Capítulo 47 – Copio Teu Mundo
O apito do juiz corta o ar como um raio rasgando o céu.
A arena inteira prende o fôlego — não é silêncio, é tensão condensada, quase líquida, escorrendo pelas paredes.
— QUE COMECE O QUINTO ROUND!
Ryuji não espera ecoar.
Ele dispara.
Não é correr.
É um jato humano, um corte de vento, um aviso tardio pros sentidos de Ayumi.
O Direct Shot acerta o peito do cara como um trovão que decidiu criar pernas e andar.
Ayumi voa — literalmente voa — deixando um rastro torto de poeira no chão antes de se chocar contra a borda da arena.
O impacto faz o estádio tremer como se a estrutura estivesse respirando fundo.
Do outro lado, a treta entre Naki e Kaede já tá no nível “se olhar muito perde sobrancelha”.
O ar vibra entre eles.
Parece que a arena tem medo de chegar perto.
Naki dá aquele sorriso torto, meio viciado em briga, meio cansado da própria cara.
— Então, Kaede… vamos lutar com tudo.
Kaede solta um risinho seco, tipo alguém soltando fumaça pela boca num beco escuro.
— Não é o que eu vi de você nos últimos rounds.
A paciência de Naki evapora.
— Cala a boca.
— O Ryuji tá te carregando, seu medíocre.
Veia na testa. Ódio subindo. Pupila tremendo.
— JÁ MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA!
O ar explode.
— RAIO PERFURANTE – ESTRELA DO AMANHÃ!
Na frente de Kaede, uma esfera colossal, vermelha como lua sangrando, gira produzindo faíscas que parecem querer morder o chão. Os raios circulam como serpentes elétricas, rugindo baixo.
Ele lança.
O espaço distorce no caminho da esfera.
Naki escapa no último átimo de segundo, deslizando como sombra quebrada.
E responde:
— Shigan: DESERT EAGLE!
Atrás dele, uma Desert Eagle de energia pura se materializa. Ela não é só gigantesca — é pesada, dá pra sentir o peso dela no ar, como se o universo precisasse fazer força pra deixá-la existir.
O disparo corta o mundo.
Kaede tenta girar o corpo, mas o tiro raspa o braço esquerdo.
E só a raspada já abre um rombo grotesco, carne rasgada, sangue voando em fio.
Kaede aguenta firme, mas o olhar dele pesa.
Ele não gosta de ser atingido.
Ele reage com fúria:
— RAIO PERFURANTE: ESTRELA DO ANOITECER!
Uma explosão circular surge dos pés dele — 7 metros de ondas elétricas, lâminas vermelhas vibrando no ar como se fossem quebrar o som ao meio.
A onda pega Naki inteiro e o lança longe, girando como boneco de teste.
Enquanto isso, no centro, o combate dos dois é tão rápido que parece que o tempo tá perdendo quadro.
As espadas chocam e brilham.
Ayumi canta:
— Estilo da Água: Dança Fluida.
Golpes ondulados, leves, parecia poesia… mas Ryuji corta esse poema no meio sem dó.
Ele ergue o braço e ativa o Sen.
— Estilo Pressão: CORTE PRESSURIZADO!
A arena inteira sente.
O ar pesa, como se gigantes invisíveis tivessem descido dos céus e apoiado as mãos ali.
Quem tá nas arquibancadas sente o peito apertar, como se a lâmina estivesse encostando na alma.
Quanto mais perto da lâmina…
mais insuportável.
— Se você for capaz, Ayumi…
AGUENTA A PRESSÃO!
Ryuji aumenta.
Triplica.
O chão range.
As bandeiras tremem.
Ayumi segura a espada com os dedos quase quebrando — mas segura.
E responde no instinto:
— Estilo da Água: MORTE FLUIDA!
Dez cortes gigantes, dez lâminas líquidas voando.
Duas acertam Ryuji, abrindo cortes diagonais no tronco — mas antes mesmo do sangue pingar, o corpo dele fecha as feridas, pulsando Sen como um coração extra.
A luta deles agora virou desespero puro.
Naki cospe sangue, abre os braços, aura tensa vibrando.
— Vamos ver, Kaede… se você aguenta isso.
— Shigan: DOUBLE DESERT EAGLE!
Duas pistolas gigantescas surgem atrás dele, quase rasgando o chão com o peso espiritual.
Kaede dá um passo.
Mas não.
Naki grita:
— TRAP!
Correntes de Sen estouram do chão e prendem os braços de Kaede, puxando para trás como se tentassem arrancar os ombros do lugar.
— Agora…
ATIRAR!
As duas pistolas disparam ao mesmo tempo.
24 tiros.
Cada um deles feito pra matar.
Kaede toma os 24.
O corpo dele é jogado pra trás, perfurado, rasgado, explodido.
Mas aí…
A cor muda.
Uma aura roxa misturada com vermelho começa a subir do chão como fumaça saindo do inferno.
Os ferimentos se fecham com um brilho doentio.
Os punhos serram, estalam, reconfiguram.
Kaede desaparece.
Um piscar depois…
Ele está atrás de Naki.
Tão perto que o rosto do Naki treme antes mesmo do impacto.
E Kaede sussurra, voz rouca e ecoada:
— Raio Perfurante: Soco Estelar.
O punho atravessa o peito de Naki.
A aura explode pra fora como supernova.
O impacto levanta poeira, racha o chão, cala a arena inteira.
Naki cai.
Kaede fica ali, respirando como uma fera recém-acordada.
Agora é 2 contra 1.
E o clima na arena muda de cor.
Parece que o destino decidiu segurar o cigarro e sentar pra assistir.
De um lado, ele, com a katana banhada em Sen, pulsando um brilho feroz.
Do outro, Kaede e Ayumi, lado a lado, prontos para virar uma muralha humana contra o prodígio que, naquele momento, parecia mais deus do que humano.
Ryuji ergue o rosto, respira fundo — só que a respiração dele sai pesada, nervosa.
Tem algo diferente nos olhos dele. Algo ansioso. Algo… receoso.
— Pelo visto — diz ele, com a voz tremendo num tom que ninguém espera — terei que te usar.
Ele olha pra mão esquerda.
O anel no dedo anelar, até então só um acessório, acende.
Primeiro um brilho sutil.
Depois um pulso vivo.
Depois uma explosão silenciosa em rosa e preto — como se duas galáxias tivessem entrado em colisão dentro de um metal tão antigo que nem devia existir mais.
Ryuji aproxima a mão do rosto, o brilho iluminando metade da cara dele como uma máscara demoníaca.
E grita:
— Apareça… RAINHA DAS SOMBRAS… RIKKA!
O chão responde antes que alguém entenda.
Atrás de Kaede, a sombra dele esticou.
Alongou.
Profundou.
Ficou tão escura que parecia engolir a luz em volta.
E então algo atravessou o mundo.
A figura subiu pela sombra como se estivesse escalando a realidade de dentro pra fora.
Uma silhueta feminina… longilínea, letal, elegante ao ponto de ser assustadora.
O corpo dela parecia coberto por pétalas metálicas, como se fosse uma flor de guerra.
A espada surgiu logo depois, nascendo da escuridão como se a própria sombra estivesse parindo uma lâmina.
Rikka.
A Rainha das Sombras.
E o mundo perdeu temperatura.
O ar ficou frio o bastante para arranhar a garganta.
A luz da arena piscou como se estivesse com medo.
Kaede virou o rosto devagar — não porque queria, mas porque algo dentro dele mandou.
E ele viu.
A Rainha o encarou com olhos que não refletiam luz.
Eles absorviam.
Absorviam tudo.
E no instante seguinte–
BOOM.
Kaede voou seis metros para trás com um golpe que ele nem viu. Só sentiu o mundo virando ao contrário e as costas batendo no chão.
Ryuji sorri com um deboche afiado, veneno doce.
— Acho que o jogo virou.
Rikka desliza para trás de Ryuji, não andando — fluindo.
Como um avatar da destruição,
uma sombra que ganhou vontade,
uma entidade que não devia estar ali.
Ryuji dá um passo.
Mas sua presença desaparece no meio do movimento.
Ele ressurge atrás de Ayumi como um glitch da realidade.
— Não se mova.
E Ayumi congela.
Não por obediência.
Por pura… imposição.
Ryuji gira o pulso.
— Copio teu mundo.
O golpe que sai da katana não é humano.
É frio.
Matemático.
Perfeito.
Ayumi é arremessado longe como se tivesse sido atingido por um trem fantasma.
Kaede levanta, cambaleia, tentando recuperar o fôlego, mas sua pele arrepiada já denuncia: ele sente Ryuji atrás dele antes de ver.
— Não se mova.
A voz ecoa na espinha dele.
— Copio teu mundo.
Kaede salta pra trás num reflexo quase animal, escapando por um fio de ser rasgado no meio.
Ayumi e Kaede finalmente ficam juntos, ofegantes, tentando montar uma defesa.
Eles respiram rápido.
Olham um para o outro.
Olham para Ryuji.
E percebem, sem dizer, que tão diante de alguém… diferente.
Não é mais o Ryuji que lutou rounds atrás.
É outro.
Ryuji ergue a katana de novo, um sorriso quase gentil, quase mortal.
— Estilo da Água: Morte Fluida.
As dez lâminas líquidas cortam o ar como serpentes cristalinas.
Uma delas atinge a canela de Ayumi.
Um golpe simples.
Mas impossível.
— O… quê?! — Ayumi abre os olhos, horrorizado. — Essa técnica é MINHA! Só quem usa meu Sen consegue fazer—
Ele para.
A mente dele trava.
Ryuji desaparece.
E ressurge atrás de Kaede.
— Raio Perfurante: Soco Estelar.
Kaede sente o ar vibrar.
Desvia no último milésimo.
O chão explode atrás dele.
— Como você tá fazendo isso, Arata?! — grita Kaede, voz trêmula.
Ryuji inclina a cabeça, sorrindo quase como alguém explicando um truque bobo.
— Eu vou explicar… logo… logo.
Mas antes…
Ele gira a katana, o Sen flamejando em dourado:
— Estilo do Sol: Corte Solar.
O corte lançado é um sol ferido.
Brilha tão forte que Ayumi congela — o mesmo golpe…
O golpe do irmão morto dele.
Kaede precisa se jogar em cima de Ayumi pra salvá-lo.
Ayumi olha pra Ryuji com ódio que queimaria mundos.
— COMO!? COMO!? COMO, RYUJI ARATA!?
Esse é o golpe do meu irmão! ISSO É IMPOSSÍVEL!
Ryuji finalmente decide explicar.
— No instante em que toquei vocês… eu copiei tudo.
Todos os golpes.
Todos os estilos.
Todas as memórias de combate.
Tudo que vocês já viram, já usaram… ou já perderam.
Ayumi paralisa.
Kaede sente o coração querer pular do peito.
— Foi assim que usei sua técnica — diz Ryuji, apontando para Ayumi —
e a do seu irmão.
Ayumi grita, quebrado por dentro:
— VOCÊ É UM MALDITO! E EU VOU TE MATAR!
Ryuji suspira.
Calmo.
Superior.
— Vou finalizar logo essa luta.
Ayumi avança com tudo — misturando golpes, criando variações improvisadas, cuspindo desespero.
Ryuji nem se mexe.
— Esse é seu plano?
Patético.
Ele ativa o golpe de San Ryoshi.
O golpe que derrotou ele.
— Escamas de Dragão.
A aura contrai.
Depois explode.
Ryuji dá um único corte.
Invisible.
Letal.
Dimensionado.
Ayumi sente o corpo ser atravessado antes de perceber que foi atingido.
Ele cai.
Sangue pingando no chão.
Kaede, desesperado, recua.
Mas Ryuji aponta a katana pra ele.
— O próximo é você, Kaede.
E você está um pouco longe, então…
Ele estala os dedos.
— Se aproxime.
Kaede é puxado como se o espaço dobrasse.
Teletransportado pra frente de Ryuji sem ter escolha.
E o golpe final vem.
— Escamas de Dragão.
A lâmina corta o ar.
E Kaede é partido.
Resultado do Quinto Round
3 a 2
Ryuji Arata & Naki Senrou
Ryuji guarda a katana devagar.
Rikka atrás dele, uma sombra viva.
E naquele instante…
ninguém na arena ousa respirar forte.

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