Capítulo 52 - Reuniões (Parte 1)
A conversa com o monarca de Shang Tu, Royal Magister, prosseguiu normalmente após colocarem sobre a mesa titia os dados colhidos em Shuigang.
Peritos do reino, uma equipe de cientistas e pesquisadores, estudavam cada uma dos ideogramas relacionados a suposta interferência de Spade em querer montar a tal jóia.
Juntamente, ainda sentadas na poltrona na equipada sala de reuniões, Lilac, Carol e Milla acompanhavam o desenrolar dos fatos.
Um, em específico, foi levantado pela dragão e sua amiga tagarela.
— Uma nova missão… — disse Lilac, com seu rosto demonstrando preocupação. — Queria mesmo saber porque não escalarem eles mesmos uma equipe para fazer isso.
— Aí, tu tá falando sério? — Carol foi bem espontânea no que disse. — A diva linda, a heroína, a formosa púrpura mais veloz que há, tá querendo desistir, é isso mesmo?
— Carol, você sabe que eu não sou de fazer isso. Não tirei conclusões precipitadas.
— Tu acabou de falar que não tá afim, que eles deveriam convocar outro time.
— Era modo de falar… — ela tentou desconversar, se colocando em pensamentos em seguida. — “Quero muito ajudar, mas Viktor terá de ir conosco novamente. Não posso ficar tranquila com essa ideia. Mas o quê fazer? Royal Magister confiou ao meu time a custódia dele…”
Parada e pensativa. Foi essa a visão que Carol teve de sua amiga dragão.
E, claro, perguntou:
— Lilac, qual foi? Porque tá caladona?
— Hã? O que? — a dragão voltou à realidade. — Ah, bem… Eu estava só pensando.
— Pensando na minha frente? Depois eu que sou a louca…
— Ok, desculpa. Mas… — era visível seu desconforto. — Você já teve a sensação de que alguma coisa está para acontecer?
— Já sim. Mas, peraí: essa coisa é boa ou ruim?
— Não sei dizer… — novamente Lilac desconversou, mas se colocando a pensar outra vez. — “Eu não consigo tirar as palavras de Ying da minha mente. É como se ele estivesse aqui, ao mesmo lado. Não posso envolver Viktor nos nossos problemas…”
Novamente Carol reparou que sua amiga estava muito pensativa.
E ela se uniu a esse estado.
— “Lilac tá muito concentrada. Ela é assim, mas tá muito mais agora. O que tá rolando nessa cabecinha? Tem coisa aí, angu e caroço tudo junto. Eu vou descobrir o que tá rolando, porque ela não vai me dizer na lata.”
Carol era muito próxima a Lilac para não ter percebido essa mudança abrupta de comportamento.
Ela agora tinha noção de que algo estava acontecendo.
Enquanto isso…
Chefatura de polícia de Shang Tu
Escritório de Neera | Manhã

— Seu idiota irresponsável!
Esse era o nível da conversa entre Neera e Viktor.
O escritório da panda estava sempre arrumado e iluminado, deixando claro seu grau de organização e limpeza.
Neera estava mostrando muito mais irritação que de costume, gritando horrores com Viktor.
— Eu havia pensado que, no mínimo, você teria a decência de respeitar uma promessa… — a panda falava, olhando bem nos olhos do jovem. — Mas não, você tinha que se colocar em perigo e ainda levar a Milla junto!
— Mas senhorita Neera, eu… — Viktor até tentou falar, mas não foi páreo para o mau humor de Neera.
— CALE-SE! — ela gritou, não tão alto, mas o suficiente para chamar atenção. — Eu não quero ouvir sua voz! Eu deveria prendê-lo por ter colocado a Milla em perigo! Você só faz idiotices!
— Eu poderia pelo menos tentar me explicar? — retrucou o humano, tentando dialogar.
— Porque eu deveria lhe dar essa oportunidade? — Neera foi incisiva na pergunta.
— Você precisa saber o que houve antes de me condenar, como normalmente pessoas civilizadas fazem.
Foi um bom argumento, que Neera não pôde negar.
— Muito bem, você tem um ponto. Aproveite cada palavra que tiver para me dizer.
— Nós em Shuigang não tivemos escolha. Os ninjas nos atacaram e… — novamente ele foi interrompido.
— Porque não chamaram a polícia de Shuigang? — sem perder tempo, a panda veio com uma solução lógica.
Mas sabíamos que a situação não era tão simples, como Viktor deixou claro.
— E você acha mesmo que aqueles ninjas iriam esperar eu chamar a polícia? E, mesmo assim, eu estava lutando para me proteger e não para me meter em encrencas. Uma coisa é eu entrar, mas eu que fui colocado dentro da encrenca. Entendeu a diferença?
— Isso não significa nada. Nada! Bastaria fugir! — ela cruzou os braços, como se estivesse a par da situação.
— Fugir? Você está louca? Eu nunca poderia fazer isso!
— E porque não? E sua promessa, não significa nada?
Essa pergunta fez com que Viktor ficasse calado por alguns segundos. Entretanto, ele se lembrou do que Ying lhe disse. E isso foi o que a motivou a responder adequadamente.
— Eu cumpri com minha promessa. Porém não posso ferir meus juramentos.
— E quais seriam? — Neera ficou curiosa, já que desconhece tal ato.
— Eu devo me proteger e a quem está à minha volta. Foi isso que jurei quando ganhei minha faixa preta em karatê — ele falou, gesticulando como se estivesse mostrando sua faixa na cintura. — Sou um mestre, senhorita Neera Li. Eu não posso deixar que minha promessa com você se sobreponha ao meu título.
Pela primeira vez em muito tempo a panda tratou de se controlar e mudar o tom da conversa com o jovem.
Por mais que soubesse seu papel como autoridade, levada muito a sério, não poderia sobrepor os votos do jovem perante sua doutrina.
Houve um pouco de respeito, mesmo que tímido.
Ela, olhando-o nos olhos, disse:
— Você fez uma promessa. É um contrato comigo que nunca poderá ser quebrado. Siga-o e não terá problemas comigo. Deixei bem claro isso?
— Sim, senhorita Neera — ele confirmou, a reverenciado, ao inclinar sua cabeça em sua direção.
Neera até aceitou a etiqueta do jovem, ainda que não compartilhasse do gesto respeitoso.
Mas não havia acabado.
— E tem mais uma coisa… — a panda levantou seu dedo, o indicador, pedindo atenção.
— O que foi dessa vez?
— Eu não quero que coloquem a Milla em perigo novamente, entendeu? Ela é muito nova para se meter em missões perigosas.
— Sim, eu entendi. Mas quero dizer uma coisa antes de ir… — ele olhou para Neera, com a mesma atenção.
— O que seria?
— Milla é uma garota muito forte. E acredito que ela seja assim por sua causa.
— Milla já era forte. Ela só precisava de disciplina. E principalmente de ficar longe de más influências. Isso inclui todos vocês.
— O que? Está dizendo que eu sou má influência pra ela?
— Suas idiotices acabam fazendo a cabeça dela. Por isso eu não gosto que ela se misture. Mas ela tem sua própria vida, então mantenha essa sua promessa e estamos conversados.
Neera estava mesmo definindo bem seu ponto de vista.
Ela não gostava que Milla estivesse junto a Lilac e seus amigos, mas sabia que não poderia forçá-la a nada.
A canina tinha total liberdade de fazer o que quisesse de sua vida, mesmo com a panda sendo sua mestra.
Viktor havia entendido isso mas, ao se levantar, falou:
— Uma coisa a falar sobre a Milla antes que eu saia, senhorita Neera Li.
— Ótimo. Então diga!
— Milla tem total ciência do que faz. Ela é independente, concordo plenamente. Todo mundo gosta dela e a respeitam. Ela tem influenciado a todos nós, muito mais do que o contrário. E ela foi treinada por você — ele pausou sua fala por alguns segundos, dizendo em seguida. — Seja lá como ou porquê, algo de você está nela agora. E são só coisas boas.
As palavras do jovem fizeram com que Neera franzisse uma das sobrancelhas, de forma muito sutil. Foi um sinal de que aquilo a impressionou, embora não deixasse nada aparente.
A panda ficou em silêncio, provavelmente impactada pelas palavras sinceras do jovem.
Talvez por não ter palavras para demonstrar agradecimento ou, como sabemos, não quisesse demonstrar suas reais emoções, a panda voltou sua atenção à sua sala, como se estivesse desinteressada.
Tendo em vista essa última alternativa, Neera Li se sentou em sua poltrona frente a mesa do seu escritório.
Como de praxe, demonstrou novamente sua indiferença, ao dizer:
— Sabe onde fica a saída. Cuide-se e não quebre sua promessa.
— Tudo bem. E obrigado.
Viktor saiu da sala, com o sentimento de que tudo estava bem, não perfeito, mas satisfatório. O saldo, mesmo diante de uma tenente como a Neera, foi positivo pelo visto.
Minutos depois…
Saguão principal | Final da manhã
O local, ideal para reuniões breves e apresentações, continha o time de Lilac. Viktor já estava lá, fazendo parte da conversa.
— E é isso… — disse Lilac, definindo os planos. — Hoje mesmo iremos para Shang Mu.
— Essa parada! — Carol falava, pulando de alegria. — Caraca, já vi vantagem em fazer missões! Haha! Cara, isso vai ser o máximo!
Viktor não tinha ideia do porquê da felicidade imensa da felina. Por isso, perguntou:
— Você está muito animada, mais que quando fomos até Shuigang. O que tem de diferente em Shang Mu? Engraçado que o nome é bem parecido com o de Shang Tu.
— Ah, piá! Agora que o troço vai ficar louco… — Carol o abraçou pelo pescoço, falando bem perto de seu ouvido. — Cara, nós vamos para Shang Mu! Tu não tem ideia de como aquele lugar é maneiro pacas! Sem noção!
— Hã? Não seria a própria guarda do reino que faria isso?
A pergunta de Viktor foi respondida por Gong. O grande panda se aproximava do grupo quando ouviu, de longe, o questionamento do jovem.
— Não, estrangeiro… — indagou o panda. — Nós da guarda do reino não queremos chamar atenção. Vocês conseguiriam fazer isso melhor do que qualquer agente de Shang Tu.
— Ah mas pode crer que nós podemos, grandão! — Carol disse, sorrindo e esfregando seu nariz.
— Além disso, eu e a tenente temos compromissos e outras prioridades.
Isso chamou a atenção de Lilac.
— E quais seriam? Eu posso saber?
— Sinto muito, mas é confidencial. Vocês nos ajudam muito, colaboram bastante, mas existem coisas que só os agentes do Reino de Shang Tu podem saber. Nada pessoal, Lilac.
— Sem problemas. Eu devo pedir desculpas. Só fiquei curiosa porque poderia ajudar mais.
— Relaxe. Já está. Todos vocês, aliás — Gong, ao falar isso, sorriu. — Obrigado pelo suporte!
— Falou, Gong! — Carol estava radiante, também esboçando um sorriso. — Tu mudou muito, sabia? Tá mais falador e gente boa. Gostei, nyah!
— Agradeço, guria. A única coisa que estou fazendo de diferente é treinar mais. Royal Magister disse que deveria fortalecer meu espírito porque meu corpo já é forte o suficiente.
— Resumindo: ele te colocou pra estudar pra você deixar de ser “songo mongo”…?
Era óbvio que Lilac não iria deixar suas amiga “sem filtro” ficar sem levar uma bronca.
— Carol, tenha mais respeito ao Gong! — disse Lilac, irritada. — Será que eu sempre tenho que ficar dizendo pra você parar de agir assim?
— Tá, dessa vez abusei mesmo… — ela reconheceu, se virando para o panda em seguida. — Desculpa aí, Gong. Mas tu tá bem melhor agora. Sem zuera!
— Ei, está tudo bem! — ele falou, olhando para todos. — Ah, falando nisso, tenho notícias a dizer a você, Viktor.
Todos, sem exceção, ficaram surpresos com o informe de Gong. Uma notícia direcionada a Viktor não era comum.
— Hã? — perguntou Viktor, confuso. — O que quer dizer?
— Bem, me acompanhe… — falou Gong, chamando o rapaz com uma das mãos enquanto caminhava em direção ao interior do palácio. — A doutora Tuvluv tem algo a lhe dizer.
Gong trouxe novas notícias.
O general conduziu o time para a área mais tecnológica do Palácio para se encontrar com a doutora chefe.
Pelo visto mais uma reunião estava por vir.
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