Índice de Capítulo

    A caminhada até o setor médico do Palácio de Shang Tu foi mesmo animado. Lilac estava reluzente, contente com o fato de estarem próximos de saberem de meus atualizações do caso de Viktor.

    As coisas parecem ter caminhado a favor do jovem humano? A dragão ficou muito animada, visível em seu rosto. Esse detalhe foi percebido por Carol. 

    — “Uh? A diva linda ficou mó feliz com isso, né? Estranho, não lembro dela ficar assim antes…”

    Minutos depois…

    Setor Médico Científico | Início da tarde

    O SMC, local que se parecia muito com um grande hospital, ficava alojado no subsolo do Palácio de Shang Tu.

    Corredores largos e bem limpos, mostravam que o lugar de recuperação era bem cuidado à exaustão. Além disso, do teto ao piso podíamos ver a tintura branca, texturizada no solo para maior aderência.

    As instalações tinham do mais tecnológico em Avalice, com monitores, leitos e todo o maquinário possível para salvar vidas e preservá-las.

    Dentro de um consultório, Viktor e as garotas estavam sentados todos, postos a uma mesa redonda.

    Lá, ao centro, havia uma panda. 

    Era Tuvluv, a doutora.

    Ela tinha pelugem branca e preta; usava um par de óculos junto com um casaco branco com detalhes em vermelho sobre um vestido preto, calças brancas e sapatos escuros. 

    Ela também carrega uma prancheta vermelha na mão e um estetoscópio no bolso do casaco. E, como característica, sempre estava: 

    — Gripada! — disse a doutora, após espirrar e explicar sua condição. — Pétalas de vida podem curar ferimentos, mas nunca uma gripe.

    Ela falava de uma forma fofa, muito agradável de lidar. Embora doente, ela sempre tinha alto astral.

    A conversa prosseguiu, ademais.

    — Hã? Pétalas de vida?! — Viktor não tinha ideia do que se tratava. — Que isso? 

    — Como assim, você não sabe?! — perguntou Tuvluv.

    Carol correu até Viktor, novamente o abraçando pelo pescoço. 

    — Escuta, piá: não tenta adiantar certas coisas, tá? Tu não saca da curadoria da Illusia, tô sabendo.

    — Mas do que você está falando?! Eu só est… — ele tentou dizer, impedido pela gata, que tapou sua boca com uma das mãos. 

    — Oxe, fica sussa, piá! Calma que essa novel vai ser longa! Encher quem tá lendo de informações do nada só ferra com tudo!

    Lilac, como esperado, não ficou calada. Muito pelo contrário. 

    — Pare de ser tão inconveniente, Carol! — a dragão a puxou com força pelo braço. — Porque você sempre age como uma maluca? Para de falar essas coisas e deixe o Viktor em paz! 

    — Ô, peraí, pô! Porquê tanto estresse, ô…?

    — Para com isso!

    Insistentemente, Lilac precisava repreender sua amiga. Sua falta de filtros, muitas vezes, lhe trouxe problemas. Como a dragão tinha dilemas a lidar, seu comportamento ocorreu também por causa disso. 

    Voltando a conversa, a panda doutora tomou a palavra.

    — Estrangeiro, eu recebi o relatório do doutor Qin (visto no capítulo 7) sobre suas fisiologia e afins. Como eu estava longe da cidade em um seminário, ele tomou meu lugar. 

    — Mas o que houve? Viu algo diferente? — perguntou Viktor, um pouco ansioso.

    — Acalme-se — ela o tranquilizou. — Só estou comentando porque observei o relatório. 

    Ela caminhou para próximo de um quadro, pegando uma caneta piloto.

    Rapidamente, desenhou um fluxograma 1, para ilustrar seu ponto de vista da situação. 

    — Ouça, estrangeiro: minha equipe de pesquisadores e cientistas estão acompanhando seu estado aqui em Avalice. A boa notícia é que não desconfiados que você seja algum tipo de invasor alienígena, hehe — ela esboçou um sorriso bem fofo. 

    A exemplo da última vez, Carol (a tagarela) abriu a boca.

    — Resumindo: “amor, a gente não te vê como ameaça, mas fica na atividade que o vento leste pode soprar”. Nada novo, piá. 

    — Carol, chega disso! — gritou Lilac, furiosa com sua amiga da boca grande. — Se você não parar de ser chata, eu vou fazer isso pra você! 

    — Ih, caraca… Parece até a pandurona! — a gata se afastou, um pouco chateada. — A gente sofre por ser a gente mesmo por aqui.

    Após a conversa (pouco produtiva da tagarela), a doutora Tuvluv voltou ao assunto. 

    — Eventos naturais passaram a ocorrer por Avalice, principalmente nos Três Reinos — ela continuou, mostrando imagens em um monitor ao lado do quadro. — Nos últimos dias houve uma tempestade de raios com uma intensidade de descarga muito alta de energia, maior que o normal. 

    — Nossa. Mas isso é muito grave? — perguntou Viktor, preocupado. — E onde isso tem a ver comigo? 

    — Temos teorias quanto a sua aparição.

    E, assim, ela explicou. 

    — Hipótese 1: você ter vindo de outro planeta ou galáxia. Visto sua singularidade, e temos certeza de que existem outros povos galáxias afora, não podemos descartar essa possibilidade.

    — Como é? — ele ficou mais surpreso. — É nessa escala que estão investigando a meu respeito? 

    — É notável que você não seja daqui, muito menos dos demais planetas. Recebemos visitantes, mesmo de outros mundos, mas você é um pêndulo muito difuso dos demais. Deveríamos estudá-lo mais a fundo, para tirar todas as conclusões possíveis de sua natureza peculiar. Todavia, respeitamos sua existência no mundo, assim como seu pertencimento em sua realidade.

    — Então nunca viram alguém como eu, é isso?

    — Uh… Vai além disso — respondeu Tuvluv.

    — Além? Como assim? 

    — Suas particularidades se assemelham a nossa, o que nos leva à segunda hipótese.

    Ela prosseguiu com a teoria.

    — Você ser de uma outra dimensão ou geração também é muito plausível.

    Lilac tomou a palavra, a seguir. 

    — Outra dimensão?! Geração? Aonde isso nos leva? Quer dizer que estudam a ideia de que Viktor pode ser um tipo de alter ego?

    — Perspicaz, dragão — disse Tuvluv, continuando seu relato. — A tempestade de raios trouxe estudos da energia quântica2 a um outro patamar, o que nos leva a supor que os eventos naturais pós Espiral do Reino tenham surgido.

    — O que quer dizer? — perguntou Lilac.

    — Estamos considerando esses eventos como uma correlação à aparição de Viktor. Talvez uma relação direta ou, também, indireta. Seja qual for, são teorias que não devemos descartar. 

    Como cientista, além de médica, ela continuou sua teoria.

    — Alter egos adotam o conceito de “alma gêmea”, igualando-se à contraparte existente em dois núcleos, ou até mais, de significância para o mundo. Em outras palavras, o estrangeiro pertence ao “futuro que já passou, ou não, ou sim.”, isto é, o seu tempo não é linear.

    A teoria era absurda demais, ao mesmo tempo que se mostrou uma possibilidade bastante concreta. Claro, dentro de um raciocínio totalmente especulativo. 

    Viktor estava preocupado.

    Não pelas hipóteses levantadas, mas, principalmente, pela falta concreta do porquê estar em Avalice.

    — Tudo isso é muito confuso para mim — o jovem estava com um olhar distante. — É tão difícil assim saber alguma forma de eu voltar? Não tenho ideia de como vim parar em Avalice. E agora, depois de ouvir essas teorias, fico preocupado.

    Milla, que estava quieta só acompanhando a conversa, não perdeu tempo: por ser a mais sensível do grupo, correu até o jovem e o abraçou.

    — Você não tem do que se preocupar, Viktorius.

    — Hã? Milla… — ele aceitou a gentileza da pequena. — O-obrigado.

    — Você está com a gente, então não tem que ficar triste ou se sentir mal. Até que você volte, vamos estar juntos de você. Não se preocupe, tudo bem? 

    A canina trouxe de volta a confiança de Viktor, mas aumentou a pressão contra Lilac.

    A dragão, ouvindo as palavras gentis de Milla, recebeu uma enxurrada de flashes em sua mente, lhe fazendo se lembrar da promessa.

    Seu senso de dever era poderoso.

    — “Tudo isso que a doutora está dizendo só põe mais dificuldade em levar o Viktor para casa! Droga, o que eu vou fazer? Por algum momento me enchi de esperanças, pensando que teríamos boas notícias. Isso não vai terminar tão cedo como imaginava. E, para piorar: o Viktor ainda está sob custódia do Reino de Shang Tu!”

    A doutora Tuvluv, para terminar, disse: 

    — E existe a terceira hipótese: o acaso.

    — Mas hein?! — perguntou Carol. — Como assim, fofura?

    — Viktor pode estar sofrendo de influências fora da cadeia racional. A soma de fatores, sejam positivos ou negativos, desencadearam, provavelmente, sua estada repentina aqui em Avalice. 

    — Tá, ok. Show. Tu é a doutora aqui, já saquei. Mas o que esse catatau todo quer dizer?

    Lilac entendeu o que aquilo quer dizer, para seu desagrado. Tanto que seu rosto mostrava seriedade enquanto falava:

    — Viktor está sendo vítima da teoria do caos3. Não é isso, doutora Tuvluv?

    — Justamente, dragão — a doutora respondeu, continuando em seguida. — As implicações podem ser várias, inclusive o que corresponde ao mundo onde se originou a existência de Viktor.

    A jovem dragão se impressionou um pouco com esse detalhe. Ela se manteve com a mesma expressão de seu rosto, mais sisuda, o suficiente para Carol perceber. 

    Todavia, Lilac manteve a conversa, lúcida.

    — Você quer dizer que tudo isso pode ter começado no mundo do Viktor?

    — Também, ou não. Estamos lidando com um campo da ciência praticamente intangível, que é a teoria do caos — Tuvluv conduziu o assunto, falando mais. — São aleatoriedades que não podem ser previstas ou controladas. Tudo é uma “variável invariável”, se me entende. Pode não acontecer, pode acontecer, mas sabemos que vai ser uma das duas. Ou nenhuma, hehe.

    A explicação, descomplicada e bem acessível, foi dita pela espirituosa panda, concluindo seu raciocínio.

    — Especular sem grandes evidências vai contra o que eu acredito como ciência. Se eu fosse concluir essa conversa e dar uma palavra final ao estrangeiro, eu diria: viva por cá por enquanto e aguarde novas notícias. O presente momento é uma dádiva, então aproveite.

    As esperanças foram frustradas, pelo menos neste momento, para Lilac. 

    A dragão contou de verdade em ouvir boas notícias para, enfim, Viktor retornar a seu mundo. O informe da doutora Tuvluv foi um balde de água fria.

    Diferente dela, o jovem humano, que anteriormente mostrava desolação, se mostrou confiante e soube lidar com sua atual situação. Claro, Milla foi primordial para essa mudança abrupta, contagiando também Carol, que o abraçava. 

    Lilac, atrás do grupo sorridente que ia à frente, pensou: 

    — “O fato é que não há nada ainda. Com Viktor sob custódia, ele precisa ficar perto de nós o tempo todo. Isso só dificulta a minha promessa a Ying… Mas tempo que fazer tudo isso com cuidado, para que ninguém descubra. E muito menos o próprio Viktor…”

    Esse era o tom de urgência que a jovem dragão tinha em mãos.

    Entretanto, mesmo sob essa ótica, Lilac não desistiu e muito menos deixou seu astral cair: ela correu até seu time, esboçando um longo sorriso, como sempre. 

    Uma atitude empática, sem forçar. Totalmente autêntica e real.

    O grupo, já reunido no saguão do Palácio de Shang Tu, estava quase saindo do local. Por terem uma nova missão pela frente, era sabido que os preparativos deveriam ser o foco em questão.

    Todavia, alguém chamou por eles outra vez. 

    — Vocês aí, esperem! — gritou Gong, indo na direção do time de Lilac.

    Tão logo, o grande panda armadurado disse: 

    — Quase esqueci de pedir algo a vocês. 

    — Se for money, tá pedindo pras pessoas erradas, grandão! — Carol e sua sagacidade nas palavras.

    — Carol! — retrucou Lilac. — Você não tem noção mesmo! 

    Gong ignorou o assunto, indo direto ao ponto.

    — Bem, estou aqui para outra coisa. Quero que me façam um favor.

    — Hã? Favor? – perguntou Lilac.

    — Tenho alguns livros para que entreguem na biblioteca de Shang Mu. Mayor Zao4, na última visita que fiz ao seu palácio, me recomendou alguns. Poderiam entregar para mim?

    — Ora, claro. Podemos sim — a dragão disse, sorrindo. — Pode contar conosco.

    — Muito obrigado, Sash Lilac.

    Era só um detalhe, mas que tinha um valor considerável. 

    O time, após aceitarem o favor, se apressou para voltar para casa.

    Preparativos eram necessários. 

    E, talvez, mais reuniões…?

    1. Nota: é um diagrama que ilustra as etapas de um processo, usando símbolos, formas e setas para mostrar o fluxo de informações ou ações. São ferramentas muito utilizadas para a tomada de decisões, planejamento, documentação e formação, e podem ser úteis em relatórios e apresentações. Os fluxogramas são populares em diversas áreas, como engenharia, educação, programação de softwares e gerenciamento de projetos.[]
    2. Nota: a energia quântica é uma unidade de medida que a mecânica quântica atribui a quantidades físicas, como a energia de um elétron em repouso. A palavra “quântica” vem do latim quantum, que significa “quantidade”. A mecânica quântica é uma área da física que estuda o comportamento de sistemas físicos de dimensões reduzidas, como átomos, moléculas e partículas subatômicas. A física quântica é baseada em probabilidades, ao contrário da física clássica, que descreve o mundo com leis determinísticas.[]
    3. Nota: a Teoria do Caos diz que “mudanças insignificantes no início de um determinado evento podem gerar mudanças profundas no futuro, o que tornaria o sistema caótico e impossível de ser previsto”.[]
    4. REFERÊNCIA SUBIU ↑[]

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