Índice de Capítulo

    A conversa com o monarca de Shang Tu, Royal Magister, prosseguiu normalmente após colocarem sobre a mesa titia os dados colhidos em Shuigang.

    Peritos do reino, uma equipe de cientistas e pesquisadores, estudavam cada uma dos ideogramas relacionados a suposta interferência de Spade em querer montar a tal jóia.

    Juntamente, ainda sentadas na poltrona na equipada sala de reuniões, Lilac, Carol e Milla acompanhavam o desenrolar dos fatos.

    Um, em específico, foi levantado pela dragão e sua amiga tagarela.

    — Uma nova missão… — disse Lilac, com seu rosto demonstrando preocupação. — Queria mesmo saber porque não escalarem eles mesmos uma equipe para fazer isso. 

    — Aí, tu tá falando sério? — Carol foi bem espontânea no que disse. — A diva linda, a heroína, a formosa púrpura mais veloz que há, tá querendo desistir, é isso mesmo? 

    — Carol, você sabe que eu não sou de fazer isso. Não tirei conclusões precipitadas.

    — Tu acabou de falar que não tá afim, que eles deveriam convocar outro time. 

    — Era modo de falar… — ela tentou desconversar, se colocando em pensamentos em seguida. — “Quero muito ajudar, mas Viktor terá de ir conosco novamente. Não posso ficar tranquila com essa ideia. Mas o quê fazer? Royal Magister confiou ao meu time a custódia dele…”

    Parada e pensativa. Foi essa a visão que Carol teve de sua amiga dragão.

    E, claro, perguntou: 

    — Lilac, qual foi? Porque tá caladona?

    — Hã? O que? — a dragão voltou à realidade. — Ah, bem… Eu estava só pensando.

    — Pensando na minha frente? Depois eu que sou a louca…

    — Ok, desculpa. Mas… — era visível seu desconforto. — Você já teve a sensação de que alguma coisa está para acontecer?

    — Já sim. Mas, peraí: essa coisa é boa ou ruim? 

    — Não sei dizer… — novamente Lilac desconversou, mas se colocando a pensar outra vez. — “Eu não consigo tirar as palavras de Ying da minha mente. É como se ele estivesse aqui, ao mesmo lado. Não posso envolver Viktor nos nossos problemas…”

    Novamente Carol reparou que sua amiga estava muito pensativa.

    E ela se uniu a esse estado.

    — “Lilac tá muito concentrada. Ela é assim, mas tá muito mais agora. O que tá rolando nessa cabecinha? Tem coisa aí, angu e caroço tudo junto. Eu vou descobrir o que tá rolando, porque ela não vai me dizer na lata.”

    Carol era muito próxima a Lilac para não ter percebido essa mudança abrupta de comportamento.

    Ela agora tinha noção de que algo estava acontecendo.

    Enquanto isso…

    Chefatura de polícia de Shang Tu 

    Escritório de Neera | Manhã 

    — Seu idiota irresponsável!

    Esse era o nível da conversa entre Neera e Viktor.

    O escritório da panda estava sempre arrumado e iluminado, deixando claro seu grau de organização e limpeza.

    Neera estava mostrando muito mais irritação que de costume, gritando horrores com Viktor. 

    — Eu havia pensado que, no mínimo, você teria a decência de respeitar uma promessa… — a panda falava, olhando bem nos olhos do jovem. — Mas não, você tinha que se colocar em perigo e ainda levar a Milla junto!

    — Mas senhorita Neera, eu… — Viktor até tentou falar, mas não foi páreo para o mau humor de Neera.

    — CALE-SE! — ela gritou, não tão alto, mas o suficiente para chamar atenção. — Eu não quero ouvir sua voz! Eu deveria prendê-lo por ter colocado a Milla em perigo! Você só faz idiotices!

    — Eu poderia pelo menos tentar me explicar? — retrucou o humano, tentando dialogar.

    — Porque eu deveria lhe dar essa oportunidade? — Neera foi incisiva na pergunta.

    — Você precisa saber o que houve antes de me condenar, como normalmente pessoas civilizadas fazem.

    Foi um bom argumento, que Neera não pôde negar. 

    — Muito bem, você tem um ponto. Aproveite cada palavra que tiver para me dizer.

    — Nós em Shuigang não tivemos escolha. Os ninjas nos atacaram e… — novamente ele foi interrompido.

    — Porque não chamaram a polícia de Shuigang? — sem perder tempo, a panda veio com uma solução lógica.

    Mas sabíamos que a situação não era tão simples, como Viktor deixou claro.

    — E você acha mesmo que aqueles ninjas iriam esperar eu chamar a polícia? E, mesmo assim, eu estava lutando para me proteger e não para me meter em encrencas. Uma coisa é eu entrar, mas eu que fui colocado dentro da encrenca. Entendeu a diferença?

    — Isso não significa nada. Nada! Bastaria fugir! — ela cruzou os braços, como se estivesse a par da situação.

    — Fugir? Você está louca? Eu nunca poderia fazer isso!

    — E porque não? E sua promessa, não significa nada?

    Essa pergunta fez com que Viktor ficasse calado por alguns segundos. Entretanto, ele se lembrou do que Ying lhe disse. E isso foi o que a motivou a responder adequadamente.

    — Eu cumpri com minha promessa. Porém não posso ferir meus juramentos.

    — E quais seriam? — Neera ficou curiosa, já que desconhece tal ato.

    — Eu devo me proteger e a quem está à minha volta. Foi isso que jurei quando ganhei minha faixa preta em karatê — ele falou, gesticulando como se estivesse mostrando sua faixa na cintura. — Sou um mestre, senhorita Neera Li. Eu não posso deixar que minha promessa com você se sobreponha ao meu título.

    Pela primeira vez em muito tempo a panda tratou de se controlar e mudar o tom da conversa com o jovem. 

    Por mais que soubesse seu papel como autoridade, levada muito a sério, não poderia sobrepor os votos do jovem perante sua doutrina.

    Houve um pouco de respeito, mesmo que tímido.

    Ela, olhando-o nos olhos, disse:

    — Você fez uma promessa. É um contrato comigo que nunca poderá ser quebrado. Siga-o e não terá problemas comigo. Deixei bem claro isso?

    — Sim, senhorita Neera — ele confirmou, a reverenciado, ao inclinar sua cabeça em sua direção.

    Neera até aceitou a etiqueta do jovem, ainda que não compartilhasse do gesto respeitoso.

    Mas não havia acabado.

    — E tem mais uma coisa… — a panda levantou seu dedo, o indicador, pedindo atenção.

    — O que foi dessa vez?

    — Eu não quero que coloquem a Milla em perigo novamente, entendeu? Ela é muito nova para se meter em missões perigosas.

    — Sim, eu entendi. Mas quero dizer uma coisa antes de ir… — ele olhou para Neera, com a mesma atenção.

    — O que seria?

    — Milla é uma garota muito forte. E acredito que ela seja assim por sua causa.

    — Milla já era forte. Ela só precisava de disciplina. E principalmente de ficar longe de más influências. Isso inclui todos vocês.

    — O que? Está dizendo que eu sou má influência pra ela?

    — Suas idiotices acabam fazendo a cabeça dela. Por isso eu não gosto que ela se misture. Mas ela tem sua própria vida, então mantenha essa sua promessa e estamos conversados.

    Neera estava mesmo definindo bem seu ponto de vista. 

    Ela não gostava que Milla estivesse junto a Lilac e seus amigos, mas sabia que não poderia forçá-la a nada. 

    A canina tinha total liberdade de fazer o que quisesse de sua vida, mesmo com a panda sendo sua mestra. 

    Viktor havia entendido isso mas, ao se levantar, falou:

    — Uma coisa a falar sobre a Milla antes que eu saia, senhorita Neera Li.

    — Ótimo. Então diga!

    — Milla tem total ciência do que faz. Ela é independente, concordo plenamente. Todo mundo gosta dela e a respeitam. Ela tem influenciado a todos nós, muito mais do que o contrário. E ela foi treinada por você — ele pausou sua fala por alguns segundos, dizendo em seguida. — Seja lá como ou porquê, algo de você está nela agora. E são só coisas boas.

    As palavras do jovem fizeram com que Neera franzisse uma das sobrancelhas, de forma muito sutil. Foi um sinal de que aquilo a impressionou, embora não deixasse nada aparente.

    A panda ficou em silêncio, provavelmente impactada pelas palavras sinceras do jovem.

    Talvez por não ter palavras para demonstrar agradecimento ou, como sabemos, não quisesse demonstrar suas reais emoções, a panda voltou sua atenção à sua sala, como se estivesse desinteressada.

    Tendo em vista essa última alternativa, Neera Li se sentou em sua poltrona frente a mesa do seu escritório.

    Como de praxe, demonstrou novamente sua indiferença, ao dizer:

    — Sabe onde fica a saída. Cuide-se e não quebre sua promessa.

    — Tudo bem. E obrigado.

    Viktor saiu da sala, com o sentimento de que tudo estava bem, não perfeito, mas satisfatório. O saldo, mesmo diante de uma tenente como a Neera, foi positivo pelo visto.

    Minutos depois…

    Saguão principal | Final da manhã

    O local, ideal para reuniões breves e apresentações, continha o time de Lilac. Viktor já estava lá, fazendo parte da conversa.

    — E é isso… — disse Lilac, definindo os planos. — Hoje mesmo iremos para Shang Mu.

    — Essa parada! — Carol falava, pulando de alegria. — Caraca, já vi vantagem em fazer missões! Haha! Cara, isso vai ser o máximo!

    Viktor não tinha ideia do porquê da felicidade imensa da felina. Por isso, perguntou: 

    — Você está muito animada, mais que quando fomos até Shuigang. O que tem de diferente em Shang Mu? Engraçado que o nome é bem parecido com o de Shang Tu.

    — Ah, piá! Agora que o troço vai ficar louco… — Carol o abraçou pelo pescoço, falando bem perto de seu ouvido. — Cara, nós vamos para Shang Mu! Tu não tem ideia de como aquele lugar é maneiro pacas! Sem noção!

    — Hã? Não seria a própria guarda do reino que faria isso?

    A pergunta de Viktor foi respondida por Gong. O grande panda se aproximava do grupo quando ouviu, de longe, o questionamento do jovem.

    — Não, estrangeiro… — indagou o panda. — Nós da guarda do reino não queremos chamar atenção. Vocês conseguiriam fazer isso melhor do que qualquer agente de Shang Tu. 

    — Ah mas pode crer que nós podemos, grandão! — Carol disse, sorrindo e esfregando seu nariz.

    — Além disso, eu e a tenente temos compromissos e outras prioridades.

    Isso chamou a atenção de Lilac.

    — E quais seriam? Eu posso saber? 

    — Sinto muito, mas é confidencial. Vocês nos ajudam muito, colaboram bastante, mas existem coisas que só os agentes do Reino de Shang Tu podem saber. Nada pessoal, Lilac. 

    — Sem problemas. Eu devo pedir desculpas. Só fiquei curiosa porque poderia ajudar mais.

    — Relaxe. Já está. Todos vocês, aliás — Gong, ao falar isso, sorriu. — Obrigado pelo suporte!

    — Falou, Gong! — Carol estava radiante, também esboçando um sorriso. — Tu mudou muito, sabia? Tá mais falador e gente boa. Gostei, nyah!

    — Agradeço, guria. A única coisa que estou fazendo de diferente é treinar mais. Royal Magister disse que deveria fortalecer meu espírito porque meu corpo já é forte o suficiente.

    — Resumindo: ele te colocou pra estudar pra você deixar de ser “songo mongo”…?

    Era óbvio que Lilac não iria deixar suas amiga “sem filtro” ficar sem levar uma bronca.

    — Carol, tenha mais respeito ao Gong! — disse Lilac, irritada. — Será que eu sempre tenho que ficar dizendo pra você parar de agir assim?

    — Tá, dessa vez abusei mesmo… — ela reconheceu, se virando para o panda em seguida. — Desculpa aí, Gong. Mas tu tá bem melhor agora. Sem zuera!

    — Ei, está tudo bem! — ele falou, olhando para todos. — Ah, falando nisso, tenho notícias a dizer a você, Viktor.

    Todos, sem exceção, ficaram surpresos com o informe de Gong. Uma notícia direcionada a Viktor não era comum.

    — Hã? — perguntou Viktor, confuso. — O que quer dizer? 

    — Bem, me acompanhe… — falou Gong, chamando o rapaz com uma das mãos enquanto caminhava em direção ao interior do palácio. — A doutora Tuvluv tem algo a lhe dizer. 

    Gong trouxe novas notícias. 

    O general conduziu o time para a área mais tecnológica do Palácio para se encontrar com a doutora chefe.

    Pelo visto mais uma reunião estava por vir.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota