Capítulo 92 - Colapso (Parte 1): O Legado Vaidels
Hora: 09:46 PM
Zona Sul
Na calada da noite na zona mais sofisticada, Noah continuava seu rastreio.
Usando seus conhecimentos de campo superiores, tinha a vida facilitada por causa disso, mas que não trouxe resultados até agora.
— “No que adianta conhecer cada centímetro desse lugar e não encontrar nada?” — frustrado, ele pensava. — “Se não encontrarmos o Santino, não haverá torneio para que eu consiga desenvolver o Triângulo de Kai… Droga!”
Não só isso, havia outros dilemas em sua mente:
— “Há muitos dias percebo que estou sendo seguido. Desde aquele dia que cheguei em Shang Mu…”
Antes que entregasse mais detalhes do passado, o albino viu traçar uma flecha verde, que cortou o ar logo acima.
Ninguém além dele reparou isso, o que chamou sua atenção no mesmo instante.
Dotado de inteligência acima do normal, olhou para o lado onde originou o arremesso, mas em vão: não havia ninguém, e isso lhe causou mais insatisfação.
Ignorando a frustração, foi ao encontro do projétil, que estava fincado em uma coluna de madeira no interior de uma viela escura.
Com cuidado, se aproximou, temendo que aquilo fosse alguma forma de atraí-lo para uma emboscada.
No local escuro, a tal flecha iluminava parcialmente o espaço coberto de breu, onde, preso a ela, continha um papel.
Assim que o pegou, a flecha energética se dissipou, deixando claro que foi intencional… o recado.
Noah, munido da folha, retornou às ruas iluminadas.
Sem perder tempo, leu:
— ‘Para o Leste. Agora’ — a leitura veio seguida por um grito — CAROL!
Ele ligou as linhas em sua mente, sabendo que cada direção os membros do time tomaram.
Noah deixou para trás as dúvidas de estar sendo seguido e também a missão.
Seja lá quem o tivesse avisado, ele sabia que algo envolveria a felina.
Muita coisa estava acontecendo.
A busca por Santino Rock continuava.
Enquanto isso…
Armazém de Vasos | Hora: 09:48
O “tic tac” do relógio era aflitante.
Carol havia sentido.
E forte.
Não era a toa a repetição. A redundância martelava a mente da felina, conhecida pelo bom astral e debochada nas horas vagas.
Mas, desta vez, víamos uma Carol diferente.
Como se estivesse em colapso.
Da pior forma.
Sendo assim, voltamos no exato momento que a gata verde reconheceu sua algoz, no interior do galpão de vasos.
— Hong Se?! — seu grito de surpresa foi alto. — Você aqui?!
A surpresa de Carol fez usar seus instintos felinos.
Brandindo suas garras, que brilhavam à luz da lua, se posicionou centrada na missão.
O silêncio da ninja continuou, em contraponto à urgência de Carol.
— Tá, cadê o cara? Cadê ele? — sua voz transbordava raiva. — Ia adorar te encher de moca até o sol raiar, mas tem um torneio entre esse desejo meu e a minha missão! Ninguém do Vaidels tem moral aqui!
A ninja, como a felina a chamou, também usava uma máscara, mas, ao contrário dos Gêmeos Carmesim, era fechada, mostrando somente olhos escuros.
Ela estava vestida por uma calça de cor rubra, blusa vermelha com mangas e um lenço de mesma cor.
Seus longos cabelos pretos destoavam do seu visual chamativo vermelho.
Sempre calada, isso gastava demais a paciência da gata selvagem, a irritando.
— Que foi? Vai ficar aí, calada? — ela já estava em base de luta. — Reencontro de “antigas amigas’ meio xoxo esse, hein…
Diferente das outras vezes, a gata selvagem sempre ficou a postos, como se conhecesse muito bem sua oponente.
Sua irritação só crescia, assim como a tensão.
Hong Se, dando um passo, falou:
— Traidora… — sua voz baixa era quase inaudível. — É até irônico… que se lembre do nome do legado que abandonou.
— Sem draminha shounen, por favor! — sua irritação ficou escancarada.
Sua fala baixa, quase sussurrante, e lenta deixava o momento ainda mais tenso.
— Onde te dói mais… é o meu objetivo.
— Como é? Que tu tá falando aí?
— Sua indisciplina. Essa é a prerrogativa de você, Carol Tea… que foi uma ótima Red Scarves, assim como Sash Lilac… sua rival. Você tinha potencial… mas jogou fora após abandonar o clã.
— Deixa de papo furado, punk! — Carol estava ainda mais irritada. — Dá teu recado e mete o pé!
— Estou aqui… para reclamar por algo que eu quero.
— Dane-se! Tô pouco ligando para o que você quer, Hong Se! — com os punhos cerrados, ela ameaçava atacar.
— Seu time irá falhar… assim como você, Carol Tea.
A felina sentiu novamente, mas não de um jeito ordeiro.
O sentimento? Terror.
Seu rosto, que sempre mostrava confiança e sagacidade, deu lugar a um mais sério e tenso, só que em um grau maior.
Ela, no fundo, estava ciente do porquê.
Carol fechou seus olhos, relembrando de momentos do passado.
Seus instintos lhe disseram, assim como suas lembranças.
— Tu sempre ficou presa nessa parada de “legado Vaidels” bla bla bla… Na boa: troca essa música! Já deu essa de ser ninjita controlada! Tu não vai conseguir nada com isso de mim!
— O que você conseguiu… na sua vida? — a ninja equilibrava uma kunai sobre seu indicador.
Como se estivesse brincando com o ego de Carol, ela falava com pausas, parecendo ter intenção de lhe causar reações:
— Sem uma razão, sem condições, sequer possui algo pra chamar de seu… além da sua miserável vida.
Carol não era o tipo de garota que levava desaforo para casa.
Ela sempre tinha uma resposta à altura, deixando claro sua fama de badgirl.
— Melhor do que ficar todos os dias bancando o capacho dos Red Scarves! — falou, como última palavra. — Já tenho o que preciso. Coisa que você nunca terá!
Hong Se, mesmo com pouco a falar, quando o fazia era para trazer o que tinha de pior.
Ela despertou em Carol o pior lado dela com suas falas.
— Conseguiu a liberdade… e eu vim tirá-la de você. Certas coisas tem um custo…
— Ah, tá. Aquela conversinha de “um dia a conta chega”. Sem piada dessa vez: pode vir! Mas vem com força, porque vou bater com força também!
Hong Se, que estava à frente dos Gêmeos Carmesim, delimitou a distância entre o passado e presente.
Frente a frente, o produto gerado pelo legado assumido e o negado pôs mais tempero a vindouro duelo.
O assoalho de madeira nobre onde estavam pisando era a testemunha… assim como o preço alto dos vasos em volta.
As reais intenções da ninja vermelha ficaram claras, principalmente para Carol, que se irritou em um nível nunca visto antes.
Mesmo com essa chuva de rancor demonstrada por Hong Se, Carol sabia que não podia perder tempo: ela correu contra sua inimiga declarada, visando desferir um chute em sua barriga.
A rapidez da gata era incrível, surgindo na frente dela, quase a atingindo.
Porém, a interrompendo, os gêmeos intercederam: como vigilantes, reagiram logo após o primeiro passo de Carol, saltando por trás da ninja líder, e agindo juntos contra a ameaça a sua mestre.
Seus deslocamentos geraram até um impacto, com Carol sendo obrigada a pensar rápido. Eles eram muito rápidos.
Assim que estavam próximos a gata selvagem, a golpearam com um chute sincronizado em seu dorso.
Foi um golpe poderoso, com o som pesado sendo ouvido, chegando a deslocar o ar.
Com todos no chão amadeirado, os ruídos das tábuas estalaram com força, acompanhando o ritmo das pisadas pesadas.
Cada avanço ressoava em “toc” o som seco cortando o ar a cada passo.
O ruído era assemelhado ao de um relógio enraivecido, cujos ponteiros, indomáveis, ditavam o ritmo tanto da luta quanto da missão.
O objetivo dos irmãos foi alcançado, mas parcial — eles precisavam afastar o perigo.
Como era astuta, Carol conseguiu se defender, evitando maiores danos, travando seus pés no piso de madeira, criando fricção suficiente para até criar pequenas faíscas de fogo.
Todavia, a inércia do golpe jogou para longe, se chocando contra caixotes cheios de vasos.
O estrondo agudo da porcelana fina foi grande, o que chamou a atenção de alguns dos galpões ao redor — haviam pessoas próximas terminando o dia de trabalho nas redondezas.
Surgindo dos destroços, ela retirava os resquícios de cima de seu corpo, furiosa com toda a trama.
— Tô com a agenda cheia, Hong Se… — a visão de Carol buscou a ninja. — Que tal trocação ‘um xis um’ entre a gente?
Aquilo era mais sórdido do que Carol poderia imaginar.
E piorou ao olhar para frente: uma imensa shuriken estava vindo em sua direção, proveniente de Hong Se.
— Isso não é uma luta… e sim uma execução.
O terror dominou o olhar de Carol, que entendeu ainda melhor o real objetivo.
Era um acerto de contas, por algum motivo que só ela sabia.
Centímetros antecederam que fosse atingida, onde dentro de seus olhos verdes se via a aproximação fatal do projétil.
— “Mas que meleca!” — pensou, tentando se posicionar contra a ameaça metálica que estava por vir.
Não haveria tempo para uma manobra evasiva apropriada e tentar aparar a imensa estrela causaria danos severos.
Entretanto, ela não estava sozinha em Shang Mu.
Como uma emissária da ironia, uma protetora sagaz e atenta às mudanças de ambiente, Milla surgiu no salão de forma triunfante, e sabia o que fazer.
Sem mais nem menos, a ajuda veio.
Tomando a frente de Carol, conjurou seus poderes de feixes, pondo seu repertório à vista de todos.
— Escudo Protetor!
Um poderoso escudo verde aparou a estrela ninja, evitando que fossem atingidas. Foi um fio de esperança oportuno que trouxe alívio à felina.
— Absolute cinema, Milla! Valeu! — falou, piscando para a canina e gesticulando com o polegar. — Deu zex makina poderoso, guria!
Uma reviravolta muito bem vinda, acompanhada por uma vibe revigorante.
— Você está bem, Carol? — disse, mantendo o escudo. — Desculpa ter demorado.
— Melhor agora, kawaiizinha, nyah! — ela lhe mostrou o polegar, em sinal de positividade. — Mas como que tu sabia que eu tava aqui?!
— Um moço me deu uma dica na zona Oeste… onde estava o Santino!
— Como é?! — com um salto, ele ficou ao lado de Milla. — Então o cara tá aqui mesmo!
A entrada triunfante de Milla foi uma boa jogada, deixando Hong Se um pouco mais incomodada, já que recuou na sua investida.
— Quem é ela, Carol?
— Uma frustrada que faz parte de um clubinho de assassinos louquinha pra fazer picadinho de Carol.
— O que?! — o susto de Milla foi autêntico. — Ela está tentando acabar com você?!
— É… Isso aí.
Contudo, ela se manteve no lugar, tendo o retorno dos Gêmeos Carmesim, protegendo sua retaguarda.
Desta vez a ninja do clã Red Scarves falaria um pouco mais.
— Perdedora… — disse, do mesmo jeito que antes.
Ficando de pé sobre um piso elevado no ambiente escuro, mostrou mais frieza:
— Jamais terá perdão… por abandonar seu legado.
— E você nunca vai ter liberdade! Enfia essa parada de legado bem no meio do armário do Spade!
Não era um momento como os outros.
Havia muito ressentimento nas vozes ouvidas no armazém de vasos finos.
Assuntos de anos atrás resgatados no pior momento possível, mas que Carol escolheu trazer de volta à tona.
— Escuta, Hong Se: tem linhas que Lilac e eu não cruzo. Não sou perfeita, mas nunca, nunca mesmo, vou servir de pau mandado pra ninguém! Tá ligada na trozoba que tua vida é? Tu é do mal, do pior tipo!
Desta vez, pela insistência, a ninja silenciosa ousou.
Calma e bastante fria, deixou suas palavras serem ouvidas mais uma vez, mas com mais tensão.
— Estamos em um outro patamar, Carol Tea…
Sua cadência das palavras era como um martírio, que ela fazia questão de usar:
— E nem você ou qualquer aliado seu tem chances contra os Red Scarves…
Hong Se pegou algo de sua blusa ninja, jogando contra a felina, que pegou ainda no alto.
Ela abriu seu punho, com o artefato sendo visto: era um dos brincos de Santino.
Uma evidência cruel, que trouxe a Carol ainda mais terror.
Enquanto olhava para o adorno, ouviu de Hong Se coisas ainda mais conflitantes.
— O meu objetivo já está completo, Carol Tea… e você é meu pagamento.
A gata selvagem, tomada por raiva profunda, ainda protegida por Milla, fechou seu punho apertando bem forte com o brinco do quinto integrante, uma simbologia grandiosa que guardaria por carinho… e rancor.
Milla arregalou seus olhos, pasma por tamanha maldade.
— O que… — ela começou a tremer, ao imaginar o que aconteceu. — O Santino… ele… O que você fez com ele?!
— Desgraçados… — desta vez era Carol. Sua ira a dominou. — O cara era inocente… ELE ERA UM INOCENTE!
A ninja parecia saber o que estava fazendo, sendo fria e calculista.
Ao entregar o utensílio do canino lutador, o último fio de esperança que Carol guardava consigo foi destruído, lhe tirando do sério.
— Milla, toma cuidado… — ela estava falando sério, diferente do que era. — Essa aí é podre por dentro e por fora!
— Tá bom! — a canina se colocou em prontidão, pronta para a luta. — Vamos lutar contra ela juntas!
Hong Se, munida de sua arma gigante, estava pronta para atacar.
Ela já mostrou que não tem compaixão ou qualquer sentimento misericordioso, uma ninja implacável e violenta.
Ela tinha um legado que aceitou com louvor, e que Carol negou com todas as suas forças.
Mas se havia algo como inimigo — o tempo: 09:53 PM — agora não lhe restava nada.
Santino… teve seu fim?
A derrocada do time estava por vir…?
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