Índice de Capítulo

    Os eventos finais do capítulo anterior, inesperados, deixou uma impressão de que Lilac e Ying haviam brigado.

    Mas o que exatamente fez com que lutassem um contra o outro?

    Por causa disso, voltaremos um pouco no tempo, minutos antes dos dois terem se encontrado no corredor do palácio.


    Palácio de Shuigang 

    Quarto de hóspedes | Noite

    Durante a estadia do time de Lilac no castelo, Dail deu total assistência aos jovens para se recuperarem do dia conturbado que tiveram. 

    Claro, para o atual monarca de Shuigang, isso era esperado. 

    Por isso mesmo, no quarto destinado as garotas, lá estavam Carol e Milla, 

    O cômodo, espaçoso e deixando claro a luxuosidade do palácio, tinha paredes brancas e chão em mármore chinês. Acima, um grande lustre oriental, dourado, com detalhes verdes. E essas também eram as cores das janelas; completando a arrumação, a mesma cor das cortinas. 

    Arrumando sua cama, Milla, sonolenta, olhou para Carol. A felina, já vestida com sua roupa tradicional, caminhou até a porta, dizendo:

    — Aí, vou dar um rolé na cozinha, Milla. Quer entrar no bonde? 

    — Ah, obrigada, mas estou meio cansadinha — disse a canina, se espreguiçando. — Amanhã nós vamos voltar para Shang Tu bem cedo também. 

    — Beleza, kawaiizinha. Tô indo nessa então. Boa noite de sonhos fofos.

    A gata abriu a porta e, antes que saísse, Milla falou: 

    — Você não acha que está um pouco tarde pra ficar andando pelo palácio? Depois do jantar você ainda está com fome?

    — Ih, relaxa. Tô de boa. E eu tô sem fome. Só quero beber água mesmo, ou um suco.

    — Tá bom. Só não demora, tá? 

    — Já é! — disse Carol, deixando o lugar. — Volto logo. 

    Enfim, ela saiu do lugar, passando a caminhar pelos corredores largos do palácio.

    De fato, Carol tomou o caminho que levava até a cozinha. 

    A jovem felina tornou aquilo como um passeio, ainda mais por estar bem despojada, com os braços para trás de sua cabeça, relaxada totalmente. Até ousou em falar consigo mesma. 

    — Pessoal deste palácio faz mó lustrada no piso que dá pra ver o meu reflexo no chão, caraca. 

    Sua ação antecedeu uma aparição inesperada: Dail surgiu no corredor, acompanhado por soldados que o protegiam.

    O jovem panda monarca de Shuigang sorriu, parecendo gostar de ter visto Carol. 

    — Senhorita, ainda está acordada?

    — Ah, e aí, Dail? Tava com sede, sabe? Tô no caminho certo para a cozinha? 

    — Está sim, mas… Se quiser, posso levá-la até minha área de treino. Tenho armazenado alguns isotônicos no frigobar de lá. 

    — Fechou, então! — disse Carol, sinalizando com seu polegar de forma positiva. Entretanto, algo lhe chamou a atenção. — Mas pera… Área de treino?!

    E era exatamente isso. 

    Minutos depois…

    Área de treino do monarca | Noite

    — Mano, olha só esse lugar! Iradaço!

    O vislumbre de Carol não foi à toa: o lugar era enorme, com uma grande área no meio. 

    Nas laterais, vários utensílios para praticar artes marciais, como armas brancas, seja de madeira ou lâminas; espadas, bastões, sais, nunchakus, escudos, braceletes etc. 

    Neste cenário, a felina ia de uma ponta a outra admirando o farto arsenal da área de treinamento do monarca de Shuigang.

    Até Dail estava feliz com a reação espontânea de sua convidada. 

    — Que bom que gostou, Carol. Me agrada muito estar aqui também. 

    — Pô, lugar mó irado! Tu treina aqui sempre, né?

    — Sim… — disse o panda, deixando transparecer um ar de lamentação.

    Dail parecia não muito animado após um tempo. Era um sinal que até mesmo seus guardas, distantes o suficiente para que tivessem um pouco de liberdade, perceberam, mas ficaram imóveis.

    Entretanto, Carol continuou vislumbrada pelo lugar onde Dail treinava, tratando de ir até próximo onde estava. O seu objetivo: a espada que ele levava a sua bainha, que era bem diferente das demais. 

    — Você sempre tá com essa espada, andando com ela pra cima e pra baixo. 

    — Essa espada era do meu pai. 

    — Maneiro! Posso ver? — disse, fazendo charme.

    — Hm… Tudo bem — ele retirou de sua bainha.

    A espada tinha a lâmina bem afiada, com o fio intacto. Ela também brilhava com a menor propagação de luz, mostrando também que era muito bem cuidada. 

    — Pode crer que essa sua espada é pesada. Muito rox, fala tu!

    — É uma espada diferenciada… — Dail comentou, mas sem muito entusiasmo.

    Novamente, a gata ignorou os sinais do panda, de estar entristecido. Porém, ela não parou os elogios.

    — Teu pai é o cara, hein! Te deixou várias coisas legais. 

    De fato, a espada tinha um valor não só sentimental mas também de um simbolismo ímpar. Todos os monarcas portavam suas próprias espadas, conseguidas como uma prova de seu valor em combate real.

    Dail teve a honra de herdá-la. 

    E a atitude de Carol o fez lembrar de histórias.

    — Todos os dias nós dois treinávamos aqui… — disse, retirando sua espada da bainha. — Essa lâmina, a Sarandi Imperial, manteve-se inseparável com o meu pai. 

    Ele elevou a espada acima de sua cabeça, a segurando com as duas mãos. Com um movimento firme e cheio de técnica, ele cortou o ar e, como resultado, uma gama de energia proveniente do golpe percorreu o espaço até um boneco de palha, o cortando ao meio instantaneamente sem que houvesse qualquer outro estardalhaço.

    A habilidade especial de Dail foi incrível, trazendo aos olhos de Carol ainda mais vislumbres.

    — Uau! Caraca! — ela disse, se contagiando com a emoção. 

    O autocontrole da gata selvagem já havia se despedido, a deixando muito mais a vontade e impressionada com a arma herdada por Dail.

    Porém, ele ainda assim dava a entender que não ficou feliz após os elogios.

    Não era para menos, pois a saudade estava quase o enchendo totalmente de um sentimento depressivo.

    — Até aquele dia chegar… — o panda manteve a lâmina na frente, mas caiu em direção ao chão. 

    Dail permitiu que a depressão o dominasse, tomado pelas lembranças de seu pai, o Rei de Shuigang.

    Mas, com uma das mãos sobre seu ombro, quebrando todos os protocolos, Carol o apoiou.

    — Ele tá sempre aqui, Dail — disse, sorrindo para o jovem panda.

    — Hã?! Ca-Carol…?

    A guarda real começou a se aproximar dos dois logo após a atitude empática de Carol

    Imediatamente, o jovem monarca de Shuigang só levantou uma das mãos, gesto entendido para seus protetores retardarem sua investida no mesmo instante, assim feito. 

    A felina não parou. 

    — Olha o tanto que coisa que ele deixou pra você, carinha! 

    — Sim, ele deixou… — Dail olhou em volta, voltando a restabelecer a razão. — Essa espada tem um peso muito grande. Agora eu entendo o que meu pai lidava.

    — Por isso mesmo que tu vai tirar de letra, Dail! — Carol continuou sorrindo. — Hehe, tu cortou o feioso ali de jeito! Mó catiguria, falei? 

    Carol não deixou de motivá-lo. Pelo contrário:

    — Baixa a cabeça não, cara. Teu velho tá aqui. Tu não tem que ficar na fossa agora, não senhor! Mostra orgulho dessa parada toda! Ele tá aqui! Pô, sou sua visita, então continua me mostrando as coisas zirimbas que tem aqui, nyah!

    Foram poucas palavras.

    Mesmo uma pessoa tagarela como Carol soube agir como se deve no momento certo. 

    Ela trouxe a grandeza da razão de volta a Dail que, desta vez deixando transparecer um olhar mais do que confiante, passou a lhe mostrar mais do lugar. 

    — Este é o escudo Muralha Dahrask, presente que meu pai recebeu de um dos moradores das terras de Big Sea — ele disse, mostrando seu arsenal.

    — Caraca, isso é muito maneiro!

    Por muito tempo, a conversa se manteve, com Carol conhecendo muito do lugar e Dail lhe contando histórias de seu pai.

    No fim, os dois estavam treinando juntos.

    A simplicidade e a espontaneidade da felina contagiou o coração ferido de Dail, lhe dando a oportunidade de boas risadas e de momentos relaxantes e descontraídos.

    Por um bom tempo, ele se esqueceu dos problemas e da sua grande perda.

    Havia um estigma em sua alma, mas um curativo desta vez fez estancar as marcas da saudade e tristezas do jovem monarca.

    Foi uma noite cheia de sentimentos.

    Aliás, sabemos que não era só deste momento que se resumiria o clima noir.

    Enquanto isso…

    Jardim do monarca | Noite

    O silêncio do local só foi quebrado pelo ruído de passos e o reverberante da pequena queda d’água do riacho ao fundo do lugar, completado pelo gorgolejo gerado.

    Além disso, o tremular da rica fauna do jardim enunciou com exatidão o breve diálogo que viria de Lilac e Ying.

    O dois, frente a frente, em uma distância de cerca de três metros um do outro, gerou um pouco de inquietude na dragão púrpura.

    — Porque me trouxe aqui, Ying? — ela perguntou. — O que está acontecendo?

    Sem muitas palavras dessa vez: o guardião se muniu com suas chakrans, afiadíssimas, que refletiram a luz lunar. O ruído agudo ecoou por alguns segundos, causando incômodo a Lilac. 

    A dragão, por causa do barulho irritante, precisou se concentrar um pouco mais, colocando suas duas mãos sobre seus fones auxiliares1 para obter conforto.

    Ying tinha noção desse detalhe. 

    — Ouvidos sensíveis, dragão? 

    — É, são sim. Mas eu consegui resolver — disse, voltando a olhar para Ying. — Porque sacou suas armas?

    — Logicamente, iremos duelar.

    Sua fala, seca e sem rodeios, foi convincente o suficiente para Lilac sequer pensar em dizer que era algum tipo de brincadeira.

    Pela lógica, usando dos contextos dos eventos recentes, não desperdiçou muitas palavras, dizendo: 

    — Porque isso? O que quer, Ying?

    — Se os guardiões protegem, quem protege os guardiões? — ele perguntou, saltando rapidamente em direção a Lilac.

    A pergunta, a princípio sem sentido, foi recebida por Lilac com estranheza. 

    Em sua mente, a dragão púrpura não encontrou a resposta. Era algo absolutamente abstrato.

    Sabiamente, ela se esquivou dos dois golpes de Ying, que utilizou das chakrans, para atingi-la.

    Todavia, o guardião não terminou sua combinação, emendando um violento chute contra o dorso de Lilac, que usou de seu braço para se defender da ofensiva contínua.

    Confusa e assustada, era esperado que a jovem dragão quisesse tirar satisfações. 

    — Porque está me atacando, Ying? Eu não quero lutar contra você! — Lilac berrou, mas não tão alto.

    Mas o guardião insistiu nos ataques, indo para cima com tudo: desta vez usando sequências de chutes poderosos, rápidos o suficiente para que uma pessoa normal não tivesse a menor chance.

    Mas esse não era o caso de Lilac: não foi com facilidade, mas conseguiu se esquivar e defletir a todos. 

    A dragão sentiu a força dos golpes, deixando claro que ele estava lutando a sério.

    — Você não vai me responder? 

    Ele levantou suas chakrans, assim como fez contra Ruby Scarlett, deixando claro que iria arremessá-las.

    Mas, antes que fizesse isso, disse: 

    — Qual sua resposta a minha pergunta? — assim que falou, as jogou contra a jovem. 

    As duas lâminas Vorpal cortavam o ar, ao mesmo tempo que Ying correu em direção a dragão. O movimento arrojado e amplamente ofensivo pegou Lilac de surpresa.

    Era certo que, caso defendesse, iria sofrer danos das chakrans, e mais ainda de Ying, que estava, indócil, disposto a atacá-la com tudo. 

    Sua análise de luta precisou ser mais rápida, tendo em vista a urgência. Ela estava mesmo sob pressão e em risco de morte.

    Sendo assim, após uma breve leitura em sua mente, ela correu em direção a Ying, dizendo: 

    — Impulso do Dragão!

    Sua investida vez com que sua habilidade especial mais poderosa defletisse totalmente, e sem danos aparentes, as chakrans e, seguindo em frente, trocasse forças contra o guardião de Shuigang.

    Todavia, a visão do combate inesperado era impressionante: Lilac usou tudo de si no golpe, enquanto Ying se mantivera imóvel, suportando a pressão da inércia do movimento fantástico da dragão púrpura.

    — O que?! — a reação de Lilac foi espontânea.

    Ela saltou para trás, ao mesmo tempo que Ying executou um giro mortal na direção oposta, movimento esse que também lhe serviu para aparar suas chakrans, que foram para o alto após o Impulso do Dragão.

    Mas a luta era só o começo de uma noite intensa.

    1. nota: Lilac tem deficiência auditiva. Embora os fones sejam um belo adorno que completa seu visual, eles são extremamente úteis não só para conseguir ouvir mas também em amplificar exponencialmente suas capacidades auditivas. Lilac também sabe se comunicar por sinais (a linguagem de Libras, por exemplo).[]

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