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    Foi uma situação bem inesperada. 

    Lilac e seus amigos nunca desconfiaram que um simples bibliotecário pudesse alçar um voo tão grande em direção a um duelo, ainda mais contra a dragão.

    Não havia muito tempo para procurarem por um quinto integrante e o desconhecido Noah Hibiki era a única opção, a princípio.

    Mas a condição era inusitada, já que o jovem híbrido havia feito um desafio para mostrar suas habilidades e participar do torneio, mesmo sem saber sua motivação.

    E não havia muito do que pensar: Lilac aceitou. 

    Minutos depois…

    Com o jovem Noah aguardando Lilac no descampado, ele somente aguardava que sua oponente se preparasse.

    A dragão, se aprontando, conversava com sua amiga felina.

    — Carol, eu não estou gostando disso. Essa situação não é a ideal — disse, se alongando.

    — Ah, qual foi, Lilac? — a gata resmungou, dizendo verdades a seguir. — Tu vai lá, dá um sacode no trevoso e tá tudo sussa. Pode ser?

    — Não é isso! — Lilac falava, se virando para o albino. — E tenha mais respeito por ele.

    — Então qual foi? Tu tá ligada que foi o trevoso aí que te desafiou, né?

    — Eu não vou me sentir bem batendo em alguém anônimo assim.

    — Tá de saca, né? Vai lá e sapeca o felpudin sem dó!

    — Carol, olha o respeito! — ela disse, de uma forma mais ríspida, a caminhar até o centro do descampado. — Eu já volto. Isso não vai demorar muito. 

    — Confiança mil, hein! Gostei, nyah!

    Concentrada, Lilac caminhou até o local combinado, sempre a fitar seu adversário.

    Contudo, durante seu trajeto, uma conversa paralela ocorreu entre Viktor e Milla. A dupla, como sabido, não tinha vibrações positivas referentes ao híbrido.

    A pequena foi a primeira a perceber que o humano não estava cômodo. Não por causa do duelo e sim por algo ainda não identificado concretamente.

    — Viktorius, o que houve?

    — Esse terreno, Milla — ele direcionou seu olhar ao solo acidentado. — Estava revirado bem antes de virmos até aqui. Esse cara treinou aqui.

    — Mas o que isso significa, Viktorius?

    Viktor pode não ter feito muita coisa desde que voltou atrás na decisão de disputar o torneio, mas seu senso de lutador era sensível quanto a artes marciais.

    O jovem tinha entendimento quase de um profissional, sem dúvidas.

    — “Solo revirado, rastros de movimentos circulares, marcações profundas, pegadas firmes… — ele analisou cada aspecto reativo. — Meu mestre tem um lugar assim no quintal do dojo. Ele treinou lá a vida inteira… Esse cara, o Noah, entre fez o mesmo, tenho certeza!”

    Viktor, após segundos de pensamentos, respondeu a Milla: 

    — Ele não é um qualquer. Esse cara sabe lutar, Milla!

    — Você tem certeza mesmo? 

    — Totalmente — disse, olhando para os dois lutadores.

    — Hm… — Milla reavaliou a situação. —  Bem, mas para alguém desafiar a Lilac, é porque se vê em condições de lutar contra ela, não é?

    — Sim, mas… — Viktor analisou melhor as variantes do porquê. — Essa luta vale muito para nosso grupo. O que me deixa em dúvidas é sobre os interesses dele nisso.

    A apreensão se manteve a mesma nos dois. 

    Voltando ao centro, Lilac já estava pronta para a luta.

    Sem deixar de fitá-lo, ela recebeu a mesma retribuição por Noah, que já estava a postos para o vindouro combate.

    A garota foi até próximo do híbrido, e se colocou à base, aguardando o início do duelo.

    A dragão abriu conversa antes do primeiro movimento.

    — Você tem certeza que quer lutar, Noah? Eu não costumo pegar leve — disse, ajeitando suas luvas.

    — Então temos isso em comum — Noah fez o mesmo, com um olhar compenetrado.

    — Gostei disso. Confiança é tudo.

    — Tudo e mais um pouco.

    Ele manteve o mesmo olhar e, principalmente, seu semblante neutro, comportamento de alguém que não deixava aparente algum descontrole emocional.

    Lilac se impressionou com isso.

    — Estou gostando de ver. Para um possível quinto membro, você já está se saindo muito bem só no espírito.

    — Verá todo o resto agora… — sua paciência também foi percebida. — Pode começar quando quiser.

    — Muito bem… Prepare-se, Noah! — disse Lilac, colocando-se em base de luta também.

    Lilac não perdeu um tempo sequer, utilizando de seu Impulso do Dragão logo de início. Em milésimos de segundos, estava a frente de Noah, que mal percebeu a aproximação da dragão. 

    Sua falta de velocidade de reação lhe custou caro: Lilac executou um chute em seu rosto, fazendo-o ser arremessado para o lado. Mesmo assim, conseguiu se reequilibrar e aterrissar de pé sem maiores problemas.

    O golpe foi forte, mas sem lhe causar ferimento algum.

    Sabendo que o pegou desprevenido, Lilac se preocupou com o rapaz.

    — Noah, você está bem?

    — Não… Eu não estou… — disse, com a mão sobre o local onde foi atingido.

    — Nossa, mil perdões! — disse, desarmando sua base. Ela mostrou atenção ao fato com mais importância. — Eu não queria te surpreender assim logo de início.

    Noah se manteve sereno mesmo assim, mas expressou sua emoção com palavras.

    — Você pegou leve. Por isso não estou bem.

    Lilac se surpreendeu, entendendo aquilo como uma provocação.

    — O que? Acha mesmo que eu peguei leve?!

    — Eu ainda estou de pé. Se tivesse levado a sério, essa luta já teria seu fim no momento em que sua velocidade impressionante foi executada — ele foi um pouco mais além na provocação. — Ou isso é tudo que pode fazer? 

    Aquilo fez aquecer mais os brios de Lilac. 

    Até então relutante ante o duelo, se sentiu mais motivada a lutar. 

    Entretanto, foi bem realista:

    — Noah, vou ser bem sincera: eu não gosto de duelos. Se estou fazendo isso é para que consigamos um quinto membro. Porém, eu não tenho interesse em perder de propósito.

    — Existem muitas maneiras de se perder uma luta — ele retrucou, a olhando com fúria nos olhos. — Uma delas é perder sua honra.

    Lilac até iria contra argumentar, mas sinalizou positivamente após ouvir o que ele disse.

    O jovem híbrido estava certo e a dragão concordou.

    — Você está certo… — ela retornou para sua pose de luta. — Então espero uma boa luta, concorda?

    — Plenamente.

    Com os dois frente a frente novamente, o olhar analítico de Viktor estava ativo a toda potência. Isso ficou visível em suas análises internas. 

    — “Lilac é fora do comum. Ela é extremamente rápida, quase como um raio. Eu não consegui vê-la até surgir a frente dele. Aquilo é um movimento sobre humano que eu não teria capacidade de lidar no meu mundo! É incrível!”

    Decerto, a técnica Impulso do Dragão tinha como base a incrível velocidade de deslocamento de massa instantânea de Lilac, o que lhe dava uma habilidade de quase de teletransporte.

    Porém, mesmo com o vislumbre do rapaz, houveram elementos que só alguém com entendimento em artes marciais poderia ver.

    — “Entretanto, o golpe que ela aplicou foi poderosíssimo. Esse cara não levou o chute por acaso — enfim, uma constatação do jovem. Mas haviam outros elementos. — A velocidade foi absurda, aquele chute estava longe de ser fraco e ele sequer esboçou dor ou coisa do tipo. Tem algo nesse cara que não é normal, mesmo para um avaliceano.”

    Voltando à luta…

    Noah só aguardava a iniciativa de Lilac, olhando-a nos olhos. Esse era um comportamento redundante, tática básica de lutadores.

    Com um brilho ainda maior em seu corpo, a jovem dragão, outra vez, usou seu Impulso do Dragão com uma intensidade maior que antes.

    Estando ainda mais rápida que um piscar de olhos, Lilac acertou Noah em cheio em sua barriga com um soco, fazendo o jovem ir para trás; a intensidade do golpe fez com que o híbrido arrastasse seus pés no chão, a fim de obter equilíbrio.

    A dragão, a princípio, até se preocupou, mas bastou olhar para Noah que as coisas mudaram: ele estava novamente em base de luta com uma das mãos para frente aberta e, embora tivesse mesmo sentido o golpe, não esboçava fraqueza. 

    A própria dragão se impressionou com o fato.

    — “Ele tomou meu golpe em cheio. Coloquei uma carga de força maior que antes, o suficiente para quebrar uma rocha. Mas, ele voltou a luta em seguida… — Lilac analisou o lance, se convencendo de um ponto. — Ele é mesmo um lutador. Mas porque quis lutar? Existe alguma explicação, eu sei que há!”

    Ela, observando a postura arrojada do oponente, voltou a usar seu Impulso para se aproximar de Noah, que nada fez para evitar mais um golpe, dessa vez em suas costas. 

    A dragão apareceu por trás do albino com um chute, fazendo com que fosse jogado para frente. 

    Mas, antes que caísse, Noah mostrou uma agilidade absurda, fazendo uma cambalhota; usou seus braços como apoio ao chão, caindo de pé, voltando a ficar em prontidão. 

    O fato impressionou a todos, principalmente Lilac. Se existissem dúvidas de que Noah tinha capacidades de combate, parte delas já foram tiradas. 

    Logo após a manobra astuta do albino, Carol caminhou até próximo de Viktor. Ela já havia reparado que o humano também analisava a luta.

    — Piá, esse trevoso aí é bom.

    — Sim. Percebeu também, Carol?

    — Há muito tempo… — disse, sem tirar os olhos do combate. — Tava no outro lado e te vi reagir. Diz aí pra kid: o cara tá passando no seu teste? 

    — A meu ver, sim. Porém… — Viktor analisou outros aspectos em sua mente. — “Tem algo estranho e familiar na forma que ele luta.”

    Carol não pareceu muito paciente após as palavras do rapaz.

    — Vocês tem que largar essa mania feia, de falar e vir com um “mas” ou “porém”. Baita coisa carona, oxe!

    Como sabemos, tinha um motivo para a pausa de Viktor. 

    Ele não demorou para dizer:

    — Essa base dele me é familiar.

    — Hã? Tá falando do quê, piá?

    — Certa vez, meu mestre disse que há lutadores que deixam sua guarda baixa de propósito para aproveitar um único momento. Explicando melhor: eles são treinados para receber abertamente os golpes para medir potência e velocidade.

    — Pera, é o caso dele? Tu tá me dizendo que o trevoso tá bancando o João bobo na maldade?

    — Parece que sim. Ele não está atacando, só recebeu golpes… mas sempre volta para a mesma base — Viktor já tinha um balanço da evolução da luta. — É uma estratégia dele, Carol. 

    A gata expressou um semblante de preocupação. Embora Viktor não fosse lutar, Carol tinha conhecimento de que o fato dele ter noções de artes marciais o credenciou a ter plena confiança dela nesse quesito.

    — Lilac, toma cuidado… — disse Carol, deixando suas palavras no ar e torcendo por sua amiga.

    A luta prosseguiu, da mesma forma. 

    Por mais três ataques, Lilac tinha pleno controle do combate, golpeando Noah sem que o jovem tivesse chance de se defender. 

    Todavia, como antes, toda vez que Noah recebia os golpes fortes de Lilac, ele voltava a sua mesma base, exatamente como começou o duelo, com guarda baixa. 

    A dragão, ficando a sua frente, e parecendo frustrada naquela altura do duelo, lhe disse:

    — Noah, como é? Só vai ficar recebendo golpes? Pensei que você iria mostrar a que veio!

    Ele se manteve com o mesmo sentimento e emoção estampada na sua fronte: neutro e sempre muito equilibrado.

    Seu rosto albino, sem expressões, continuavam a dar calafrios em Milla, assim como Carol. Não era à toa a preocupação da gata. 

    — “Esse cara tá tramando o quê? Pô, mó sensação ruim tô sentindo, nyah…”

    A construção da cena, o clima pesado e coberto de mistérios, deixava tudo mais incômodo e soturno.

    Noah falou, do mesmo jeito controlado de antes.

    — Na verdade, eu já estou fazendo minha parte. Você me acertou várias vezes… 

    — E não fará o mesmo, em tentar me atacar?

    — Vou esperar você cansar — ele tentou provocá-la, sem sequer alterar o tom sóbrio de sua voz.

    Lilac, ao ouvir isso, sorriu, levemente, não o suficiente para todos entenderem a ironia.

    — Você já deve saber que isso não vai acontecer… — Lilac devolveu a provocação.

    — Eu falhei, não foi? — ele se referiu a tentar mexer com seu emocional, o de Lilac. 

    — Sim, falhou — ela voltou a sorrir, dentro do assunto. —  Carol faz isso melhor que você.

    Com a espera de Noah, Lilac, novamente, utilizou do Impulso, partindo a toda velocidade.

    Em frações de segundos, ela já estava à frente do jovem, como de praxe, executando um chute forte em seu dorso. 

    Contudo, dessa vez algo inusitado ocorreu: Lilac puxou sua perna com mais rapidez dessa vez, executando um pequeno salto para trás, enquanto Noah assimilava o golpe, com uma das mãos sobre o local atingido. 

    Ele não estava ferido, mas havia rastros de desgaste físico. 

    Seja qual for sua estratégia, isso teve um preço.

    Imediatamente, depois se colocou novamente à base de luta, a contratação: Lilac estava com uma das pernas bambas, se apoiando na esquerda para ficar de pé.

    E Carol jogou a real:

    — Ele a atingiu.

    Viktor ouviu as palavras de Carol e, apresentando sua impressão, não poupou palavras dessa vez.

    — Carol, aquela base! Ele a mudou! — disse, mostrando certeza em sua análise. — Eu conheço mesmo esse estilo!

    — Que tu tá falando, piá? O que tá rolando?

    Existiam nuances neste combate.

    Foi o que Viktor constatou.

    O que será?

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