Capítulo 48 - A Verdade por Trás do Sen
Ryuji encara Kaede e Ayumi com aquele olhar frio, afiado, quase preguiçoso.
É a expressão de alguém que já viu o fim do combate antes dele começar.
— Rikka… — ele diz, num tom quase suave — não será mais necessário você lutar ao meu lado. Quero um desafio de verdade agora.
A Rainha das Sombras inclina a cabeça, como uma serva que entende o desejo do seu rei.
O corpo dela se desmonta em pétalas negras, cada pedaço virando fumaça, depois sombra, depois um orb rosado e negro que se contrai e some no chão, retornando ao Reino das Sombras.
O silêncio pesa.
O juiz ergue a bandeira.
— SEXTO ROUND!
Kaede e Ayumi voam pra cima de Naki como dois predadores sincronizados.
Naki reage no puro instinto.
— Arsenal Sen: Full Machine Gun!
Várias metralhadoras surgem atrás dele, feitas de Sen, maciças, elétricas.
Elas disparam ao mesmo tempo — um trovão contínuo, um muro de balas.
Mas Ayumi e Kaede dançam entre os disparos.
Rasam, giram, se abaixam.
Cada bala passa a milímetros do rosto, do braço, da perna.
Quando Ayumi vai atravessar o peito de Naki com um corte brutal—
BLOOM.
Ryuji aparece do nada, um braço só levantado, defendendo o golpe como quem segura um guardanapo.
Nem um arranhão.
Ayumi recua, surpreso.
Kaede respira fundo, cerra os dentes e pergunta:
— Eu me pergunto, Arata…
como ficou tão forte em tão pouco tempo?
Ryuji encolhe os ombros.
— Eu treinei muito, Kaede.
Muito.
Até meus ossos cansarem da dor.
Até meu corpo implorar pra parar.
Mas agora?
Eu me acostumei.
Kaede sorri.
É um sorriso torto, doido, apaixonado pelo combate.
— Você virou um monstro… e eu gosto disso.
Eles avançam.
Naki surge atrás de Kaede com energia acumulada.
— Shigan: Barrage Blow!
Um ataque devastador explode Kaede longe.
Ayumi aproveita a brecha e —
ZAAAAS
Um golpe tão rápido que o público só vê o sangue.
O braço de Naki cai no chão.
Naki urra, mas continua firme, regenerando lentamente.
Ryuji saca a katana.
Calmo.
Sereno.
Majestoso.
Uma pressão absurda vaza dele, ondulando o chão.
Kaede volta pro campo, ofegante, os olhos brilhando.
— In-crí-vel, Arata…
Nem parece aquele garoto que eu conheci no começo do projeto.
Antes… eu nem conseguia sentir sua pressão de Sen.
Ryuji gira a katana nos dedos.
— Já chega de falar.
Vamos lutar.
Ele desaparece.
Reaparece atrás de Kaede.
E hesita.
Kaede acerta um golpe completo na barriga de Ryuji — um ataque que seria fatal em qualquer outro humano.
— O que pensa que está fazendo, Arata?!
Deixando eu te acertar?!
Está me subestimando?!
Ryuji olha nos olhos dele, calmo demais.
— Eu não estou.
Eu só tenho certeza… absoluta…
que você não vai me derrotar.
Kaede ruge e acerta mais dois golpes, ambos tão fortes que o chão racha.
Ryuji suspira.
— Minha vez de revidar.
Um único corte.
TCHAAAAAAM
Kaede é partido em dois.
O mundo engole seco.
Mas do outro lado da arena, Naki cai também, derrotado pelo último ataque desesperado de Ayumi.
E assim…
O palco se fecha.
Só sobraram dois.
Ayumi vs Ryuji.
Ayumi bate a espada contra o chão, encarando o prodígio.
— Vamos lá, Ryuji. Me mostre tudo que tem.
Ryuji estala o pescoço.
— Só se você me mostrar tudo que VOCÊ tem.
Apesar de… não mudar nada.
Mesmo se eu usar só metade, estou muito acima de você.
Ayumi avança.
Ryuji recebe o golpe sem desviar.
Sem bloquear.
Deixa cortar.
E revida com um golpe só, lançando Ayumi cinco metros pra trás.
Ayumi range os dentes.
Sangue escorre do lábio.
— Técnica Inata: Oceano Pintado!
O oceano de tinta surge sob seus pés, ondas vivas tentando engolir o campo e Ryuji.
Ryuji suspira.
— Eu não vou cair no mesmo truque.
Domínio Simples.
Um círculo de Sen se forma aos pés dele — limpo, absoluto, elegante.
Ayumi tenta furar a barreira, mas cada ataque é repelido, quebrado, devolvido como se o próprio Sen cuspisse sua tentativa.
Ryuji levanta a mão.
— Aumentar.
O círculo expande.
Expande.
Expande.
A pressão dele devora o Oceano Pintado de fora para dentro, estourando o domínio de Ayumi como um balão.
Ayumi cai de joelhos, chocando-se com a verdade crua.
— Você…
você é mesmo um monstro.
Por que não usa sua Técnica Inata, então?!
Ryuji sorri.
— Boa pergunta, Ayumi.
Qual você deseja?
— Como assim?
Ryuji abre os braços.
— Eu não tenho um Sen próprio.
Se não percebeu…
eu tenho centenas.
Todos criados por mim.
Ayumi sente algo quebrar dentro da própria alma.
— Você não é um monstro.
Eu estava errado.
Você é uma anomalia.
Algo que não deveria existir.
Então por que…
por que você está nesse projeto?
Ryuji abaixa a cabeça, quase pensativo.
— Acredite ou não, Ayumi…
eu não nasci forte.
E quando entrei no projeto…
eu era o segundo mais fraco.
Ele ergue o olhar.
E aquele olhar é de alguém que venceu o mundo com as próprias mãos.
— Eu só fiquei forte porque decidi…
quebrar meus próprios limites.
Todos os dias.
Até sobrar só isso aqui.
O campo já não parecia um campo.
O chão estava torto, afundado, rasgado em placas irregulares.
O ar era espesso, quase sólido, e cada respiração parecia empurrar agulhas invisíveis para dentro do peito de quem assistia.
A pressão de Sen esmagava tudo.
Ryuji dá um passo à frente.
O som do pé tocando o chão ecoa como um sino fúnebre.
— Já que você deseja uma técnica mais forte… — ele diz, calmo demais — então eu vou te apresentar.
Ele levanta a mão direita.
O Sen ao redor começa a se comportar errado.
— Hadou… — a voz sai baixa, quase sem emoção.
— Número 17… Ciero.
Na palma da mão, a Pressão Sen colapsa.
Não explode.
Não se espalha.
Não vaza.
Ela entra em si mesma.
Como se o universo inteiro estivesse sendo sugado por um ponto microscópico.
O ar começa a gritar.
Não é som comum.
É a realidade reclamando.
Então nasce o feixe.
Não é luz.
Não é energia.
É pressão absoluta condensada em forma de raio.
O Ciero rasga o espaço.
Ele não atravessa o campo —
ele apaga o que existe no caminho.
Chão? Evaporado.
Barreiras? Dissolvidas.
O som some por um segundo inteiro.
O impacto chega depois.
Uma coluna colossal de destruição explode no horizonte, levantando uma muralha de poeira, energia e fragmentos do mundo que engole tudo. O solo afunda dezenas de metros, como se um deus entediado tivesse pressionado o dedo contra a arena.
Quando a poeira baixa…
Silêncio.
Ryuji abaixa a mão, como quem acabou de testar algo trivial.
Ayumi está caído.
Respiração pesada.
Mas… se move.
Ele força o corpo a se levantar.
— Que… caralhos… foi isso, Arata…?
Ryuji vira o rosto de leve.
— Deixa eu explicar.
Hadous
— Hadou não é técnica bonita.
— Hadou é Pressão Sen sem filtro.
Ele fecha a mão, e o ar pesa novamente.
— Existem 99 Hadous.
— Do 1 ao 99.
— Não é ranking de talento… é de quantidade de Sen exigida.
Ele olha para o buraco no campo.
— Um fraco usando Hadou 80 explode o próprio corpo.
— Um monstro usando Hadou 17… — ele abre a mão, lembrando do Ciero —
— apaga um campo inteiro.
Ayumi engole seco.
— Você pode juntar Hadous… — Ryuji continua —
— mas o resultado é instável.
Ele sorri de canto.
— Quando você junta Hadous…
— os números somem.
— Ficam negativos.
O olhar dele escurece.
— Porque você está forçando o Sen a existir fora da lógica.
— É aí que o mundo começa a quebrar.
Ele ergue a mão novamente.
— Vou usar o Ciero de novo.
— Dessa vez… defenda.
— Se não, você morre.
A voz baixa.
— Ciero.
O Sen colapsa outra vez.
O raio nasce.
A destruição se repete.
Mas agora…
Ayumi resiste.
Ele finca os pés no chão, a katana tremendo como se gritasse. O impacto empurra tudo ao redor, cria um vácuo momentâneo, distorce o espaço.
Quando a poeira baixa…
Ayumi está de pé.
Mas sua katana…
Está quebrada.
A lâmina especial, forjada por ferreiros lendários, simplesmente não suportou.
Ayumi olha para o que restou da espada.
E pensa.
“Então… chegou a hora.”
A sombra começa a rodear seu braço.
O Sen muda de textura.
Fica mais denso.
Mais pessoal.
Ele diz uma única palavra:
— Kidou.
Kidous
Se Hadou é explosão…
Kidou é identidade.
Kidou é a arma que nasce do gosto da Ririokutou.
Ririokutou é a alma do seu Sen.
Ela observa.
Ela testa.
Ela mente, se quiser.
Descobrir o nome da sua Ririokutou já te torna outro lutador.
Gritar esse nome…
Muda o jogo.
Com o Kidou você pode ganhar uma:
Espada.
Garras.
Lança.
Arco.
A forma não importa.
A intenção, sim.
Uma Kidou simples ainda mata.
Mas quando desperta…
Ela carrega Genshous.
Golpes que não são só golpes.
Cortes que carregam conceito, pressão, vontade.
Quem domina sua Kidou não luta contra o oponente.
Luta contra o destino dele.
Das sombras que rodeavam o braço de Ayumi, algo nasce.
Uma katana surge.
Cabo azul-claro.
Lâmina prateada, lisa, perfeita.
Essa é a Kidou de Ayumi Tsukari.
A pressão de Sen dele explode.
Não como destruição bruta.
Mas como presença absoluta.
Ryuji sorri, genuinamente impressionado.
— Incrível, Ayumi…
— Então você vai usar sua Ririokutou?
— Isso, Ryuji… — Ayumi responde —
— Mas eu ainda não despertei minha Zenkai.
— Legal… — Ryuji inclina a cabeça —
— Você aparenta estar pelo menos três vezes mais forte.
Ele ergue a mão.
— E pra testar isso… CIERO!
O raio vai com tudo.
Ayumi defende.
Sem dificuldade absurda.
A Kidou não sofre um arranhão.
Ayumi explode em velocidade, atravessa o campo e acerta Ryuji com um corte brutal.
Ryuji deixa.
O golpe rasga fundo.
Sangue escorre.
Ryuji sorri.
Agora…
A luta ficou muito mais eletrizante.
E o mundo sabe.
Isso aqui…
não é mais um round.É um marco.

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