Capítulo 4: Um ambiente conturbado
por Miguel HallidayNo momento em que abri os olhos, senti uma pontada no peito. De imediato pensei ter sido uma felicidade pós romance, mas doía demais para ser isso.
— Aahhh — gemi de dor enquanto caía da cama. Estava latejando infernalmente, como se o próprio diabo estivesse soprando fogo no meu coração.
Apaguei logo após isso.
Assim que acordei de novo, me senti muito melhor, embora eu tenha corrido até o banheiro e vomitado. Meu corpo parou de doer, mas fiquei com náuseas bem ruins. Só fui tomar um banho e me deitar de novo, afinal, hoje eu irei me encontrar com Aka, o amor da minha vida!
Me despertei de novo quando era um pouco antes do almoço, nesse dia decidi me cuidar bem antes de ir ver Aka. Aparei pelos rebeldes no rosto, depilei as axilas e me alimentei bem. Não queria ter outra dor infernal como essa. Nesse momento julguei que era simplesmente má alimentação e privação excessiva de sono.
Afundando no sofá, comecei a lembrar do dia anterior… — Hehehe — Não pude deixar de soltar uma risada quando lembrei do nosso beijo.
De fato eu não esperava, ainda mais naquela situação reflexiva que eu estava, mas estando na flor da juventude, nunca iria reclamar. Embora talvez naquele momento eu tenha me animado até demais…
Mas chega de lembranças, tenho que escolher logo uma roupa.
Optei por ir com uma calça preta estilizada com alguns bolsos, seguida de um tênis preto e sem adorno. Para a parte de cima peguei uma blusa de manga longa preta e uma blusa roxa de manga curta por cima. Como sempre amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, afinal meu pai dizia que se eu fosse ter esse cabelo, pelo menos deveria deixá-lo apresentável para os outros!
Peguei minhas chaves e celular e saí de casa faltando 40 minutos para o encontro, levando em consideração que uma caminhada rápida iria me tomar 15 minutos até o local, eu estava num bom termo.
Assim que cheguei até lá, a avistei.
Sua beleza como sempre tirou meu fôlego e de todos os que passavam. Ela estava simplesmente esplendorosa, estava com uma calça cinza que deixava parte de seu tornozelo à mostra (percebi que ela gostava bastante desse tipo de roupa), seguida por uma sapatilha branca. No superior, sua bela pele estava à mostra nos braços e um pouco do abdômen, era uma parte ínfima que não podia nem ser chamado de sensual, era apenas glamoroso. Ela estava usando uma blusa roxa também, mas de um tom muito mais fraco que o da minha, quase como um lilás, tendo seus seios desenvolvidos de uma forma nem exagerada, nem que faz falta, sendo repartidos por uma bolsa que já havia visto ela usando. Juntamente de seus cabelos escarlates amarrados por um rabo de cavalo perfeito. Linda não fazia jus àquela pessoa parada diante de mim. Nenhuma palavra fazia…
Assim que me viu, veio me cumprimentar com um abraço, eu a beijei na bochecha.
Será que foi arriscado demais? Não! Somos um casal, não tem nenhum problema com isso… eu espero.
— Vamos? — disse ela, dando um sorriso que mostrava seus dentes brancos.
— Mostre o caminho por favor hehe.
Fomos durante as horas em diversas lojas, ela havia me dito que queria comprar algumas coisas para vestir, mas… eu não esperava que eu fosse passar 3 horas indo de loja em loja!!
“Fui enganado” pensei enquanto ela me arrastava para mais uma loja. Fui feito de manequim, tanto para segurar suas compras quanto para vestir o que ela achava que ficaria bom em mim. Nunca imaginei que mulheres tivessem tanta energia!
Assim que estávamos indo até a casa dela, começou a respingar do céu o que pareciam ser pedras de tão pesadas que eram as gotas de água, então corremos para o destino. E devo dizer, era uma casa no mínimo… intrigante.
A parte do muro era bem genérica, igual da minha casa, mas para dentro do quintal ficava mais estranho. Para começar, não tinha grama, era tudo pedra, o que era bem incomum naquela parte da cidade. A fachada da casa era completamente preta e as janelas tinham cortinas cobrindo toda luz de entrar, mesmo que nesse momento já estivesse anoitecendo. A porta em si não era nada demais, tirando a parte que tinha um batedor de porta ao invés de campainha.
Mas com certeza, a parte mais estranha era a energia que era emitida de lá.
Eu nunca fui muito religioso, mas eu sabia que naquele lugar tinha algo sombrio, meu corpo estava me indicando perigo e eu não queria entrar lá. Por que meu corpo está agindo assim?
— Não ligue para a decoração, meus pais são meio góticos ahaha — disse minha musa enquanto abria a porta.
— Então… não vai entrar? — perguntou.
Por um momento eu pensei em correr dali o mais rápido que pudesse, mas que tipo de futuro namorado eu seria? Então apenas decidi entrar.
O ambiente lá dentro não era muito diferente da parte de fora, a casa não tinha muita iluminação e as paredes eram cinzas. Posso imaginar o motivo de Aka ser retraída apenas pelo ambiente onde vive.
Enquanto admirava a… diferente residência, avistei ao olhar para o lado uma figura que me assustou- não, me deixou gelado. Era uma mulher com um sorriso torto no rosto, olhos redondos e largos quase saindo de sua cara e cabelos amassados, como se tivesse usado um chapéu o dia inteiro.
— Aaann olá, me c-chamo Óscar…
— Ssimm… Óscar Cruz… — disse a mulher enquanto me olhava com aquele sorriso que dava tanto medo quanto uma história do interior que me contavam quando eu era criança.
— Mãe, deixa ele em paz, está o assustando, não vê? Eu vou tomar um banho e me trocar lá em cima, pode ficar um pouco aqui com ela? — Aka me perguntou, mas antes que eu pudesse responder, ela havia me deixado aqui com essa criatura que ela chamou de mãe.
— Sente-se aqui Cruz, enquanto me conta um pouco sobre si.
Me encaixei em um espaço no que se pode dizer que deveria ser um sofá. De imediato eu estranhei ela me chamando pelo nome do meu avô, mas imagino que Aka deve tê-la contado sobre meu nome.
— Bom, sou filho de médicos, venho do interior e no momento estou focando nos estudos, não acho que tenha muito que eu possa dizer sobre mim mesmo.
— Filho de médicos em… — Pude sentir seu olhar se estreitando, como se estivesse caçando uma mentira.
— Espero que esteja dizendo a verdade, afinal, está para ficar de verdade com minha filha, então é bom que não minta para mim. Entende?
Nesse momento fiquei um pouco envergonhado, mas satisfeito que ela fosse uma boa pessoa, com certeza eu não deveria julgar um livro pela capa.
Apesar de que, olhando agora enquanto ela está assentada no sofá, ela não é tão ruim. Por mais que tenha os cabelos bem bagunçados para uma mulher, eles eram vermelhos em um tom levemente mais fraco que os de sua filha, como se usasse tinta. Apesar de sua idade ultrapassada, era possível ver que ela havia sido bem bonita na juventude, seu rosto era bem harmonioso e se tirasse as rugas bem visíveis, ela pareceria ter entre uns 30-40 anos.
— Tem minha palavra que não farei nada de ruim para sua filha, eu… bom, eu a amo e farei de tudo por ela — respondi firmemente, embora meu rosto provavelmente vermelho tirasse minha credibilidade…
— Qualquer coisa em. Espero que esteja preparado mesmo, kekeke!
Ela riu de forma estranha, devo admitir, mas ignorei já que decidi ver ela de forma mais aberta.
Como Aka estava demorando, sua mãe me disse para ir ver como ela estava, então fui até seu quarto. Dei duas batidas na porta… sem resposta em.
— Aka? Está tudo bem?
Sabe, eu não sou muito bom em coisas sociais, mas percebi que perguntar isso enquanto abria a porta, era definitivamente uma má ideia. Por mais que meus olhos tenham amado a cena, a escova que voou na minha cara tão rápido quanto um tiro de airsoft não agradou muito meu sistema responsável por decodificar a sensação de dor.
— Hyaaaaaaaaaa — O motivo desse grito vindo de Aka era devido ao fato de que eu havia visto… no momento em que abri a porta, Aka estava curvada, apenas de calcinha, subindo seu sutiã pela pele sedosa. A cena era linda, algo que nunca havia presenciado na minha vida, uma mulher desprovida de quase toda sua roupa. E apesar de eu ter sido arrebatado para fora do quarto rapidamente, apenas por um milésimo de segundo, tenho certeza que consegui ver. Aquilo em que todos os rapazes sonham em poder ver. A segunda área sagrada que ainda não havia sido completamente coberta pelo sutiã.
Foi curto, maravilhoso e dolorido. Mas eu vislumbrei o paraíso tanto falado por Dante!!