Capítulo 34 - Onça e Flecha
O som abafado da arena ainda vibrava do lado de fora. O vestiário estava mergulhado num silêncio denso, o tipo de silêncio que só vem depois de uma guerra. Genjiro se sentava num banco, respirando com dificuldade, uma toalha no ombro, o suor escorrendo como se ainda estivesse em campo. Os olhos estavam no chão, mas o corpo… o corpo ainda tremia com a adrenalina da batalha.
Renji foi o primeiro a quebrar o clima, dando um tapa nas costas do amigo:
— “Você foi um monstro, Genjiro. O que tu fez ali foi coisa de lenda, véi.”
Kaede assentiu, com um meio sorriso:
— “Cê segurou o Saka no Flux… Isso não é pouca merda, não. Se ele venceu, foi na unha.”
Tsubasa, até então calado no canto, levantou. Olhos fixos em Genjiro. Ele respirou fundo, como se carregasse algo preso no peito fazia tempo.
— “Você não perdeu à toa. Aquela luta acendeu algo em mim.”
Genjiro levantou o olhar, curioso. Tsubasa deu dois passos à frente, com um brilho nos olhos.
— “A próxima luta é minha. E antes que alguém pergunte… eu mudei.”
Renji ergueu uma sobrancelha.
— “Mudou como? Cortou o cabelo? Passou a gostar de mulher de novo?”
— “Não, idiota.” — Tsubasa riu com desdém e então pousou a mão no próprio peito. — “Eu mudei por dentro. Mudei meu Sen.”
A sala parou. Silêncio. Até o ar pareceu prender a respiração.
— “Meu pai me ensinou… todo Sen nasce da alma. Do que a gente realmente é. Mas se a vontade for forte o bastante… você pode reescrever essa alma. Só uma vez na vida. Só um ajuste. Mas o bastante pra se tornar o que você quer ser.”
Ele fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, havia algo diferente ali — determinação selvagem, pura, feroz.
— “Eu não queria ser só um cara rápido. Eu queria ser a velocidade em forma de lutador.”
Deu um passo à frente. A aura começou a se formar nas pernas — vibrante, rubra, pulsante.
— “Apresento pra vocês o meu novo Sen…“
“Velocidade da Onça Vermelha.”
O grupo ficou em choque.
Kaede soltou:
— “Você… mudou sua aura?”
— “Inteira.”
Tsubasa então ergue três dedos:
— “Meu Sen tem três níveis. Três formas de velocidade.”
— “Nível 1 – Arrancada.”
— “De 60 a 90 km/h. Rápido o suficiente pra atingir antes do cara pensar em reagir.”
— “Nível 2 – Consistência.”
— “130 a 140 km/h. Pra lutar nesse ritmo do começo ao fim.”
— “Nível 3 – Escape.”
— “200 a 210 km/h. Velocidade que ultrapassa a vista humana. Meu último recurso.”
Renji arregalou os olhos:
— “Carai… cê virou um míssil, mano.”
Tsubasa sorriu.
— “Eu não vou só lutar… Eu vou rasgar o campo. Como uma onça rubra em chamas.”
Do lado de fora, a voz do apresentador ecoava, chamando os lutadores para a próxima disputa.
Tsubasa virou-se, os pés já em movimento.
— “Aquele Saka botou fogo no palco… agora é minha vez de incendiar tudo.”
A próxima luta está prestes a começar.
O anúncio ecoa pelos alto-falantes da arena como o som de um trovão pronto pra cair:
“Senhores e senhoras… a luta decisiva! Do lado esquerdo, Mura Kamito, o arqueiro da combustão! Do lado direito… Tsubasa Hayashi, o relâmpago carmesim!”
A plateia explode em gritos. Do lado de fora, Renji segura a grade da arena com força.
— “É agora, mano…” — sussurra.
Tsubasa respira fundo, os olhos fixos em Kamito. A aura vermelha gira leve em volta das pernas. Kamito está firme, o olhar tranquilo, quase desinteressado, como quem vê uma presa correndo sem saber que já está na mira.
O árbitro ergue o braço.
BUM!
Tsubasa explode do chão com o Nível 1 – Arrancada.
O chão racha levemente no ponto de partida. Em um piscar de olhos, ele surge na frente de Kamito com o punho carregado.
“FAST IMPACT!”
Um soco seco, 90 km/h de força concentrada, atinge Kamito no abdômen. Ele voa para trás como um saco de areia arremessado, quicando no chão da arena.
A plateia entra em êxtase. Ryuji murmura do alto:
— “Essa velocidade é real… ele não tá blefando.”
Kamito, no chão, não parece surpreso.
Ele se ergue com um leve sorriso e limpa o canto da boca.
— “Bom golpe… Mas não vai funcionar de novo.”
CLANG!
Uma luz laranja pulsa em sua mão. Uma longa seta flamejante se forma.
— “Estilo Fogo: Seta Única Flamejante.”
A seta surge entre ele e Tsubasa, como se tivesse nascido do chão. Kamito agarra e lança com precisão cirúrgica.
FWOOOSH!
A seta corta o ar, mas Tsubasa já não está mais ali. Ele muda de direção no último segundo com um giro ágil. A seta explode num raio de fogo atrás dele.
— “Devagar demais.” — Tsubasa sussurra.
ZAAAP!
Tsubasa reaparece no lado de Kamito e tenta outro soco. Kamito se joga para trás, escapando por pouco. Seu olhar agora é mais sério.
— “Então toma essa.”
Ele gira o braço e lança seu segundo golpe:
“Estilo Combustão: Setas Triplas Explosivas!”
Três setas surgem no ar, cada uma vibrando com energia instável. Kamito as lança em sequência rápida.
Tsubasa gira, corre, muda de direção em ziguezague e escapa da primeira… da segunda…
KA-BOOOM!
A terceira explode atrás dele. A onda de impacto acerta em cheio suas costas. Ele voa pra frente, batendo com o ombro no chão.
— “Tsc… maldito.”
Ele se levanta, com fumaça saindo do uniforme. O ombro esquerdo dói, mas o olhar dele ainda queima.
Kamito não desperdiça a abertura.
TCHAK!
Uma nova seta surge. Sem truques. Simples. E certeira. Ela atinge a lateral da costela de Tsubasa, que grunhe de dor e recua cambaleando.
Tsubasa então pergunta:
— “Que porra é essa? Quantos tipos de seta cê consegue fazer?”
Kamito sorri, girando o pulso.
— “Meu Sen me permite criar diferentes tipos de setas. Algumas perfuram, outras voam… algumas explodem. E outras… se multiplicam.”
Tsubasa arregala um olho.
— “Multiplicam?”
Kamito então bate os dedos no peito, e um novo selo de aura se forma atrás dele.
“Estilo Clones – 6 Clones Normais!”
POOF! POOF! POOF!
Seis versões idênticas de Kamito brotam do chão em volta de Tsubasa, como vultos de sombra e energia. Eles têm olhos brilhando e sorrisos idênticos. Cada um já com uma seta na mão.
Ryuji, nas arquibancadas, se levanta:
— “Ei, que porra é essa?!”
Kaede cerra os punhos:
— “Eles não são ilusões… são físicos. Vão bater mesmo.”
Os clones avançam de uma vez.
Tsubasa gira no lugar, tentando acompanhar todos os alvos.
Um clone ataca por cima, outro pelas costas, dois pelos flancos. Ele desvia do primeiro, bloqueia o segundo com o antebraço, mas o terceiro acerta um chute. O quarto arremessa uma pequena seta que pega de raspão.
Tsubasa se vê cercado.
Mesmo com a Velocidade de Arrancada, ele sente o peso do número. O cansaço começa a bater. Ele salta, rola, contra-ataca com joelhadas e cotoveladas, mas os clones são persistentes.
— “Merda… não vai dar pra derrubar um por um…”
Kamito, do fundo, observa tudo com os braços cruzados, tranquilo. Como um maestro regendo uma orquestra de flechas vivas.
— “Vamos ver se a tal ‘Onça’ sabe lidar com uma alcateia.”
Tsubasa recua três passos, sangue escorrendo do supercílio.
— “Chega.”
Ele fecha os olhos. Inspira.
— “Hora da área.”
A aura ao redor de Tsubasa começa a expandir.
Um rubro intenso, girando rápido.
O chão estala. A pressão aumenta.
O instinto da onça está acordando.
O ringue tá um caos.
Luz tremeluzente das setas que Kamito lançou ainda pisca no chão rachado. Tsubasa está cercado. Os seis clones de Kamito rodeiam como predadores esperando o bote final.
Mas o predador ali… é outro.
Tsubasa cerra os dentes. Os olhos dele se apertam como os de uma fera no breu.
— “Se eu errar aqui… acabou.”
A aura rubra em volta do corpo dele gira com violência, como um turbilhão faminto prestes a devorar tudo. Um estrondo surge sob seus pés, como se a própria terra estivesse prendendo o fôlego.
E então, ele grita:
— “ESTILO ONÇA: JAGUAR ÁREA!!”
BOOOOM!!!
O chão da arena implode sob ele num círculo de pura força. O impacto se espalha numa onda brutal. As placas metálicas sob os clones saltam como dominós. Uma coluna de vento e aura se ergue no centro.
Os clones?
Despedaçados em fragmentos de energia.
Luz vermelha, estilhaçada.
Como se tivessem sido tragados por uma tempestade selvagem.
A poeira baixa.
Só restam dois lutadores em pé.
Kamito e Tsubasa.
Ambos feridos.
Tsubasa tem queimaduras nos braços e arranhões pelo corpo.
Kamito está com a perna direita tremendo e o ombro sangrando.
Mas… os dois ainda sorriem.
Ryuji observa da arquibancada, de pé:
— “Esse aí… virou um monstro.”
Renji arregala os olhos:
— “Aquele golpe… parecia coisa de boss de jogo final, véi.”
Kamito respira fundo. Solta um risinho torto. A aura dele brilha em laranja escuro, quase como magma.
— “Tudo bem, Tsubasa… já que é assim…”
Ele ergue os braços pro céu.
Sete selos brilham ao redor dele.
O ar fica pesado. As nuvens acima se agitam. O campo inteiro começa a vibrar.
“ESTILO APOCALIPSE: CHUVA DAS SETE SETAS!”
ZUUUUM!
Sete setas mágicas surgem no céu, girando como cometas. Cada uma pulsa com uma energia diferente:
Uma de fogo
Uma de gelo
Uma de eletricidade
Uma de sombra
Uma de luz
Uma de vento
E uma… que brilha em pura destruição roxa.
As setas descem. Uma por uma.
Um bombardeio divino.
Tsubasa fecha os olhos.
A aura dele muda.
Mais controlada. Mais afiada.
Nível 2 – Consistência.
— “130 km/h… direto pro instinto.”
VRRRRUUUM!!
Tsubasa some.
Como se tivesse virado um risco vermelho desenhado na arena.
A primeira seta explode. Ele não está ali.
A segunda explode. Ele já passou.
A terceira — ele gira no ar e pousa no chão.
Quarta, quinta, sexta — tudo fogo atrás dele.
A plateia enlouquece.
Kaede grita:
— “ELE TÁ BAILANDO ENTRE AS EXPLOSÕES, MANO!!”
Sétima seta desce. A roxa.
Tsubasa pula por cima.
A energia explode embaixo, mas ele já tá atrás de Kamito.
E então…
— “FAST BARRAGE!!”
Tsubasa libera uma sequência absurda de 8 socos.
Cada um com um impacto cortante.
Cada um com precisão milimétrica.
BAM! BAM! BAM!
O peito de Kamito afunda.
BAM! BAM!
Ele voa três metros.
BAM!
Bate contra a parede da arena.
BAM!
E uma das setas não detonadas explode ao lado dele, levando o chão junto.
Silêncio.
Som de respiração pesada.
O juiz quase levanta a mão…
Mas Kamito…
se levanta.
Trêmulo. O braço esquerdo morto. O direito tremendo. Mas… sorrindo.
— “Caralho…”
— “…não queria usar isso.”
A aura dele brilha uma última vez.
Desta vez, fina. Incisiva. Mortal.
— “Essa… é a última.
A minha carta final.”
Ele fecha os olhos. E ergue um único dedo.
Do nada, como se cortasse o espaço…
Uma única seta aparece.
Longa, fina como uma agulha, flamejante.
Parece viva. Parece faminta.
“SETA ALFA.”
Ryuji arregala os olhos:
— “…essa eu nunca vi.”
Kaede engole seco:
— “Parece uma lança sagrada…”
Kamito respira fundo. A aponta direto pra Tsubasa.
— “Ela atravessa qualquer defesa.
Essa é… minha sentença final.”
Ele lança.
Mas não há explosão.
Não há som.
Só um corte no ar.
ZUUUUUUUNNN…
Tsubasa não viu ela sair.
Só sentiu o vento cortar seu rosto.
Um risco de sangue na bochecha.
Ele congela.
O ar parece parar.
Até a aura ao redor dele hesita.
…
E aí…
A câmera foca nos olhos de Tsubasa.
Eles brilham.
— “Então vamo ver se tua lança alcança a Onça…”
Nível 3 — Escape foi ativado.
BAM!
O corpo de Tsubasa explodiu para frente como um foguete. Os sapatos cravaram no chão com uma força brutal que rachou o piso da arena, lançando estilhaços para todos os lados.
210 km/h.
A velocidade ultrapassava o limite humano — um verdadeiro borrão vermelho contra o cenário.
A plateia tentou acompanhar com os olhos, mas era impossível. Tudo virou uma sequência de flashes e ecos, um borrão de cores que avançava num ritmo incontrolável.
Renji gritou, os olhos arregalados, quase sem voz:
— “CARA, ELE TÁ NUMA VELOCIDADE QUE NINGUÉM CONSEGUE ACOMPANHAR!”
Ryuji estava boquiaberto, a adrenalina subindo em cada veia.
Kamito, sentindo o vazio e o silêncio, virou-se lentamente, tentando encontrar o rival que agora desaparecera.
Seus olhos vasculharam cada centímetro da arena. Nada.
— “Cadê ele?!” — murmurou, preocupado.
E então…
Um estalo no ar.
Um vento cortante.
Antes que Kamito pudesse reagir, uma sombra vermelha surgiu atrás dele, girando com uma força sobrenatural.
— “Estilo Onça: Speed Fang!”
Um chute giratório de pura velocidade, tão rápido que o som só chegou após o impacto. O chute atingiu Kamito com um estrondo ensurdecedor, lançando-o para trás como uma bala disparada.
BOOOOM!
Kamito bateu contra a parede da arena, que tremeu com o impacto. Ele ficou ali, meio tonto, tentando recuperar o fôlego.
A plateia explodiu em gritos. Um misto de choque e admiração. A energia no ar parecia elétrica.
Renji não segurou:
— “PORRA, QUE CHUTE FOI ESSE?!”
Ryuji, ainda sem piscar, sentiu o corpo vibrar com aquela força avassaladora.
Kamito tentou se levantar, cambaleando, as pernas trêmulas como se tivessem virado gelatina. Ele olhou para frente e viu Tsubasa parado, firme, a aura vermelha girando ao redor do corpo como um furacão incandescente.
Os olhos de Tsubasa não tinham mais nada de humano — eram fogo puro, queimando com um propósito único.
— “Velocidade… não é só correr,” — ele disse, a voz firme, carregada de determinação.
— “É ultrapassar os seus limites.”
Ele avançou mais um passo, o peso da luta, a dor, o medo e a vontade se fundindo numa força incontrolável.
Os olhos de Kamito, brilhando com um misto de respeito e reconhecimento.
— “Ele se tornou… imbatível.”
Kamito, ainda atordoado, tenta se recompor, mas o corpo já não responde. O soco de Tsubasa não foi só físico — foi a pura expressão do limite ultrapassado, da alma que se recusa a ceder.
Ele respira fundo, encara Tsubasa e, pela primeira vez, sorri. Não de derrota, mas de reconhecimento.
— “Você… venceu. De verdade.”
Tsubasa, cansado mas firme, assente. O silêncio toma conta da arena, quebrado só pelo som dos aplausos que crescem como uma tempestade.
A luta que decidiria tudo terminou ali, não só com um vencedor, mas com a consagração de um guerreiro que nasceu para voar — na velocidade da onça, com o coração incandescente.
3 a 2 time 15…
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