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    A urgência tomou Lilac, por completo.

    Os eventos recentes a moveram para fora do saguão principal, voltando ao exterior da Arena Shang Mu.

    O local estava mais movimentado, com os demais participantes se reunindo após suas inscrições no torneio, foi sacudido por sua habilidade especial veloz; todos viram o deslocamento da jovem líder a toda potência.

    Eles abriram espaço, pois viram alguém com bastante pressa. Até mesmo a poeira do chão se levantou, causando tosse em alguns dos transeuntes.

    Sob a luz lunar de Motavia e Dezoris, a suposta investida do clã ninja Red Scarves levantou fantasmas do passado, que ela sabia muito bem.

    — Droga! Por que eu não pensei nisso antes? — falou a dragão, executando seu Impulso do Dragão para ir mais rápido. — É óbvio que eles seriam sujos o bastante para fazerem isso!

    Mas antes de ser perdida de vista, Carol a alcançou, fazendo com que parasse.

    — Ei, calma aí! Lilac, conversa comigo! — disse Carol, a segurando pelos ombros.

    A jovem de escamas púrpuras quase tropeçou, freando seco ao tranco repentino da sua amiga.

    Mesmo assim, Lilac não estava tão disposta a conversar.

    — Carol, me solta! Você sabe muito bem que não temos muito tempo!

    — Tô ligada. Só que você agindo assim até parece eu em um dia muito ruim. Pô, te conheço pacas. Tu tá estressada, então refresca a cachola, cabeça de lula! — a gata provocou, ao mesmo tempo que mostrava irreverência mas que não escondia sua preocupação.

    — Como é?! — a dragão até ameaçou outro surto, mas pôs os pensamentos em dia.

    Sim, Lilac parou, percebendo, com a provocação intencional de sua amiga, que estava perdendo o foco.

    Frustrada, mas contida, ela respirou fundo e, aos poucos, recobrou sua sensatez característica.

    — É, você está certa… — ela cessou seus passos, raciocinando. — Mas isso não resolve as coisas.

    — Tá, tu tá certa nisso… — a felina a soltou, mais aliviada. — Ufa, ainda bem que te parei antes de você sumir do mapa.

    O sopro de alívio sentido por Carol era temporário. Pode ter impedido de sua amiga agir sem pensar, mas o tempo era o maior inimigo no momento.

    — Sério, Carol, a gente tem que encontrar o Santino! Com certeza aqueles sons eram de luta!!

    — Putz, pode crer… — ela se virou, percebendo passos ao fundo da praça onde estavam.

    Os ruídos de aproximação tinham fundamento: eram do time, que conseguiu chegar até o local.

    Por alguns metros nas adjacências da Arena Shang Mu, o grupo tinha vários dilemas.

    O primeiro foi Viktor:

    — Senhorita Lilac… — seu polimento retornou com força, dado o respeito que tinha pela garota. — Temos que pensar bem o que fazer. Não temos muito tempo…

    — Você tem razão, Viktor — ela acenou positivamente com a cabeça, quase uma reverência. — E peço desculpas por ter agido como uma boba.

    O garoto sorriu, como se estivesse ciente do sentimento culposo da jovem.

    — “Ela pediu desculpas pra mim?!” — sua surpresa interna não transpareceu. — “Se ela fez isso, então é porque está muito mais preocupada do que eu imaginava. Está sendo cuidadosa comigo quando não precisava…”

    A indagação na mente do humano deixou claro que até ele sentiu a mudança, talvez até com um significado ainda abstrato.

    Já Noah, ao lado de Lilac, adicionou uma informação importante:

    — Perguntei ao atendente do saguão: temos até às dez horas para inscrever o último membro. As boas notícias é que ele tem autonomia para isso…

    — Eu até perdi a noção do tempo… — falava a dragão, olhando para o relógio. — Então temos uma hora para encontrarmos o Santino… ou ele nos encontrar.

    — Mas o que vamos fazer agora? — Milla estava preocupada. — Temos pouco tempo!

    Uma hora.

    Esse era o limite.

    Se antes a irritação era pelo pouco que Lilac tinha de fé na escolha de Carol, agora a situação era quase como a de um resgate de alguém que não tinha sequer convivência.

    Em outras palavras, era um inocente que, talvez, estivesse passando por problemas por causa da dragão.

    Isso tinha um peso ainda maior, a pressionando a um nível acima do que esperava.

    Como eram muitas informações para processar, Lilac recorreu ao básico: seu raciocínio entrou em ação.

    — “Se realmente os Red Scarves estão envolvidos, ficaram o tempo todo nos seguindo, vendo por onde andamos…” — a lógica foi sua arma naquele instante.

    Sem perder tempo, internalizou todo o contexto em uma velocidade incrível de dedução:

    — “Só o Santino se distanciou… Mas ele é forte e grande, e os ninjas não o atacariam em praça pública. Shang Mu tem luzes em cada canto. Nenhum ponto cego… exceto…”

    Ela chegou a uma conclusão.

    — “Só a área da Arena é mais escura… Então é isso!”

    Ela encontrou o ponto.

    — Time, o Santino foi atacado por aqui!

    — Hã? Mas como pode estar certa disso, senhorita Lilac? — perguntou Viktor.

    — Eles nunca fariam algo em campo aberto. Shang Mu não é como Shuigang. Eles agiram aqui perto por ser o único lugar escuro de toda cidade! O Santino não chegou até nós… porque foi atacado aqui!

    O raciocínio foi rápido e preciso — Isso deu um norte.

    Noah entendeu bem a leitura lógica de Lilac.

    Dotado da mesma qualidade, olhou em volta, de forma breve.

    Não demorou muito até que tivesse uma ideia:

    — A área da Arena Shang Mu tem, pelo menos, 5 mil metros quadrados. Porém o raio do espaço é mais longo, por volta de 800 metros, por causa dos templos que formam a Zona Milenial de Shang Mu. Precisamos nos separar e procurarmos nos quadrantes: Norte, Sul, Leste e Oeste.

    A ideia proposta por Noah foi instantânea e no ponto certo.

    Porém Viktor, com o pouco de conhecimento de habilidades especiais, mais precisamente de Lilac, adicionou um detalhe:

    — Mas a senhorita Lilac poderia usar sua velocidade para ir em cada canto! Com isso ganharíamos tempo! — comentou o humano, pensando na vantagem óbvia da habilidade dela.

    — Viktor, eu não posso ficar usando meu Impulso do Dragão em qualquer lugar. Toda vez que faço isso com força posso quebrar a barreira do som sem querer e causar transtorno aos templos. Tudo aqui é muito frágil e milenar. Tenho que tomar cuidado.

    Foi uma leitura honesta, mas a dragão púrpura tinha ciência do espaço em volta e das consequências em usar sua habilidade sem pensar.

    Todavia, esse detalhe trouxe mais entendimentos a Viktor.

    — “Ela está certa e… tem domínio do que pode fazer ao redor. Se ela está agindo assim, é porque tudo isso é de extrema importância.”

    Viktor, naquele instante, entendeu que a garota dragão tinha urgência genuína e preocupação em todos os sentidos — era um momento de atitude arrojada para manter acesa a chama da missão.

    Com o plano exposto, Lilac adotou a estratégia.

    — Ótimo, Noah! Falamos isso! — ela foi até o centro do grupo. — Milla, você tem bom faro: vá para o Leste, pois é a área mais verde e sem muitos templos.

    — Tudo bem! Conta comigo! — ela correu em direção ao ponto cardeal indicado.

    — Carol… — desta vez a dragão se virou para sua amiga. — Você pode escalar os prédios com mais facilidade e sem danificar nada… Você pode, não?

    — Claro, pô! Pra onde, então?

    — Oeste. Os templos mais altos ficam lá.

    — Tá sussa! — Carol partiu com toda velocidade. — Bora achar o trincado!

    — Noah… Vá para o Sul.

    — Entendo… — disse, se virando. — A parte mais central, a que eu conheço melhor.

    — Isso mesmo! Santino Rock está usando calça preta e uma camisa branca. Guardou?

    — Ótimo… — disse, seguindo para o ponto indicado.

    Lilac, então, se virou para o humano.

    O pedido foi especial, com cuidado.

    — E Viktor… Quero que fique perto da Arena.

    — Hã? Mas porque? Pensei que eu iria te ajudar indo com você para o norte.

    — Não quero que se envolva nisso.

    — O que? Mas… — ele olhou para o fundo, observando todos seguindo com o plano. — Eu quero ajudar, Lilac.

    — Por isso mesmo… — ela divagou, tomando cuidado com cada palavra. — Não sabemos como será daqui pra frente. Estamos procurando pelo Santino, mas ele pode aparecer aqui e você o conhece.

    Lilac, com carinho, segurou em um de seus ombros, com sinceridade em sua voz confiante:

    — Caso isso aconteça, não perca tempo explicando o que fomos fazer: diga para que se inscreva no torneio o mais depressa possível!

    Ela se posicionou a seguir, preparada para pôr em prática a procura.

    Para terminar, falou:

    — Tenho certeza que os Red Scarves sabem que estamos aqui e vão fazer de tudo para nos impedir.

    A confiança da garota foi o caminho para trazer um sorriso no rosto de Viktor, que entendeu a ideia.

    — Tudo bem, Lilac. Falei isso… — ele confirmou, acenando com a cabeça. — Sabe, é difícil não pôr “senhorita” antes de falar com você.

    — Hã? E porque tem essa dificuldade?

    — Eu te considero muito. Antes era só por você ser uma dragão, o que já significa muito pra mim. Mas agora, te vendo ter essa atitude, também é por você ser quem é.

    Esse comentário, simples e cheio de graça, pegou Lilac de surpresa.

    Mesmo diante de um desafio imenso, ela não sabia que restava alguém do grupo que poderia a motivar com pouco.

    Isso a fez abrir um lindo sorriso, encantada com o elogio.

    — Isso sim foi gentil — ela apertou as duas mãos do jovem, as sacudindo com força. — Eu realmente precisava ouvir isso. Obrigada, Viktor. De verdade!

    O rapaz ficou sem palavras, só aceitando o gesto carinhoso da garota.

    Mas, mesmo com a singela gentileza, havia uma missão.

    — Temos que encontrar o Santino, Viktor… — falou Lilac, se virando para a direção onde teria de ir. — Participar do torneio é nossa meta no momento. Só temos uma hora…

    Sem perder mais tempo, usou seu Impulso do Dragão com pouca intensidade, rumando para o norte.

    Viktor, ainda vislumbrado com o gesto dela antes de ir, pensou:

    — “Temos que entrar no torneio… e iremos! O Santino vai aparecer, cedo ou tarde. Tenho fé também, Lilac… Vamos conseguir!”

    A confiança era muita, mas não o suficiente.

    O canino, quinto membro do time de Lilac, precisava ser achado o mais rápido possível.

    Horário de término da inscrição: 10:00 PM

    Minutos depois…

    Arredores da Arena Shang Mu

    Hora atual: 09:15 PM

    Zona Norte

    Um quarto do tempo havia se passado.

    Ao mesmo tempo, o grupo chegou até seus destinos para tentar encontrar Santino Rock, o lutador canino.

    Correndo pelas vielas da área milenar de Shang Mu, Lilac tentava achar alguma pista ou até mesmo encontrar o próprio quinto membro por todos os cantos.

    — “Conheço Spade o suficiente. Ele fará de tudo para conseguir esse resquício da Jóia, ainda mais pelo tamanho que ela é. Se aquilo que Dail disse for real, a urgência dessa missão é ainda maior!”

    Os pensamentos da garota não eram à toa: ela tinha um compromisso enorme com a responsabilidade de cumprir o combinado.

    Não só isso:

    — “E tem o Viktor… Também devo cumprir com a promessa que fiz a Ying. E fico muito feliz que o Viktor esteja cooperando, sendo gentil até…”

    Era recíproco o respeito que ambos tinham um pelo outro, em especial Lilac.

    — “Ele é alguém que merece minha admiração… e farei de tudo para que não o envolva nos nossos assuntos.”

    Mesmo pensando, ela não se descuidou em procurar pelo paradeiro do integrante perdido.

    Nesse meio tempo…

    Hora: 09:20 PM

    Zona Sul

    Noah corria pelas ruas e, assim como a líder do time, estava procurando pelos arredores.

    Conhecedor da área, sua tipografia automática o trilhou por caminhos mais prováveis de esconder possíveis lugares.

    Durante seu rastreamento, entre levantou teses:

    — “Tudo isso que está acontecendo é muito estranho…” — pensava, continuando a correr pelas vielas estreitas e escuras da região. — “Lilac citou os Red Scarves. Então eles são a força por trás da ameaça global? Eles mal são vistos por Avalice… o que torna tudo mais crítico.”

    Mesmo pensando intensamente, tinha uma habilidade incrível de processar informações ao mesmo tempo: manteve o mesmo desempenho de atenção — era como se estivesse no automático.

    Sua suspeição o levou até um beco, mais escuro que os demais, já que era o local mais afastado e fechado de toda área milenar.

    — “Sei das características do canino que Lilac me passou, mas…”

    Seu pensamento foi cortado, pois sua percepção e senso especial lhe indicou que estava sendo seguido.

    Sem perder tempo, Noah olhou para a direção onde notou o incômodo, correndo para lá: era uma trilha estreita e bem escura, no meio de pequenos templos.

    — Quem está aí? Apareça! — ele gritou, mas não obteve resposta.

    Sua apreensão foi ressaltada assim que, de fato, viu um vulto cortando o espaço; virou sua cabeça e foi atrás da pessoa, que correu.

    — Pare agora!

    Sua respiração, ofegante e nervosa, lhe dizia que algo de errado estava mesmo acontecendo, confirmando a preocupação de Lilac.

    — “Droga! Eu me descuidei… Droga! Droga!”

    Pelas vielas escuras, Noah manteve sua perseguição, até chegar a uma parte da zona onde havia movimentação de pessoas, o que o pegou de surpresa.

    Ele estava tão imerso no rastreamento e em seus pensamentos que perdeu o fio da perseguição.

    Ele olhou em volta, transeuntes indo e vindo, boa parte seguindo suas vidas — era final de expediente e também de atividades nos templos.

    — “Tss… Eu perdi o rastro, mas tinha alguém me seguindo!” — Noah estava mais tenso. — “O que está acontecendo aqui… não é normal.”

    Frustrado, ele voltou a procurar por pistas, mas ressabiado.

    Tinha mesmo alguém o seguindo.

    Isso foi constatado: em um beco mais fechado, uma silhueta onde as sombras a mantinha anônima a qualquer um.

    E durante seu anonimato, eis que sua voz, feminina e firme, foi ouvida:

    — O alvo está à vista… — disse, falando a um celular. — Ele é astuto, como imaginava. Quase me viu, mas não obteve sucesso.

    Um diálogo foi iniciado, com o outro interlocutor comentando — inaudível.

    Mas a figura misteriosa deixou o contexto um pouco mais exposto.

    — Vou continuar, distante, o monitoramento. Tudo está saindo como prevíamos. Veremos como irão se sair…

    O papo parecia se relacionar com o time de Lilac, mas não ficou claro.

    E isso ficou ainda mais confuso após o comentário carregado de mistério da tal figura.

    — “Meu alvo é você… Noah Hibiki — enfim, o que mudaria a impressão veio em seu pensamento. — “Terá sucesso? Espero que sim…”

    Alguém estava seguindo Noah.

    Mas qual o porquê? E para quê?

    Mesmo com essas incógnitas, o tempo não parava.

    Mais intrigas pairavam no lugar.

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