Capítulo 56 - Chegando a cidade de Shang Mu
A viagem até o vindouro destino foi tranquila.
Mas isso não seria uma tendência.
Mais reviravoltas estavam por vir.
Horas depois…
Cidade de Shang Mu | Início da noite

Gigantesca.
Avassaladora.
Estonteante.
Incrível.
Brilhosa e fervente.
Ainda sobravam muitos adjetivos para tentar descrever a magnitude desta cidade.
Shang Mu, a maior cidade dos Três Reinos.
Seus altos edifícios quase escondiam o horizonte montanhoso da região, com estradas e avenidas cruzando toda a cidade.
O trânsito era intenso, mostrando que era mesmo uma cidade de idas e vindas, a todo momento, a qualquer hora.
Era encantadora: muitas praças ornamentais contrastavam com a modernidade, de uma forma única e acolhedora.
Mas não parava por aí: o comércio era o ponto forte da megalópole, com procura por parte dos habitantes; qualquer produto que existisse em Avalice era encontrado na grande cidade.
O transporte não era um problema: um robusto sistema de metrô cortava o subsolo da cidade, assim como monotrilhos acima de todos, em trilhos aéreos, pelas ruas cheias de gente que rumavam pela cidade.
E o mais interessante: shoppings.
Muitos shoppings pela cidade inteira!
Se existisse um lugar em toda a Avalice que usava e abusava de energia, essa era Shang Mu.
Definitivamente a população mais variada em espécies entre todas as nações de Avalice.
Ao chegarem à cidade, Viktor foi o mais impactado pela grandiosidade do lugar, mal conseguindo falar.
— Pessoal, isso é mesmo real? Essa cidade é enorme! Nem mesmo Nova Iorque é tão grande assim!
— Lá vem o piá com essas coisas do mundo dele… — disse Carol, pegando sua mochila na van. — E é isso mesmo, cara. Tudo aqui é grandioso mesmo. Puro luxo, sem economia. O capitalismo total full, nyah!
— Aqui cresceu muito, não? — Milla falava, enquanto estava ao lado de Lilac. — A minha mestra disse que muita gente veio pra cá por causa disso.
— Sim, você está certa — a dragão falou, pegando suas malas. — Dessa vez Royal Magister pensou em tudo e nos hospedou nesse hotel aqui.
A dragão apontou para a frente, como se estivesse mostrando a direção a um pequeno estabelecimento.
Foi o que Carol imaginou.
— Ah, beleza. O Roya economizou, né? Mas tá certo… Tá vindo de graça, não vou reclamar.
Não era bem assim. Na verdade, Lilac fez de propósito para tirar com a sua amiga.
Na verdade, o hotel era outro.
— Não, sua boba! — disse a garota dragão, apontando para um pomposo hotel logo ao lado. — É nesse aqui!

A construção era imponente, grande o suficiente para tampar a visão do céu.
A gata verde quase surtou (na verdade, ela surtou sim).
— Nyah?! Pera… Tu tá dizendo que… – Carol mal conseguia acreditar, olhando para o enorme prédio que estava a sua frente — Nós vamo ficar hospedadas no Hotel Gigante de Shang Mu?! Ca-ra-ca!
— Sim. Não houve economias por parte do reino de Shang Tu. Entendeu agora?
— Ah, muleque! Tendi tudo! Eu amo isso… — e o surto continuou. — Eu amo ser mimada! Nyah! Mandou bem demais o Roya!
Não demoraram muito para entrarem, enfim, no gigantesco local de repouso.
Quando adentraram ao saguão do hotel, puderam ver o nível de luxo era absurdo.
Mármore chinesa no piso, porcelanato nas paredes, enormes pilastras, quadros caros decorando as paredes, muita gente usando roupas finas… Era um lugar diferenciado, “o hotel seis estrelas”, como muitos falavam pela cidade.
Até mesmo o ar tinha um aroma todo especial.
Ao adentrar no prédio luxuoso, o time foi alvo do choque cultural dos que por lá habitavam: todos os presentes, trajando roupas caras e ostentando deveras, passaram a olhar para o grupo com desprezo.
Foi um comportamento bem incômodo, assim como eles também sentiram após perceberem a presença do time de Lilac.
A dragão, pensando em se preservar, falou:
— Pessoal, vamos para o quarto logo. Essa gente aqui não parece gostar da gente.
Carol até concordou com isso, mas a seu modo: ela trocou olhares com “as pessoas incomodadas com a falta de sofisticação”.
E ela, como de praxe, não ficou calada.
— Bando de riquinho esnobe, somos do gueto mesmo, e daí? Vai acabar o mundo só por causa disso?
— Carol… — disse Lilac, puxando a tagarela pelo braço. — Para de chamar atenção!
— Eu não! Essa galera aí tá se achando demais! — a felina não parou de falar. — Vocês querem barraco e não tão sabendo pedir! A favelada chegou em Shang Mu, tá? Beijo no ombro e tenham uma péssima noite!
— Carol, para com isso! — gritou a dragão, a puxando com mais força!
— Peraí, Lilac! — ela sentiu o puxão, dizendo em seguida. — O pobre também tem seu lugar, falei?
A jovem dragão seguiu até a recepção, onde um elegante alce, trajando um terno finíssimo, tomou o atendimento.
— Senhorita, seja bem vinda ao Gigante de Shang Mu. Como posso ajudar?
Carol ouviu isso e:
— “Seja bem vinda, ai ai ai”… Tu viu os engomados ali, né bonitão? Onde isso é ser bem vindo, heim?!
— Carol, cala sua boca! — retrucou Lilac, já esperava, mas voltando ao alce com um semblante mais amigável. — Já fizeram uma reserva para nós.
— Hum… Seria em nome de quem?
— Royal Magister.
Todos no salão arregalaram os olhos, incrédulos com o que ouviram.
E isso foi ampliado após o alce elegante anunciar.
— Hum… — disse, colocando seu óculos de leitura, que estava dentro de seu bolso. — Royal Magister é seu cuidador. Os agraciados: Sash Lilac, Carol Tea, Milla Basset e Viktorius Ashem. É uma imensa honra atender aos desejos de um líder de estado. Sejam muito bem vindos
Da água para o vinho, o vislumbre dos presentes mudou repentinamente, com sorrisos sendo vistos em cada um. A impressão que se deu foi que, após o anúncio, todos começaram a ver o time de Lilac como Pessoas Altamente Importantes, isto é, os famosos VIPs.
Entretanto, alguém foi além (sim, a tagarela).
— Ah, agora o respeito voltou, né? — Carol disse, olhando a todos em volta. — Vou dar um recado: nada muda o que eu penso de vocês, bando de interesseiros! Vão se ferrar! — disse, gesticulando tipo “dar banana”.
Lilac precisou puxar Carol com ainda mais força para dentro do elevador, para evitar maiores problemas.
— Porque você sempre tem que ser assim?
— Simples: ninguém gosta de riquinho esnobe e muito menos de riquinho interesseiro!
— Tudo bem, Carol, já chega!
— Tá tá… tendi! — ela falou, se acalmando aos poucos. — Eh, tipo… Posso fazer uma observação, Lilac?
— O que foi dessa vez, Carol?
— Reparou que o escritor usou aspas pra caramba nesse trecho?
— Carol, para com essas suas maluquices! — gritou a dragão, irritada.
— Nyah!
Após essa cena (desnecessária), todos chegaram até o andar do quarto.
Aliás, não foi avisado antes: era o último andar, o maior e mais luxuoso do hotel!
Chegando lá, o lugar era enorme.
O local tinha quase três vezes o tamanho da casa da árvore de Lilac, para se ter ideia da escala.
Todos do time ficaram impressionados, com Carol correndo correndo a toda velocidade pelos cômodos.
— Mano do céu! Isso aqui parece uma mansão!
Não era para menos: a arrumação era estonteante, com mármore nas paredes, porcelanato oriental adornando o chão, luminárias modernas, móveis de madeira fina e cortinas de seda de cor vermelha nas janelas largas.
Além disso, havia quatro camas muito bem arrumadas, jacuzzi, sauna, sala de jantar… porém não havia cozinha.
Isso foi motivo para a desolação de Viktor.
— É, garotas… — disse o jovem, um pouco cabisbaixo. — Não vou poder cozinhar desta vez.
— Ah, tá de saca, né? Tu não tá pensando grande, piá! — disse Carol, abraçando o jovem pelo pescoço.
— Hã? Como assim?
— Cara, carinha… Tu tá no hotel mais luxuoso de toda Shang Mu. Se você tá no que tem de melhor aqui, imagina então a comida que essa gente prepara!
A gata tinha um dom de inspirar as pessoas com muita facilidade.
Por isso, Viktor foi a algazarra.
— OH, MINHA NOSSA! MINHA NOSSA! Eu… — o jovem não conseguiu raciocinar direito. — Eu preciso mesmo experimentar cada prato daqui! Tenho que ir à cozinha, conversar com os cozinheiros, ver cada coisa que…
— Tá, sossega Master Chef! Pega leve! Seu PC da Positivo não dá vazão pra tanta informação. Fica sussa! — ela o colocou nos eixos, olhando para a dragão em seguida. — Lilac, o que vamo fazer primeiro?
— Iremos até o Castelo de Shang Mu para falar logo com o monarca. Depois vamos fazer o favor ao Gong, de entregar os livros.
— Aí, depois disso, é hora da farra, né? — Carol perguntou, com seus olhos brilhando.
Lilac fez um esforço para não dizer a sua amiga que não seria bem assim, mas uma promessa tinha sido feita, então:
— Tudo bem, Carol. Depois disso tudo, vamos aproveitar um pouco a noite.
— Um pouco nada! — a tagarela estava radiante, executando um soco no ar de tanta alegria. — Vamo curtir até cansar! Pode crer que sim, nyah!
Ainda era cedo, a noite só havia começado.
O tempo estava totalmente favorável ao time. Dessa vez a missão era mais simples e direta ao ponto.
Seria muito bom se isso fosse verdade…?
Minutos depois
Prefeitura de Shang Mu | Noite

Localizado no meio da cidade gigantesca, a Prefeitura era um marco atemporal para todos os habitantes de Shang Mu.
Definitivamente o lugar mais importante e histórico entre todos os Três Reinos.
A Prefeitura de Shang Mu contemplava a vista de quem chegava à cidade: era possível vê-lo de qualquer lugar.
Uma construção ainda mais imponente (que se assemelhava a prédios da antiga Taiwan de nosso mundo), vários metros quadrados da mais absoluta malha verde ordenava seu contorno, árvores centenárias, com uma forte guarnição que mantinha não só o castelo mas como todo o reino protegido.
Seu interior era de uma beleza abismal: com o vermelho como destaque, podíamos ver o piso todo em porcelanato oriental adornando, com grifos em casa metro quadrado, simbolizando o reino.
Ao ponto dos largos corredores do local, mobília de madeira enfeitaram locais de descanso e leitura (haviam muitas restantes de livros ao longo dos corredores), dando um acabamento bastante sofisticado.
“Onde o esplendor da Prefeitura de Shang Mu está?”. Essa era a pergunta que qualquer visitante da cidade fazia. A resposta era simples: sua incrível biblioteca, que guardava infindáveis relíquias em forma de livros, que continham toda a história de cada canto de Avalice.
Desde biografias, passando por histórias de eras até reportes detalhados de guerras, tudo era um deleite para os interessados em saber do fantástico legado deixado.
Luminárias em velas, assim como mais modernas, com lâmpadas fluorescentes, demoravam as paredes. A Prefeitura era muito bem iluminada.
Já no interior do lugar, justamente no salão do monarca, os jovens se encontravam com o bem humorado e ganancioso Mayor Zao, com seu enorme chapéu, o que tentava esconder sua baixa estatura.

Zao era um panda vermelho, cuja cor de pelo é marrom-avermelhado e branco, com olhos verdes e uma altura menor em comparação com outros avalicianos.
Ele trajava uma roupa real nas cores da nação, vermelho e amarelo, que provavelmente faziam alusão aos grandes dragões de fogo, que as lendas de Avalice falavam ser “os maiores seres que existiram no planeta”.
Zao também usava um grande chapéu, com uma coroa colocada no meio e duas jóias vermelhas com bordas douradas colocadas acima, em cada lado.
Enquanto caminhavam para cumprimentar o monarca, Carol (sempre ela) tinha algo a acrescentar (e atrapalhar com a narrativa).
— Lilac, tu se ligou em quantas vezes as palavras “enorme”, “gigante” e “grande” foram ditas nesse capítulo? — disse Carol, olhando para sua amiga.
— Do que você está falando, sua boba?
— Deixa quieto. Nyah!
Voltando a história (Eu odeio interrupções)…
E eis que o espirituoso Zao recebeu de braços abertos seus visitantes.
— Carol, Lilac, Milla e… — ele olhou para Viktor, escolhendo as palavras que iria dizer. — Ah… hm… bem… um NPC qualquer do meu reino, talvez?! Ah, não importa! Sejam bem vindos!
Lilac, antes de qualquer outra manifestação do pequeno monarca, tomou a frente.
— Olá, Mayor Zao! A quanto tempo não nos vemos! – disse Lilac, com um sorriso.
— Ah, faz muito tempo… — disse Zao, se recordando ainda mais. — A propósito, vocês usaram aquele cupom de cinco por cento de desconto em qualquer shopping que eu te dei de presente?
— Hã? Ah, bem… Usamos sim — Lilac estava um pouco sem jeito, mas respondeu mesmo assim. — Compramos sushi.
— Sushi?! Mas isso vocês conseguem de graça! Ou a minha comida não agradou vocês naquele dia, hein? — disse, olhando com desconfiança.
— Não! Não foi isso que eu quis dizer! — Lilac ficou muito envergonhada com o mal entendido. — A comida que comemos naquele dia foi deliciosa!
Zao é conhecido por seu carisma, que o levou a se tornar o prefeito de Shang Mu (embora com certa desconfiança quanto aos métodos).
Ele é mostrado como ganancioso, pois aproveitava qualquer oportunidade para garantir suas chances de reeleição.
Mas, na maioria do tempo, se mostra bondoso e caridoso (ainda que com algumas ressalvas).
Zao gostava de ser bastante reverenciado e, com isso, chegar a ser famoso por todo seu reino.
Retornando ao diálogo, o pequeno panda vermelho gargalhava alto, enquanto falava:
— Haha! Não ligue para o que eu disse, hehe. Só estou devolvendo a sua zuera1!
— É, você não mudou nada — Lilac ficou um pouco aliviada.
— E nem no tam… – Quase deixou escapar Carol – … digo, no tambor que quero tiqui tiqui tiqui tá! Nyah! “Ufa, essa foi por pouco!”
O semblante do pequeno panda vermelho quase se fechou, mas um sorriso voltou logo em seguida, após Carol “se corrigir”.
Sua curiosidade veio, ademais.
— Me digam: a que devo essa visita?
— Bem, nós viemos a mando de Royal Magister e… — falava a dragão, sendo interrompida.
— Ah então ele se lembrou de mim, não? Que bom. Só espero que ele saiba que minha cidade aumentou de tamanho. Querem ajuda para desenvolverem a sua também2?
As tiradas de Zao continham muita ironia também, além de sarcasmo. Claro, ele estava pegando leve, por enquanto.
Mas, como sempre foi, ele tinha um bom coração.
— Bem, se quiserem podem ficar na Prefeitura. Será uma honra hospedar as maiores heroínas de Avalice. Esta também é uma forma de promover meu mais novo empreendedorismo.
Isso fez crescer mais a curiosidade, desta vez em Lilac e seu time.
— Hã? Como assim? — a garota dragão perguntou, confusa.
— Hehe… Eu irei contar a vocês — disse Zao, caminhando até uma enorme porta. — Venham, vocês chegaram bem na hora do jantar. Todos estão convidados, haha!
Um convite foi feito, pegando a todos de surpresa. Principalmente para o jovem humano.
— Ele disse jantar?
Sim, ele disse isso.
E que também todos estavam convidados.
E o convite, estejam certos, não seria só para um jantar.
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