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    A perspectiva dos justos e bondosos era um contraponto que Brevon tinha prazer em saborear, lhes tirando toda a esperança, aos poucos.

    — Hehe… Você achou mesmo que eu, Arktivus Brevon, conquistador de tantos planetas e domador de povos por todo o cosmo, iria me sujeitar única e exclusivamente a depender das minhas tão valorosas máquinas para vencer essa luta ridícula? — ele caminhava em direção a Lilac.

    Cada passo realizado pelo senhor da guerra mais parecia uma contagem regressiva, ressoando assim mesmo na mente de Lilac, que não esboçava reação alguma.

    — “Faça seu inimigo acreditar na vitória, mostre suas vulnerabilidades e, principalmente, lhe dê fé que tudo vai funcionar. Faça isso parecer verdade e colha a ignorância”. Essa filosofia é muito eficaz, sabia? Fui eu mesmo que a desenvolveu… e você é a prova ainda viva dela, hehe.

    A face distante de Lilac deixava claro a impressão de que não se levantaria mais. 

    Brevon estava triunfante.

    — Agora olhe só para você. Aí no chão, caída, talvez implorando mentalmente para que seu fim seja rápido e indolor… — ele arrastava sua espada no chão, criando um clima dramático e sórdido. — Eu vou te matar, mas antes você precisa ouvir o que farei. 

    Lilac, ainda desacordada, foi segura por Brevon pelo pescoço. Ele não havia acabado seu monólogo.

    — Eu voltarei a esse planeta e acabarei com tudo que tiver vida. Farei daqui um depósito de lixo do meu império — ele estava olhando para Lilac, sorridente. — Está ouvindo? Eu sei que está… Vou colocar sua cabeça sobre meu trono como um espólio de guerra precioso. Hehe… Tudo que você tem, seus amigos, todas as pessoas… irão arder nas chamas que eu irei levantar! 

    As palavras tenebrosas, cheias de promessas terríveis de destruição e sofrimento, atingiram a mente da dragão de uma forma nunca antes sentida por ela. 

    Embora ferida e quase desacordada, aquilo definitivamente a impactou ainda mais. 

    Uma leva de lembranças, recentes a ponto de poder ver nitidamente cada uma delas, a fez ver sua jornada. Um caminho cheio de provações e desafios.

    A ajuda a torque quando necessário1.

    A falha em impedir que a Jóia do Reino fosse levada2.

    A descrença de Neera Li e Royal Magister quando retornou ao Palácio Real de Shang Tu, o que fez com que fosse presa com seus amigos3.

    A discussão fervorosa com Carol, que a fizeram se separar4

    A tortura que recebeu de Brevon na primeira vez que se encontraram5.

    E, como ponto culminante, o que Brevon fez a Milla e a consequência terrível e fatal6 .

    Uma reação imediata, de quem carregava toda a culpa nas costas, pareceu ser um estopim, ao qual Brevon se arrependeria.

    E, falando no senhor da guerra, ele estava em algazarra, empunhando sua espada ao mesmo tempo que segurava Lilac pelo pescoço com uma das mãos.

    Confiante na vitória, mostrava um sorriso maquiavélico, típico de um tirano ceifador.

    — Hora de esfolar você, garota idiota! — ele falou, direcionando sua lâmina a dragão púrpura. — MORRA!

    Acontecimentos inesperados, aqueles que fogem do nosso controle e das nossas expectativas, muitas vezes surpreendentes ou até mesmo chocam com a nossa lógica, são eventos que interrompem nossa rotina. Eles também carregam um significado mais profundo, podendo ser interpretados como mensagens ou símbolos.

    E foi no contexto simbólico da amizade que a parede metálica próxima onde Brevon estava prestes a dar o golpe final é rompida por uma motocicleta.

    E nela estava Carol que, a jogando contra o vilão, gritou:

    — Desgraçado!

    Essa ação o fez ser jogado para longe, junto com o veículo da gata selvagem, com ela aterrissando em seguida. 

    Assim que o fez, a moto explodiu, junto a Brevon, dando a entender que a repentina aparição da felina com sua moto ajudou de certa forma. 

    Porém, Carol estava muito ferida.

    Ela tentava se manter de pé, com dificuldade até mesmo de manter seu olho direito aberto, já que o outro estava fechado, muito inchado. Seus braços continham cortes e seu dorso cheio de edemas davam a entender que travou uma batalha recente.

    — Ah… Aquele lagartixa foi pro saco e tu é o próximo… — Carol disse, ofegante e sentindo fortes dores. — Mosquito da dengue!

    Mal sabia a gata verde que seu algoz era bastante resistente.

    Ele deu essa prova ao se levantar do lugar onde caiu após a explosão, arrastando os destroços da moto que explodiu. 

    — Serpentine sempre foi fraco… — ele, de pé, falava. — Porque deixar o dever de limpar o chão para lacaios incompetentes se eu mesmo posso fazer isso? 

    Carol era tão ágil quanto Lilac em combate. Mas isso só era possível se estivesse em boa forma. Além disso, ela tinha instintos felinos aguçados também.

    Não era o caso no momento: debilitada, não pôde fazer nada após um breve som de mina soar, pois haviam três bombas ao redor de seu corpo. 

    Elas explodiram, atingindo Carol em cheio. O impulso criado a jogou para o alto, deixando claro que os danos foram severos.

    Seu corpo, já acidentado, foi ao chão, caindo desacordada.

    Brevon caminhou, passando por ela, em direção a Lilac.

    — Ela quase me arranhou… Essa pulguenta conseguiu me irritar.

    Embora a aparição de Carol tivesse feito brotar um pouco de esperança, seu ataque desesperado parecia ter prazo de validade, dado seu estado físico.

    E Lilac, até então atônita, a observou, imóvel.

    — “Carol… Milla… Torque… Todos eles…” — ela pensava, em um emaranhado de emoções surgindo a sua mente. — Todos lutaram com tudo que tinham… Eu não posso… Eu definitivamente não posso desistir agora!”

    A exemplo de alguns minutos atrás, Brevon novamente segurou Lilac pelo pescoço e a ergueu o suficiente para que sua lâmina tivesse a direção exata de sua barriga.

    Naquele mesmo instante, algo ocorreu, o que o fez interromper seu ataque fatal: Lilac abriu seus olhos, tão penetrantes aos dele que o fez duvidar daquilo.

    — O que? Ainda resiste? — Brevon, surpreso, não quis dar lugar a esperanças. — Aceite seu destino! 

    Ele, com toda força, empurrou sua espada contra o peito de Lilac, visando empalá-la fatalmente. 

    Todavia, não era um momento nada comum, já que Lilac, tomada por uma aura lilás, segurou com uma das mãos sua lâmina amaldiçoada. 

    Foi uma mudança de cenário, total e plena, dos acontecimentos.

    A dragão ainda o fitava, como se, naquele olhar inquisitivo, houvesse um julgamento, um ataque ao ego de Brevon, tão acostumado a subjugar seus inimigos. 

    Entretanto, desta vez ele foi o atingido.

    — Como conseguiu segurar minha espada?! É impossível! 

    Rangendo seus dentes e franzindo seu rosto, Lilac deixou claro que sua força havia aumentado, igualando ao de Brevon. 

    — Seu desgraçado… Eu nunca vou desistir! — ela ainda segurava a espada, que estava a poucos centímetros de seu dorso.

    — Você já foi derrotada! Aceite seu destino! — ele forçava sua espada ainda mais, sem sucesso. — O que?! Como está conseguindo suportar minha força? 

    — Você diz muito sobre “aceitar o destino”… — sua voz, que todos entendiam como doce e amigável, deu lugar a um tom mais sério e intimidador. — Nós de Avalice vivemos todos os dias como se fosse o último! Eu faço de tudo para proteger e ajudar quem precisa! Não sou perfeita, fiz muita coisa errada no meu passado, mas… EU VOU TE DERROTAR NEM QUE SEJA A ÚLTIMA COISA QUE EU FAÇA!

    O brado feroz de Lilac fez com que Brevon recuasse um passo para trás, dando sinais de que sentiu algo.

    Lilac, com ainda mais fúria, mostrou uma aura lilás mais esbranquiçada, que aumentava a cada segundo. 

    Ela segurava a espada de tal forma que sequer seu oponente pudesse movê-la, como ele pressentiu.

    — Eu não consigo puxar minha espada de suas mãos! Por que isso está acontecendo? Você já estava morta!

    A intenção de Lilac não era segurar a espada.

    Brevon até pensou ser uma estratégia, inclusive.

    Mas não. 

    Só havia ali uma demonstração franca e exclusiva de força bruta, de quem guardava um rancor e tristeza tudo no mesmo lugar, alimentando todo seu existir, interno e externo.

    Lilac apertou a lâmina com toda sua força, superando todos os seus limites, deixando aumentar exponencialmente.

    A gama de energia era abismal. O nível de poder atingiu outro patamar.

    E tudo foi consumido assim que a dragão, de tanto impor pressão a espada, a trincasse e, por consequência, a destruindo totalmente.

    Brevon arregalou seus olhos, incrédulo com o ocorrido.

    — Impossível! Como essa fedelha pôde quebrar minha lâmina?!

    Os pedaços da lamina foram ao chão, deixando claro que as coisas seriam diferentes daqui para frente.

    A jovem dragão ignorou as palavras conflitantes do senhor da guerra, aplicando seu Impulso do Dragão contra ele. 

    O movimento, tido como o mais poderoso do rico repertório de Lilac, o fez ser jogado para longe, lhe ferindo no dorso.

    Brevon até se equilibrou durante a inércia, mas foi sumariamente acertado pela garota com um estrondoso chute de cima para baixo, o jogando violentamente contra o solo do salão.

    Se levantando, sua cabeça foi atingida com um soco, sem que pudesse fazer algo, com Lilac pisando sobre ela. 

    — Assassino! Você não merece nem um pouco de pena!

    Brevon, como contra ataque, segurou os cabelos de Lilac, que tinha mechas longas, a jogando para longe. 

    A humilhação que a jovem aplicou a ele lhe trouxe uma irritação que não havia demonstrado antes. 

    Seu rosto, todo sujo e ferido, elucidou seu estado de espírito.

    — Eu sou Arktivus Brevon! O que você fez a mim nun… — ele foi calado contra sua vontade. 

    Sem esperar por um dos monólogos megalomaníacos dele, Lilac o socou com força no rosto outra vez, lhe tirando até sangue, que era da cor verde musgo.

    A dragão começou a golpeá-lo incessantemente, com força e, também, a toda velocidade.

    Os movimentos, socos e chutes combinados, faziam seu corpo se retorcer a cada vez que era acertado, parecendo até mesmo um boneco de treinamento.

    A fricção imposta sobre sua armadura começou a mostrar as reações: ela estava começando a trincar, e pedaços menores já soltavam da couraça. 

    Sua capa, adorno que ostentava com orgulho, já havia virado pó, por tanto que a dragão o golpeava.

    Lilac, envolta por uma camada ainda maior e mais densa da aura púrpura esbranquiçada, concentrou energia em um de seus punhos, dizendo: 

    — Esse é por todos os meus amigos, que estão lá embaixo lutando por mim! 

    Um murro destruidor foi desferido por ela bem no rosto de Brevon, que recuou para trás, acusando o golpe. 

    — Esse é por mim e por todos que lutaram contra você até hoje! Todos que caíram agora estão comigo nesse golpe, seu miserável!

    Novamente um soco tão potente quanto o outro, também na face ensanguentada de Brevon. 

    Ele, cambaleando, caiu de costas no chão. Ferido e desnorteado, olhava para Lilac e não conseguia entender o que estava acontecendo.

    Foi nesse momento que seus grandes olhos de inseto conseguiram ver a dragão totalmente alterada, com suas pupilas roxas tomarem a cor branca, assim como suas aura, ainda mais poderosa.

    Logo, uma grande explosão de energia aflorou de Lilac. Ela levou cada uma das mãos para os lados de seu corpo, tomando mais força e concentração da gama absurda de ira, trazida bem do fundo de sua alma.

    — Ouvi várias vezes a palavra “impossível” de você. Tudo é possível quando se luta por uma causa e pela vida, seja quem for! Você não tem o direito de abrir sua maldita boca jamais! Eu vou te derrotar, Brevon! Seu patife!

    Era uma resposta a toda a jornada de provações, desafios e perdas que obteve até agora, mas que estava mais do disposta a pôr um ponto final na história. 

    — A força de Carol está comigo! Toda ela, e vamos juntas acabar com você! 

    Carol, bastante ferida, conseguiu abrir seus olhos e ver sua amiga possessa por um poder extraordinário. A cor verde de suas pupilas se iluminaram, como se estivesse doando sua determinação a sua amiga.

    Diante a dragão, completamente dominada por pura fúria, foi nesse instante que Brevon sentiu todo seu cólera.

    — E ninguém… machuca… A MILLA!

    Um poderosíssimo Impulso do Dragão, maior e mais denso, foi executado por Lilac, quase como uma explosão da barreira do som.

    Era tão forte que todo o salão reagiu ao movimento, fazendo com que tudo começasse a se soltar.

    Lilac atingiu Brevon com esse poder descomunal, muito acima do que já demonstrou em toda sua vida. 

    Era praticamente impossível saber quantas vezes o até então senhor da guerra foi acertado, mas toda a soma energética criada fez surgir faíscas e, por causa do atrito, pequenas explosões.

    O ataque devastador de Lilac, muito acima do que já mostrou em toda Avalice, causou uma reação em cadeia em todo o andar, destruindo parte da fuselagem da nave em seu cume, chegando até mesmo em sua fonte alimentadora: a Jóia do Reino.

    Como consequência, uma iminente explosão estava prestes a ocorrer.

    1. nota: na obra original, Torque precisou da ajuda de Lilac e suas amigas para deter Lord Brevon. Ele sabia de toda a história desde o início[]
    2. nota: Lilac e Carol correram até onde a Joia do Reino estava guardada e protegida pelas forcas do reino neutro, Shang Tu. Space conseguiu rouba-la, mesmo com as tentativas de impedirem que fosse levada[]
    3. nota: Torque possuía parte da peça da nave de Brevon, o que provaria a Royal Magister e Neera Li que o senhor da guerra estava fazendo os dois outros reinos, Shang Mu e Shuigang, a entrarem em guerra enquanto ele levaria a Joia do reino. Mas, ao entregá-la, as autoridades de Shang Tu, com Neera tomando a frente da acareação, ele e o time de Lilac foram presos por espionagem e traição[]
    4. Nota: frente a uma ameaça que não daria conta, Carol brigou com Lilac e se separou da amiga, deixando a dragão para trás com Milla, impactada pela separação[]
    5. nota: Lilac foi nocauteada por Brevon em sua primeira aparição e conduzia a uma tortura elétrica até Torque ceder e dizer onde estava a espaçonave que continha as coordenadas de seu planeta[]
    6. Nota: na ultima fase da obra original, Brevon, usando sua espada amaldiçoada, transformou Milla em um monstro mutante. Ela atacou Lilac que, infelizmente, precisou recorrer a força, dando fim a seu sofrimento[]

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