Capítulo 40 - Rasgando o Campo
O silêncio da arena de treino pesava como um manto. O chão de pedra fria refletia fragmentos de luz do entardecer, e o suor escorria da testa de Ryuji Arata, pingando no tatame manchado de marcas antigas de combate.
Ele respirava fundo, cada inspiração queimando os pulmões, cada expiração vibrando como se algo estivesse para nascer dentro dele.
Seus olhos — antes apenas focados — agora brilhavam com uma estranha intensidade. A aura em torno do corpo começava a pulsar em ondas, como se tivesse adquirido vida própria. Não era só energia solta: era energia tentando tomar forma.
Ryuji ergueu as mãos diante do peito.
No início, apenas partículas esparsas de luz azulada se acumulavam, instáveis, explodindo em pequenas fagulhas. Ele cerrou os dentes, mantendo o foco.
Aos poucos, aquelas fagulhas se alinharam, alongando-se, conectando-se como engrenagens invisíveis. O que antes era um amontoado de energia começou a se moldar em linhas retas, sólidas, quase metálicas.
Um rifle de ferro surgiu.
Não apenas um reflexo mental — mas uma criação tangível, pesada, real. O metal respirava junto com ele, emitindo um zumbido grave de Sen comprimido.
Ryuji apontou a arma para a frente, firme, e puxou o gatilho.
BANG!
O disparo não lançou uma bala comum. Foi como se a própria aura tivesse sido condensada em um projétil. O impacto ressoou no campo, o ar se contorceu, e um buraco profundo foi aberto na parede de treinamento.
O rifle se desfez em faíscas de aura. Mas em vez de desaparecer, a energia se reconstruiu, fragmentando-se em dezenas de lâminas triangulares.
Kunais.
Elas giravam no ar em perfeita sincronia, como se fossem soldados alinhados, prontos para obedecer apenas ao comando de seu criador.
Um sorriso cresceu nos lábios de Ryuji. Não de arrogância — mas de reconhecimento.
Ele entendia, naquele instante, o que estava acontecendo.
E como se o próprio universo explicasse, uma voz ecoou dentro de sua mente, narrando a verdade dos lutadores:
Existem dois despertares de Sen.
Primeiro Despertar – O Sen Inicial.
O nascimento do poder. Força física ampliada, sentidos aguçados, instinto e reflexos sobre-humanos. É a faísca que marca o início do caminho de um guerreiro.
Segundo Despertar – O Sen Verdadeiro.
Não é apenas aumento de atributos. É a revelação da alma. Cada lutador manifesta aquilo que mais o define: alguns nascem para criar, outros para destruir, outros para moldar ou dominar. O Sen Verdadeiro é a assinatura da existência — a prova de quem você realmente é.
Enquanto as palavras se cravavam na mente, as kunais ao redor de Ryuji explodiram em poeira de aura e voltaram a se recompor, formando novamente o rifle colossal.
Ele respirou fundo, sentindo o peso da arma em suas mãos, e murmurou consigo mesmo:
— A Criação Convergente… esse é o meu Sen Verdadeiro.
E dentro do peito dele, a certeza queimava: sua alma nasceu para criar tudo que ele quiser e pensar.
O placar marcava 1 a 1, mas a tensão no ar era palpável, cortante como lâmina. O campo de batalha estava em silêncio momentâneo, mas esse silêncio era apenas a respiração antes da tempestade.
Naki se lançou à frente, corpo girando como um Death Kick, uma meia-lua de compasso que parecia traçar um arco de luz ciano com cinza, tremendo de energia. O Sen envolvia sua perna, irradiando ondas de impacto que distorciam o ar. Cada passo dele parecia fundir chão e gravidade, e ao tocar o solo, pequenas rachaduras surgiam onde ele havia passado.
Sander percebeu o ataque, os músculos do corpo tencionados. Ele levantou os braços em um bloqueio preciso, absorvendo parte do impacto, enquanto o restante da força o empurrou para trás. A arena tremeu, poeira subiu do chão, e ecoou um som grave de energia sendo liberada.
Sem perder o ritmo, Naki ajustou a trajetória e mirou San Ryoshi. O tempo parecia desacelerar: San deslizou para o lado, esquivando-se com uma agilidade que desafiava a física. Mas Naki não desistiu. Ele girou no ar, deu um mortal completo, a luz do Sen criando uma trilha como um arco de lâmina giratória. A movimentação era quase impossível de seguir, mas parecia fluida, natural, quase poética de tão mortal.
Enquanto ainda flutuava, Naki ativou sua Armadilha – Nível 1. Uma cortina de luz cortou a visão de San por um instante. O impacto veio em seguida: um chute direto na face, que ecoou como um trovão. A cabeça de San se arqueou com a força, mas ele permaneceu de pé, ferido, mas firme.
Foi o sinal para Ryuji entrar em ação.
A Criação Convergente começou a se manifestar novamente. Primeiro, a energia condensou-se nas mãos, formando uma sniper de ferro maciço, cada detalhe percorrido por linhas de Sen que vibravam, pulsando como coração de besta mecânica. Ele respirou fundo, os olhos focados como lâminas.
— Boom!
O disparo atravessou o ar com um rugido, cravando-se no chão e criando uma cratera monstruosa. O choque de energia levantou pedaços de pedra e poeira, que giravam como pequenos meteoros. Mas San, com reflexos sobre-humanos, se desviou no último segundo, deixando apenas um rastro de destruição atrás dele.
O rifle se desfez em partículas de energia que se dispersaram no vento. Ryuji rapidamente formou cinco kunais, cada uma girando no ar, cortando como lâminas afiadas. San desviou de todas, mas cada kunai carregava selos explosivos. A detonação foi brutal: cinco metros de destruição pura, tremores percorrendo o solo, pedras voando, e San ferido, cambaleando, mas ainda de pé, respirando com dificuldade.
Renji entrou em cena. Com um gesto de mão, liberou um enxame de abelhas negras, cada uma vibrando com veneno capaz de paralisar qualquer adversário. Mas San, frio como aço, ergueu a mão:
— Destruir.
Em um instante, a energia dele se expandiu em um campo de aniquilação com cem metros de raio. Aliados e inimigos foram lançados para longe, o ar rasgando com o som de força pura. O chão se abriu, árvores e rochas foram lançadas como projéteis.
Ryuji não hesitou. Cinco kunais surgiram novamente, formando um arco preciso, cortando o vento. San avançou cinco metros, escapando da detonação. Mas desta vez, o sorriso de Ryuji era cruel e calculista. Cada papel explosivo carregava Sen marcado, um traço que só ele poderia controlar.
E então, no instante certo, Ryuji teleportou-se atrás de San em um clarão de energia pura, os olhos queimando com concentração máxima.
— Direct Shot.
O soco atingiu o peito de San com um impacto colossal, enviando-o voando como um míssil humano, varrendo o campo de batalha. O ar ao redor se contorceu, detritos voaram, e a força do golpe parecia capaz de rasgar o próprio tempo.
A arena inteira vibrava com a intensidade daquele momento — a batalha mal tinha começado, e já parecia um cataclismo.
Ryuji ofegava, cada respiração cortando o ar pesado da arena.
Os músculos queimavam, os reflexos latejavam, mas algo estava errado. Seus olhos varriam o campo freneticamente.
— Onde… está o Karaku? — murmurou, a voz arrastada pela tensão.
Então, um grasnar profundo e sinistro ecoou, cortando o silêncio como lâmina.
Os três lutadores viraram a cabeça ao mesmo tempo. O som parecia surgir do nada, mas reverberava em seus ossos.
E lá estava Karaku.
Parado. Silencioso. Mortal. A postura dele era tão calma que parecia desafiar a gravidade — como se o próprio ar tivesse medo de tocá-lo. Cada músculo tenso, cada linha do corpo pronta para liberar morte em um único instante.
Antes que Ryuji pudesse reagir, Karaku avançou.
O movimento foi tão rápido que o ar tremeu.
Um chute monstruoso, carregado com seu Sen comum, mas amplificado em velocidade e força, atingiu Ryuji no peito. O impacto lançou-o como uma bala viva, rasgando o ar em direção à linha de eliminação. O chão vibrou, pequenas rachaduras se formaram, e a poeira subiu em redemoinhos ao redor.
Renji e Naki, percebendo o perigo iminente, se colocaram em postura de combate. Mas antes que pudessem agir, Karaku desapareceu.
Um instante de vazio, um flash de sombra — e então, lá estava ele novamente, diante dos dois. A velocidade era além da percepção normal; os olhos só conseguiam captar o rastro roxo que seu corpo deixava no ar.
— Yoru no Karasu — murmurou Karaku, e o campo inteiro pareceu prender a respiração.
O chute desceu. Mas não era apenas um chute comum: o Sen dele se transformou, como se sua vontade tivesse moldado a energia.
O ar ao redor ondulou e distorceu, condensando-se em um corvo colossal, roxo e negro, com asas que estendiam dezenas de metros, cada pena pulsando com energia mortal. Ele girou sobre o campo, rasgando o espaço em um voo de destruição.
Renji e Naki tentaram reagir, mas a força era esmagadora.
O impacto do corvo os atingiu como marreta de ferro, lançando-os para longe, rodopiando pelo ar como bonecos de pano. Cada golpe fazia o chão tremer, a poeira subir em nuvens densas, pequenos destroços cortando o vento.
O silêncio voltou brevemente, mas agora carregado de tensão.
O campo estava coberto de linhas de energia roxa, fumaça e crateras — o aviso claro de que o Time Vermelho havia assumido a liderança.
📍 Placar: 2 a 1 – Time Vermelho
E Karaku permanecia parado, imóveis os olhos negros fixos no próximo alvo, como um predador observando presas indefesas. O clima era de morte iminente; o campo de batalha havia se transformado em território do corvo.
Ryuji retornou ao campo, o corpo latejando após o impacto das batalhas anteriores. Cada músculo queimava de tensão, mas o fogo nos olhos dele era mais forte que qualquer dor. Os punhos cerrados, ele respirava fundo, sentindo o pulso da arena ressoando em suas veias.
— Ei, pessoal… vamos fazer aquilo. — sua voz cortou o ar pesado, firme, carregada de autoridade.
Naki ajustou a postura, o corpo vibrando de energia. — Já vamos colocar o plano em ação?
Renji sorriu, quase feroz, quase selvagem. — Vamos lá, agora eu tô animadasso!
O ar ao redor começou a tremer. Pequenos redemoinhos de poeira surgiam no chão, mas não eram naturais: eram ecos da energia que Ryuji emanava. Seus olhos começaram a brilhar intensamente, linhas finas de luz se espalhando como circuitos sobre a íris.
Então, a Meta-Visão foi ativada.
O mundo ao redor não desapareceu, mas a percepção de Ryuji mudou. Cada movimento possível, cada trajetória de ataque ou defesa, cada ponto fraco e força dos adversários surgiam diante dele como linhas cintilantes e hologramas translúcidos. O campo de batalha se tornou um tabuleiro quadridimensional, cada jogador, cada pedra, cada cratera representada com exatidão.
O vento carregava a energia, distorcendo o espaço em torno dele. As partículas de poeira giravam em padrões precisos, cada redemoinho revelando trajetórias futuras possíveis. O tempo parecia desacelerar para Ryuji, cada segundo multiplicado em instantes de percepção cristalina.
Ele respirou fundo, sentindo o pulso do Sen no próprio corpo.
Cada fio de energia que ele criava podia atingir um inimigo, defender um aliado, ou manipular o campo. O plano já não estava apenas em sua cabeça — estava vivo, pulsando junto com ele.
— Agora, o plano começa. — murmurou Ryuji, e com um movimento mínimo, já sinalizava aos companheiros.
Naki e Renji sentiram a intenção quase instintivamente, seus corpos se movendo como se fossem extensões da própria Meta-Visão de Ryuji. Cada passo deles, cada salto, cada golpe potencial estava sincronizado com precisão milimétrica.
O campo inteiro tremeu, não de impacto físico, mas da força pura de decisão concentrada.
O que antes era apenas um combate tornou-se uma dança de estratégia e energia, onde o próximo movimento era visível antes mesmo de acontecer, e onde cada golpe, cada criação de Sen, era calculado para maximizar o efeito e minimizar risco.
O plano estava ativo. O campo inteiro se transformara em um tabuleiro vivo, e a batalha prestes a entrar em uma nova dimensão de caos e controle absoluto.
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