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    Arena Shang Mu, na sua melhor fase.

    Essa era a frase perfeita para definir o astral do ambiente cheio de convidados e espectadores afoitos por artes marciais.

    Fugindo do saguão principal — lotado de gente, como sabido — o cenário desta vez era nos bastidores da arena, onde os protagonistas do torneio estavam chegando.

    E isso ocorria pelo portão principal.

    Cada chegada era recebida por muita algazarra e gritos de incentivo… ou rivalidade.

    Templos de toda Avalice continham lutadores que cultivavam rixas com algozes — na maioria das vezes, todos só se limitavam a pura provocação.

    No interior da fantástica arena, tudo exalava milenidade.

    Embora a palavra estilizada não exista, foi esculpida para designar eras de glórias e apreço esplêndido às artes marciais.

    Mesmo os lutadores mais jovens respeitavam tal ambiente antiquário, graças ao apelo mais do que louvável de Huli durante o dia anterior.

    O anônimo guardião zelava pelo respeito às tradições.

    Ele passeava pelo corredor, onde todos o reverenciavam, mesmo que o raposo ruivo se limitasse a um aceno de mão, sempre minimalista e bem polido no tratamento com os visitantes.

    Seu Karma era tão natural quanto seu caminhar elegante ou sua postura exemplar.

    Passado os portões, a área reservada aos lutadores borbulhava — passos revoltos, cheiros diversos, conversas e cochichos provocativos e tudo mais relacionado ao mundo da luta em Avalice.

    Tipos de várias partes de Avalice eram vistos, de raças diferentes e exóticos ao máximo. O desejo de Bryan O’Brian se concretizou.

    O urso pardo, veterano de tantas batalhas em arenas por todo o planeta, não marcava presença, mas ele estava em cada mente dali.

    Ele era um ícone ambulante; uma marca, um ser ovacionado sem sequer estar presente.

    Enfim, todo o conjunto da obra construiu um universo dentro da Arena Shang Mu.

    O torneio TORMENTA era uma realidade.

    Minutos depois…

    — Beleza, galera! Suave na nave, chegar chegando e “demorei-para-abalei”, nyah!

    Adentrando o recinto sinônimo de artes marciais, o time de Lilac ultrapassou os portões com a tagarela abrindo caminho… chamando a atenção sem cerimônias.

    O misto era de vergonha por parte da dragão púrpura — ela pôs uma das mãos à testa, como se dissesse “eu não a conheço” —, alegria por Milla e indiferença por Santino Rock e Noah.

    Os dois caminhavam juntos, com o veterano tomando assunto:

    — Garoto, você está muito à vontade. Já teve essa experiência antes?

    — Algo assim… — falou o albino, olhando em volta, mas sem um foco. — Não tenho fobias sociais, se é o que quer saber.

    — Ótimo. Mostrar fibra no meio do mundo de lutas é um ótimo caminho. Não exponha seu Karma sem necessidade.

    — Justo.

    Logo atrás veio Viktor, este com semblante sério e determinado.

    Noah olhou para trás, sabendo do que se tratava seu comportamento.

    — “Preserve-se, Viktor…” — pensava, voltando a olhar para frente. — “Evite contato visual, não troque encostos de ombro e ignore burburinhos…”

    Sua linha parecia referir a algo tratado mais cedo. Era como se o albino previsse a chuva de animosidade futura.

    E ele estava certo: ela veio, e com força.

    Conforme Viktor era reconhecido como estrangeiro, muitas conversas paralelas integravam com a notícia maldita:

    Ele é um Natural?!”

    “O Sem Valor desgraçado… ele veio?!”

    “Pensei que era um torneio sério…”

    Essas e mais uma enxurrada de outros adjetivos negativos e depreciativos foram proferidos pelos corredores.

    O humano, percebido o mal estar, ignorou sabiamente.

    Estava incomodado, mas seguiu seu caminho não se deixando abater por aquelas palavras.

    Lilac percebeu o ato, saindo da liderança e indo até o fundo, onde Viktor estava.

    Ela o abraçou pelo pescoço, dizendo:

    — Está tudo bem? — sorriu, trocando olhar.

    — Melhor impossível — ele sorriu de volta. — Você como líder me inspira muito, Lilac.

    — Hehe… Você está se saindo muito bem, ok? Conte comigo sempre.

    A cumplicidade da dragão deu ainda mais forças para Viktor, que se muniu de um sorriso para enfrentar com mais afinco o preconceito terrível.

    O nível da antipatia era maior dessa vez: não se tratava de meros espectadores; desta vez eram os próprios lutadores julgando a presença do jovem.

    Mesmo assim, não houveram gritos de ódio ou ânimos exaltados — só irritação e incômodo.

    Milla, ao lado de Carol, era só animação: seu sorriso era como um sol iluminando um vale ao amanhecer, quente e esperançoso.

    Ela, saltitante, falou:

    — Tem tanta gente aqui, não é? — olhava para todos os lados. — Nunca pensei que veria tantos lutadores em um só lugar!

    — Ah, kawaiizinha… — os olhos de Carol brilharam, mais ainda. — Isso aqui é divino, fala tu! Tamo no meio dos brodi mão de ferro de toda Avalice! Mó moral, nyah!

    — Você falando assim até parece que gosta de estar aqui. É verdade isso, hein?

    — Tu vem jogar no meu gramado e me chama de Pacaembu? É claro, vero, óbvio! — gritou Carol, pulando de alegria.

    Ao pular, a gata selvagem, ao cruzar um dos corredores, quase se chocou contra uma outra felina: usava botas vermelhas, calção de boxe azul e top branco.

    Tinha olhos azuis, usava óculos vermelhos e cabelos azulados, que lhe caía nos ombros.

    No alto da cabeça, suas orelhas felpudas contrastavam com a pelagem do resto do corpo: bem baixas, quase como uma pele humana.

    E, como aspecto único: seu físico desenvolvido era impressionante; músculos definidos de quem condicionou seu corpo ao limite.

    Carol, sem graça, desviou com uma pirueta improvisada, o que chamou a atenção de quem estava alí.

    A gata verde, corada, disse:

    — Ih, desculpinha aí, tá? Pelo menos os reflexos estão em di… — ela pausou sua fala.

    Como uma flecha, o punho da outra felina foi em direção ao rosto de Carol, assustando a todos de seu time.

    Lilac logo correu, assim como Milla e Noah, surpresos.

    Contudo, o alarme de que Carol foi atingida não soou: a tal gata dos óculos cessou o soco milímetros antes de atingir a tagarela.

    — Oh, mamãezinha… — ela suava nos dois cantos do rosto. — Minha fuça tá inteira, mas não tô achando sinal nenhum de wi-fi depois dessa, cê loco.

    A voz firme da agressora veio:

    — Você viu meu soco… não viu? — retórica, puxou seu punho. — Poderia ter desviado, mas sabia que não a atingiria.

    — Hehe… Você percebeu, caraca… — um sorriso sarcástico de Carol surgiu. — Tu foi rápida, mas a kid aqui tem as neura calibrada, tá? Mas tu é mó badass.

    Lilac ficou aliviada, mas não gostou do que aconteceu.

    — Ei, isso que você fez foi imprudente é perigoso! — a fitou, frente a frente. — Mesmo que não tenha interesse em atingir Carol de verdade, causou reações em todos nós.

    Só o olhar da gata se mexeu, com seu rosto virado para Carol.

    Mas, tomando uma postura mais neutra, abaixou seus braços e se virou para a dragão, em um movimento suave, quase como uma dança.

    — Peço desculpas por isso, dragão — reverenciou, olhando em seguida. — Sou Ametista Superior, líder do Time Demifaiku.

    — Desculpas aceitas! — Lilac fez o mesmo. — Eu me chamo Sash Lilac, líder do Time Lilac. Mas pode me chamar de Lilac somente.

    — Hm… — a felina a olhou de baixo para cima. — Meus amigos me chamam de Amy. Fique à vontade para me chamar assim.

    No momento das apresentações, Carol tinha dúvidas:

    — Tá, Amy… mas por que a intimida? — sua voz tinha deboche. — ficou com meda e puxou o soco, foi?

    A gata de pelagem rala respirou fundo.

    A resposta veio:

    — Devolvi seu ataque.

    — Hã? Ataque?! Aí, foi um acidente! Não te vi vindo, aí já foi e…

    — Novamente, peço desculpas… mas estou sempre imaginando qualquer movimento instintivo e inesperado como um ataque. Meu treinamento envolve isso o tempo todo.

    — Como é que é?! — Carol não entendeu. — “Pô, essa aí fica full time no treinamento. Badass demais, fala tu…”

    Amy, depois da explicação, reverenciou a todos, deixando o local.

    Mas ela pode ter saído, mas deixou muitas coisas no ar.

    Viktor fez sua leitura:

    — Essa técnica… Eu já vi isso antes! É do… Boxe!

    Noah ouviu o comentário, e adicionou outros detalhes.

    — Aquilo não foi só um golpe.

    — Foi um direto de esquerda, Noah!

    — Sim, foi… Mas houve mais.

    — O que? Como assim?

    Ele foi mais milimétrico na explicação dessa vez.

    — Aquela gata aplicou o direto, mas seu punho girou como uma broca. Com a velocidade imposta, alguém sem controle teria pulverizado o rosto de Carol.

    Carol, que observava Amy caminhar pelo corredor, também compartilhou o que viu:

    — Essa parada aí. Eu vi o golpe vindo, ia conseguir evitar o socão, mas esse movimento maroto dela, se continuasse… — sua pausa foi intencional. — Sei não, mas ia dar muito ruim.

    Acompanhando sua amiga felina, Lilac também a observou.

    Seu comentário trouxe realidade:

    — Ela é uma anônima… e tem um potencial infinito. Não sabemos quem ele é, mas ela soube se preparar. Então, fiquem atentos!

    O aviso foi dado.

    E Santino Rock, se dirigindo a Viktor, completou:

    — Estrangeiro, fique sempre perto da gente. Essa tal Amy foi comportada. Perto dos outros, ela não fez nada demais.

    O punho do humano fechou, seus dentes ficaram à mostra.

    Ele sentiu o peso.

    Noah finalizou:

    — Lembre-se da aula de ontem: você está sendo julgado o tempo inteiro. Aquela gata tem um Karma flutuante.

    — Karma flutuante? — sua dúvida era real.

    — Impõe respeito com micro gestos, e cria máxima em ser cortês. Ela está sempre treinando e deixa isso bem claro. Você entendeu?

    — Sim… — seu olhar o levou longe. — “Tudo aqui neste lugar é relacionado a impressão, Influência, poder, intuição… e aquilo que Noah me disse de madrugada. Não é hora de bobear…”

    A manutenção e cautela de Viktor era um sentimento legítimo.

    Vulnerável, entender a cultura de Avalice levaria tempo.

    E foi nesse cenário imerso no caos que, atingindo Lilac, uma voz conhecida a ela foi ouvida.

    — Então teve sucesso em participar do torneio, dragão púrpura patética?

    Ela olhou para trás, já trazendo consigo muita indignação: era Flórr, o panda que a confrontou na zona Norte.

    Seu olhar vago, que naturalmente demonstrava desdenho, irritou Lilac.

    A jovem não perdeu tempo.

    — Já conversamos antes e você aprendeu uma lição. Estou longe de ser patética. Mas, se quiser insistir em me chamar assim, fique à vontade. Não vai me abalar.

    Ele caminhou, circulando Lilac como uma provocação.

    Entretanto, Carol tomou a frente da situação.

    E ela não estava nada feliz.

    — Quem tu é pra chamar a minha diva linda de patética, seu sorvete de flocos podre? — ela foi até ele, para enxotá-lo. — Vai, chispa daqui!

    Não seria tão fácil: Flórr segurou o braço de Carol, que o endureceu.

    Uma pequena disputa começou.

    — Se você colocar a mão em mim, eu a levarei comigo.

    — E se você tentar fazer isso, pode apostar que todo o resto vai com você, mas tudo em pedacinho bem miudinho e quebradinho. Entendeu, seu retardado?

    A troca de olhares ocorreu, um embate fora de hora.

    Lilac interveio, soltando Carol dele.

    — Carol, para com isso!

    — Ih, o cara vem do nada, te ofende e tu tá de boa com isso? Eu não, oxe!

    — Deixa que eu resolvo isso com ele, está bem?

    A dragão, performando a frente do panda, não perdeu tempo:

    — Flórr, tudo que deveria falar a você já foi resolvido. O que você quer desta vez?

    — Ora, primeiramente lhe dar os “parabéns” por chegar tão longe… — o sarcasmo estava presente no tom da voz.

    — Obrigada…? — ela também devolveu na mesma moeda. — Era só isso?

    — Ainda não… — olhou para o lado, buscando visual em algo. — Você já percebeu que está em um ambiente onde todos levam muito a sério o porquê de estarem aqui, não?

    — O que você quer dizer com isso?

    — Hm… Seu time, dragão. Todos são desajustados na aparência e na essência. E os que estão aqui, observando vocês, já se deram conta que seu grupo patético não tem a menor chance.

    A linha tênue da paciência de alguém está relacionada ao respeito a ele e, em um nível maior, em quem tem maior confiança.

    Flórr ultrapassou essa linha, fazendo ressurgir em Lilac o mesmo incômodo de quando o conheceu.

    — Eu consigo suportar o que dizem de mim… mas deixe meus amigos fora disso! — fechou o punho, raiva no rosto.

    Um leve sorriso, quase oculto, surgiu no rosto do panda.

    Objetivo atingido, era o que aquele traço queria dizer.

    Todavia, havia um time diante do lutador orgulhoso: Noah interveio para somar, tomando a liderança de Lilac por hora.

    Fitou-o, sem cerimônias:

    — Trate de se retirar daqui, insolente!

    — Ora, mestiço, pensei que você era mudo. Estava enganado a seu respeito…

    — Não sei de sua história com nossa líder, mas suas palavras chamaram por todo o grupo… e elas tem um alvo, eu sei.

    — Bingo! — mais deboche, e mais insinuações. — Usou sua “inteligência acima da média” para perceber isso, não foi? Você é só um bibliotecário sem noção…

    Flórr estava indócil, fazendo um jogo psicológico para tentar minar o brio do time.

    Contudo, o alvo dessa vez foi pior:

    — Aquele Sem Valor… — apontou para Viktor. — É a síntese do que é seu time, dragão. A chance de todos vocês terem algum sucesso de vitória é igual a competência dele como lutador. Preciso escrever?

    Enquanto Viktor se limitou ao silêncio, Lilac não estava tão disposta a aceitar aquela afronta: a dragão partiu contra ele, mas não com violência.

    Fúria. Encarnada.

    — Escute muito bem: eu sei o que você quer, e que já conseguiu. Não me passa pela cabeça te dar um soco aqui, mas pode ter certeza que, se nos encontrarmos na arena, vou te devolver tudo isso que falou.

    Ele recebeu a mensagem, mas não fugiu.

    Pelo contrário: ele aumentou a aposta.

    — Força é um direito dos que nascem dignos. Os outros, no máximo, servem como escada — falou, a encarando. — Seu “caminho único”, dragão, não lhe servirá de nada, a menos que prove tudo que disse em uma luta.

    Passivo todo esse tempo, foi a vez de Santino nutrir a discussão com a experiência que tem.

    — Força, direito, dignidade… Paspalho, essas coisas só te fazem um lutador se você tem honra e palavra. Não importa o caminho: ele te devora ou você o domina. E você vai “morrer pela boca”, idiota arrogante!

    A escalada da tensão parecia não diminuir.

    Flórr tinha um novo alvo: Santinho Rock, que o mostrou seu ponto de vista, que atingiu em cheio o panda ensandecido.

    Mas, surpreendendo a todos, uma voz jovial e aveludada, seguida por gritos histéricos e descontrolados, foi ouvida.

    — Um novato emocionado pela oportunidade que conquistou duelando ideologia com um veterano? Isso é no mínimo irônico, aka hipócrita!

    Todos viraram, até os que nada tinham a ver com o assunto.

    Lá estava um leonino trajado com um terno todo branco, com uma camisa de seda de mesma cor com gola V, além de uma ousada gravata fina de cor preta, destoando totalmente do visual limpo.

    Sua pelagem bege agia com sinergia com o tom pastel de seu cabelo rosado, sendo exatamente como os de seus olhos.

    Seus traços felinos delicados mas másculos fechavam seu visual belo e carismático ao extremo.

    Seu caminhar cadenciado e controlado, suas postura firme e sua cauda, que acompanhava seus movimentos, já deixava evidente o impacto causado.

    E, para surpresa, Lilac arregalou seus olhos, de como alguém estivesse, de fato, impressionado pelo o que estava vendo.

    — O que?! — o púrpuro de sua Íris brilhava, refletindo aquela figura como um espelho. — Theo Monsenhor Sesto?!

    Ela o conhecia…?

    O que a entrada do leonino significa, afinal?

    Flórr o olhou com o mesmo desdenho.

    E Theo, em contrapartida, o entregou um olhar firme e confiante.

    Um embate de egos… ocorreu.

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