Capítulo 17: O que ele disse…
— Haaa, que saco — bufou a garota — Por que precisamos esperar aqui nesse lugar? A gente pode simplesmente andar por aí e ver a cidade!
— Goda nos disse para esperar, então deve ter algum motivo. Além do mais, essa cidade não tem nada de muito diferente das outras, então seria desperdício de tempo.
— Pra você é fácil, né? Aposto que andou muito pela cidade junto da Aka…
Óscar riu forçadamente e baixou o olhar.
— Ah — Cecília talvez tenha percebido que disse algo errado e recuou um pouco — Desculpe, falei algo que não devia.
— Tudo bem, acho que te devo algumas explicações.
Ambos estavam em um banco ao ar livre, a brisa era gelada mas não incomodava. Óscar olhou para o céu completamente limpo e pensou um pouco antes de responder.
— Eu e Aka nos conhecemos na escola, ela e eu éramos novos lá, então nos aproximamos rápido. Na verdade, olhando agora até que faz sentido ela ter se aproximado de um fracassado como eu.
Cecília cerrou os punhos, mas não disse nada.
— Em pouquíssimo tempo acabamos saindo juntos como casal, foi realmente rápido. Eu me apaixonei profundamente por ela, acordava pensando no que fazer quando encontrá-la e ia dormir esperando vê-la no dia seguinte. Eu era o clássico idiota apaixonado.
Óscar abaixou o olhar para o chão e encarou uma trilha de formigas.
— Eu não era o único apaixonado, ela também deu a entender que gostava de mim. Afinal, ela foi quem me beijou primeiro. — O rosto de Cecília estava amargo, mas Óscar não podia ver — Quase tão rápido quanto começou, ela mostrou sua outra face. Fomos até a casa dela e… o resto você pode supor.
— E você ainda sente algo por ela?
— Não! Ela me traiu, mesmo que tenha existido algo, isso não é um fato ignorável. Eu simplesmente não tenho mais nada com ela.
Era mentira.
Óscar se apoiou firmemente em sua relação com Aka. Ambos estavam apaixonados e isso não é fácil de esquecer. Óscar não sabe o que, exatamente, mas existia um sentimento preso em seu coração. Um sentimento que demoraria a ir embora.
— Entendo. — Cecília não sabia se era verdade ou não, mas ainda assim ficou feliz e satisfeita.
— Sinto que não vamos ter muito tempo livre, eu queria explorar o mundo e testar algumas coisas…
— Mas os velhos do conselho vão nos deixar com muitas coisas chatas — concluiu Cecília.
— Hehe, exatamente!
Enquanto tinham essa conversa, Óscar se lembrou de alguns momentos antes de sua luta contra Beelzebub.
— Kekekek, então você sobreviveu…
— É o que parece.
— E está aqui pra morrer de novo?
— …
— Mas é um alívio — disse a criatura, enquanto se levantava e caminhava em direção ao homem — Se você não tivesse sobrevivido, eu teria que enfrentar seu amigo, e eu não quero esse tipo de problema.
— O que quer dizer?
— Aaaa, então ele não disse nada… — O rosto do demônio se contorceu em um desagradável sorriso.
Óscar queria matar Beelzebub, mas antes disso ele tinha algumas perguntas para fazer.
— Então Goda realmente fez algo, não é?
— Sim, ele fez. Na verdade ele mesmo poderia ter me matado 1 mês atrás, mas inutilmente decidiu confiar em você para esse trabalho. Idiota kekek!
— Hm, eu posso acertar isso com ele depois, tenho outras perguntas para você.
— E por que acha que irei respondê-las?
— Porque está curioso sobre mim também.
O rosto de Beelzebub ficou mais sério do que antes.
— Me diga o que sabe sobre minha linhagem, e assim talvez eu te conte algo que queira saber também.
— Você mudou um pouco desde a última vez… pois bem. Existe uma lenda entre os demônios, uma sobre os homens da linhagem Cruz. Para dizer a verdade, nem mesmo eu sei muita coisa sobre aqueles que carregam o nome, mas a lenda é tão famosa que é impossível escapar de mim.
— Não enrole!
— Kekek, apressado demais. A lenda diz que um homem que tinha o nome Cruz, virou um anjo de Deus!
— O quê? Isso não deveria ser impossível? Humanos e anjos são seres diferentes, não classes.
— Para Deus e Lúcifer, impossível normalmente é apenas uma palavra.
— Qual o nome desse homem?
— Está pedindo além do que posso fornecer.
— Isso é absurdo…
— De fato. Mas um dos motivos pelo qual te matei foi precaução, nunca se sabe até onde essas lendas são reais.
Beelzebub cruzou os braços.
— E então, irá ouvir o que tenho para dizer?
— Depende do que será. — O rosto de Óscar se contorceu em uma expressão cautelosa.
— Eu duvido muito que você saia daqui vivo hoje, mas caso aconteça… o seu amigo, Goda, não é? Tome cuidado com ele, você não o conhece, na verdade você não conhece esse mundo ainda.
— É só isso?
— O que foi? Achou que uma criatura menor como você iria ter alguma informação para mim? Poupe-me.
Um grupo de pessoas adentraram a sala e a luta começou instantaneamente.
*****
Óscar deixou Cecília para trás e acompanhou Goda para um lugar mais afastado.
Não demoraram para chegar, e assim que percebeu, Óscar ficou admirado.
Era um tipo de cemitério.
Desde onde se podia ver, até onde a vista terminava, um cemitério gigante.
— Esse lugar é onde enterramos exorcistas que morreram caçando.
— É imenso.
— Sim, é.
A voz de Goda tinha melancolia, quase uma tristeza clara.
— Sabe, não existem cemitérios como esse para os desviantes. Normalmente os corpos são tratados como lixo e deixados por aí ou queimados. Ninguém liga de verdade.
— Não posso dizer que sinto pena…
— Eu não te julgo por isso, você ainda não conhece esse mundo muito bem e não entende os problemas dele. Me diga, Óscar, o que você acha dessa vida que levamos?
— O que eu acho… ainda não sei bem a resposta pra isso, mas eu diria que é difícil.
— Haha, essa é uma boa palavra, difícil. Mas receio que você ainda não sabe o peso dela. Algum dia eu te farei essa pergunta novamente, nesse momento… me dê uma resposta definitiva.
Óscar não entendeu a intenção, mas mesmo assim guardou essas palavras no coração.
— Goda, você está do meu lado?
Goda olhou para Óscar e depois de uns instantes, sorriu.
— Sim, eu estou do seu lado!
— Vamos voltar então — disse Óscar, satisfeito por ter tido essa conversa. E sem nenhum peso na consciência.
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