Capítulo 44 – O Frio dos Trovões
Faltavam três horas para a batalha que decidiria tudo. O sol atravessava as paredes de vidro da arena de treino, lançando reflexos cegantes sobre o chão rachado, marcado por dezenas de impactos anteriores. O ar estava carregado de poeira, cheiro de metal queimado e suor — e com cada respiração, parecia que até os pulmões se tornavam mais pesados.
Ryuji e Naki estavam frente a frente, a respiração ofegante após uma série de golpes velozes, cada um ecoando como o impacto de um martelo contra ferro. O chão ao redor tremia a cada passo, pequenas rachaduras serpenteavam pelo cimento. A tensão no ar era palpável, como se a arena inteira estivesse prendendo a respiração junto com eles.
Ryuji fechou os punhos, o suor escorrendo pelo rosto, e um sorriso de desafio surgiu.
— Com essas técnicas que a gente desenvolveu… ninguém vai ter chance contra nós.
Naki, como sempre, parecia entediado, mas havia algo diferente em seu olhar: um brilho curioso, quase silencioso, que contradizia sua postura calma. Ele ajeitou o cabelo de maneira mecânica e falou:
— Ei, Ryuji…
— Hm? — respondeu Ryuji, arqueando a sobrancelha.
— Você consegue criar um poder especial só pra mim? — a voz de Naki era quase indiferente, mas carregava um peso que só Ryuji conseguia sentir.
O sorriso de Ryuji se alargou, confiante, quase desafiador.
— Consigo.
Por um instante, o som dos ventos que passavam pelas janelas foi o único quebrou o silêncio. Ali, naquele espaço, um segredo foi forjado. Ryuji estendeu as mãos e, com movimentos precisos de sua Criação Convergente, moldou algo invisível para todos, mas que pulsava com energia negra e elétrica. Naki sentiu o poder se conectar com ele, uma corrente silenciosa e letal — um trunfo que apenas eles dois conheceriam, algo que poderia virar a maré da batalha que se aproximava.
Após uma hora e meia de treinamento intenso, os dois caíram no chão, exaustos. O ar quente os envolvia, e cada respiração parecia rasgar a garganta. Ryuji encarou o teto da arena, ainda suando, o peito subindo e descendo violentamente.
— Ei, Naki… por que você me escolheu ao invés do Saka?
Naki desviou o olhar, como se medisse cada palavra.
— Eu e ele… estávamos dependentes demais um do outro. Se eu quisesse evoluir, precisava quebrar isso. E você, Ryuji… você era a escolha certa.
Ryuji fechou os olhos, sentindo o peso da promessa que carregava. Cada gota de suor parecia gravar aquele instante em sua memória.
— Eu fiz uma promessa há muito tempo… de que seria o melhor do mundo. Então… nós vamos ganhar essa batalha.
Naki ergueu um canto da boca, um quase-sorriso, raro e rápido.
— Vamos lá, então.
O relógio marcava os dez minutos finais antes do início da luta. Ryuji e Naki caminhavam pelo corredor estreito que levava à arena principal quando se depararam com Kaede e Ayumi. Os dois adversários estavam parados, respirando pesadamente, os olhos carregando a arrogância de quem nunca esperava falhar… até recentemente.
Ryuji não resistiu à provocação.
— Então, Kaede… vocês perderam pro tal do Mitsuya, né?
Kaede franziu a testa, a expressão endurecida.
— Perdemos. Cinco a zero.
Ryuji arregalou os olhos, surpreso, sentindo uma faísca de incredulidade percorrer sua espinha.
— Incrível… alguém tão forte quanto você ser massacrado assim…
Kaede se virou com rapidez, os olhos faiscando raiva.
— Cala a boca, Ryuji! — a voz reverberou pelo corredor, carregada de tensão.
O silêncio que se seguiu era quase palpável. O coração de ambos os times batia forte. O ar parecia mais denso, carregado de eletricidade, como se até o ambiente estivesse antecipando o que aconteceria. Cada segundo antes da luta final era uma contagem regressiva para o caos, para o confronto que definiria os destinos de todos.
O juiz levantou a mão, o apito soou, e o ar da arena pareceu vibrar com a tensão. O público prendeu a respiração; cada segundo antes do choque final era um fio prestes a se romper. O chão, marcado por rachaduras antigas, tremeu levemente com a antecipação.
Ayumi avançou primeiro, rápido como um relâmpago, a katana tilintando no ar com um som cortante que ecoou pelo espaço. O corte inicial era preciso, mortal — uma linha quase invisível que poderia rasgar qualquer defesa desprevenida. Mas Ryuji não hesitou. Seus olhos brilharam com a luz azulada da Meta-Visão, antecipando cada mínimo movimento. Em um instante, ele desapareceu do campo de visão, surgindo atrás de Ayumi com a velocidade de um predador. Seu punho se chocou nas costas do adversário com um impacto seco e devastador: Direct Shot.
O corpo de Ayumi foi arremessado para longe, levantando uma nuvem de poeira e deixando um rastro de pequenos estilhaços do chão marcados pelo impacto. O ar ao redor parecia vibrar com a força do golpe.
Antes que Ryuji pudesse se reagrupar, Kaede tentou aproveitar a brecha. Ele se lançou pelas costas de Ryuji, com os olhos cheios de ódio e determinação, buscando eliminar qualquer chance do adversário. Mas Naki estava lá. Com a calma habitual, surgiu do canto do campo, bloqueando o ataque com o antebraço. O impacto ecoou como um trovão metálico, fazendo o chão tremer.
— Valeu, Naki! — gritou Ryuji, passando um breve olhar de gratidão.
Ayumi não recuou. Seus movimentos continuavam fluidos, quase hipnóticos, como ondas cortantes de água se espalhando pelo ar. Cada ataque tinha velocidade e graça letal.
— Estilo da Água: Terceira Forma – Dança Fluida! — gritou ele, os olhos brilhando com intensidade.
A lâmina mirou a cabeça de Ryuji com precisão mortal. Ele ergueu o braço para se proteger, mas a katana rasgou a carne, um fio de sangue jorrando, quente e metálico, escorrendo pelo braço.
— Ryuji! — Naki gritou, alarmado.
Mas, quase instantaneamente, o braço de Ryuji se regenerou. A pele se fechou, os ossos se reconectaram, e a musculatura se recompôs. Ele olhou Kaede com um brilho determinado nos olhos:
— Lembra da sua luta com Saeko?
Kaede arregalou os olhos, surpreso.
— …Como assim?
— Meio que eu criei algo parecido com o Senkiou dele. — disse Ryuji, com um sorriso frio.
Kaede respirou fundo, incrédulo.
— O QUÊ!?
— É que eu ainda não te falei sobre meu novo Sen — continuou Ryuji. — Eu consigo criar qualquer coisa: objeto, técnica, transformação… então, bem-vindo ao inferno.
Ayumi avançou novamente, com a água cortante da sua katana formando cinco linhas simultâneas de ataque brutal.
— Estilo da Água: Quinta Forma – Maré Destruidora!
Cinco cortes atravessaram os braços de Ryuji. Mas, em segundos, eles se regeneraram perfeitamente, como se nunca tivessem sido atingidos. Quando Ayumi mirou a cabeça para finalizar, Naki interveio com precisão cirúrgica, lançando o adversário para longe com uma onda de energia negra que se espalhou pelo ar.
Ryuji, então, deu o passo que mudaria o curso do combate. Seu corpo se transformou. Músculos densos, simétricos, perfeitos surgiram, irradiando energia pura. O chão tremia, o ar parecia vibrar em torno dele, e uma pressão esmagadora percorreu toda a arena.
Ele desapareceu e reapareceu na frente de Ayumi, a aura de destruição e determinação brilhando em azul e branco.
— Direct Black Shot!
O soco atingiu o peito do adversário com força esmagadora, lançando-o para longe. A poeira levantada e o impacto ressoaram pelo campo como um trovão, e o chão estalou sob a energia liberada.
Enquanto isso, Naki avançava contra Kaede. Mas os olhos de Kaede se iluminaram, e sua aura mudou drasticamente:
— Olhar do Predador.
Ele previu cada movimento de Naki, antecipando ataques com precisão quase sobrenatural. Com um golpe rápido, a força do impacto foi suficiente para nocautear Naki, deixando Ryuji sozinho diante de seus dois adversários.
O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Apenas a respiração pesada de Ryuji ecoava, e o chão marcava o rastro do caos que a luta já tinha deixado. A arena parecia conter o fôlego, sabendo que a batalha estava apenas começando para ele.
Ryuji estava sozinho no centro da arena, a respiração controlada, olhos fixos nos dois adversários. A poeira ainda dançava pelo ar, marcada pelos impactos anteriores, e o calor da tensão era quase palpável. O silêncio da plateia era absoluto, como se todos prendessem o fôlego esperando o próximo movimento.
Ele ergueu o punho direito lentamente, cada músculo tenso, cada veia pulsando com energia pura.
— Vocês vão lutar a sério ou só brincar comigo? — sua voz cortou o ar como lâmina.
Kaede estremeceu, seus olhos se estreitaram.
— Cala a boca, seu inútil! — rugiu ele, e, junto com Ayumi, avançou com velocidade extrema. A katana de Ayumi cintilou sob a luz da arena, enquanto Kaede preparava golpes com precisão mortal.
Ryuji, antecipando os ataques, moveu-se com fluidez quase sobrenatural. Um passo à frente, um giro rápido, e seu punho encontrou o ponto vital de Kaede:
— Desmantelar!
O impacto foi devastador. O braço de Kaede foi arrancado com um estalo seco, sangue e fragmentos de energia voando pelo ar, espalhando faíscas. Mas, mesmo mutilado, Kaede manteve-se firme, cambaleando apenas alguns centímetros, os dentes cerrados em pura determinação.
Ryuji não perdeu tempo. Ele cruzou os braços, fechou os olhos, e sentiu a energia do seu novo Sen pulsar por cada fibra de seu corpo. O chão sob seus pés começou a brilhar intensamente, formando uma bússola azul de gelo, cujos ponteiros e símbolos cintilavam com detalhes de flocos de neve. Uma brisa gélida percorreu a arena, congelando parcialmente o ar ao redor.
Os movimentos de Ayumi e Kaede desaceleraram perceptivelmente — não porque haviam perdido velocidade, mas porque o espírito de luta deles foi revelado e aprisionado pelo Hyōsetsu Jisei. A percepção de Ryuji expandiu-se, cada mínimo ponto fraco visível, cada linha de probabilidade delineada diante dele.
Ele abriu os olhos, agora brilhando com um azul intenso, e respirou fundo.
— Hyōsetsu Jisei… meu estilo definitivo.
O ar vibrou. O público, mesmo à distância, sentiu a aura esmagadora emanando de Ryuji, uma pressão quase física que fazia a pele arrepiar.
Primeira Demonstração: Hakai Satsu!
Ayumi avançou com um corte diagonal, rápido demais para olhos normais. Mas Ryuji moveu apenas um passo à frente, o punho atingindo o ponto exato no ombro que sustentava o ataque. Um impacto seco ecoou, quebrando a guarda de Ayumi como se fosse de vidro. Ele foi arremessado metros atrás, rolando pelo chão antes de se levantar cambaleante, mas já visivelmente abalado.
Segunda Demonstração: Ryūsen Gunkō!
Kaede tentou contra-atacar, liberando uma barreira de energia para proteger Ayumi. Ryuji não hesitou: seus punhos se transformaram em uma sequência de ataques quase impossíveis de acompanhar. Quinze golpes consecutivos percorreram o corpo de Kaede, cada um atingindo um ponto vital — costelas, abdômen, clavícula, joelhos. O som de cada impacto ressoava como trovões metálicos. O sangue jorrou, Kaede foi arremessado para trás, suas roupas rasgadas, seu corpo tremendo com a força acumulada.
Terceira Demonstração: Shiyū Shiki!
Ayumi, mesmo ferido, reuniu forças para um corte gigante de água, sua katana cortando o ar e a própria arena com força letal. Ryuji girou o corpo, sincronizando cada movimento com o fluxo do ataque. Um chute direto interceptou o corte antes que ele se formasse completamente. O choque explodiu, dispersando a água em vapor e ondas de energia, e atingiu Ayumi em cheio no peito. Ele voou pelo ar, aterrissando fora do círculo de batalha, inconsciente.
O brilho da bússola azul desapareceu lentamente, o chão voltou ao normal, e Ryuji respirou fundo, seus músculos ainda tensos, olhos fixos nos adversários caídos. Ele havia demonstrado o poder total do Hyōsetsu Jisei, mas a sensação de que ainda havia muito a explorar cintilava em seu olhar.
— Esse é o Hyōsetsu Jisei… e eu mal comecei a explorar todo o seu potencial.
O público explodiu em aplausos e gritos, alguns atônitos, outros em êxtase. O placar piscou no grande painel: 1 a 0 para o Time Branco (Ryuji Arata e Naki Senrou).
O apito soou, cortando o ar pesado da arena. Um silêncio quase sobrenatural caiu sobre o público, que sentia a tensão vibrando em cada pedra do chão. O ar tremeu, carregado de eletricidade, e pequenas fagulhas dançaram entre as mãos de Naki.
Ele ergueu a mão esquerda lentamente. No anelar, o anel negro dado por Ryuji pulsava, irradiando uma energia densa e sombria que parecia sugar a luz ao redor.
— Kuro Raijin-ryū… Estilo do Deus do Trovão Negro. — murmurou, sua voz vazia mas carregada de autoridade.
A energia se espalhou pelo campo como uma sombra viva. Raios negros surgiam e se retorciam pelo ar, deixando um rastro de ozônio e cheiro metálico, fazendo o público recuar involuntariamente. Kaede avançou com um chute giratório, veloz como uma flecha. Naki, sem mover os pés, ergueu o braço. O impacto do chute liberou uma descarga elétrica negra que atravessou a própria energia do ataque, jogando Kaede para trás com um estrondo que fez o chão rachar e pedras menores se partirem.
— Ei, Ryuji… deixa eu mostrar meu poder. — disse Naki, respirando devagar, como se estivesse apenas brincando.
Ele concentrou a energia do anel em sua palma e, num instante, uma esfera negra condensou-se, pulsando com luzes de eletricidade retorcida.
— Trovão Distante!
A esfera disparou, atravessando a arena como um meteoro, e explodiu no centro do campo. Centenas de raios negros saltaram em todas as direções, queimando o chão, fazendo faíscas voarem e atingindo Kaede e Ayumi. O público sentiu a pressão como se estivesse sendo empurrado por ondas de choque elétricas. O próprio ar tremia e crepitava, cheiro de ozônio e metal queimado invadindo cada fenda da arena.
Kaede recuperou-se e avançou novamente em uma série de socos diretos, cada um tentando atingir Naki. Mas Naki não se movia muito — cada golpe que tocava seus bloqueios preguiçosos espalhava ondas elétricas negras que queimavam a superfície do chão e a própria pele de Kaede. Cada impacto reverberava pelo ar como trovões distantes, fazendo a arena inteira estremecer.
O chão começou a rachar, pequenas fissuras se abrindo por onde os raios negros tocavam, enquanto pequenas faíscas surgiam e desapareciam entre as rachaduras. O cheiro de ferro queimado tornou-se mais intenso, penetrando nos pulmões dos espectadores.
Naki suspirou lentamente, como se fosse apenas um jogo até agora. Então ergueu a mão direita. A escuridão condensou-se ao redor, girando e se comprimindo até tomar a forma de uma Kuroden Katana — uma lâmina negra com linhas de eletricidade negra pulsando como se estivesse viva. A luz da lâmina refletia faíscas no chão, e o som era quase um zumbido constante, carregado de tensão.
— Tá na hora de terminar isso. — murmurou Naki, sua expressão ainda indiferente, mas o poder emanando da lâmina era puro terror.
Ele avançou. O corte foi tão rápido que deixou uma cicatriz elétrica suspensa no ar, como se a própria atmosfera tivesse sido cortada. Kaede tentou desviar, mas ao tocar a linha de eletricidade, uma explosão negra o lançou contra a parede com força brutal. O impacto quebrou pedras e levantou uma nuvem de poeira, enquanto faíscas saltavam de seu corpo fumegante.
Kaede arfava, gemendo, o braço tremendo do choque.
— Você não tem experiência com espadas… não é mesmo. — disse Naki, como se fosse óbvio.
Antes que pudesse reagir, Ayumi avançou em uma velocidade mortal.
— Estilo da Água: Sétima Forma – Turbilhão!
Ele liberou centenas de cortes fluidos e quase invisíveis, formando um redemoinho de lâminas de água cortante. Cada golpe atingiu Naki com precisão, cada impacto arrancando fragmentos de carne e rasgando o ar com um som líquido e metálico, fazendo o sangue saltar em faíscas quase negras de energia.
Naki caiu no chão, fatiado e imóvel, o corpo marcado por cortes profundos e queimaduras de eletricidade negra. Um silêncio mortal tomou a arena por alguns segundos, interrompido apenas pelo zumbido residual da energia de seu Sen.
Ryuji, observando do lado, arregalou os olhos. Ele sentiu cada impacto de forma quase física, como se tivesse sido atingido junto com Naki. O campo estava destruído, rachaduras, faíscas e cheiro de ferro queimado enchiam o ar.
O placar mudou. Agora era novamente 2 contra 1.
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