Índice de Capítulo

    A reunião com o monarca de Shuigang seguiu com toda força.

    Dail promoveu uma confraternização de gala, onde várias risadas e boas conversas renderam ótimos momentos e interações únicas.

    Nada mais justo após a tensão de horas atrás.

    Depois da confusão inicial protagonizada por Viktor e Carol, todos estavam sentados à mesa se alimentando agora sem interrupções.

    O salão, luxuoso, possuía, como visto mais cedo, um estandarte, que quase tomava a parede totalmente.

    Entretanto, para compor o contexto da conversa vindoura, o brasão real sedoso começou a ser içado, dando lugar a um monitor, tão grande quanto uma TV de 110 polegadas.

    Sua mesa, com tamanho suficiente para acomodar pelo menos dez pessoas, parecia uma tribuna com seus 4 visitantes, sem contar o monarca, sentado mais ao centro, e tendo a seu lado o guardião, este de pé.

    O humano ainda estava impressionado com os pratos servidos, o que lhe tomou toda a atenção, não se atendo a conversa totalmente. Ying ainda o observava, mantendo o olhar inquisitivo de mais cedo, porém sem se descolar do assunto principal.

    Carol e Milla, ainda comendo, tinham plena visão da conversa, pelo menos de quem estava envolvido nela.

    Lilac, já satisfeita, colocou seu prato e talheres a frente, começando um diálogo diretamente com o atual rei.

    — Dail, viemos até aqui para falar sobre o que Spade tem se comportado.

    — Ah, já até imagino o que seja… — disse o panda, terminando de comer.

    A jovem dragão, para situar melhor seu ponto, precisou partir de um início, que já sabemos como tudo começou.

    — Bem, houve um torneio de artes marciais em Shang Tu. A espada Bededst era um dos prêmios… — ela falava, mas foi interrompida.

    — Vocês fizeram um torneio?! — Dail olhou para o guardião. — Porque não fiquei sabendo disso?

    Ying, mantendo um olhar sério, gentilmente passou a informação necessária a seu monarca.

    — Senhor, nós estávamos concentrados em descobrir aqui, em Shuigang, sobre as atividades dos Red Scarves, já que Spade havia sumido. Não o noticiamos quanto a esse torneio para preservar a sua atenção e a dos demais agentes envolvidos na investigação.

    — Eu gostaria de ter assistido… — o monarca suspirou, mas sem mostrar irritação. — Bem, o trabalho em primeiro lugar. Agiu bem, guardião.

    — Agradeço a compreensão, meu senhor — Ying o referenciou, em sinal de respeito.

    Após o diálogo entre as autoridades, Lilac pôde continuar seu relato.

    — O serviço de inteligência do reino de Shang Tu armou o torneio para chamar a atenção de membros dos Red Scarves.

    — E o que conseguiram? — perguntou Dail.

    — Neera Li encontrou alguns deles se inscrevendo com outras identidades. Logo descobriram que estavam mesmo atrás da espada Bededst, que tem propriedades reativas com a Jóia do Reino.

    O monarca olhou, de relance, para o guardião. Só a troca de olhares foi o suficiente para terem a mesma impressão do que acabara de ouvir.

    Isso não foi deixado em segredo, o objetivo era deixar claro esse gesto, o que Lilac percebeu.

    — Já devem saber do que estou falando, não?

    — Sim, mas quero que continue, Lilac — Dail a deixou à vontade. — Prossiga.

    — Bem, lady Neera aplicou uma tática: inscreveu General Gong e ela mesma no torneio. Ela ficou escondida, sem anunciar sua presença, mas bastou Gong lutar para que quase todos os finalistas se retirassem do torneio. Isso fez com que a inteligência pudesse rastrear para onde foram. Eles vieram justamente para cá, em Shuigang.

    Ying tomou a frente, mantendo seu rosto sereno. O panda guardião tinha algo a adicionar.

    — A mestra Neera Li manteve contato com as forças de nosso reino durante esse planejamento, senhor — disse, se referindo a Dail.

    O rei de Shuigang, jovial como era, mostrou um olhar um tanto surpreso, mas se conteve.

    Ele sabia qual era o caminho da conversa por saber de seu início.

    — Então, isso faz total sentido com o que estávamos investigando.

    — Hã? Como assim? — perguntou Lilac, olhando para Dail em seguida.

    Imediatamente, após a questão da dragão púrpura, Dail olhou para o guardião.

    Ele estava bastante seguro.

    — Ying, poderia ligar o monitor?

    — Sim, senhor. Agora mesmo… – disse Ying, caminhando até o grande ecrã do centro do salão.

    Logo é mostrado, em tempo real, um mapa de toda a cidade, com destaques da cor vermelha em todas as regiões.

    Lilac entendeu bem para onde isso iria seguir, mas foi humilde e perguntou:

    — Porque está nos mostrando o mapa de Shuigang? O que significa?

    — Bem, a atividade do clã de meu irmão trouxe preocupação ao reino. Spade, após ajudar a todos aqui na nossa nação, poderia ter escolhido voltar a fazer as mesmas coisas de antes: roubos. Mas não foi bem isso que aconteceu.

    Nesse momento, Carol olhou fixamente para Dail, como se estivesse querendo saber mais detalhes deste fato.

    — Tá, que parada é essa aí?

    — Carol, não começa! — Lilac falou, já desconfiando do que viria da tagarela.

    — Primeiro que tagarela é a tua mãe, locutor!

    Evidente que todos olharam para a gata verde, sem entenderem o que estava acontecendo.

    E ela, tomando ar, continuou.

    — Segundo, que nem ferrando que o ninjita marrento ia parar de roubar. Aposto valendo minha motoca!

    — Carol, nós sabemos do que estamos falando — disse Dail, completando. — Ele agora pode estar fazendo algo pior.

    — O que? Pior? — Lilac indagou, a pensar em seguida. — “Pelo visto existem coisas que os Três Reinos estão fazendo por trás dos panos. Royal Magister pediu nossa ajuda, agora Dail está nos dizendo isso… O que está acontecendo?”

    — Decerto, seu comportamento mudou, pois não houveram mais furtos e roubos registrados na cidade.

    Carol estava incrédula. Tanto que chegou a se levantar para esbravejar.

    — Nem ferrando! Não tem como! Não existe essa do “duas cores mais vermelho” ficar sem filar a galera! Tem muito angu nesse caroço, falei?

    O monitor passou a mostrar mais gráficos, desta vez de movimentações do clã por Avalice.

    As marcações não eram muitas, mas todas enigmáticas: pontos ao norte e sul da cidade, com concentrações nas montanhas geladas ao extremo norte.

    A movimentação de membros do clã ninja Red Scarves era mais ativa no centro da cidade, em locais onde os agentes das forças de Shuigang tinham mais conhecimento.

    As atividades sempre eram em regiões remotas da cidade, para não levantar tantas suspeitas.

    Entretanto, o caminhão jamanta roubado era grande demais para ser ignorado. Isso levantou questões em Lilac e Carol, mas já respondidas com a ação do guardião mais cedo.

    Muitas das terras de Shuigang se mantinham com neve praticamente o tempo inteiro, fazendo disso um obstáculo para mais averiguações das fronteiras.

    Dail continuou o assunto, ademais.

    — Meu irmão passou a fazer missões, todas envolvendo reconhecimento e pesquisa. Esse tipo de coisa não é de seu feito. É um procedimento dos Red Scarves como clã ninja, mas meu irmão sempre teve de agir antes de planejar.

    — E como pode ter tanta certeza disso? — perguntou Lilac. — Ele ajudou você a retomar o controle depois do Brevon ser derrotado, não?

    Embora ninguém tivesse percebido, ao ouvir o nome do senhor da guerra, franziu sua testa. Foi um sinal de que, de fato, aquilo o incomodou.

    Mas, mesmo assim, se conteve o suficiente para não explanar essa emoção, contrária a sua personalidade.

    Dail prosseguiu com o assunto.

    — Nosso serviço de inteligência conseguiu rastrear seus passos. Não foram muitos, mas o suficiente para um prognóstico bastante considerável — ele falou com ênfase, como se estivesse vislumbrado. — O que me fez pensar que ele ou se redimiu ou, o “pior”, algo maior que imaginamos.

    — E o que seria?

    — Lilac, Spade, supostamente, estava usando de seus meios para obter know-how1. O que nos levou a essa hipótese foi que o nosso setor de inteligência achou correlações com o que vem acontecendo em Avalice.

    Carol não se segurou e soltou mais uma das suas.

    — O ninjita marrento tá pensando em abrir uma franquia, é?

    — Carol, estamos falando sério! — disse Lilac, com a voz da razão.

    — Que foi? Não tá estranho essa parada aí que o Dail disse? Pô, pra quê o manezão do Spade ia ficar fazendo esse tal aí de nourroú?

    — É know-how, Carol! E sim, está mesmo estranho.

    Todavia, o monarca de Shuigang retrucou imediatamente.

    — O que a Carol disse é verdade. Ou, claro, em partes.

    — Hã?! — a felina não recebeu muito bem essa afirmação. — Aí, tava na zuera, mas dentro do assunto, tá?

    — Spade está começando a fazer as coisas de uma forma mais, como posso dizer…? — ele escolheu melhor as palavras antes de continuar a falar sério ponto de vista. — Ah, sim: “fazendo seus avanços na Red Scarves sem levantar tantas suspeitas.” Essa seria a melhor explicação possível.

    — Mas então, onde isso se correlaciona?

    Precisamente, haviam muitas informações sobre os Red Scarves das forças de inteligência de Shuigang.

    Mais intrigas por vir.

    1. nota: Know-how é um termo muito comum no ambiente corporativo. A palavra, de origem inglesa, refere-se ao sentido de ter habilidades para exercer determinada atividade ou função, sendo o “saber como fazer”. Sua abrangência não se limita apenas ao conhecimento teórico, mas também as habilidades, técnicas e práticas adquiridas ao longo do tempo. Ele engloba os segredos, as melhores práticas, os processos eficientes e as estratégias, além de insights e experiências valiosas acumuladas ao longo do desenvolvimento da atividade.[]

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