Capítulo 32 | Cópia e Caos
O rugido da arquibancada ainda ecoava pelas paredes metálicas da arena. Como um trovão que se recusa a morrer. A poeira da última troca de golpes mal havia baixado, e já se sentia no ar uma ansiedade nova, quente, pulsante.
Ryuji Arata cambaleava enquanto subia os degraus, o corpo tremendo, a aura enfraquecida, mas os olhos ainda brilhando — a Meta-Visão ainda pulsava como uma cicatriz aberta entre as pupilas. Cada passo parecia o peso de uma guerra vencida.
Tsubasa correu para alcançá-lo.
— “Ryuji… você tá bem, mano?” — a voz era de alívio, mas havia receio.
Antes que ele respondesse, Ryuji riu fraco… e tombou de frente.
Kaede o segurou no reflexo, com os braços firmes.
— “Cacete!”
— “Ele desmaiou!” — exclamou Renji, e depois caiu na risada. — “O cara gastou tudo e ainda quis sair andando. É um maluco.”
Tsubasa, apesar da tensão, deu um sorrisinho.
— “Desmaiou no estilo, pelo menos. Fechou a cortina como um protagonista.”
Ryuji, nos braços dos companheiros, respirava fundo. O peito subia e descia devagar. Ele estava apagado, mas parecia em paz. Vitorioso. Monstruoso.
Do alto, as telas gigantes da FWTV explodiram em anúncios:
“Atenção: próxima luta em 5 minutos. Preparem-se!”
O grupo trocou olhares. Um novo silêncio se formou.
Genjiro girou os ombros, sentindo o calor subir pelo pescoço até os punhos.
— “Minha vez. Tô quente já.”
Ele não esperou encorajamento. Desceu os degraus com passos pesados, cada passo como um tambor de guerra. A aura dele já começava a vibrar — um laranja tênue, contido, como uma fera esperando o chamado do caos.
Do outro lado da arena, o chão tremeu. Uma fenda negra rasgou o centro da arena como se o espaço tivesse sido arranhado.
De dentro da névoa azulada e opaca, uma silhueta surgiu.
Saka Senrou.
O irmão de Naki caminhava com calma. Cada passo dele era acompanhado por um sussurro do público. Olhar frio. Mãos nos bolsos. Ombros soltos. Mas o peso do nome que carregava — Senrou — já enchia o ambiente de tensão.
Tsubasa sentiu um arrepio.
— “O irmão do gênio…”
Kaede franziu a testa.
— “A energia dele é parecida. Mas tem algo diferente. É mais afiado.”
Local: Cabine dos Sócios do Fighters World
Painéis flutuavam em volta, exibindo cada ângulo da arena. Várias figuras importantes estavam sentadas numa mesa curvada de metal e vidro. No centro, ele: Daizen Takatora.
Postura ereta. Olhar fixo nas imagens de Ryuji desmaiado. O silêncio era total, como numa seita.
— “Ele acessou a Meta-Visão… no puro instinto.” — disse um dos veteranos.
Outro, de terno cinza, com cabelos grisalhos impecáveis, comentou:
— “Sem treinamento. Sem guia. E ainda venceu o herdeiro da mente mais estratégica do projeto.”
Daizen exalou pelo nariz, com um meio sorriso.
— “Esse garoto… é o futuro.”
Mas então, uma mulher, de óculos dourados e cabelo preso num coque perfeito, rebate:
— “Não. Ele é o presente. E todo mundo lá fora vai ter que aceitar isso.”
As câmeras focavam no rosto apagado de Ryuji… e no fogo que começava a queimar no centro da arena.
Genjiro encarava Saka Senrou.
A guerra… ainda não tinha acabado.
Ela só tinha mudado de forma.
A arena silenciou. Só o som do vento arrastando poeira quebrava o ar.
Genjiro Okabe e Saka Senrou se encaravam no centro. A tensão entre eles parecia material, quase tátil. Era como se o próprio chão esperasse o primeiro golpe.
Genjiro inclinou o queixo, olhos semicerrados.
— “Por que você luta?”
Saka deu um passo à frente. O rosto tinha um meio sorriso… mas era um sorriso triste. Um sorriso quebrado.
— “Pra fortalecer meu irmãozinho…” — os olhos dele perderam o foco por um segundo. — “Mas agora, é diferente.”
Ele estalou os dedos. O som ecoou.
— “Agora, eu luto pra vingar ele.”
Genjiro deu um passo adiante também.
— “Então vamo ver se tu tem braço pra isso.”
O árbitro ergueu o braço.
— “Luta… COMEÇA!”
Genjiro foi o primeiro a avançar. Sem ativar o Sen, partiu com uma sequência direta de socos: esquerdo, direito, gancho, cruzado. Rápido e certeiro. Mas Saka… desviava como se dançasse. Movimentos mínimos. Centímetros. Cada esquiva mais natural que a anterior.
Genjiro recuou meio passo, com os punhos cerrados.
— “Vai ficar fugindo o tempo todo, seu merda?”
Saka parou. Seus olhos, frios como aço congelado, brilharam com algo… estranho.
— “Não, não… tô só preparando meu truque.”
SHHHHAAA!
Do nada, ele avança. E com um movimento quase idêntico ao de Ryuji Arata, ele gira o corpo, canaliza uma pequena explosão de Sen no punho e…
“NORMAL SHOT!”
O golpe acerta Genjiro em cheio no peito. O impacto é tão forte que o corpo dele voa, arrastando poeira até quase sair da arena.
— “QUE?!” — berrou Renji da arquibancada.
Tsubasa se levantou.
— “Esse golpe…”
Kaede engasgou com as palavras.
— “…é do Ryuji.”
Genjiro se levantou do chão tossindo, a poeira grudada no rosto suado.
Ele rangeu os dentes.
— “Esse ataque… é do Ryuji?!”
Saka ergueu o dedo indicador.
— “Exatamente, garoto Okabe.”
Genjiro apertou os punhos, incrédulo.
— “Mas… como isso é possível?”
— “Meio que eu copiei o golpe dele perfeitamente.”
Saka deu de ombros, como se fosse algo simples, banal. Como se estivesse falando de trocar uma lâmpada.
— “Mas… o que porra é essa?!”
— “Para de resmungar e vamos lutar. Tenho mais surpresas.”
Genjiro avançou de novo, e dessa vez seu punho direito explodiu em aura alaranjada — Hawk Impact.
Ele gritou, socando o ar com toda a força.
— “HAWK IMPACT!!”
Um gavião laranja, feito de puro Sen, voou do punho dele, rasgando a arena até atingir Saka com um estrondo visual. O chão quebrou. Um impacto limpo.
Mas…
…da poeira roxa, algo emergiu.
“HAWK IMPACT.”
Mesmo golpe. Mesma postura.
Cor diferente. Roxa. Escura.
O mesmo gavião, só que corrompido, distorcido — voando direto contra Genjiro, que foi jogado de volta com violência.
Tsubasa arfou.
— “Ele fez de novo…”
Kaede se levantou, olhos arregalados.
— “Como isso é possível… esse cara é um monstro.”
Renji, boquiaberto, apertou o encosto da cadeira.
— “Ele tá copiando… em tempo real?”
Na arena, Genjiro estava puto.
— “Então é só isso que tu sabe fazer?! Copiar e colar?!”
Saka soltou uma risada nasal.
— “Então segura mais essa.”
A aura ao redor de Saka tremeu — uma explosão de poder sutil mas intimidadora.
Ele ergueu o braço.
“Emanação do Rei.”
Uma parede de Sen denso e opressor se formou. O chão ao redor rachou em círculos perfeitos.
Era o mesmo ataque usado por Sander, o veterano sinistro que já havia amassado meio torneio.
Mas agora… aquela energia estava pintada de roxo.
Tsubasa levou a mão à boca.
— “Não… isso é…”
Kaede completou, trêmulo:
— “É o ataque do Sander. Em versão roxa.”
Renji girou a cabeça de um lado pro outro.
— “Mano, não é possível… esse cara tá usando os golpes dos outros com perfeição.”
Tsubasa, com o olhar mais analítico do time, sentou devagar, o queixo tenso.
— “Acho que entendi.”
Renji virou pra ele na hora.
— “Fala aí, parceiro!”
— “O Sen desse cara… ele copia ataques que ele viu. Mas tem um limite.”
Kaede emendou:
— “Tipo um tempo de validade?”
Tsubasa assentiu.
— “Trinta minutos, talvez. Ele deve conseguir guardar todos os padrões, as auras, as posturas… e replicar com perfeição. Até as mais complexas.”
Renji engoliu seco.
— “Isso não é só uma técnica. É trapaça divina.”
Na arena, Genjiro estava com sangue escorrendo da boca. Mas o olhar dele — ah, o olhar — ainda tinha raiva o suficiente pra queimar um campo inteiro.
Ele cuspiu no chão.
— “Então cê é o tipo de verme que só brilha com luz dos outros, né?”
Saka sorriu. Um sorriso frio. Cortante.
— “Eu sou a prova de que a força pode ser herdada… até dos mortos.”
O embate não era só físico agora. Era ideológico.
O Copiador de Monstros havia sido revelado.
Mas Genjiro ainda não tinha mostrado todas as suas cartas.
Os próximos golpes seriam mais que ataques — seriam declarações de alma.
O chão da arena tremia sob os pés dos dois.
Genjiro Okabe rangia os dentes, as veias do pescoço saltando, olhos injetados de raiva.
Saka Senrou — imóvel, sorriso de canto — parecia só estar se divertindo.
A luta virou uma disputa de pura força. Aura contra aura. Sen contra Sen.
Genjiro avançou como um touro. O ar explodia a cada passo, e o chão se rachava onde seu pé tocava.
Ele gritou com o peito estufado:
— “RAAAAAAAAAH!!”
E então:
Um soco. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito!
Uma sequência brutal, cada golpe mais rápido e mais forte que o anterior. As explosões de Sen pareciam fogos de artifício — laranja flamejante em ondas que cortavam o ar.
Saka sentiu o impacto. Cambaleou. Mas então…
Ele se firmou. Estalou o pescoço.
— “Já terminou?”
Seu punho brilhou num ciano roxo incandescente.
— “Então agora é minha vez.”
“Direct Shot.”
O mundo parou.
O punho de Saka moveu-se em linha reta, com precisão cirúrgica e força colossal.
O golpe que Ryuji usou para derrotar Naki agora estava ali — copiado, distorcido, roxo.
Genjiro mal teve tempo de cruzar os braços.
BOOOOOOOM!!
O impacto foi tão brutal que Genjiro foi lançado como se tivesse sido atropelado por um trem. Seu corpo riscou a arena, atravessando quase metade do campo, criando uma trilha de pedras estilhaçadas.
— “FILHO DA PUTA!!!” — Genjiro cuspiu sangue no chão, tossindo.
Ele se levantou cambaleando, com o Sen faiscando no corpo, como faíscas num fio de alta tensão.
— “Vai se foder, Senrou! Fica roubando tudo! Você não tem nada próprio?!”
Saka andava com calma, o olhar frio.
— “O que é meu… é tudo que eu já vi. Você devia me agradecer por eu estar usando golpes tão bonitos.”
Genjiro cerrou os punhos.
Algo dentro dele ferveu. Transbordou.
Ele levou o braço pra trás. O Sen explodiu no seu corpo, em forma de hexágonos e triângulos flamejantes, girando ao redor dele.
— “Então toma esse presente que é só meu!!”
“WILD IMPACT!”
O punho dele rasgou o ar.
Uma explosão alaranjada cobriu metade da arena.
O impacto varreu o solo, levantando uma muralha de poeira e fumaça, como uma bomba detonada no campo de batalha. A aura tomou forma: feras geométricas, gritando, engolindo tudo no caminho.
Silêncio.
Saka não era visto. A arena, um caos.
A plateia gritava, e os narradores mal conseguiam formar frases.
Então… da névoa laranja… um vulto surgiu.
— “KAMUSARI.”
A palavra soou como um veredicto.
Um corte de energia branca e roxa rasgou o campo.
Era o golpe lendário — um ataque que só os maiores da geração conheciam.
Originalmente vermelho e negro… agora mutado, com as cores do veneno.
Genjiro voou de novo.
Seu corpo ricocheteou no chão, abrindo crateras até finalmente parar, com a cara enterrada na pedra quebrada.
Tsubasa quase saltou da cadeira:
— “ELE COPIOU O KAMUSARI!!”
Kaede estava em choque:
— “O quê?! COMO?! Esse golpe é nível sênior!”
Renji gritou:
— “Isso é insanidade! Ninguém deveria conseguir fazer isso!”
Genjiro, ainda deitado, começou a se levantar. O sangue escorria do queixo.
Seus olhos, antes abertos pelo espanto… agora ardiam em pura raiva.
Ele olhou pra frente, a voz rouca:
— “Agora você tá fudido…”
E então, algo mudou.
Seus olhos viraram.
O branco dos olhos — a esclera — se tingiu de preto profundo.
E sua pupila… ardeu em um laranja flamejante, como o núcleo de um vulcão em erupção.
GENJIRO OKABE HAVIA ENTRADO NO FLUX.
Na hora, o Sen ao redor dele se descolou do corpo.
Como se a própria energia estivesse fugindo por não aguentar ficar dentro.
VUUUUUUUUMMM!!
O chão rachou sob seus pés — só de ele se levantar.
Um tremor percorreu a arena.
A plateia silenciou.
Tsubasa levantou num pulo.
— “ELE ENTROU NO FLUX!!”
Renji gritou:
— “AGORA SIM, CARALHO!”
Kaede murmurou:
— “A forma bruta… Ele tá lutando com o instinto, não com a mente.”
Genjiro sumiu.
Literalmente — ele desapareceu diante dos olhos de Saka.
Um segundo depois, estava nas costas dele.
BAM!
Um soco. Depois outro. Depois outro.
Uma sequência insana de sete impactos em menos de três segundos.
O Sen alaranjado deixava rastros como rabiscos no ar. Era como assistir a arte da destruição.
Saka estava sendo esmagado.
Mas ele sorriu, mesmo apanhando.
Seus olhos ainda estavam frios.
E ele gritou:
— “ARMADILHA NÍVEL 0!!”
Um clarão de Sen cercou Genjiro.
O golpe de Naki. Um campo ilusório que cega os sentidos por um segundo.
Saka aproveitou. Pulou pra trás.
E quando a ilusão caiu…
“DIRECT SHOT!!!”
De novo.
Com toda a força.
Roxo. Violento. Mortal.
Genjiro foi acertado em cheio.
Mas dessa vez… não saiu do lugar.
O golpe explodiu em cima dele — e mesmo assim, Genjiro ficou ali, os pés arrastando no chão, segurando o impacto com o peito estufado.
A plateia explodiu.
— “ELE AGUENTOU!” — gritou um dos narradores.
— “ESSE MALUCO É LOUCO!” — gritou Renji.
Tsubasa, boquiaberto:
— “O corpo dele no Flux tá resistindo até o golpe do Ryuji…”
Ryuji, agora recuperado, subiu pela arquibancada com uma garrafinha d’água.
— “E aí, o que tá rolando?”
Kaede virou.
— “Tu perdeu a maior doideira!”
Tsubasa apontou pra arena:
— “O Genjiro tá no Flux e tá batendo de frente com um cara que copia tudo!”
Ryuji ficou parado. Olhos arregalados.
— “…Caralho, isso tudo aconteceu enquanto eu tava desmaiado?”
De volta à arena…
Genjiro sorriu.
O sangue escorria. Mas os olhos… estavam mais vivos do que nunca.
E a guerra só estava começando.
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