A energia é uma força além das que a física prevê. No início, energia e matéria eram condensadas em um “espaço” puntiforme.

    Mesmo essa ideia é algo conflitante em si; espaço é uma dimensão pós expansão universal, afinal.

    Uma pergunta surge dessa sequência de eventos: “De onde vem a Energia?” Essa foi a pergunta que Óscar fez a si mesmo no meio de sua meditação.

    “A Energia é claramente parte do mundo.”, estabeleceu. “A natureza interage naturalmente com ela, e sua força é algo que permeia cada canto, mas por algum motivo ela não é inata ao ser humano, pelo menos não de forma praticável.”

    Cecília estava treinando diversos moldes diferentes de seu ‘manifestar’. Criou espadas, machados e lanças. Tentou criar uma foice, mas se tornou inviável, principalmente por ela nunca ter visto uma.

    Manifestou uma ponta de energia na ponta do dedo indicador da mão direita. Com a mão esquerda, alongou a ponta até se tornar um fio de energia pura, transparente. Fez círculos, triângulos e uma estrela bicolor. Por fim fez um retângulo, começou a achatá-lo e formar uma ponta, depois fez um molde na outra beirada e finalizou sua adaga branca feito mármore.

    Depois de testar a eficácia da arma, a desmanchou e se jogou no chão em seguida. Começou a observar Óscar, que ainda estava perdido em pensamentos.

    “A sensação que dá é que os seres sencientes nem são parte da natureza, mas isso iria contra o princípio da própria energia…”

    A ideia base de Óscar se sustentava na seguinte premissa: Energia é uma força da natureza que também está presente nos humanos, mas estes não sabem controlá-la pela falta de prática.

    É fato que a vida dos humanos é mansa, e isso reforçou o desuso natural da energia. Esse é o pensamento de Óscar.

    Óscar cessou os pensamentos e focou-se inteiramente no refino. Conseguiu sentir cada fração de energia entrando, saindo e circulando pelo seu corpo. A força calculada que Óscar passou a usar para que a forma de refino fosse ideal bombardeava seu cérebro dormente. Ele não pôde deixar de rir sempre que pensou na semelhança entre a sensação dolorida no cérebro com a sensação de ter a perna dormente e imóvel.

    Nos poucos dias que se passaram, a evolução foi notável. A maestria que Óscar obteve em dias foi maior que a que obteve em um mês de treinamento com Kogo.

    Cecília também avançou, de maneira mais lenta e gradual, mas avançou. 

    Seu domínio sobre o ‘manifestar’ cresceu muito, de forma que a criação de armas cada vez mais complexas era quase imediata, ela passou a criar armas de forma tao natural quanto respirar. 

    Não só isso, a própria assimilação do seu corpo à energia de fora se tornou melhor. Seu “limite” se estendeu em muito, tornando seu refinamento brutalmente mais rápido e involuntário, não tão natural quanto Óscar, mas uma evolução notória.

    Tudo no mundo emite uma assinatura de energia. A natureza de forma muito pequena, e os seres sencientes de forma notória.

    Humanos, demônios e anjos mexem e interagem diretamente com a energia, a dobrando à seu próprio gosto. De forma não intuitiva, seres vivos menores também mexem com a energia de forma diferente da natural, isso porque eles a utilizam para a própria sobrevivência.

    Quando Óscar reencontrou Goda, o primeiro pensamento que passou por sua cabeça foi: “Ele é forte”. A assinatura de Goda era suave, mas opressora, e Óscar conseguiu perceber que ele ainda estava se segurando. Claro que ele sabia que Goda não era fraco, afinal, ele sobrepujou Beelzebub e Aka sozinho, mas Óscar não esperava que seu amigo fosse tão forte.

    O primeiro objetivo de Óscar agora é dominar a energia de forma que sua assinatura seja invisível, tal qual a da própria natureza. O segundo é conseguir interagir com o mundo diretamente.

    — Já acabou? — Cecília perguntou quando viu Óscar relaxando um pouco.

    — Sim, hora de fazer uma pausa, dessa vez foram 20 horas, certo?

    — 21! — corrigiu-o Cecília, estufando o peito triunfantemente. 

    — Bem atenta. Quer exercitar o corpo um pouco?

    Assim que ouviu essas palavras, Cecília pulou 5 metros para trás e puxou uma adaga negra por reflexo. Nas últimas vezes que Óscar disse isso, ele acabou se passando um pouco e nocauteou Cecília sem dar chance de revidar.

    — Calma, calma — disse, erguendo as mãos em um sinal apaziguador. — Não vou ir com tudo de novo, foi só uma vez…

    Cecília não cedeu.

    — Haaa… Okay então.

    Com essa declaração, Óscar esmagou o chão sob seus pés com um impulso. Antes que conseguisse levantar o braço para socar, precisou recuar quando sentiu um flash negro raspando a superfície de sua iris.

    Sem dar tempo, Cecília avançou e com um chute alto mandou Óscar voando pela arena, criou duas adagas brancas e jogou uma em cada coxa dele, que foram facilmente refletidas.

    Óscar se recuperou após bater com tudo no chão arenoso e correu até Cecília, fechando uma distância de 100 metros em menos de 10 segundos. Deslizou sobre o duro chão, amaldiçoando a dor nos joelhos, para se esquivar de um chute lateral de Cecília. Se levantou habilmente desferindo um gancho no queixo, que foi defendido facilmente e revidado com um soco nas têmporas, que acertou.

    Em termos de habilidades e proficiência em combate, Cecília era muito melhor, Óscar sabia disso. Mas Óscar era brutalmente mais poderoso, e teria que usar isso a seu favor, sendo mais rápido e mais opressor do que a bela técnica de Cecília.

    Depois de cair de novo, Óscar viu um par de joelhos avançando rapidamente contra seu rosto, o forçando a rolar e ralar mais partes do corpo. Levantou rapidamente com uma pirueta e avançou, pisando leve e ininterruptamente, aumentando sua velocidade em níveis impossíveis.

    Parou virado para o lado esquerdo de Cecília, girando o corpo levemente e preparando um chute contra a lateral dela. Por puro reflexo, Cecília recuou, levantando os braços para defender o chute, mas não conseguiu evitar totalmente o golpe.

    Sendo arremessada fortemente ao ar, Cecília perdeu a respiração pelo impacto do golpe de Óscar, ficando desnorteada no ar e caindo no chão.

    Quando recuperou os sentidos, olhou para cima, de joelhos ainda, e viu uma montanha gigantesca avançando contra seu rosto. Não, ela percebeu, não era uma montanha, era simplesmente o punho de Óscar alavancado por uma pressão descomunal.

    Cecília pensou primeiro em correr, depois em defender, por fim apenas se rendeu e aceitou o impacto… Que nunca veio.

    1 centímetro. Essa foi a distância em que Óscar segurou seu soco em relação ao rosto de Cecília.

    — Viu? Eu disse que não iria me passar muito…

    — Exibido.

    Óscar ergueu a mão para Cecília, que a segurou gentilmente e se levantou. Depois de se sentarem perto das barracas de dormir, começaram a conversar de novo.

    — Você melhorou bastante Cecília. Seus movimentos sempre foram bons até demais, mas você parece mais a vontade agora.

    — Bem, antes eu tinha medo de machucar as pessoas, então eu meio que evitava ao máximo o contato direto. Mesmo no dojo em que eu frequentava, eu costumava evitar as lutas desnecessárias.

    — Sim, você comentou algo sobre isso antes.

    No curto tempo em que passaram juntos, desde a noite em que trocaram as primeiras palavras gentis, até depois que saíram da casa de Kogo, Óscar e Cecília trocaram diversas informações pessoais entre noites e dias.

    Óscar contou como foi parar na escola onde conheceu Goda e Aka. Revelou informações pouco profundas sobre seu relacionamento familiar. Até compartilhou seu esquecido hobbie de desenhar gatos negros em parques esquecidos.

    Cecília contou sobre algumas coisas que fez quando mais nova, como suas aulas de jiu-jitsu, natação e basquete. Pelo que dava a entender, Cecília era uma estrela na escola, uma daquelas figuras angelicais que se vê em novels e mangás, foi o que Óscar pensou.

    Cecília negou a última parte, afirmando que suas habilidades físicas não eram o bastante para ser tão popular, visto que sua aparência era medíocre. Óscar internamente zombou disso.

    Óscar realmente pensou que Cecília fosse nada de mais em seu primeiro encontro. Estranhamente ele não pensava mais dessa forma.

    Por algum motivo, mesmo que tentasse, Óscar não conseguia pensar em nenhuma pessoa que tivesse visto que fosse mais bonita que Cecília.

    — O que foi? — Cecília perguntou, notando o olhar seco de Óscar.

    — Nada… Não é nada.

    Óscar não tinha ideia do que se passava na mente de Cecília, nem em sua própria. Então ele simplesmente empurrou para dentro, mais profundo do que seu núcleo de energia, todos esses sentimentos confusos e conflitantes.

    Ambos ficaram assim, fitando o horizonte enquanto a noite caía. Pouco tempo depois, Cecília foi descansar em sua barraca enquanto Óscar voltava a meditar.

    *****

    Na cidade de Infernus, um homem misterioso apareceu.

    Ele exibia um terno azul escuro sem blazer e sem gravata, posto sobre uma pele escura. Curtos cabelos crespos adornavam sua cabeça e um olhar duro procurava ao redor.

    O homem parou seu lento, mas obstinado caminhar, ao ver uma figura conhecida.

    — Goda — chamou.

    — Então eles mandaram logo você hein… — respondeu Goda, alisando o queixo e portando um sorriso irônico. — E então? O que precisa de minha humilde pessoa.

    — Não se faça de bobo, estou procurando os exorcistas novatos Óscar e Cecília. É uma ordem do Conselho, então recomendo não intervir de nenhuma forma.

    — Se não o quê?

    — Usarei os métodos necessários, incluindo força bruta! — O homem falava de maneira cadenciada e singular, sem mudar o tom militar da voz.

    — Eu bem que gostaria de ver isso… — Goda estava claramente provocando o homem, mas sem resposta. — Mas é uma pena, infelizmente não sei onde estão.

    — Eles vieram aqui com você.

    — Sim, mas Óscar é meu amigo, não escravo. Deixei ambos à sua própria sorte e fui tratar dos meus assuntos. Até onde sei, os dois podem estar agora mesmo num quartinho produzindo novos “exorcistazinhos”.

    Goda gargalhou ao ouvir sua própria piada.

    — Então não temos mais assuntos para tratar. Até mais!

    Sem esperar muito, o homem se virou e saiu, claramente insatisfeito. Pôde-se ouvir as reclamações de Goda enquanto ele se dirigia à um prédio enorme semelhante a um castelo.

    — Humph… Cão imbecil.

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