O barulho era ensurdecedor.
    A arena fervia com cada impacto, cada deslocamento de ar, cada faísca que brotava do choque dos punhos.
    Ryuji Arata e Naki Senrou estavam no meio de um vendaval que só eles controlavam — ou fingiam controlar.

    BAM!
    Ryuji ataca com uma sequência diagonal.
    TCHAK!
    Naki rebate com o antebraço e gira o corpo com uma precisão que fazia parecer que dançava.
    Os dois se chocam de novo. E de novo. E de novo.

    Nenhum dos dois recuava. Era como se estivessem apostando o orgulho, a vida, o destino.
    Golpe. Defesa. Corte. Pulso. Chute. Queda. Reversão.
    Puro instinto. Pura arte. Puro caos técnico.

    Na plateia, até os comentaristas engasgaram.
    — “Eles estão em um nível… diferente.”
    — “Isso não é só uma luta. É um choque de mundos.”

    Mas então…

    O mundo desacelera.
    E o tempo racha.

    FLASHBACK — Anos atrás.
    Numa viela suburbana de Osaka.

    Naki Senrou de 12 anos.
    Cabelo desgrenhado, moletom largo, celular no colo, boca cheia de biscoito, olhos colados em algum joguinho de RPG.

    Do lado dele, seu irmão mais velho, Saka Senrou, fazia flexões de braço no cimento rachado.
    — “Bora, Naki! Cê devia tá treinando também, muleque!”

    Naki, sem nem erguer os olhos:
    — “Prefiro salvar meu personagem no level 50 do que quebrar o braço brincando de UFC.”

    Saka rolava os olhos, mas insistia. Todo santo dia.

    — “Tu é meu irmão, porra. Teu sangue ferve igual o meu. Só não quer enxergar.”
    — “Deve ser febre então.” — Naki zombava, deitado no banco da praça.

    Mas num fim de tarde qualquer, algo muda.
    Naki vê à distância seu melhor amigo, Mirake Seo, sendo encurralado por três moleques maiores.

    Eles riem. Xingam. Empurram.
    Mirake tenta escapar. Leva um chute no estômago.

    CLAC.
    O celular de Naki fecha.
    Ele se levanta devagar. Os olhos semicerrados.
    Os passos silenciosos. O coração? Gritando.

    Ele chega perto. Os três valentões nem o notam.

    PAFT.
    O primeiro cai com um direto.
    BANG.
    O segundo é puxado pela gola e recebe um chute na mandíbula.
    SMASH.
    O terceiro tenta correr. Mas é agarrado pelas costas e jogado no chão.

    Naki… ofegante. Suado. Com os olhos arregalados.
    E uma aura tênue surgindo ao redor do corpo. Um brilho espectral. O Sen despertando.

    Atrás de uma parede, Saka assiste tudo, rindo feito um louco.
    — “AAAAAH MOLEQUE!!! TU É UM MONSTRO!!!”

    Mas no dia seguinte?
    Naki tava no sofá. Jogando de novo.

    Saka se agarra a ele:
    — “Vamo treinar! Vamo treinar! Cê viu o que tu fez? Isso é talento bruto!”
    — “Não viaja, véi. Foi adrenalina. Já passou.”

    Mas a pressão de Saka era insistente. Até que Naki cede.

    — “Tá bom! UMA vez! Só pra você calar a boca!”

    No tatame improvisado no quintal, Naki encara o irmão.
    Saka, já com anos de treino, confiante.
    — “Vai ser divertido.”

    Não foi.
    Naki desmonta Saka com três movimentos secos. Sequência limpos, como se já tivesse nascido sabendo.

    Saka cai de costas, rindo:
    — “EU SABIA! MEU DEUS, EU SABIA! TU É UM FENÔMENO!!!”

    Nas semanas seguintes, Saka arrasta Naki pra um torneio local de Senai.
    Naki nem queria lutar… mas foi.

    Primeira luta: vitória em 40 segundos.
    Segunda luta: vitória com nocaute.
    Terceira luta: vitória por desistência do oponente.

    O ginásio inteiro começa a cochichar. Quem é esse moleque?
    A resposta veio rápido: um olheiro do Marine Tokyo, time da 2ª divisão do Japão, o convida para testes.

    No dia do teste coletivo, dezenas de jovens talentosos.
    Naki? Passa em primeiro.

    Em dois meses, já era o rosto dos torneios juniores.
    Cinco campeonatos. Cinco troféus.

    E então… chega o convite. Fighters World.
    O projeto mais ambicioso do mundo das artes Senai.

    Saka explode de emoção.
    — “Você vai entrar pra história, irmão.”

    Naki olha o e-mail. Suspira.
    — “Ah. Legal.”
    Volta pro celular.

    Mas por dentro…
    …ele já sabia.

    O mundo ia conhecer o nome Naki Senrou.
    E ele ia deixar sua marca.

    O presente retorna como uma chicotada de realidade.

    O som dos passos.
    O rasgo do ar.
    A respiração afiada.

    Ryuji e Naki voltam a trocar golpes, mas agora existe um tom diferente. Algo mais obscuro paira no ar.

    Naki recua três passos, respira fundo, e ergue o braço como se comandasse o destino.

    — “Armadilha: Nível 5.”

    A atmosfera muda.
    O chão range.
    A luz ambiente escurece como se uma sombra artificial tivesse caído na arena.

    Cinco vultos brotam do solo com uma aura negra misturada com tons de ciano que vibram como pulsares de um coração morto.

    Cinco esqueletos espectrais.
    Cada um com olhos ocos que brilham e ossos envoltos em energia densa.
    Eles não andam. Eles deslizam. Flutuam como se cada movimento fosse um passo entre mundos.

    E então, atacam.

    Ryuji é o alvo.
    Cinco contra um. Uma caçada infernal.

    Eles surgem por todos os lados: um por trás, dois nas diagonais, um por cima, o último por baixo tentando agarrar suas pernas.
    Garras que rasgam o ar. Golpes que explodem energia.
    Ryuji mal consegue respirar. Se esquiva por milímetros. Um corte na bochecha. Outro na lateral da perna.

    Seus companheiros na arquibancada gritam:
    — “RYUJI, SE MEXE!”
    — “ELE VAI CAIR!”

    Mas no meio da tempestade, Ryuji… fecha os olhos.

    Silêncio.

    — “Ele ficou maluco?” — diz Tsubasa, com o olhar trêmulo.
    — “Ele… desistiu?” — pergunta Kaede, confusa.

    Mas Renji não. Renji sorri.
    Seus olhos brilham de antecipação.

    — “Não… Ele tá sentindo. Tá sentindo tudo… como se já tivesse passado por isso mil vezes.
    Ele… tá preparando alguma coisa.”

    E então…

    Os olhos de Ryuji se abrem.

    Silêncio total.

    Dois círculos rodeiam suas pupilas.
    Um brilho sutil, etéreo, impossível de descrever.
    Como se seus olhos tivessem se tornado espelhos da própria realidade.

    Toda a arena paralisa.
    É como se o tempo engasgasse.

    Daizen Takatora, sentado na área VIP, ao lado de ex-lutadores lendários, quase se levanta da cadeira.

    — “…Meta-Visão…” — diz um.
    — “…Ele conseguiu.” — completa Daizen, pasmo.

    META-VISÃO (Nível 1):
    Uma amplificação sensorial que transforma tudo.
    O tempo desacelera.
    O campo de batalha vira um tabuleiro tridimensional com campos e padrões visíveis.
    A audição capta micromovimentos.
    O tato lê a pressão do ar.
    A visão enxerga trajetórias antes mesmo delas começarem.

    Ryuji sorri, calmo.

    A arena para ele agora é preta. Um vazio cósmico com quadrados contornados por neon azul flutuando como plataformas.
    Os esqueletos não são mais ameaças — são peças previsíveis.

    O primeiro vem por cima.

    SWOOSH — Ryuji gira e acerta um soco no maxilar do espectro. Energia explode.

    O segundo tenta um ataque lateral.
    Ryuji recua no tempo exato, pisa num “quadrado vermelho” — um sinal de ameaça iminente — e contra-ataca com um chute giratório.

    O terceiro e o quarto atacam juntos.
    Ryuji gira, passa por baixo, dá um impulso e SMACK! dois murros simultâneos.
    Os dois fantasmas viram névoa.

    Só sobra um.

    O quinto esqueleto tenta um agarrão.
    Ryuji segura o braço dele e fala baixo:
    — “Já vi esse filme antes.”

    E com um Normal Shot direto no peito do espectro, o esqueleto se esfarela numa nuvem de energia que se dissipa como areia cósmica.

    Tudo isso acontece em segundos.
    Mas pro público, pareceu uma dança milimétrica. Um balé de pura maestria.

    A plateia explode.

    — “ESSE MOLEQUE…!”
    — “QUE PORRA FOI ISSO?!?”
    — “NUNCA VI ISSO AO VIVO!”

    Takatora cruza os braços, como se estivesse presenciando um milagre.

    — “Ryuji Arata… acabou de entrar pro panteão.”

    O ar vibra. O chão geme sob o peso da pressão.
    A plateia esqueceu de respirar.

    Ryuji Arata avança.

    Seus olhos — agora envoltos por dois círculos concêntricos de luz etérea — não piscam.
    Ele enxerga tudo. Cada passo, cada intenção, cada erro que ainda não aconteceu.

    Naki recua, os pés deslizando na arena.
    Seu corpo reage por instinto, mas sua mente… hesita.

    — “O que… são esses olhos, Arata?”

    Ryuji não responde de imediato.
    Ele dá mais um passo.
    Mais um.
    Mais um.

    Até que, com um leve sorriso, responde com um deboche leve, quase inocente:

    — “Não sei. Não tenho um espelho.”

    Naki ri. Uma risada breve, mas tremida.
    Algo no peito dele se retorce.

    — “E… o que você vê com eles?”

    Ryuji para. Fecha os punhos.

    — “Vejo tudo.
    Vejo a falha no seu passo.
    Vejo a hesitação nos seus ombros.
    Vejo o golpe que você ainda não pensou em dar.
    Vejo até… o medo que você não quer mostrar.”

    BOOM!

    Ryuji explode em velocidade.
    Os pés queimam o chão.
    O Sen vibra como uma chama branca e azul que gira ao redor de seu corpo como se fosse viva.

    Ele salta para o ataque final — um golpe com força e precisão cirúrgica.

    Mas Naki sorri.

    — “Armadilha Genial!”

    A aura de Naki se agita, e uma distorção dimensional ocorre atrás dele.
    Um braço espectral gigantesco, feito de ossos etéreos e energia densa, brota como uma serpente vingativa.

    Ele é monstruoso.
    A mão do braço é do tamanho de um carro.
    Ela desce com brutalidade.
    Um golpe para esmagar, encerrar, obliterar.

    Mas…

    Ryuji vê.

    A Meta-Visão mostra o tempo de impacto.
    O caminho do braço.
    A distorção do ar ao redor.
    O pequeno “quadrado negro” que indica a zona de impacto.
    O “fio” invisível que conecta a armadilha ao centro do peito de Naki.

    Ele não hesita.

    Desvia com o corpo leve como se fosse uma sombra.
    Desliza pelo chão, gira, salta…
    E então —

    — “Normal Shot!”

    Seu punho esquerdo acende como um meteoro.
    Ele salta no ar, gira o corpo, e o murro explode contra o braço espectral com um som cósmico.

    CRAAAAAAACK!

    O braço quebra em mil pedaços.
    Cada fragmento se transforma em poeira azulada que desaparece no vento.
    A arena treme com a força do impacto.

    Naki recua, arfando.
    Seu corpo está tremendo. Suando frio.
    As mãos trêmulas, os olhos arregalados.

    Ele olha para Ryuji.
    Para aqueles olhos.
    Para aquele garoto que deveria ser só mais um no torneio.

    — “Então… é isso que chamam de medo?”
    Sua voz falha.

    Ryuji abaixa o braço devagar.
    A aura ao redor dele ainda pulsa com força, mas seus olhos são calmos.
    Cortantes.
    Vivos.

    — “Bem-vindo ao mundo real, gênio.”

    A frase entra como uma lâmina no peito de Naki.

    Mas ele não para.

    Naki rosna. Seu Sen estoura novamente.
    Ele parte com uma sequência de golpes selvagens.
    Uma mistura de técnica com puro desespero.
    Chutes giratórios.
    Socos cruzados.
    Ganchos.
    Cotoveladas.

    Mas Ryuji não é mais o mesmo.

    Ele desvia de todos.

    Seu corpo gira como se estivesse dançando em câmera lenta.
    Cada ataque de Naki encontra o vazio.
    Cada tentativa de impacto é lida, prevista, neutralizada.

    Naki grita.

    — “FICA PARADO, PORRA!”

    Mas Ryuji só respira fundo.
    Desvia de um chute giratório.
    De um soco com força total.
    De um golpe duplo com os dois punhos de Naki.

    E quando vê a abertura, ele dá dois passos curtos à frente.
    E para.
    Olha nos olhos do adversário.

    — “Você luta bem, Senrou. Mas não basta lutar bem.”

    Aquela frase ecoa dentro de Naki.
    E algo dentro dele rende-se.
    Não à derrota — mas à loucura da batalha.

    E então…
    os olhos de Naki mudam.

    A íris se apaga, tomando um tom negro total, como um vácuo.
    A pupila se acende em ciano elétrico, como um farol no abismo.
    É como se a alma dele tivesse trocado de lugar com a fúria.

    FLUX.

    A plateia não entende.
    Mas Daizen Takatora e os ex-lutadores atrás dele percebem no mesmo instante.

    — “Ele… entrou no Flux.”
    — “Meu Deus… Arata está enfrentando isso com a Meta-Visão ainda no primeiro estágio?”

    Flux: o prelúdio do Despertar do Sen.
    Não é poder.
    É vontade crua.
    É corpo e espírito fundidos em uma única intenção: lutar.

    Naki não pensa mais.
    Ele não ouve.
    Não lembra de onde veio.
    Nem se importa pra onde vai.

    Ele é a luta.

    E a luta… renasce.

    Os dois colidem.

    Ryuji ainda tenta prever, mas agora seus olhos recebem demais.

    Naki não tem padrão.
    Ele ataca com o desespero de um animal sagrado.
    Golpes sem forma definida.
    Chutes que surgem em ângulos impensáveis.
    Pancadas que vibram com um Sen pesado, pulsante, rasgando o ar como se fossem lâminas.

    Cada passo de Naki deixa um rastro de luz ciano com cinza.
    Cada golpe de Ryuji deixa um rastro de azul escuro.

    A arena se transforma numa pintura viva, uma obra de arte feita de energia pura, linhas de cor cruzando o espaço, explodindo em cada contato.

    As arquibancadas tremem.
    A multidão grita, mas o som parece abafado diante da magnitude do combate.

    É como assistir a dois mundos se colidindo.

    Ryuji recua dois passos, bloqueando um chute com o antebraço.

    — “Você tá muito forte, gênio!”

    Naki gira no ar, aterrissa num rolamento e já vem com um direto que mal pode ser visto a olho nu.

    — “E você é mais do que achei, Arata.”

    O sorriso de Naki é algo entre respeito e loucura.

    Mas mesmo no meio do inferno, o espírito competitivo não morre.

    — “Mas não morna a luta pra conversar!” — ele ruge, avançando.

    Ryuji, com um leve sorriso nos lábios, responde:

    — “Certo.”

    BOOOOM!

    O embate recomeça.

    Um soco.
    Dois.
    Quinze.
    Trinta.

    Impossível contar.

    Naki vem com um chute giratório que explode o chão ao errar.
    Ryuji se abaixa, gira o corpo e tenta um contra-ataque com o cotovelo — mas Naki bloqueia com o joelho.
    A onda de impacto se espalha, rachando parte da arena.

    Meta-Visão vs Flux.

    Previsão contra impulso.
    Lógica contra instinto.
    Estratégia contra fúria.

    Eles pulam ao mesmo tempo, e se chocam no ar com um impacto tão forte que o chão racha abaixo deles.

    Lá no alto da arena, Daizen Takatora assiste com os olhos apertados, como se estivesse vendo dois futuros colidindo.

    — “Eles… tão se forçando ao limite.”

    Um dos ex-lutadores, com uma cicatriz no pescoço, completa:

    — “Esse nível de combate… só se vê uma vez por geração.”

    Naki, agora de pé com os punhos envoltos em um Sen pulsante, parece transfigurado.
    Ele respira fundo, olhos sem vida, mas corpo em chamas.

    — “Você me forçou a dar tudo.
    Eu nunca… nunca tinha sentido isso.
    Lutar sem segurar nada.
    Sem medo.
    Só… querendo mais.”

    Ryuji sorri. O suor escorre pelo seu rosto.
    Os olhos com Meta-Visão começam a brilhar mais forte.

    — “Então vamos continuar.
    Sem medo.
    Até o fim.”

    Eles avançam ao mesmo tempo.

    E a tela da arena virtual pisca.
    O mundo assiste sem piscar.

    Flux vs Meta-Visão.

    Instinto vs Previsão.

    Desespero vs Determinação.

    O mundo parece parar.
    O som dos gritos vira ruído branco.
    As luzes tremem, o chão da arena pulsa com energia demais.

    Ryuji e Naki estão ali.
    Um de frente pro outro.
    Corpos em pedaços.
    Espíritos em chamas.

    Naki, no Flux, com o Sen ardendo nos olhos.
    Ryuji, no primeiro nível da Meta-Visão, os círculos ao redor das pupilas brilhando como faróis em uma tempestade.

    Ambos estão ofegantes.
    Ambos estão no último suspiro.

    Mas Ryuji sente.
    É agora.
    O momento em que tudo se resume a um único golpe.

    Ele ergue o punho.

    E naquele instante…
    o tempo desacelera.

    As partículas de Sen no ar flutuam como pólen em câmera lenta.
    A arena vira uma pintura abstrata de rastros de aura, como pinceladas violentas no vazio.

    A voz de Ryuji ecoa, quase como pensamento:

    “Essa é minha última aposta.”

    E então…

    META-VISÃO — FULL CHARGE.
    SEN — 97%.

    O punho direito se envolve em um brilho prateado.
    Não é só força.
    É precisão absoluta.
    Cada ângulo, cada milímetro de impacto é calculado.
    É um golpe para acabar com a luta — com a guerra — com a dúvida.

    Ryuji se projeta com o corpo inteiro.

    — “DIRECT SHOT!!”

    O punho explode pra frente, envolto numa espiral de Sen comprimido.

    BOOOOOOOOOOM!!!

    O impacto parece uma bomba.

    O chão da arena racha como vidro.
    O ar ao redor implode, criando uma onda de choque que empurra até os espectadores nas primeiras fileiras.

    Naki não vê.
    Não sente.
    Só voa.

    Como um projétil humano, ele é arremessado dezenas de metros até colidir com o chão do lado oposto da arena, rolando uma, duas, cinco vezes — até parar.

    Silêncio.

    Um silêncio tão profundo que parece que o mundo tirou o fone de ouvido por um instante.

    Naki está deitado.
    O peito subindo e descendo devagar.
    Os olhos ainda com o brilho do Flux, mas… sem força.

    Ele tenta levantar.
    O corpo falha.
    Mas a voz… a voz sai.

    — “…que droga… eu perdi.”

    Uma tosse curta. Um fio de sangue no canto da boca.
    Mas ele ainda fala, entre sorrisos cansados:

    — “Mesmo dando tudo de mim… mesmo assim…”

    Passos ecoam.
    Ryuji, também à beira do colapso, se aproxima com dificuldade.

    A câmera pega o rosto dele.
    Sujo. Machucado.
    Mas os olhos ainda vivos.
    Mais vivos que nunca.

    Ele olha pra Naki no chão, e diz, com o meio-sorriso de sempre:

    — “Você deu tudo de si, Naki.”

    Pausa.

    — “E no final…”

    Ele estica a mão.

    — “Foi ridículo.”

    Naki arregala os olhos.
    E pela primeira vez na luta…
    ele ri.
    Um riso sujo, exausto. Mas cheio de alma.

    — “Filho da puta… você venceu.”

    Ryuji estende a mão mais uma vez.
    Naki agarra, e ele o ajuda a levantar.

    A plateia explode.
    Um rugido de mil vozes se ergue como um tsunami de som.

    2 a 1.
    Time 15 venceu.

    Mas naquele momento…
    não parecia vitória.

    Parecia algo maior.
    Parecia o nascimento de dois monstros.

    Daizen Takatora, do alto das cabines de observação, suspira, como quem vê um eclipse solar.

    — “Então é isso…”

    Um dos ex-lutadores ao seu lado murmura:

    — “Quantos anos se passaram desde que vimos uma luta dessas?”

    Takatora nem responde. Ele apenas observa.
    Porque ali… naqueles dois…
    o futuro tinha um nome.

    E era perigoso.

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