Capítulo 40 - A reunião com o monarca (Parte 3)
Dail atendeu imediatamente a pergunta de Lilac.
A urgência tomava proporções maiores, exigindo mais atenção e seriedade.
Logo, o que é transmitido no monitor mudou, mostrando eventos por todo o planeta. Um deles, inclusive, mostrou imagens da cidade de Shang Tu.
Ying tomou a palavra.
— Recebemos imagens do DPST (Departamento de Polícia de Shang Tu) pela mestra Neera Li semanas antes do Torneio de Artes Marciais. Os Red Scarves estavam fazendo incursões pelo planeta inteiro nesse período. Embora a energia da pedra do reino tenha se espalhado por Avalice, encontrar os resquícios menores tem sido muito custoso para os Três Reinos.
— Sei bem o que é isso… — Lilac foi empática, já que realizava isso também. — As missões que recebemos nestes últimos meses envolveu procurá-las por Shang Tu.
— Precisamente — Dail concluiu, mas não sem antes ter mais uma coisa para mostrar. — Mas quero que vejam uma coisa antes — ele olhou para o guardião logo após.
A ordem foi atendida por Ying, que pressionou um dos botões do computador. No monitor, imediatamente foi mostrado a imagem de um dos resquícios mas, desta vez, esse era bem diferente.
Lilac ficou curiosa com isso.
— Espera, o que significa isso? — a dragão exclamou alto. — Isso é um resquício da jóia do Reino?!
Era um pedaço com pelo menos vinte vezes o tamanho de um resquício comum, que recolheram até hoje. Por isso a surpresa.
— Caraca, maluco! Olha o tamanho dessa parada, Lilac!
— Ela é bem grande mesmo. Não caberia na moto da Carol — disse Milla, impressionada.
— É mesmo impressionante! — Viktor também se manifestou.
No entendimento de Lilac, resquícios eram pequenos o suficiente para caber em um bolso. Entretanto, saber do existir de lascas maiores mudava totalmente o panorama da situação.
Não só Lilac, mas Carol e Milla também ficaram impactadas, cochichando uma com a outra enquanto a dragão voltava à discussão.
— Dail, onde encontraram esse resquício? — a jovem estava com um olhar repleto de preocupação. — Se essa lasca caísse nas mãos dos Red Scarves…
O monarca foi ligeiro na resposta.
— Eu sei, Lilac. Entretanto, esse resquício não está aqui em Shuigang.
— Como é?! — ela quase saltou da poltrona. — E onde ela está?
— Está sob vigilância e poder do Reino de Shang Mu. Mayor Zao1 é o responsável pelo zelo.
Até Carol ficou de pé, mas não só por causa da notícia.
— Zao2?! Mas como é que… — ela mesmo se interrompeu, para fazer mais das suas. — Aí, porque tá aparecendo “referência subiu” do nada aqui? — disse Carol, confusa.
— Do que você está falando, Carol? — Lilac precisou intervir, felizmente. — A única coisa que falamos foi sobre o resquício estar com Mayor Zao3 em Shang Mu.
— Ah lá! Outra vez! — a gata falou, apontando para o vazio. — Eu vi! Por que isso? Pô, alguém precisa avisar isso pro staff da Vulcan, na moral! Tão bugando a novel, mano!
— Carol, pare com isso! Estamos tratando algo sério aqui, sua louca!
— Ah, é? Tá, beleza… — ela voltou para seu lugar, enquanto falava. — Cadê o Goat-D quando a gente precisa dele…?
— Chega! — gritou Lilac, irritada com tantas interrupções.
Voltando ao assunto (finalmente), a dragão decidiu pôr mais explícito as supostas suposições quanto à investigação do Reino de Shuigang.
— Bem, Dail… Qual é a relação disso tudo?
— Nosso centro de ciências criou uma máquina que emulasse a radiação dos resquícios para fazer com que Spade aparecesse e que pudéssemos capturá-lo.
— Mas porquê? Qual o motivo? Ele é seu irmão, então bastava você falar com ele diretamente. Ele já não estava aqui há alguns meses te ajudando?
— Ele estava ajudando ao meu reino e não diretamente a mim, Lilac.
— Como assim? — perguntou a jovem dragão, não entendendo o ponto de vista de Dail.
O guardião caminhou até Lilac, convencido de que explicações precisam ser ditas.
— Spade, por debaixo dos panos, tramou contra nosso reino. É o que cremos no momento.
— E como ele fez isso? Vocês todos estavam o vigiando o tempo todo!
— Ele teve o aval de estar em todo o castelo por ser herdeiro. Nem mesmo eu poderia estar em todos os lugares por onde ele passou. Porque acha que foi fácil que fugisse daqui?
— Então ele sabia daquela passagem, de que seria fácil… É isso?
Esse foi o momento que Dail se levantou, caminhando até mais próximo do monitor.
O rei sorriu, como se estivesse radiante, e olhou para Lilac.
Em seguida, completando, o guardião expôs uma verdade.
— É o que queremos que ele pense — disse Ying, voltando para seu lugar ao lado de Dail.
Essa fala, pontual e indireta, fez com que todo o grupo de Lilac ficasse em alerta. Ficou entendido que haviam novas nuances a serem apuradas, talvez até políticas, diante do assunto levantado.
Dail continuou a conversa.
— Bem, o plano estava se saindo melhor do que imaginávamos, pois conseguimos saber o porquê deles estarem com tanto interesse de recolher os resquícios.
— E o que seria?
O monarca de Shuigang, gritando a dragão púrpura com um olhar bastante sério, lhe disse:
— Os Red Scarves estão, supostamente, com interesse de reviver a Jóia do Reino.
Os olhos arregalados de todos no recinto ilustrou bem a surpresa da notícia.
Lilac foi o membro do seu grupo que reagiu imediatamente.
— Royal Magister precisa saber disso já!
— Sim… — Dail falou, voltando a caminhar para sua poltrona real. — Eu confio em vocês, mas tudo isso é confidencial.
O porquê de Dail ter dito isso foi diretamente a alguém que não compunha o grupo conhecido por ele.
O monarca se referiu a Viktor.
Ele o olhou, indagando em seguida.
— O quanto vocês confiam no estrangeiro que as acompanham, Lilac?
— Você está falando do Viktor?! — a jovem ficou um pouco receosa em dizer, mas não se opôs a pergunta. — Tenho total confiança nele.
— E o que tem como garantia essa sua fidelidade? Se nota que ele não é daqui, dado sua natureza.
Antes que Lilac tomasse a palavra, Milla se adiantou.
— O Viktorius já provou pra gente que é confiável, Dail. A gente confia nele bastante. Tanto que ele faz parte do nosso time.
Carol também foi em defesa do rapaz.
— Sem essa de ficar de olho torto com o piá aí! — ela o abraçou pelo pescoço em seguida, sorrindo. — Hehe… O carinha aqui já faz parte do sindicato, nyah!
— O-obrigado, Carol — Viktor a agradeceu, estranho um pouco sem jeito.
Isso não foi o suficiente para fechar a discussão. Ying foi mais incisivo.
— Ele encarou o desafio e me impressionou, mas não sabemos de onde veio e o porquê. O que tratamos aqui, as informações que compartilhamos com vocês, chegaram até o conhecimento de um estrangeiro — ele olhou bem dentro dos olhos de Lilac desta vez. — Dragão, os riscos são altíssimos.
— O que quer dizer com isso? — ela respondeu, retribuindo o olhar.
— É fato que o indivíduo chamado Viktor é um Natural… — o guardião disse, continuando sua tese. — Entretanto, suas habilidades de combate nunca teriam êxito contra um Red Scarves bem treinado. Isso traz um mar de desconfianças.
Lilac e seu time entenderam o que ele quis dizer. Era evidente que a dragão reagiria.
— Está insinuando que Viktor faz parte dos Red Scarves? Você está completamente enganado!
Dail entrou na discussão.
— O que meu guardião disse é uma hipótese. Evidências foram vistas por ele durante seu julgamento. Acham mesmo que tudo terminou?
Foi nesse momento que a chave da inocência deu lugar ao concreto: Viktor sabia que estava sendo julgado naquele instante. Ele entendeu o porquê do olhar de Ying mais cedo.
Tanto que, sem perder mais tempo, falou:
— Eu posso confiar em vocês? — ele disse isso olhando tanto para Dail quanto para Ying.
Ele partiu para o ataque. Viktor saiu da zona de conforto, levando consigo o guardião.
— Confiança é algo muito valioso dentro de um território real e nobre em que estamos. Essa dualidade de “ter e poder” é extrínseca, ao mesmo tempo que também parte de si.
— Eu posso confiar em vocês ou não? — Viktor insistiu, desta vez olhando somente para o guardião.
Novamente, a persistência da pergunta. Só que, desta vez, Dail mostrou reações.
— Isso soa como um ataque a nossa hombridade, estrangeiro… — o monarca bateu levemente sua mão à mesa. — Exijo que se explique.
A tensão voltou com força, como Lilac traçou em sua mente.
— “Viktor foi atacado e está contra atacando. Isso é um jogo perigoso, e eu não posso deixar que isso vá para frente. Porém, se eu me manifestar, pode piorar a situação. Por favor, Viktor, dê uma resposta que acabe com isso!”
A resposta à pergunta veio. Da melhor forma.
— Eu estou aqui no planeta de vocês contra minha vontade. Estou longe de casa, fazendo o meu melhor para não atrapalhar ninguém. Desde que apareci aqui e me envolvi com seres fantásticos como vocês, vi que estou no meio de uma intriga maior do que imaginava.
Ele se levantou, com sua voz mais alta, dois tons.
— Pois bem, respondendo sua pergunta: vocês duvidaram da confiança da Lilac, da Carol e da Milla. Porque eu não posso duvidar de vocês? Se querem tirar a prova de quem eu sou, então façam o que tem que fazer. Porque eu já estou fazendo o que devo fazer! Fui bem claro?
Ele foi mais do que claro.
O jovem deixou Dail e seu guardião de mãos atadas, não deixando brechas. Na iminência da hipocrisia, por assim dizer.
Lilac foi até o jovem, apertando sua mão.
— Mandou bem, Viktor! — ela disse, o abraçando em seguida.
— Hã?! Ah, o-obrigado! — ele esboçou um sorriso franco, sua espontaneidade se completou.
A cena também teve Carol e Milla, se juntando a sua amiga dragão e ao humano, que aceitava as palavras de apoio e solidariedade, ato bastante repetido nos últimos dias.
A Dail, restou somente o esperado.
— Acho que não há muito mais do que desconfiar deste estrangeiro, guardião.
Ying se mostrou indiferente, ainda com o mesmo olhar de antes. Mas atendeu a seu monarca.
— A confiança de Lilac e de seu time é o suficiente, senhor?
— Obviamente — o panda voltou sua atenção ao monitor. — Bem, providencie os outros arquivos, guardião. Essa reunião ainda não acabou.
— Como desejar, senhor.
O guardião de Shuigang assim o fez.
Mas, como Dail disse, ainda não havia acabado.
Existiam mais assuntos.
Muito mais.

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