Capítulo 18: Nova missão
Duas figuras passaram rápido por entre as árvores. Não era uma floresta imensa, mas uma vez dentro, poucas pessoas seriam capazes de observar sua imagem.
Dias atrás, o Conselho entregou uma nova missão para Óscar e Cecília, uma missão de exorcismo.
Dizendo de maneira direta, eles deveriam ir até uma casa afastada e matar um demônio desviante específico que havia escapado da igreja. Seu nome era Kai e ele tinha um cabelo curto e esverdeado, além de uma cicatriz logo abaixo do olho esquerdo.
No geral não eram muitas características, mas seria o bastante.
— Acha que falta muito?
— Não! Os batedores da igreja o localizaram perto dessa floresta, vamos mais ao Oeste e deve ter uma pequena casa dentre as árvores — respondeu Óscar para Cecília, sem perder o ritmo.
Os dois estavam correndo a pelo menos 6 horas, mas não estavam nem mesmo suando, o treinamento de Kogo tinha feito maravilhas com seus corpos.
Ambos estavam revestidos em uma fina camada de energia, e dentro de seus corpos circulava uma quantidade razoável de energia nos músculos das pernas e em órgãos específicos responsáveis pela respiração involuntária.
O treinamento físico os fez monstros de resistência, mas correr por tanto tempo era obra de Óscar, ele mesmo desenvolveu a técnica de circulação de energia involuntária e ensinou para a garota.
— Depois que acabarmos aqui, quer dar uma volta na cidade? — Perguntou Óscar. — Eu nunca estive aqui e queria um pouco de liberdade antes de voltar para a igreja.
— Claro! Vamos limpar a área rápido então, eu vi ao longe uma barraca de especiarias de fora que me chamou atenção.
Com uma rápida troca de palavras, ambos aumentaram a velocidade.
Passando por duas árvores simultâneas e curvas, Óscar avistou uma pequena cabana adjacente à floresta.
A área ao redor estava limpa, mas podia-se notar as marcas de madeira no chão, indicando que não era assim naturalmente.
Óscar fez um leve sinal de silêncio para Cecília, que acenou em concordância, e começou a caminhar lentamente em direção à cabana, escondendo sua presença.
Era um casebre simples, feito de madeira e nem um adorno que chamasse atenção. A porta era grande o bastante para um homem largo passar com certa dificuldade. Uma casa simples de fato.
Logo entrando na casa, foi como se um véu tivesse sido removido dos ouvidos de Óscar. Um barulho estridente de lâminas se chocando invadiu e fez Cecília coçar o ouvido levemente.
Não precisou de muito para ver a origem dos sons. Lutando no centro da cabana estavam duas pessoas. Óscar estreitou a visão e identificou que um homem com uma adaga na mão tinha o cabelo verde e uma cicatriz no rosto. Era o Kai.
O outro homem era estranho para Óscar, mas uma rápida olhada em seus dentes longos e garras afiadas mostrou que era um demônio também, muito mais ensandecido que Kai.
— Dois demônios lutando entre si… — Cecília coçou o queixo. — O que devemos fazer?
Percebendo a presença de outras pessoas na sala, Kai acenou para os dois enquanto desviava de um corte diagonal que passou de raspão pelo esterno.
— Mais pessoas , que alívio. Venham e me ajudem a lidar com ele! Cuidado com as garras, tem veneno inibido pela energia do Abismo.
— Óscar? — Cecília perguntou, se preparando para avançar.
— Tudo bem, podemos perguntar depois. Vá pela esquerda e corte os tendões dele!
Ao receber suas ordens, Cecília disparou em direção ao demônio, desviando de suas garras que quase rasparam seus olhos.
A garota deslizou por baixo da besta e cortou, com uma espada recém conjurada com energia divina, diretamente no tendão direito.
O demônio gritou de dor e usando sua perna agora frouxa, chutou de forma desengonçada Cecília, a jogando de costas na parede.
— Cecília!!
— Estou bem! — Retrucou a garota, rolando para a esquerda desviando de um soco que destruiu a cômoda que estava ali.
Óscar aproveitou a deixa para pular por cima do demônio e afundar sua cabeça no chão. Puxando rapidamente o punho esquerdo de volta, o empurrou novamente na cabeça do demônio, fazendo a casa inteira tremer, e explodindo parte do crânio da besta.
— Ufa… — disse Kai, relaxando ao ver o demônio morto.
Com um rápido olhar de Óscar, Cecília avançou e prendeu uma faca de energia Divina no pescoço de Kai, tirando um filete de sangue.
— Mas o quê? — Cortando a reclamação de Kai, Óscar se levantou e caminhou até o demônio.
— Fale o que aconteceu aqui e… o porque de você estar são.
— Como é que– — Kai foi interrompido por Cecília, que roçou mais fundo a faca, o fazendo gemer de dor. — Tá bom, tá bom. Eu falo.
Óscar cruzou os braços e esperou.
— Meu nome é Kai. Sou um demônio que serve ao Órgão Infernal, a mando de Lorde Lúcifer. Nas últimas semanas estive trabalhando em conjunto com a igreja para caçar desviantes que ajudaram o antigo Lúcifer na última grande Guerra Imortal. Esse que vocês mataram foi um desses desviantes, que ficou louco após a queda do antigo Lúcifer. — Kai notou uma expressão de dúvida no rosto de Óscar e Cecília. — Quanto ao motivo de eu estar são… não sei como responder isso. Eu simplesmente estou como eu sempre estou.
— Você disse que está trabalhando junto com a igreja? — Cecília perguntou, vendo o olhar confuso de seu parceiro.
— Exato. Sou um demônio com altas técnicas de rastreamento, Lorde Lúcifer me designou ao trabalho de ajudar o Conselho a acabar com antigos demônios traidores, ou desviantes.
— Não faz sentido…
— O que não faz sentido? E vocês poderiam parar de me ameaçar assim? Lâminas Divinas machucam muito!
— Ah, desculpe. — Cecília sumiu com a faca em um simples gesto.
— O que não faz sentido — começou Óscar —, é que nós viemos aqui para caçar você, Kai. E foi a mando do próprio Conselho.
— O-o quê? Impossível! Eles não trairiam o senhor do Mundo Inferior. Simplesmente não o fariam.
— Pois é isso que aconteceu — reafirmou Óscar — Viemos aqui para matar um desviante chamado Kai, cujo cabelo curto é esverdeado e sob o olho esquerdo jaz uma cicatriz.
— Merda…
Kai recuou um pouco, parecendo ter sido atingido com uma epifania.
— Escutem, vocês não podem me matar. O Conselho cometeu um grave erro ao tentar me matar, e eu preciso avisar aos meus superiores sobre isso. Então? O que farão? Já aviso que não vou esperar me matarem… — disse Kai, suando e erguendo as mãos em posição defensiva.
— O que acha Cecília?
— Bem, ele parece dizer a verdade, mas ainda estamos aqui a mando do Conselho, certo? Realmente não sei o que fazer.
Cecília olhou para Kai e depois baixou os olhos para as mãos.
— Você está certa, esta é uma missão, mas não somos cães da igreja. Viemos matar um desviante e assim o fizemos. Não tenho interesse em demônios normais.
— Obrigado — disse Kai.
— No entanto — interrompeu Óscar, levando a mão ao queixo. — Não posso deixar você ir livremente. Chegue perto.
Quando Kai se aproximou, Óscar colocou a mão direita em seu esterno, imbuindo energia pura no corpo de Kai, algo semelhante ao que fez com Cecília quando ela perdeu o controle.
No momento em que Kai franziu a testa em desagrado, Óscar retirou-se.
— Eu imbuí minha própria energia ao redor do seu corpo, além disso fiz uma prisão de energia Divina em seu coração. Dessa forma eu posso identificar você onde quer que esteja. A sim, também posso explodir seu corpo com isso.
Kai estremeceu com essas palavras.
— Eu nem sabia que isso era possível…
— O que você fará a seguir?
— Voltarei para o QG do Órgão Infernal e passarei minhas informações. Sei que você só está me deixando ir porque quer saber mais, então quando me encontrar novamente, eu te direi o que quiser saber.
— Parece bom, exceto que…
— Hm?
— Não conte a ninguém suas informações ainda. Se minha intuição estiver correta, não vai demorar para nós nos encontrarmos novamente.
— Isso é…
— Claro que posso simplesmente te impedir de sair daqui, para sempre!
— Ok ok, já entendi. Você é meio drástico cara — Resmungou Kai, deixando cair os braços em desistência.
— Meu nome é Óscar, esta é Cecília. Nos encontraremos em breve, Kai.
Com um rápido aceno, Kai saiu por um portal estranho que surgiu do nada, e desapareceu. Isso atiçou a curiosidade de Óscar, mas Cecília o tirou de seu mundinho com um tapa no ombro.
— Suponho que aquela volta na cidade vá ficar para a próxima, né?
— Me desculpe… Temos que voltar rápido ao Conselho, tenho coisas a confirmar. Mas antes…
Óscar se virou para o cadáver do demônio, e sem pensar muito lançou chamas que engoliram o corpo da besta. Em poucos segundos ele se desfez em cinzas.
— Vamos voltar.
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