Capítulo 25 | Entre o Abismo e a Lua
A arena parece respirar com os dois.
Renji e San Ryoshi não são mais dois lutadores: são representações cruas de extremos opostos. Um é o caos animal. O outro, a perfeição celestial.
Ambos tremem de energia.
Renji está com os pés cravados no chão como uma fera prestes a saltar. Seus olhos têm um brilho alaranjado intenso, como brasas que se recusam a apagar. As veias no pescoço latejam, sua respiração é pesada, quase bestial. Em volta de seu corpo, um manto de fumaça negra começa a emanar, espessa como piche, viva como sombra.
Do outro lado, San Ryoshi permanece calmo, elegante. Sua postura com a katana semi-erguida lembra uma dança ancestral, ritualística. A lâmina pulsa num tom violeta profundo, refletindo uma luz que não vem do Sol, mas da própria alma.
Seu Sen da Lua Fragmentada começa a se expandir. Partículas cintilantes flutuam ao seu redor, como flocos de neve prismáticos.
Eles se movem ao mesmo tempo.
Renji salta como um demônio, cotovelo à frente, mirando a mandíbula de Ryoshi. Mas o top 1 gira o corpo suavemente, quase dançando, e rebate o ataque com a base da espada. A força do impacto racha o chão. A onda de choque levanta poeira suficiente para apagar as luzes laterais.
Renji não recua. Assim que cai, gira o corpo numa rasteira veloz. San Ryoshi salta por cima, aterrissando de costas e girando no mesmo instante com a katana em um corte diagonal.
Renji recua o tronco para evitar o golpe, os olhos arregalados, dentes cerrados de pura excitação.
— Você é forte de verdade, Renji. — diz San Ryoshi, enquanto seu pé desliza para ajustar o centro de gravidade.
Renji dá um sorrisinho torto.
— Você é um desgraçado rápido demais, Ryoshi.
Eles trocam mais uma série de golpes. Renji parte com um gancho de direita — Ryoshi bloqueia com o dorso da espada, mas sente a pressão nos ombros. Um corte lateral quase pega o peito de Renji, mas ele se abaixa e responde com um chute giratório.
A espada rebate. Faíscas explodem.
O ar parece ficar mais denso a cada segundo.
É nesse momento que San Ryoshi recua meio passo.
Fecha os olhos.
A respiração desacelera. A aura dele se condensa como se o universo prendesse o fôlego.
E então ele murmura:
— “Ama no Magaeshi: Mugen.”
A katana vibra.
E de repente — um corte horizontal.
Mas não é um corte comum. É como se a lâmina não rasgasse apenas o espaço físico, mas o conceito de espaço.
Um raio de destruição violeta se estende num traço perfeito, silencioso no início… até o momento em que o som alcança o mundo e explode como trovão sagrado.
O chão da arena parte ao meio.
As placas de concreto se separam como folhas.
Os sensores da borda entram em alerta máximo — o corte está indo além do campo de contenção.
Mas.
Renji.
Desaparece.
Por um instante, ele é fumaça. Um borrão. Um relâmpago monstruoso.
Ele gira o corpo num movimento felino, instintivo, selvagem, e desvia do ataque no último milésimo de segundo. O rastro de destruição passa a centímetros de seu peito nu, arrancando parte da blusa e deixando um corte no chão que vai até a parede oposta da arena.
Ele aterrissa com um grunhido rouco, uma gota de suor escorrendo pela sobrancelha. A plateia solta um “OHHHH!” coletivo. Os olhos dos juízes se arregalam.
Nem os sensores conseguiram rastrear o movimento de desvio.
Aquilo foi puro instinto. Monstruoso. Irracional.
Um ser humano não deveria ser capaz de fazer aquilo.
Ryoshi abre os olhos. Pela primeira vez, há surpresa ali. Mas também, um brilho diferente. Um prazer quase infantil.
Um pequeno sorriso torto aparece no canto dos lábios.
— Heh… então o monstro ainda está faminto.
Renji não responde. Ele apenas ruge.
E a próxima explosão já começa a se formar.
A arena, que antes vibrava com tensão, agora mergulha num silêncio sagrado. Um silêncio que não pede respeito — ele exige.
San Ryoshi recua dois passos, não como quem foge, mas como quem observa um fenômeno raro, um eclipse que só aparece uma vez na vida.
Seus ombros sobem e descem devagar. Ele está ofegando. Levemente. Mas o suficiente para que os sensores da arena captem: o topo do mundo, o prodígio, está começando a sentir.
Seus olhos seguem o rastro do corte que deixou — uma cicatriz colossal, escancarando o chão como se a própria arena estivesse aberta ao meio. E no fim daquele rastro, parado entre poeira e luz, está Renji Asakura.
Ele já não parece humano.
A metade direita do seu rosto está tomada por uma aura negra espessa, densa como fumaça de incêndio, viva como um pesadelo. Os dedos da mão esquerda estão tremendo. O olho direito brilha num tom vermelho-sangue, feroz, sem pupila — apenas uma orbe de pura fúria contida.
Renji inspira com força. O som é mais parecido com um rosnado que com uma respiração. Ele cospe no chão, sangue e saliva misturados.
— Você não desviou…— diz San, como se narrasse uma descoberta científica — …você sentiu o corte antes dele existir. Instinto primitivo puro. Fascinante.
Renji passa a língua nos dentes e dá uma risada rouca, quase desdenhosa.
— Você também não é só pose. Finalmente alguém que me faz usar o monstro… com gosto.
As palavras flutuam entre eles como lâminas afiadas. Nenhum dos dois grita. Não há necessidade. A intensidade está no olhar, no jeito como o mundo inteiro parece menor agora.
San gira a katana numa mão só. A lâmina traça um círculo no ar e deixa um rastro prateado que não se apaga de imediato.
A aura lunar à sua volta começa a reagir, ficando mais densa, mais viva. Como se cada partícula estivesse dançando, flutuando em gravidade zero, orbitando o próprio Ryoshi.
— Sabe…— ele diz, num tom mais leve, quase nostálgico — …faz tanto tempo que eu não me sentia assim. Meu sangue… ferve.
Ele sorri. Pela primeira vez, um sorriso genuíno. Não é arrogante. É humano.
— Essa luta vai ser linda.
Renji responde com um estalo de pescoço. A aura negra se expande ainda mais, tomando parte do ombro e do braço. Garras curtas crescem nos dedos. Os dentes agora parecem mais pontiagudos.
Ele mostra todos eles num sorriso de fera.
— Então vamos fazer dessa luta… uma cicatriz para história.
Eles avançam ao mesmo tempo.
E nesse instante, o mundo racha.
O impacto inicial não é visível — é sentido. Uma pressão atmosférica que empurra tudo para trás, como se os dois fossem centros de gravidade que colidiram.
O chão se parte sob seus pés antes mesmo do primeiro golpe.
Renji vai com um soco direto, o braço envolto em aura negra que vibra como uma chama do inferno.
San intercepta com a lateral da katana, gerando uma explosão de partículas lunares. Faíscas lilases iluminam a arena como fogos de artifício. O impacto empurra ambos metros para trás, mas nenhum deles cede.
Renji gira, cotovelo no queixo —
San abaixa e contra-ataca com um corte curto na altura da cintura —
Renji salta por cima com um chute descendente —
San bloqueia com o cabo da espada, girando o corpo com a fluidez de um dançarino.
Cada golpe não é apenas físico — é espiritual.
Renji avança de novo com selvageria. Sua aura se transforma em tentáculos curtos, como mãos querendo rasgar tudo. Ele não luta como um artista marcial. Ele luta como um predador que perdeu o controle da fome.
— GAAAAAAAAAAAH!
O urro dele quebra vidros.
A pressão aumenta.
A arena parece afundar sob o peso da aura do monstro.
Mas San Ryoshi não recua.
Ele dança no meio da destruição, cortando as manifestações com precisão clínica. Cada golpe dele é belo. Uma linha reta. Um arco perfeito. Um poema em aço.
E então, ele salta para trás, aterrissa de joelhos, e crava a espada no chão.
— Gekkai no Setsuna. (O Instante da Lua Partida)
A aura lunar explode ao redor dele. Fragmentos prateados, parecidos com cacos de vidro, se espalham pelo ar.
Eles não são apenas decorativos — cada fragmento possui energia condensada, como se fossem facas orbitando Ryoshi.
No centro, seus olhos brilham num tom prateado puro.
É como olhar diretamente para lua e sentir que ela tá te julgando.
Renji sente a energia e avança mesmo assim.
— ENTÃO VEM, LUA DESGRAÇADA!!!
Ele salta com um grito primal, braço estendido, garras prontas para rasgar qualquer defesa. Mas no meio do voo, os fragmentos prateados se movem sozinhos.
Cinco deles cortam o ar e acertam Renji em pontos precisos — ombro, coxa, abdômen, costela e peito.
Não é o suficiente para derrubá-lo.
Mas é o suficiente para parar o salto.
Renji cai com os dois pés no chão e cambaleia.
Uma gota de sangue escorre da boca. Ele treme. Mas ri.
— Você acha que essas coisinhas vão segurar o monstro? O que me move… não é dor. É fome.
Ryoshi já está em movimento.
Surge na frente dele com a espada em posição baixa, quase no chão, como se preparasse um golpe de baixo para cima.
Renji tenta reagir.
Mas naquele instante — o tempo parece desacelerar.
É o efeito do Sen da Lua Fragmentada: Ryoshi não controla o tempo. Ele controla a percepção. E por um segundo, para Renji, o mundo se arrasta como um pesadelo em câmera lenta.
San Ryoshi sussurra:
— Selenographia Final: Getsurei Zankō.
(Rastro do Eclipse Lunar.)
E então desfere o golpe.
Um corte em meia-lua, ascendente, que deixa um rastro de luz curva no ar.
A lâmina não toca Renji.
Mas tudo atrás dele — o chão, a parede, até o teto da arena — é partido.
Renji cai de joelhos.
Não há ferida visível. Mas o corpo todo dele sente. Como se a alma tivesse sido cortada.
San Ryoshi para, ainda com a espada erguida. O suor escorre da têmpora. Ele respira com peso. O peito sobe e desce.
Ele olha para Renji, ajoelhado, mas ainda… rindo.
— Não acabou, Ryoshi.
— Eu sei.
E os dois sabem:
o verdadeiro fim ainda tá longe.
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