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    Caminhando pelos corredores da Arena Shang Mu, Santino Rock, Milla e Noah caminhavam para manter em segredo a formação completa do time de Lilac.

    Contudo, nada estava saindo como imaginaram — havia vantagens, mas as desvantagens pareciam ser maiores.

    Nesse meio tempo de transição entre ambientes, o trio improvável acompanhou vários eventos além dos seus, com participantes do torneio trocando provocações, jurando resolver assuntos na luta, ameaças e tantas outras coisas.

    Embora tudo aquilo parecesse normal para Santino, que era acompanhado por Milla o tempo todo — ela o tratava como um tipo de herói, ou coisa assim —, Noah não interpretava assim.

    Ele andava um pouco afastado dos dois, mais a frente, maquinando em sua mente.

    O assunto: vários.

    — “Toda essa tensão pelos corredores é algo inadmissível em uma competição. É como se o pior de todos estivesse vindo à tona ao mesmo tempo, quase intencional…”

    Ele observou outra vez ao redor.

    O ar tinha peso, com um odor de ânsia e escárnio, cuja brisa fresca se tornava gelada, quase congelante.

    O albino sentiu em sua pelagem o puro fino da rivalidade impura, assim como a escassez de honra e moral — boa parte do que ouviu era baixo, tanto quanto o rodapé dos corredores rubros da arena.

    Essa soma de sensações, que martelavam e mexiam com o brio de Noah, carregavam um simbolismo que, às entrelinhas, continham subtexto.

    Foi nesse momento que ele ligou os pontos: para Noah, se tornou tão óbvio que era um absurdo não ter percebido mais cedo.

    — “Separar o time, evitar exposição, diminuir os danos…” — seu raciocínio não foi tão exigido. — Mesmo assim, encontramos figuras irritantes… e desagradáveis.”

    Waaifu Soul Onma e Pawa Geisa Omna.

    Essas foram as pessoas cuja imagem veio à mente do jovem.

    A primeira a incomodou, marcando um sinal, e o segundo um traço mais sinistro — que o fez sentir o cheiro da maresia soturna.

    O rosto de Noah logo deixou transparecer o asco de mais cedo e, ao mesmo tempo, elucidou a resposta que estava tão ilustrada.

    — “Ah, mas… Isso que eu estou imaginando…” — enfim o véu sobre a tela foi retirado. “Não! Eu não imagino… Eu tenho certeza!”

    Ele parou de caminhar, com o corpo todo contraído.

    Santino e Milla tiveram que desviar em cima da hora para não se chocarem no albino.

    O canino marrom não perdeu tempo.

    — Ei, o que foi, Noah? Por que parou assim, do nada?

    Ele viu o jovem com o rosto franzido — deixando de lado seu estado neutro.

    Noah respondeu, sem que precisasse trocar olhares.

    — Tudo isso… foi premeditado!

    — Hã? Do que está falando?

    — Tudo que aconteceu, aqui nos bastidores, faz parte de um sistema de eventos pré determinados… como um ode à caótica vida de lutadores! — bateu o pé no chão, com força. — Tudo não passa de um engodo.

    A indignação do albino era enorme, o que fez com que Santino ficasse em silêncio, mas que disse muito sobre o momento — reflexo de anos de experiência no mundo da luta de Avalice.

    Ares separavam o caos do controle.

    Essa síntese corrobora com a definição fechada na conversa entre os dois aliados.

    Nos corredores adjacentes da arena, lá estava Waaifu, caminhando despojada, de quem tinha confiança em cada centímetro de seu corpo.

    Com o sentimento de Noah como contraste, um sorriso no canto da boca da felina era a resposta de quem do outro lado queria ver, mas as direções contrárias afastaram o presente.

    A cauda de Waaifu balançava de um lado para outro, acompanhando seu caminhar, como se estivesse em sincronia perfeita.

    Noah não viu, mas sentiu, e encontrou o cerne.

    Waaifu só viveu o momento, de quem havia medido milimetricamente cada passo, ao natural.

    Lados opostos.

    Direções contrárias.

    Diferente sinergia.

    Mas normalmente ligados.

    Pelo lado que seguiu seu caminho, deixou para trás, em uma cena tardia, dois lutadores participantes: eles estavam ajoelhados, mostrando colapso no olhar perdido.

    Seu companheiro, com terror no semblante, agiu como um dueto pavoroso, de quem ouviu o que não queria, e de que recebeu uma corresponsável inesperada.

    — Ela é… real?! — o mais afetado estava transtornado. — Eu só p-perguntei se ela… era uma lutadora… e, do nada, eu já estava no chão?!

    — C-cara, o que… mas o… por que nós…? — o outro, tremendo e com olhar revoltado, não conseguia escolher as palavras.

    O breve diálogo que tiveram foi como a primeira descrição — tão rápido que sequer dava para entender.

    Waaifu impôs sua palavra, ainda que não saibamos o que de fato foi dito.

    Mas já é sabido de seu potencial.

    Uma mente brilhante.

    Voltando onde Noah e o restante do time estava, o albino cravou o ato concreto:

    — Esse torneio… já começou! — falou, mas internalizou. — “Maldição! Aquela mulher… parece já estar no jogo!”

    Ele se lembrou da primeira conversa, e mais ainda do que foi apresentado.

    Não foi um simples diálogo — longe disso.

    O placar marcava contra Noah.

    E o time inteiro.

    E, falando nisso, o cenário onde as marolas internas do albino deram lugar ao extremo da Arena Shang Mu, onde Lilac, Carol e Viktor tinham lutas externas quase explícitas.

    O grito de fúria do humano foi ouvido por elas, que se viraram para vê-lo.

    Mas tanto Joshy e Tats ignoraram o brado: a felina só observou, com os olhos brilhando, e o lobo branco fechou seus olhos, em um movimento de preservação.

    — Há muita história envolvendo minha família, cara dragão púrpura…

    Lilac se virou novamente; seu semblante estava mais fechado ainda.

    — Você tem noção de que isso tudo é… — ela foi interrompida.

    — Errado? Indigno? — sua voz gutural cortou o ar. — Uma agressão às artes marciais?

    O corte seco à fala da dragão púrpura deixou um espaço na sua prosa; embora tenha sido inconveniente, o lobo sintetizou bem e enumerou o que ela iria dizer.

    Porém, vindo dele pesou mais, muito mais.

    — Tenho certeza de que essas perguntas permeiam suas ideias e impressões, cara dragão… e todas são equivocadas.

    O rosto enraivecido de Lilac ilustrou seu sentimento logo após ter as palavras colocadas na própria boca por Joshy.

    O punho fechado e o olhar fixo veio com a meditação de Nirvana mais densa.

    Era o reflexo do seu código.

    — Se tem noção do que eu penso, então… — uma aura púrpura ascendeu em torno da dragão. — Você pode tentar explicar, mas a justificativa me faz perder o respeito por vocês.

    A percepção lupina de Joshy recebeu aquilo como uma intimidação: Lilac duvidou de sua honra.

    Tal atitude causou feridas… na alma de um lutador.

    Sob a ótica de Lilac, ela o viu emanar seu Nirvana, de cor azul.

    Ambos os líderes mantiveram a encarada como se uma luta fosse começar alí mesmo.

    E eles só trocaram palavras.

    Enquanto a conversa continuava, Carol, sem se virar, observando Viktor se impor, falou a Tats:

    — Tu se amarrou no Viktor… e não tá sendo nada legal proteger esse tipo de pensamento nóia dessa tua família, tá ouvindo?

    O clima ficou pesado.

    Tats estava logo à frente da gata verde, com um rosto fechado e com os olhos iluminados — a felina acinzentada impedia seu avanço.

    — Existem deveres para com a Dinastia Omna que todos nós temos que proteger… — falava Tats, com calma. — Não temos nada contra seu time, mas há um consenso em novo monastério.

    A gata médica, controlada e sisuda, expôs mais de seu ponto de vista:

    — Poupe suas palavras. Não adianta tentar… pois nossa família tem um dever milenar. Este torneio significa muito, há coisas em jogo.

    Carol só ouviu, calada.

    Não era de sua conduta normal, e isso tinha um peso maior, que Tats desconhecia.

    A membra da Família Aoi concluiu suas palavras:

    — Torça para que não nos enfrentemos, é o que peço. E sinto muito se isso ocorrer.

    Sem que deixasse de encarar a felina, Carol estava diferente.

    A tagarela, ao ouvir isso, entregou a Tats uma contra parte que só ocorria em momentos críticos.

    Ela não só cerrou seus punhos.

    Sua respiração se tornou mais funda, os olhos estavam fixos e os seus traços mostraram uma tonalidade madura.

    Aquele era o ponto que a “Carol Séria” se tornava real.

    — Tô falando de luta por acaso? Pff… Tu não me conhece, nem a Lilac. Não importa o que vocês querem proteger… — com um semblante ofensivo e intimidador, ela cravou. — Vamo derrubar… todos vocês!

    Carol deu dois passos para frente, ignorando o aviso

    Tats não se mexeu um milímetro, firme com suas convicções.

    A encarada teve reações:

    — Trate de manter a distância — uma atitude autoritária da felina médica. — Seu time já está sendo avaliado… e vocês estão em um jogo perigoso.

    Carol piscou, demonstrando surpresa.

    Era claro que não iria ficar calada.

    — Ih, olha só… Tu quer que eu fique muda depois dessa, quatro olhos? Tu tá entre eu e o piá… então METE O PÉ!

    Tats antes havia mudado, mas com Carol ela era outro alguém: seus olhos castanhos claros brilharam.

    Era um sinal de que algo nela acordasse, uma hibernação que cessou após uma longa temporada.

    A felina verde franziu a testa, recuando um passo.

    — “Bastou o brancão do chifre aí vir de poderzinho e do nada a simpática virou no tinhoso… Essa conversa de família omnilda tá embaçada… pra caraca!”

    Carol, sabendo de que precisava fazer algo — ela era a mais próxima da direção onde Viktor estava —, não ficou parada: manifestou uma aura esverdeada, com uma leve tonalidade vermelha nas mãos.

    Os óculos de Tats, espelhados à felina, se escureceram, escondendo seus olhos castanhos, mesmo que iluminados.

    Sua medicina foi colocada em uso.

    — “Postura ereta, olhos verdes vivos, punhos com inclinação a Nirvana conectado… e seu físico desenvolvido. Parece treinada a anos e já tem experiência em luta mesmo tão jovem…”

    Ela se colocou em base de luta, mesmo que a ameaça ainda não trouxesse sinalização de duelo.

    Carol só mostrava seu estado de espírito — intenção para ajudar seu amigo humano.

    Tats era a leitura médica precisa, em caráter marcial — olhar apurado, leitura milimétrica e técnica.

    Mas ambas tinham algo em comum: lealdade.

    O encontro entre a proteção da amizade versus a proteção da doutrina.

    Enquanto a encarada ocorria, um pulsar de Nirvana norteava o ambiente.

    Era tenso e pesado, quase sufocante — rito de uma batalha iminente, mas que ainda não tinha forças para tanto.

    As duas partes, Joshy vs Lilac e Tats vs Carol, eram expoentes intrínsecos de um início prematuro de rivalidade.

    Tão logo, era a vez da continuidade de Viktor, cujo papel desencadeou uma mudança de fragrância — cheiro de luta contra sua moral

    Sua resposta veio logo… e nada ortodoxa.

    — CHEGA! — gritou, executando um chute contra Ciel.

    O felino azulado, prevendo de antemão a ameaça, deu um passo para trás, se esquivando.

    Um sorriso debochado surgiu em seu rosto afeminado.

    Seus traços delicados escondiam muito de sua natureza predatória.

    — C’est une blague ? — “É uma piada?”, ele disse. — Haha! Por um instante pensei que você tentou me acertar um chute. Faible… C’est pathétique, quase me fez sentir pena.

    O golpe frontal do humano, e o fracasso do movimento, era uma constatação do estado de espírito de todo o time de Lilac.

    Impacto e colapso, em um dueto caótico.

    Até Sheng reagiu: ele acompanhou com um olhar tenso.

    — “O que está acontecendo aqui? Por que o carinha tentou fazer isso? Será que a loucura já tomou sua cabeça?”

    Logo à sua frente, ele observou Viktor.

    O humano estava quase perdido, com a mente corroída pelo pouco que fizeram dele até então.

    Esse seu comportamento explosivo era diferente das outras vezes, de que tinha um motivo concreto, e alinhado com o que seu time procurava.

    Desta vez, como sinal triste de ruptura, ele estava ferido, partindo para o ataque como única resposta — primitiva, dado o momento extremo e contra quem estava lidando.

    Ciel, por trás de seus traços delicados e seu ar sofisticado, não tinha intenção de esconder sua natureza bruta.

    Ele era um predador.

    — Estrangeiro insolent… — o azulado sequer levantou seus punhos. — Leve sua pessoa para longe de moi… e desapareça daqui!

    O desdém, ao gesticular com uma das mãos, sinalizando com extremo desprezo, só aumentou a humilhação que Viktor sentiu.

    Era esperado uma reação, a mesma de antes.

    O humano insistiu, investindo mais uma vez contra o felino com uma sequência de três socos — todos evitados com simples esquivas laterais do gato.

    Ciel manteve o sorriso debochado, de como alguém vê uma criança brincando de lutar.

    A visão era de cima para baixo — o azulado desprezava as habilidades de Viktor.

    — O que está tentando fazer com essas tentatives infructueuses (tentativas fracassadas)?

    Logo após os ataques, Viktor voltou a se colocar em prontidão, frustrado mais do que nunca.

    Ciel não pegou leve.

    — De onde venho, chamamos pessoas como você de “des combattants qui essaient d’être moins pathétiques” — sem pudor, diminuiu Viktor a alguém que tentava ser menos patético.

    Tudo não passava de uma brincadeira para ele.

    As tentativas de Viktor não passavam de puro escárnio e deboche que Ciel usava para implicar com o ego do humano.

    A ferida não fecharia… e se transformaria em um estigma.

    No outro lado, ao perceber a movimentação explosiva do amigo, Lilac o olhou com o canto do olho, mas impedida pelas palavras de Joshy.

    O lobo branco a trouxe de volta à disputa.

    — Creio que sua equipe não está preparada para este torneio, dragão púrpura. Deveria fazer uma retirada estratégica e evitar uma derrota acachapante.

    Mesmo com o terror de ver Viktor em seu pior momento, Lilac tinha algo a fazer.

    Não era só Viktor, por mais que a promessa que fez a Ying permeasse sua mente.

    Seu time precisava de uma líder que o defendesse.

    — Não só estamos prontos como a decisão de estarmos aqui partiu de cada um — falou, voltando o olhar nos do lupino.

    Não acabou por aí. Lilac tinha um pouco mais a dizer:

    — Seu time, ou melhor, seu monastério que deveria ter vergonha de levantar sua bandeira aqui!

    Um contra golpe.

    A dragão jogou no ponto mais crítico sem cerimônias.

    Ao lobo branco, sobrou só um olhar de indignação, virando para um dos lados seu rosto enfezado.

    Mas não em silêncio.

    — Você como os demais times alimentam um preconceito ferrenho sobre o Monastério Omna que me incomoda imensamente.

    — Você a minutos atrás confirmou o que fazem e me diz isso agora? — Lilac insistiu.

    Ele voltou seu rosto para Lilac, mas não com o mesmo ar de segurança.

    Com ele, desta vez, havia um sentimento diferente.

    — Admitir que temos falhas não significa que não sejamos maiores e melhores… — seu orgulho era imenso. — E esse é um dos motivos de estarmos aqui neste torneio.

    — Arrogante! — gritou a dragão. — Você não nega o que representa e muito menos volta atrás! Por que usou seu poder contra mim?

    Sem que extinguissem suas auras, Joshy lhe entregou uma resposta:

    — Nosso monastério… Quero trazê-lo às alturas, mas da forma correta.

    — O que?! — a surpresa de Lilac a fez recuar um passo. — “Do que ele está falando?!”

    — O Monastério Omna está doente… e eu sou a cura.

    Como bumbos potentes e endurecedores, a vontade de ambos — incluindo Carol vs Tats e Viktor vs Ciel — eram tão sonoras que reagiam no ambiente.

    Fontes d’água, usadas tanto para climatização como para hidratação de transeunte afoitos, passaram a apresentar pequenas ondas.

    O som vibrante do Nirvana aflorado soou — um “tum tum” ritmado, forte e estridente.

    Respiração controlada: Lilac e Joshy — olhares na moral.

    Base rígida: Carol e Tats — olhares no coração.

    Raiva e escárnio: Viktor e Ciel — olhares no ego.

    A Arena Shang Mu estava prestes a receber uma Tormenta.

    Era questão de minutos… ou segundos.

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