Capítulo 55 - Reuniões (Parte 4)
Os eventos no interior da casa da árvore precisavam de uma definição.
Havia uma missão a ser cumprida.
Horas depois…
Quintal traseiro | Final da tarde
Sob um pôr do sol lindo e deslumbrante, Viktor se sentou no mesmo banco da noite em que conversou com Milla pela primeira vez a sós.

Diante desse cenário, ele observava as nuvens que se formavam e sentiu a brisa fresca que pairava nas planícies da Floresta do Dragão, assim como o ruído característico da fauna local, acompanhado pelo belo riacho que cortava o Vale do Dragão.
Um clima convidativo demais, para relaxar.
Enquanto ficava imóvel para apreciar aquele momento do dia, eis que viu Lilac surgir da porta de acesso, dizendo:
— Esse lugar ao seu lado está reservado?
Victor, então, dando espaço, foi para mais ao lado, deixando que a dragão se sentasse.
Ela, sem perder tempo com indagações, disse:
— Me desculpe por mais cedo.
— Uh? — ele ficou um pouco confuso. — Porque está se desculpando?
— Não faça de conta que não sabe, Viktor — ela disse isso com muita culpa na voz e em seu semblante fechado. — Eu não fiz nada aquilo por mal, mas te causei desconforto.
Viktor entendeu que não precisava evitar o conflito. Sendo assim, foi também direto ao ponto.
— Você falando assim é como se fosse culpada de algo.
— E eu não sou? Te tratei mal mais cedo, por isso estou aqui.
— Você, me tratar mal? — o jovem falou, com um sorriso no rosto. — Pra você fazer isso tem que fazer muito esforço, senhorita Lilac.
— Hã? Como é? — ela ficou surpresa ao ouvir isso. — Eu estava fazendo perguntas que invadiram sua intimidade e… — Lilac foi interrompida.
Isso se deu porque Viktor sinalizou negativamente com seu dedo indicador, como se estivesse, de forma gentil, pedindo para parar.
— Não, você não fez nada errado. Aliás, eu que te devo desculpas.
— Você?! — ela ficou ainda mais confusa. — Porque está dizendo isso?
— Eu não te contei muito sobre mim desde que você me abrigou aqui na sua casa. “Um completo estranho”, como a Carol disse naquele dia.
Era uma verdade. Essa foi a primeira vez que os dois conversavam a sós.
Viktor explicou melhor certas coisas.
— Você é a líder do seu time e eu devo a você toda e qualquer satisfação. Eu não fiz isso e te causei mal estar na frente da Milla e da Carol. Eu sou o culpado por tudo isso.
— Não! — disse Lilac, um pouco envergonhada. — Não pode ignorar minha falta de respeito contra você mais cedo. O que eu fiz não condiz com o que eu tenho como justo. Fui uma boba com você e te devo desculpas.
— Senhorita Lilac, eu que devo desculpas. Deveria ter mostrado mais de mim a você antes. Não iria te causar aquela sensação ruim. Eu me senti mal em não ter lhe dito isso. Me desculpe.
Um silêncio pairou o ambiente externo, mas com um desfecho inusitado: os dois começaram a rir ao mesmo tempo, gargalhando alto.
— Haha! E agora nós estamos discutindo quem deve desculpar quem… — o sorriso cativante de Lilac era uma jóia rara. — Eu te desculpo, então. E você me desculpa?
— Hehe… ok! — o jovem também sorriu, encantado com a dragão. — Tudo bem, eu te desculpo. Sob uma condição.
— Hã? Que condição?
O jovem se levantou, olhando para o horizonte alaranjado que o sol dava cor. Ele, então, se virou para Lilac, dizendo:
— Sempre me mostre esse sorriso toda vez que estivermos em apuros. Sabe, gosto de ver a felicidade das pessoas mas, vindo de você, tem um significado mágico.
— Sério? — ela ficou um pouco corada, mas sorridente do mesmo jeito. — E porquê, posso saber?
— Você é uma dragão. E, de onde eu venho, você significa sabedoria e força. É um imenso prazer conhecê-la, Lilac.
De forma espontânea, Lilac sorriu ainda mais, sinalizando positivamente com sua cabeça, dizendo que iria cumprir a promessa.
Conversados e ajustados, os dois dialogaram por mais alguns minutos.
— No meu mundo também tem crises como as que vocês tiveram aqui. Muitas por sinal.
— Sério? Também tem tiranos querendo destruir o mundo?
— Desde tiranos querendo isso como outros que se dizem salvadores e que também viram tiranos.
— Nossa! E como vocês conseguem viver assim?
— Somos a maioria. Mesmo na nossa sociedade com tantos pensamentos, todos têm um ponto em comum: justiça e busca pela liberdade. Nunca será perfeito, mas sempre damos um jeito. Sempre há.
— É, você está certo… — Lilac concordou, observando o pôr do sol. — Sabe, acho que tudo que ocorre ao acaso são coisas magníficas.
— E porque acha isso, Lilac?
A dragão se levantou, indo até a sacada da casa da árvore.
Olhando com mais vontade para o sol, que já se escondia por detrás das montanhas do vale, completou seu raciocínio.
— O desconhecido é algo que sempre buscamos. Tipo você, que está conversando comigo nesse exato momento. Não sabemos muito sobre você, assim como você não conhece de Avalice e de nós.
Viktor entendeu bem a mensagem que ficou no ar. Ele mesmo indicou isso.
— A teoria do caos não saiu da sua mente, não é?
— Não. Nem as outras. A doutora Tuvluv abriu um leque de possibilidades para poder te ajudar. Eu acabei exagerando com você mais cedo por causa disso.
— Hum… — ele também se levantou, mas indo para o lado esquerdo da sacada. — Você pode me perguntar o que quiser, Lilac.
— Você não vê problemas nisso? — ela perguntou, estando um pouco receosa com a ideia.
Não era para menos o cuidado de Lilac. Ocorreu uma falha a algumas horas atrás, então o mínimo que decidiu foi não forçá-lo.
Contudo, Viktor deu mostras de que não era tão inocente assim.
— Se a teoria do caos fosse mesmo algo real, acho que qualquer coisa que eu dissesse sobre mim poderia ter influência no desenrolar do seu mundo. Você concorda?
Frente ao raciocínio lógico do rapaz, Lilac arregalou seus olhos. Aquilo que ouviu era um ponto bastante considerável para que não fosse desenvolvido em sua mente.
A jovem dragão, inteligentemente, pensou:
— “Isso que ele está dizendo é uma verdade absoluta! Se essa tal teoria for mesmo verdade, tudo o que eu conseguir dele aqui pode trazer consequências. Mas, assim como as demais, é só uma teoria…?”
Não havia muito mais tempo para pensar. O presente era o período ao qual todos estavam. Esse era o pensamento central que Lilac se apoiava. Mesmo possuindo as ideias de Tuvluv como evidências, o certo era que:
— Não devemos apressar o futuro.
— O que? — disse Viktor, surpreso com a indagação dela.
— Acho que não preciso saber tudo sobre você e sim o que você quer fazer.
— O que eu quero fazer…? — ele se manteve neutro, buscando mais entendimento. Seu rosto expressava curiosidade.
— Tenho certeza que, em seu mundo, você protagoniza tudo à sua volta, não é?
Ele ficou um pouco pensativo, colocando uma das mãos no queixo, ligeiramente precavido em uma reação inicial mais exaltada.
Pois bem, o jovem não demorou a responder.
— Eu sempre sou de agir ou de tomar a frente antes dos outros. Mas porque você perguntou se eu protagonizava coisas no meu mundo? Não é algo que todos devem fazer se tiverem a oportunidade?
A inocência ressurgiu em Viktor. Isso gerou um sorriso tão espontâneo e lindo em Lilac que a fez esquecer até do assunto.
O motivo: ela conseguiu uma resposta para seus dilemas. E da melhor pessoa possível.
Ela, esbaldando felicidade, o abraçou com muito carinho. Foi a constatação que ela precisava saber.
— “Ying estava certo. Eu devo mesmo protegê-lo, mas do jeito certo. Não posso simplesmente exigir que o Viktor me diga tudo. Suas ações já dizem por si só. Eu só preciso de tempo e tudo vai se resolver.”
Lilac entendeu que, desde o início, Viktor estava agindo de forma gentil por ser gentil e não por tentar ter o protagonismo das coisas. Tudo era natural, sim forçar ou sequer insistir por teimosia.
Seu grau de honestidade superava, com folgas, qualquer desconfiança.
Tudo aquilo trouxe um alívio ao espírito de Lilac, por isso o abraço e a demonstração de carinho repentino.
— “Tenho certeza de que teremos conflitos, iremos discutir e tudo o mais. Porém, as coisas seguirão seu próprio ritmo. Eu vou protegê-lo de todo o mal até que retorne para seu lar. Mas, até lá, ele tem que seguir sua própria história e, principalmente, continuar sendo quem ele sempre foi. Não tenho direito de tirar isso dele, nem ninguém.”
No fim, o vendo se abrir daquela forma, a dragão púrpura teve seu coração curado. Ainda mais, pois ele retribuiu o abraço, o que confirmou sua compreensão.
Revigorado, por assim dizer, os brios da dragão púrpura foram atualizados.
Para além.
Horas depois…
Rodovia Phoenix | Início da noite

“Uma rodovia que liga os corações e almas de toda Avalice. Ela leva a todas as direções do planeta e renova as esperanças de quem busca por algo, como uma fênix!”
Essa era a definição do cervo motorista que levava o time em uma van. Entusiasmada, por assim dizer.
A extrema área de circulação de veículos tinha um movimento absurdo.
Carros e outros bólidos maiores, desde ônibus e caminhões, iam e vinham a toda velocidade.
A Rodovia Phoenix era bastante segura: a melhor tecnologia de asfalto, sinalização ultra sofisticada e várias conexões fazem parte de diferentes áreas dos Três Reinos e, principalmente, para as demais localidades de Avalice.
Dentro de uma van disponibilizada exclusiva, o time de Lilac seguiu para o destino com todo o conforto e suporte possível.
Dessa vez a viagem era especial: Royal Magister disponibilizou fundos para que todos fossem levados da forma mais confortável possível, além de lhes oferecer fundos extras para a estadia na cidade.
A missão era simples: ir até o Castelo de Shang Mu e se encontrar com seu monarca, Mayor Zao, sobre um suposto esquema dos Red Scarves de conseguirem pôr as mãos no enorme resquício.
Era um assunto urgente mas, diante das circunstâncias, as partes estavam certas de que a lasca enorme estava bem protegida.
O grupo teria mais lisura para essa nova saga.
Por isso, Carol estava radiante dentro da van fretada exclusivamente para os jovens.
— Lilac, tamo no céu. Todas as despesas pagas e ainda em Shang Mu! Cara, eu vou comprar muita coisa lá!
— Hã? Do que você está falando? — a dragão colocou sua amiga tagarela nos eixos. — Estamos em missão! Não teremos tempo para diversão dessa vez. É coisa séria!
— Ah, qual foi, Lilac? Por o pé na jaca de vez em quando não faz mal a ninguém. Relaxa, boba. Vamo curtir!
— Carol, nós não devemos abusar da boa vontade de Royal Magister.
— Lilac, é Shang Mu! Caraca, temos uma oportunidade de ouro nas mãos!
— A Carol está certa, Lilac. Precisamos nos divertir também – disse Milla, abraçando a dragão.
— Hã? Até você, Milla?
— A gente está tão atarefada que estamos esquecendo de aproveitar! — a pequena falou, esfregando seu rosto contra o dorso de Lilac. — Por favor!
Resistir ao ataque de fofura de Milla era inútil. A dragão, após a “investida foda”, não pôde suportar por mais de cinco segundos.
— Ah, está bem, está bem… — disse a jovem, retribuindo o abraço. — Mas sob uma condição.
— Qual, mommy? Tudo que a senhora mandar! – Carol falou, também abraçando sua amiga dragão.
— Antes de nos divertirmos, vamos tratar tudo que viemos fazer em Shang Mu. Concordam?
Era razoável a proposta. A reação veio aligeira.
— Tá, acho justo. Fechou! — Carol deu sua resposta. — E você, Milla-nesa?
— Eu também concordo, Carol! — a pequena canina estava muito mais sorridente que antes. — Vai ser muito legal! E o que acha, Viktorius?
O jovem humano, que estava observando a todo instante cada centímetro de onde sua visão permitiu pela extensa rodovia, foi enfático:
— Eu? Bem… Eu nunca estive nesse lugar, assim como todos os outros. Se for para o bem de vocês e da missão, concordo plenamente!
— Essa parada, piá! — Carol pulou contra o rapaz, o abraçando com força. — Haha! Férias, finalmente!
A atitude impulsiva da tagarela trouxe reações.
— Ah, senhorita Carol… — falou Viktor.
— Que foi? Pô, tô mó feliz! Haha!
— Você está me abraçando bem forte!
— Hã? Mas o que… — ela olhou para os olhos do rapaz, percebendo que estava bem próxima.
Sem mais palavras, a felina subitamente se recolheu e voltou lentamente para seu lugar. A exemplo de Viktor, que estava bastante corado, Carol de verde ficou mais vermelha que seu lenço do pescoço.
Ela, ainda sem jeito, se limitou a dizer:
— Eh, a-acho que vou tirar um cochilo… — ela fechou os olhos e se virou para o lado contrário onde Viktor estava. — Até mais tarde!
Lilac e Milla começaram a gargalhar, ao verem a cena inusitada. Elas nem precisaram falar nada, restando rirem como nunca.
Isso foi, aos poucos, contagiando Viktor, que passou a rir da situação divertida, chegando até Carol, que caiu na brincadeira.
A alegria tomou conta do veículo, seguindo pela Rodovia Phoenix tranquilamente no meio do trânsito carregado.
Alguns quilômetros à frente, estava a cidade de Shang Mu.
Mais aventuras estavam por vir, em mais uma missão extraordinária.
O time de Lilac estava mais unido que antes.
Mas, o que encontrariam em Shang Mu?
Uma grande surpresa estava por vir.
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