Índice de Capítulo

    O silêncio da arena durou o tempo de um suspiro. Então, como uma explosão contida por cordas prestes a arrebentar, Ayumi e Kaede avançaram juntos. Seus corpos eram lâminas, suas auras colidiam e se entrelaçavam, criando uma pressão que quase esmagava os pulmões de quem assistia.

    Ryuji estava sozinho — mas seus pés não tremiam. Ele deslizou um passo lateral, girou o quadril e desviou do ataque combinado com uma precisão que parecia insultar os dois adversários. O público mal acreditava: era como se ele tivesse dançado para fora da morte.

    Ele fechou os olhos por um instante. O mundo perdeu o som. Ao abri-los, uma bússola azulada cintilava no chão ao redor, linhas geométricas desenhadas pela energia de seu Sen.

    — Hyōsetsu Jisei.

    O ar congelou. Não só pela técnica, mas pela tensão invisível que sufocava todos os presentes.

    Num impulso explosivo, Ryuji avançou. Seu punho atravessou a guarda de Kaede antes que ele pudesse reagir.

    — Hakai Satsu!

    O impacto ecoou como um trovão. O peito de Kaede foi esmagado, o corpo dele arqueando para trás enquanto voava metros longe, batendo contra o chão com brutalidade. Mas ele não caiu para fora da arena. Resistiu, urrando de dor, cravado no limite de sua própria resistência.

    Ayumi não esperou. Com um giro elegante e traiçoeiro, sua katana riscou o ar em um corte invisível, mirando o ângulo morto de Ryuji. Mas ele não reagiu ao movimento — reagiu à emoção. Antes mesmo da lâmina brilhar, já havia sentido a intenção oculta de Ayumi, desviando com uma naturalidade quase sobrenatural.

    O contra-ataque veio como uma avalanche:

    — Ryūsen Gunkō!

    Uma sequência de socos curtos e devastadores explodiu contra os pontos fracos do corpo de Ayumi, forçando-o a recuar.

    O público segurou a respiração. Alguns não piscavam, como se temessem perder o instante em que a balança se desequilibraria.

    Ryuji sorriu de canto, como quem guarda um segredo:

    — Eu consigo sentir… as emoções em batalha. É como ouvir os batimentos do coração. Antes mesmo do corpo obedecer, eu já sei quando vai vir o ataque.

    Ele ergueu os olhos para Ayumi, sério.
    — Só uma pergunta… por que você luta?

    Ayumi congelou. Sua guarda baixou um centímetro, e naquele instante seus olhos carregaram um peso de anos.
    — Eu luto… para honrar o legado do meu irmão.

    E então a cena foi arrancada da realidade.

    Oito anos atrás.

    Um campo vazio. Dois garotos se enfrentavam com espadas de madeira, o sol poente queimando em laranja o horizonte. Risos infantis misturavam-se com promessas.

    Ayumi, com apenas nove anos, girava a espada de madeira com esforço. À sua frente, Sahiko, com doze, era seu mundo. Forte, sorridente, um herói de carne e osso.

    Até que a vida mudou. O corpo de Sahiko, consumido pelo câncer terminal, começou a definhar. No leito, sua voz já era quase um sussurro, mas o sorriso permanecia.
    — Meu sonho era ser o melhor espadachim do mundo.

    Ayumi segurou aquela mão frágil como quem agarra um destino.
    — Então eu vou carregar esse sonho por você.

    O passado se dissolveu como fumaça, e o presente voltou a rugir.

    Ryuji respirou fundo, os olhos brilhando com uma emoção genuína.
    — Belo motivo. Mas a luta ainda não acabou.

    Kaede retornou com um grito. Cada passo era fúria, cada soco era ódio incandescente. Mas quanto mais emoção, mais fácil para Ryuji prever. Ele se movia antes mesmo dos golpes nascerem.

    Ayumi, diferente, mudou o ritmo. Sua aura deixou de queimar e passou a se entristecer, como uma chuva silenciosa. Ele escondeu o coração, deixou a emoção diluir-se em algo neutro.

    Foi nesse instante que Ryuji sentiu o golpe tarde demais. A lâmina rasgou o ar e abriu um corte profundo em seu peito. Sangue escorreu, tingindo o chão. Mas a ferida se regenerou com a mesma velocidade com que havia sido criada.

    — Entendi…, pensou Ryuji, o suor descendo pela têmpora.
    — Se ele esconder as emoções, consegue atravessar minha defesa perfeita.

    Ayumi ergueu a katana, a lâmina cintilando com o brilho da água.
    — Estilo da Água: Quinta Forma – Maré Destruidora!

    Cinco cortes fluidos, como ondas sucessivas de um oceano em fúria, desabaram sobre Ryuji. Ele desviou de três, mas dois acertaram em cheio, rasgando músculos e abrindo feridas que ardiam como fogo gelado.

    Debilitado, ainda tentando recuperar o equilíbrio, ele mal viu Kaede avançar. Um soco brutal o atingiu no flanco, lançando-o como uma pedra arremessada, o impacto fazendo o chão tremer.

    Ryuji se ergueu devagar, o sangue escorrendo, mas os olhos brilhando. Ele passou a mão no corte e sorriu.
    — Vocês estão começando a me surpreender. Vamos ver até onde essa surpresa dura.

    O chão da arena estremeceu quando Ryuji desapareceu num borrão e reapareceu diante de Ayumi. O punho dele cortou o ar como um meteoro. O impacto parecia inevitável — mas Ayumi se curvou, deslizando para o lado num movimento impossível, quase sobrenatural, como se tivesse se dissolvido no vento.

    Ryuji não hesitou. A mão aberta se fechou, e uma katana nasceu do nada, moldada pelo Sen da Criação Convergente. A lâmina pulsava, ganhando uma cor azulada que refletia como cristal líquido.

    — Tipo Água: Corte do Dragão de Água!

    Com um rugido surdo, a espada liberou um dragão feito de correntes d’água. A criatura líquida ergueu-se, serpenteando com violência, os olhos cintilando em fúria. Avançou em direção a Ayumi, o rugido reverberando como uma tempestade prestes a desabar.

    Ayumi não piscou. Plantou os pés no chão, ergueu sua katana e, num único corte seco e preciso, abriu o dragão ao meio. A criatura se desfez em uma chuva fina, cada gota cintilando ao cair, evaporando antes de tocar a arena.

    O choque brilhou nos olhos de Ryuji por um instante.
    — Interessante. — ele sorriu, desfazendo a katana num estalo de energia e retornando aos punhos nus.

    Num movimento abrupto, girou o quadril e cravou outro Hakai Satsu no peito de Kaede. O impacto ecoou como madeira sendo partida. Kaede cambaleou, o ar fugindo dos pulmões, e antes que recuperasse o fôlego, uma sequência brutal veio:

    — Ryūsen Gunkō!

    Punhos em alta rotação explodiram contra ele, estalando ossos, quebrando o equilíbrio. Kaede voou para trás, o corpo martelado pela sequência, caindo pesadamente. Ainda não havia sido eliminado, mas sua respiração estava entrecortada, o corpo tremia como se fosse desabar.

    Foi nesse instante que Ayumi surgiu nas costas de Ryuji, rápido como uma onda inesperada. A katana brilhou e desceu em arco, certeira, quase decapitando-o. A lâmina cortou profundo, e por um instante o pescoço de Ryuji se abriu em sangue.

    Mas a carne se costurou no mesmo instante. A cabeça dele voltou a se fixar no corpo, os olhos piscando como se nada tivesse acontecido.

    Ele suspirou, como quem se cansa de brincar.
    — Hora de mostrar algo novo… Pressão Espiritual.

    A arena inteira parou. O mundo pareceu perder o ar.

    Primeiro Passo: um aperto esmagador tomou conta de todos os corações. O público sentiu como se mãos invisíveis espremessem seus órgãos, sufocando-os de dentro para fora. Até os mais fortes lutadores engoliram seco.

    Segundo Passo: o peso dobrou. O ar ficou denso como chumbo. Ossos estalaram. Joelhos tocaram o chão. Cada fibra do corpo parecia prestes a se partir.

    Terceiro Passo: os fracos foram punidos. O braço dominante de Kaede foi arrancado sem sequer um golpe físico. Apenas a pressão invisível torceu a carne, dilacerou ossos e o arrancou em um estalo grotesco. Sangue jorrou, e o grito dele ecoou como um trovão desesperado.

    Kaede caiu de joelhos, o rosto branco de choque e pavor.
    — Ryuji… você… mudou.

    Ayumi resistia, tremendo de suor, o corpo latejando sob a força invisível. Mas seus olhos ainda queimavam.
    — Você é… assustadoramente forte.

    Mesmo mutilado, Kaede cravou os pés no chão e gritou, correndo em direção a Ryuji. Sangue escorria de seu ombro vazio, mas ele ignorou a dor. Conseguiu agarrar Ryuji pelos braços, segurando-o com todas as forças.

    Cinco segundos. Era tudo o que ele conseguiu. Mas foi o suficiente.

    Ayumi, de olhos fechados, limpou o coração. Nenhuma emoção. Nenhum ódio, nenhuma dor. Apenas o vazio. O golpe nasceu do silêncio absoluto.

    A lâmina brilhou.
    O corte foi limpo.

    A cabeça de Ryuji caiu, rolando no chão da arena.

    O placar brilhou em vermelho no alto:
    1 a 1 — Vitória do Time Vermelho.

    A arena explodiu em gritos incrédulos. Kaede sangrava, Ayumi arfava, mas Ryuji, pela primeira vez, estava no chão.

    — Parabéns, Ayumi. — a voz de Ryuji ecoou firme, mas com certo respeito. — Você descobriu o ponto fraco do Hyōsetsu Jisei.

    Ayumi arfava pesadamente, o suor escorrendo pela lateral do rosto. Mesmo com o corpo tremendo, seus olhos não desgrudavam de Ryuji, que caminhava de volta para o centro da arena, a sombra dele se alongando sob as luzes.

    — Agora você não parece tão invencível quanto antes. — disse Ayumi, a voz firme, mas o peito arfando.

    Ryuji parou, curvou levemente a cabeça para trás e soltou uma gargalhada que reverberou como trovão, misto de ironia e ameaça:

    — Hahahaha! Isso foi só a superfície… Vocês não viram nada ainda.

    O som cortou o ar como uma lâmina.

    Naki, sem esperar ordens, rugiu e partiu para cima, os pés rachando o piso a cada passo. Sua espada avançava como relâmpago — mas Ayumi, com reflexos quase sobre-humanos, interceptou. Um arco prateado cortou o espaço, e o braço direito de Naki voou pelos ares, girando em espirais grotescas antes de cair no chão encharcado de sangue.

    Naki recuou com um grito abafado, os olhos arregalados em choque. O sangue pulsava em jatos vermelhos, a dor dilacerava suas fibras — mas o terror maior veio quando percebeu que o anel, seu trunfo, tinha ficado preso ao braço perdido.

    Ryuji, até então sorridente, fechou a expressão. Pela primeira vez, seu semblante ficou sério, frio como lâmina no inverno.

    — A partir de agora… eu vou usar meus poderes de verdade.

    Ele caminhou até Naki. Um simples toque no ombro bastou: a carne começou a se reconstruir em espirais bizarras, ossos se formaram do nada, músculos voltaram a se entrelaçar como serpentes vivas. Em segundos, o braço estava inteiro novamente.

    Naki piscou, incrédulo. — O quê…?

    Antes que pudesse reagir, Ryuji desapareceu. Um borrão. Um rasgo no espaço. Reapareceu diante de Ayumi, o punho carregado de energia.

    — Hakai Satsu!

    O golpe desceu como um martelo dos deuses, a onda de choque rasgando o chão em linhas quebradas. Ayumi só sobreviveu porque ergueu sua espada no último instante, o impacto reverberando até sua espinha. Ele foi lançado metros para trás, os pés arrastando e deixando sulcos profundos no solo.

    Mesmo assim, contra-atacou. Ayumi girou o corpo e lançou um corte oblíquo, sem ritmo previsível, como se a própria lâmina tivesse vida própria. Mas Ryuji ergueu apenas um dedo. O aço ressoou contra a ponta, faiscando, mas sem avançar um milímetro.

    — Acho que eu calculei algo errado. — disse Ryuji, num deboche frio. — Seu corpo ainda está inteiro. Sendo que deveria estar em dois pedaços.

    Kaede, de longe, ergueu a mão com os olhos queimando de ódio. O Sen dele explodiu em faíscas elétricas.

    — Raios Perfurantes – Black Hole!

    Um feixe negro, denso como gravidade pura, rasgou o ar em curvas impossíveis, dobrando espaço e se cravando direto no coração de Naki. O impacto abriu um buraco fumegante em seu peito.

    — Naki! — rugiu Ryuji, girando de imediato para curá-lo.

    Mas Ayumi, aproveitando a fração de segundo, avançou como uma sombra. A lâmina desceu limpa e brutal.

    Shhhhrk!

    A cabeça de Naki se separou do corpo, rolando pelo chão ainda com os olhos arregalados.

    O público explodiu em gritos histéricos, parte em êxtase, parte em horror.

    Ryuji cerrou os dentes, a raiva pulsando. Sua aura escura queimava como labaredas.

    — De novo… 2 contra 1. — rosnou, a voz mais grave. — Naki… da próxima vez, não me deixa na mão.

    Ele estendeu a mão, e uma katana surgiu. Não era o poder congelante do Hyōsetsu Jisei. Era aço puro, forjado de energia, pulsando uma aura assassina.

    Ayumi arqueou a sobrancelha, mantendo a espada erguida.

    — Você sabe usar espada?

    Ryuji sorriu, frio.

    — Do mesmo nível que você. Talvez superior.

    Em um instante, sumiu da visão. Surgiu atrás de Kaede. A lâmina desceu num arco tão veloz que parecia partir o próprio ar. Kaede saltou para o lado por um triz, desviando, e contra-atacou com outro Black Hole.

    O raio distorceu o espaço e acertou o braço de Ryuji, arrancando-o em uma explosão de carne e sangue. Mas em menos de três segundos, a regeneração reconstruiu cada fio de músculo, cada célula, até o braço estar perfeito novamente.

    A pressão na arena disparou. O Sen de Ryuji explodiu como um furacão invisível, derrubando espectadores mais fracos nas arquibancadas. Era sufocante.

    Ayumi e Kaede mal conseguiam respirar. O ar era pesado, como se a gravidade tivesse multiplicado.

    E então… Ryuji desapareceu.

    Quando voltou a ser visível, já estava diante de Kaede.

    Um único corte. Rápido. Limpo. Sem aviso.

    O corpo de Kaede se abriu ao meio, partido da cabeça até o quadril.

    O silêncio que seguiu foi mais brutal que o som.

    Ryuji se virou lentamente para Ayumi. O sorriso arrogante sumira, e em seu lugar havia um semblante sério, frio como a própria morte.

    — Venha com tudo. — disse, erguendo a katana. — Mostre-me o seu limite.

    Ele girou a lâmina, invertendo-a. O cabo apontava para cima, a lâmina para baixo, como se estivesse prestes a cravar o mundo inteiro contra a terra.

    — Kyōka Suigetsu.

    O chão vibrou. O ar tremeu. E, num piscar de olhos, cem cópias perfeitas de Ryuji surgiram, preenchendo a arena como um exército de reflexos vivos. Cada detalhe, cada aura, cada passo — idênticos. A multidão prendeu a respiração. Ayumi arregalou os olhos, e por um instante a mente dele vacilou.

    — Então é isso… ilusões?

    Mas o peso era real. O cheiro de sangue, o calor da aura, a intenção assassina. Todos os Ryuji eram convincentes demais.

    Ayumi ergueu a katana, e seus olhos se estreitaram como lâminas. A concentração dele explodiu, limpando cada ruído interno.

    — Técnica Inata… Oceano Pintado!

    O chão da arena se dissolveu em ondas negras. Um mar de tinta viva se ergueu, espirais ondulantes que refletiam o céu como espelhos distorcidos. Das águas emergiram centenas de espinhos líquidos, que avançaram como lanças divinas.

    Um a um, os clones foram perfurados. Estouravam como bolhas de realidade, dissipando-se em fumaça sombria. A cada estilhaço, a plateia gritava, sem saber o que era real.

    E então… sobrou apenas um.

    O último Ryuji avançou como trovão. Um corte rasgou o espaço, mirando o pescoço de Ayumi com força avassaladora. Mas o espadachim, com a calma de quem já tinha dançado com a morte, desviou com um giro perfeito. A lâmina dele brilhou e atravessou o coração de Ryuji, cortando em seguida sua cabeça.

    A cabeça rolou no chão. O público explodiu em gritos, o rugido de milhares ecoando como um trovão interminável.

    Mas o corpo não sangrou. Dissolveu-se em sombra.

    Era um clone.

    O verdadeiro Ryuji já estava atrás de Ayumi, a katana erguida para o corte final.

    — Agora acabou. — murmurou.

    A lâmina desceu como um veredito dos céus, cortando a cabeça de Ayumi com precisão.

    O público silenciou.

    Ryuji sorriu… mas o sorriso congelou.

    A cabeça de Ayumi virou água, o corpo todo se desfez em ondas, caindo como uma maré sobre o chão da arena.

    — O quê—?!

    Ryuji arregalou os olhos. E nesse instante, a verdade se revelou.

    Atrás dele, Ayumi surgiu, a lâmina cintilando como a lua refletida num lago. O olhar era sereno, quase divino.

    Um único corte. Sem hesitação, sem falhas.

    Shhhrrrk!

    A cabeça do verdadeiro Ryuji rolou, os olhos ainda abertos, surpresos, sem acreditar. O corpo tombou como uma montanha despedaçada.

    A arena explodiu. O rugido do público sacudiu o ar, um terremoto de vozes.

    E assim… o Terceiro Round chegava ao fim.

    Placar: 2 a 1. Time Vermelho.

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