Capítulo 49 – Reconhecido pelo Abismo
A ferida no peito de Ryuji se fecha com um estalo seco.
Carne se reconstrói. Osso se alinha.
Como se nunca tivesse existido.
Ayumi não espera.
Ele avança.
A Kidou em sua mão vibra, distorcendo o ar ao redor, puxando tudo pra perto como uma maré violenta. O chão range sob seus pés.
Ryuji responde criando uma katana de Sen da Criação Convergente.
A lâmina nasce simples. Sem brilho. Sem arrogância.
Eles colidem.
— Genshou No. 3 — Getsu.
O corte sai limpo.
Sem som. Sem luz.
Ayumi ergue a Kidou e bloqueia.
Por meio segundo… nada acontece.
Então o mundo afunda.
O solo cede num ponto exato, como se a lua tivesse sido jogada ali de propósito. A pressão desaba para dentro.
Joelhos de Ayumi dobram.
O ar some dos pulmões.
Os ossos gritam.
Ainda assim, ele não cai.
— Eu também… — Ayumi cospe o sangue da boca — sei usar Genshous.
Ele gira o corpo, puxando o Sen como quem arranca um oceano do fundo do mundo.
— Genshou No. -10… Getsu Tenshou.
O corte nasce em arco.
Mas não é só o corte.
A lua desce junto.
Antes mesmo da lâmina tocar o espaço, o impacto cria uma fenda colossal, esmagando tudo no caminho. No instante seguinte, o Getsu Tenshou atravessa o que sobrou, limpando o campo como se fosse descartável.
Ryuji é lançado longe, quicando no chão.
Ele se levanta.
Não assume guarda.
Não se defende.
Apenas abaixa a cabeça.
— Hadou…
A voz sai rouca. Pesada.
— No. 22… Oscuras.
A Pressão Sen não explode.
Ela apodrece.
O ar escurece, como se o espaço tivesse sido manchado por dentro. Um raio espiral nasce da mão de Ryuji — não luminoso, mas profundo. Denso. Faminto.
Quando o Oscuras atravessa o chão…
Não há impacto.
O chão simplesmente deixa de existir.
Sem poeira. Sem escombros.
A realidade ali é cancelada.
O feixe avança, engolindo rocha, barreiras, energia — tudo some no contato. Nenhuma resistência dura mais que um instante.
Quando o ataque se dissipa, sobra um vazio perfeito.
Liso. Morto. Silencioso.
Ryuji fecha a mão.
Ayumi conseguiu defender com a Kidou — mas o corpo cede. Ele cai de joelhos, respirando em falhas.
— Ayumi… — Ryuji fala baixo — no próximo ataque… você morre.
— Espero que desperte sua Zenkai antes que eu precise usar.
Ayumi ri. Fraco. Sujo de sangue.
— Vai se foder, Arata…
— Seus ataques são… medíocres.
Ryuji ergue o olhar.
— Tudo bem.
— Junção.
A Pressão Sen explode dentro dele e se parte em dois conceitos impossíveis de coexistir.
Luz absoluta.
Escuridão total.
— Hadou No. –39…
— Ciero… Oscuras.
Por um instante, um feixe branco nasce.
No instante seguinte… ele é engolido pelo negro.
O ataque vira uma coluna espiral de luz e sombra, girando em velocidade insana. Onde passa, o mundo não decide se deve ser destruído ou apagado.
Então ele escolhe os dois.
O chão é atravessado como papel.
O que sobra… evapora.
A arena inteira treme.
Barreiras racham como vidro.
Sensores de Sen simplesmente morrem.
O impacto final abre um abismo colossal, fundo demais para enxergar o fim.
Silêncio.
E no fundo do abismo…
Ayumi está de joelhos.
Ele tenta respirar. Falha.
Dentro dele, algo se move.
Não é voz.
Não é pensamento.
É presença.
“A Ririokutou não é poder.”
“É julgamento.”
Água sobe ao redor de Ayumi, formando uma lâmina instável, viva, vibrando. Vapor dança em órbita, mas não escapa.
Então, pela primeira vez, ela fala.
Não alto.
Não épico.
Apenas suficiente para existir.
📛 “Mizuki.”
O nome cai no mundo como peso físico.
No mesmo instante:
— A Pressão Sen explode
— A água entra em ebulição absoluta
— O Sen de Ayumi se multiplica, cru, descontrolado
Alguém ao longe arregala os olhos.
— Ele…
— Ele ouviu…
Outro completa, em pânico puro:
— Não…
— Ele foi reconhecido.
Ayumi se levanta.
A aura não grita.
Ela corta o ar só de existir.
O narrador fecha. Seco. Definitivo.
“Quando uma Ririokutou revela seu nome,”
“não nasce um guerreiro mais forte.”
“Nasce alguém capaz de destruir o Sen.”
“Por isso ela é um dos Três Pilares da Destruição.”
Ayumi encara a lâmina de água fervente tremendo em sua mão.
E entende.
Isso…
não foi um presente.
Ryuji encara Ayumi em silêncio.
Não é ódio.
Não é medo.
É respeito.
— Você… — ele diz, finalmente — aparenta estar pelo menos doze vezes mais forte, Ayumi.
Ayumi gira a Kidou na mão. A água fervente vibra, cortando o ar só de existir.
— Pra ter certeza, Arata… — ele sorri torto — só vindo me enfrentar.
Ryuji assente.
— Então tá.
Ele ergue a mão.
— Ciero.
O feixe nasce brutal, absoluto, rasgando o espaço em linha reta.
Ayumi dá um passo.
Um único corte.
A Kidou desce — e o Ciero simplesmente evapora.
Não explode.
Não rebate.
Some.
O ataque de Ryuji é apagado como se nunca tivesse sido lançado.
O vento volta atrasado.
— Você realmente ficou forte, Ayumi… — Ryuji admite, sincero — meus parabéns.
Ele pausa.
— Pena que evoluiu tarde demais.
Ryuji avança com tudo.
A katana de Sen vibra, carregada até o limite. Ele corta com intenção de fim.
A lâmina toca a Kidou de Ayumi.
E se despedaça.
Fragmentos de Sen se espalham no ar como vidro quebrado.
Ayumi responde no mesmo movimento.
O corte não acerta Ryuji por centímetros — mas o ar ao redor evapora, criando uma onda de choque violenta que o lança dezenas de metros para trás.
Ryuji desliza pelo chão, abrindo um rastro profundo.
— Sua Zenkai é absurda… — ele diz, se levantando — mal posso esperar pra ver você despertar sua Senkai.
Ele cria outra katana e avança de novo.
O golpe vem rápido. Preciso.
Ayumi desvia fácil. Contra-ataca.
Ryuji bloqueia.
A katana se parte novamente.
Os olhos de Ryuji se estreitam.
“Não dá.“
“Desse jeito… eu perco.“
Ele recua um passo.
“Só tem uma forma.“
Eu irei usar minha Kidou.
Ryuji fecha os olhos.
E então…
Silêncio.
Mas não é vazio.
É pesado.
Antigo.
Denso.
É o subconsciente de Ryuji Arata.
Ele está diante de um portão colossal, coberto por símbolos de selamento gravados no próprio espaço. Correntes de Sen giram lentamente, cravadas no nada. Cada uma pulsa… como um coração preso.
— O Que estou fazendo aqui?
— Então… — a voz de Ryuji ecoa baixa — foi aqui que você escondeu.
Passos atrás dele.
Firmes. Calmos. Conhecidos.
— Não escondi. — diz a voz do pai. — Eu protegi.
Ryuji não se vira.
— Protegeu quem?
Drako Arata para ao lado dele. O rosto não carrega raiva. Nem culpa. Só decisão.
— Você.
— E o mundo.
Ryuji finalmente o encara.
— Esse poder… — ele toca o próprio peito — sempre tentou sair.
Cada luta no limite.
Cada vez que eu sangrei.
Você sabia?
— Sim. — Drako responde, sem hesitar. — E por isso selei.
O portão reage.
As correntes vibram.
Algo respira do outro lado.
— Você selou sem me perguntar. — Ryuji diz, frio. — Decidiu por mim.
— Porque se eu tivesse perguntado… — Drako encara o portão — você não teria aceitado.
— E isso teria te destruído.
O Sen de Ryuji começa a escorrer pelo chão invisível como fumaça espessa.
— Eu não sou mais a criança que você conheceu. — ele diz. — Eu encarei a morte vezes demais para continuar incompleto.
Drako vira pra ele.
— Se eu quebrar esse selo… você pode perder o controle.
— Pode perder a si mesmo.
Ryuji dá um passo à frente.
O espaço range.
— Então confia em mim… — ele pausa — ou aceita o que vem depois.
— Isso é uma ameaça? — pergunta Drako.
Ryuji encara o pai. Quando responde, não há emoção. Só verdade.
— Não.
— É um aviso.
Ele se afasta do portão.
— Se você não quebrar esse selamento… eu vou forçar.
— E quando eu forçar… você vai tentar me impedir.
O ar congela.
— E se você ficar no meu caminho… — Ryuji conclui — eu não vou parar.
— Mesmo que seja você.
CRAACK.
Uma das correntes se parte.
Drako fecha os olhos por um instante.
Respira fundo.
— …Então parece que o tempo acabou.
No fundo do selo…
Algo se move.
E desta vez, não parece querer esperar.
O portão tremeu.
Não como algo prestes a quebrar.
Mas como algo que sabia que ia ser libertado.
Drako Arata caminha até o centro do templo mental. Cada passo acende símbolos no chão, um a um, como um ritual antigo demais pra ter sido esquecido. O ar engrossa. Dá pra sentir nos pulmões.
— O que está atrás desse selo — ele diz, sem olhar pra Ryuji — não é ódio.
— É excesso.
Ryuji não se move. Punhos cerrados. Coluna firme.
— Eu não vou pedir pra você parar.
Drako assente, devagar.
— Eu não esperava que pedisse.
Ele ergue a mão direita.
O Sen dele não explode.
Ele se organiza.
Linhas perfeitas, antigas, se desenham no ar — um idioma que só os Arata conhecem. O verdadeiro Sen da linhagem.
— Eu criei esse selamento com meu nome… — Drako continua. — então só eu posso desfazê-lo por completo.
O portão reage.
As correntes giram mais rápido.
O som lembra ossos rangendo dentro do espaço.
Drako toca o primeiro símbolo.
— Primeira Tranca: Medo Herdado.
O símbolo se apaga.
O subconsciente treme.
Ryuji sente o peito queimar. Não é dor. São lembranças. Medos que nunca foram dele… se desfazendo como fumaça.
Drako avança.
— Segunda Tranca: Vontade Contida.
Ele corta o ar com a mão.
A corrente se parte.
A aura de Ryuji cresce.
Não violenta.
Profunda.
Pesada.
— Terceira Tranca… — Drako hesita por um meio segundo. — Humanidade Forçada.
Ele fecha os olhos.
— Perdão.
O símbolo explode em luz.
O chão racha.
O templo inteiro geme.
Algo respira do outro lado do portão.
Ryuji cai de joelhos.
Não por fraqueza.
Mas por peso.
Um peso que sempre foi dele… e agora retornava.
— Falta a última… — Drako murmura.
Ele se vira para o filho.
— O Selo Final não prende o poder.
— Ele prende a consciência que vem junto.
Ryuji ergue o rosto.
Os olhos estão diferentes. Mais fundos. Mais calmos. Mais antigos.
— Termina logo
.
Drako estende a mão e encosta o punho fechado no peito de Ryuji.
— Última Tranca: Nome Negado.
Ele abre a mão.
O nome verdadeiro do poder ecoa no subconsciente.
Não é ouvido.
É sentido.
O portão não quebra.
Não explode.
Ele simplesmente deixa de existir.
Silêncio absoluto.
Ryuji se levanta devagar.
A aura dele não é caótica.
É densa como uma estrela prestes a colapsar.
Drako dá um passo para trás.
— …Está feito.
Ryuji olha para as próprias mãos.
O poder obscuro não o domina.
Ele o reconhece.
— Então… — ele diz, sereno. — agora somos iguais.
No fundo do subconsciente.
Algo antigo sorri.
O mundo real retorna de uma vez.
Ryuji abre os olhos.
O ar implode.
A pressão de Sen explode em um raio de 150 metros, triturando o chão, esmagando o espaço, fazendo a arena gritar.
— O QUE É ISSO, ARATA?! — Ayumi grita.
— Nada demais… — Ryuji responde, calmo demais. — Vou diminuir um pouco.
— Senão tudo vai ser destruído.
Ele ergue a mão.
— Kidou.
Uma katana surge.
Não reflete luz.
Ela a engole.
Lâmina negra. Presença absoluta.
— Finalmente… — Ryuji murmura — posso usar minha Ririokutou.
Eles avançam ao mesmo tempo.
— Genshou Número -10…
— GETSU TENSHOU!!!
As lâminas colidem.
O impacto gera uma explosão de pressão do nível de um Ciero Oscuras, obliterando o chão ao redor.
A arena desaparece.
A luta sobe para o céu.
— Finalmente podemos lutar com tudo, Ayumi.
Ryuji some.
Aparece.
Ataca.
Ayumi bloqueia com a Kidou — mas sente.
Ryuji está rápido demais.
“Não estamos no mesmo nível…“
“Ele ficou… muito mais forte.“
Pensou Ayumi.
— EI, AYUMI! — Ryuji grita. — SE PREPARA!
— EU VOU PARAR DE ME CONTER!
A pressão de Sen sobe para níveis anormais.
A velocidade dobra.
Triplica.
Ayumi não acompanha.
O inevitável acontece.
Um golpe seco.
O braço de Ayumi é arrancado.
Antes que ele caia, Ryuji surge na frente dele e estoca.
A lâmina atravessa o pescoço.
Ayumi cai, à beira da morte.
Ryuji congela.
— NÃO… NÃO, NÃO…
— NÃO MORRE, AYUMI!
Ele segura o corpo do adversário, desesperado.
— POR FAVOR… NÃO MORRE…
A voz treme.
— Eu só queria… — ele engole seco — uma luta de verdade…
Silêncio.
Fim do Sexto Round.
Placar:
4 a 2 — Ryuji Arata e Naki Senrou

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