Capítulo 19: Novo destino
Óscar e Cecília foram recebidos pelo imenso e deslumbrante jardim que ocupava a entrada da igreja.
Era uma visão de tirar o fôlego de qualquer um, e Óscar seria capturado pela beleza natural do lugar sempre que se deparasse com ele.
Óscar pensou se essa seria a última vez que entraria ali. Por mais que fosse um pensamento irreal olhando de fora, a conversa com Kai o deixou com muitas dúvidas, dúvidas das quais as respostas determinariam o relacionamento entre Óscar e a igreja.
É verdade que Óscar teve diversos desentendimentos com demônios, mas ele jamais caçaria e mataria pessoas normais. Por nenhuma razão.
Cecília pensava de maneira semelhante.
Embora a garota não pensasse muito em questões morais relacionadas ao seu trabalho como exorcista, ela ainda preferia matar apenas desviantes.
Kai era um demônio cuja morte foi encomendada pela igreja. Óscar o teria matado caso não se deparasse com uma luta na cabana. Isso era imperdoável para Óscar.
Sentado em um dos bancos do jardim estava Goda, que respirava levemente enquanto sentia a brisa fria. Ele levantou um dos olhos quando sentiu Óscar e então começou a falar.
— Como foi? Tiveram sucesso?
— Ainda vamos descobrir.
Óscar e Cecília passaram rapidamente por Goda, que se manteve no mesmo lugar, sorrindo levemente.
Batendo ligeiramente na porta, Óscar esperou alguma resposta e, logo que a recebeu, entrou.
— Bem-vindos de volta, foi mais rápido do que o esperado — recebeu-lhes Zöu, o único ancião presente na sala do Conselho.
— Sim, algumas coisas não saíram bem como planejado…
— Como assim?
— Quando chegamos na cabana, encontramos um demônio, sim. Acontece que ele já estava morto — mentiu Óscar, olhando diretamente nos olhos do ancião.
— Era Kai?
— Não.
— …
Zöu virou-se para trás, levantando de seu assento, e caminho até a janela que ficava do lado oposto à porta.
Levou uma mão ao queixo e não olhou de volta para Óscar e Cecília até que um minuto havia passado.
— Vou mandar alguns homens para limpar a cabana–
— Não será necessário, nós tratamos do assunto do corpo sozinhos — Interrompeu Óscar, Zöu estreitou os olhos.
— Não era seu trabalho.
— Mas o cheiro incomodava, precisava de um ambiente agradável para pensar e procurar rastros do Kai.
Zöu levantou uma sobrancelha, se perguntando sobre a verdade. Mas decidiu deixar para lá.
— Bem, encontrou algo que chamasse atenção? Alguma evidência de Kai ou algo do tipo?
Óscar pensou calmamente na resposta.
Ele não poderia dizer nada que fizesse Zöu duvidar de sua índole, mas ao mesmo tempo precisava que ele reconhecesse o destino de Kai.
— Na verdade — Óscar começou, estreitando os olhos como se lembrasse de algo —, quando entrei na casa eu senti leves flutuações de energia, perto da entrada…
Os olhos de Zöu se arregalaram.
— O q-quê?
— Bom, eu não sei dizer o que era, mas definitivamente não eram flutuações de energia comum, não aconteceu durante alguma briga.
A reação de Zöu fez Óscar perceber que a morte de Kai era muito importante. Mas acima disso, Zöu sabia que Kai tinha ido para o Mundo Inferior.
Levando a mão até a boca e deslizando ela pelo queixo, Zöu se direcionou novamente para olhar a janela.
— Me digam — disse, ainda virado para a janela — vocês dois têm alguma pendência que necessita de resolução?
Óscar e Cecília se entreolharam rapidamente.
— Não — disseram em uníssono.
— É bem provável que Kai tenha fugido para sua terra natal… Vocês dois irão até ele e o matarão. Já que vocês dois o deixaram ir, os dois irão resolver esse assunto!
— Mas… — retrucou Óscar, relutante — Por que se dar ao trabalho de ir até o Mundo Inferior apenas para matar um desviante? Os demônios de lá devem ser capazes de cuidar disso.
Zöu fitou Óscar nervosamente, mas se acalmou e disse: — Kai é um demônio perigoso até para exorcistas, não é seguro deixar os demônios lidarem com isso. Além disso, caçar desviantes é nossa responsabilidade, não podemos deixar isso passar em branco.
— Entendo.
— Vocês partirão imediatamente! Falem com Goda, ele irá entender rápido a situação.
— Certo! Então com licença.
Óscar e Cecília fizeram uma saudação e saíram da sala. Quando se certificaram de que ninguém estava por perto, Cecília puxou Óscar.
— Ei, por que estava tão cuidadoso lá? E se o velho percebesse que você estava relutante? Achei que o objetivo era ser mais conciso aqui.
Cecília estava impaciente.
— É verdade. Mas desde que eu conheci aquele homem eu venho sendo cuidadoso, se eu apenas abaixasse a cabeça aqui agora… duvido que ele iria deixar passar batido.
Cecília pareceu se conformar com a resposta, pois começou a andar em direção à saída.
— Hey — Goda acenou para eles ao longe — Acabaram de relatar sua missão?
— Sim. Aliás tenho algo para discutir com você.
Óscar explicou a situação para Goda, cortando da história o fato de terem conversado com Kai.
— Hmm. Então vocês irão até o Mundo Inferior hein…
Goda parecia receoso, mas simplesmente dando de ombros, disse: — Bom, tudo bem. Faz um tempo que não vou até lá e preciso resolver alguns assuntos.
— Você irá com a gente? — Cecília perguntou, com o rosto amargo.
— Naturalmente. É a primeira vez do meu grande amigo em um lugar totalmente novo, seria um crime eu não acompanhar!
—Haa, já imaginava um desfecho como esse — suspirou Óscar.
— Não se preocupe Cecília, não irei atrapalhar sua jornada de casal — disse baixo Goda, fazendo Cecília recuar um pouco, corada.
Óscar apenas disfarçou o olhar, tentando esconder qualquer feição.
— Por sinal, Goda — chamou Óscar, tirando Goda de suas fantasias — Você realmente pode ir agora? Não tem suas próprias tarefas para realizar?
— Hm? Na verdade não. Sou um exorcista de elite, guri. Apenas vou em missões que eu julgo interessantes. E no geral são missões de alto nível, então aparecem com raridade.
— Exibido — resmungou Cecília.
— Bom, vamos logo para o nosso destino, então — disse Goda, puxando um artefato cuboide e roxo do bolso — É melhor se prepararem para o inferno, literalmente hehe!
Passando por um portal, Óscar, Cecília e Goda se direcionaram ao lugar descrito nos livros como o purgatório eterno das almas.
Todos foram ao Mundo Inferior!
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