de ir pela conversa, mas não me importo em convencê-la pelo medo. Ela me lançou um olhar frio, semicerrando os olhos, e disse:
— Muito bem, mas eu vou matá-la!
Merda… ela não gostou de mim.
— Claro, claro. Só peço que guarde para mais tarde.
Resolvido isso, entramos na casa. Cecília puxando Aka, ainda desacordada, pelo pescoço.
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