Índice de Capítulo

    O clima misterioso deixado nas vielas da Zona Sul da Zona Milenial de Shang Mu trouxe marcas permanentes no desenrolar da história.

    Uma silhueta feminina, com uma voz silente e controlada, foi ouvida pelas sombras como sussurro do desconhecido.

    Seria uma terceira via?

    Aliada ou inimiga?

    O certo era que o tempo não parava e, implacável, trouxe tensão absoluta.

    O time de Lilac se movia, sabendo que cada segundo era importante.

    Sabido disso, a urgência continua.

    Enquanto isso, em outro lugar…

    Hora: 09:35 PM

    Zona Oeste

    Correndo pela área mais arborizada da região, Milla usava de seu faro para tentar encontrar algum rastro de Santino, mas sem sucesso.

    Mas ela estava longe de se lamentar ou se frustrar: se manteve focada em procurar por cada canto.

    Estando em um lugar com muitas árvores, era mais escuro, já que a vegetação encobria mais o ambiente, deixando tudo mais difícil.

    — Está um pouco difícil, e muito escuro aqui… — ela parou em uma área aberta, olhando ao redor. — Nessa parte eu consigo ver melhor, mas até agora não encontrei o cheiro do Santino.

    Apesar do pouco contato com o canino lutador, havia guardado seu miasma, natural de sua espécie.

    Como a pressa era muita, ela estava na dúvida entre prosseguir correndo ou buscar informação com algum dos transeuntes.

    Não eram muitos, estavam ao longe, mas era uma possibilidade.

    Porém, a surpreendendo, ouviu passos ao redor: caminhando até ela, era um lobo com pelagem avermelhada e com detalhes em branco, usando um traje de luta chinês.

    Ele também possuía uma tiara em forma de chifres, um quebrado, dando a entender que não era um simples lupino, talvez pertencente a algum clã.

    Nem isso foi motivo para que Milla perdesse sua doçura.

    O lobo, à frente dela, olhou bem dentro de seus olhos, como se procurasse algo.

    Ela, tranquila, não ficou calada:

    — Oi, moço. Posso te perguntar uma coisa? É que estou procurando por um canino que luta. Ele usa uma camisa branca e calça preta e tem cabelo com tranças. O senhor viu alguém assim?

    — Não… — respondeu, sem tirar os olhos da pequena.

    — Ah, tudo bem. Tá bom… — Milla se preparou para correr, logo em seguida.

    Mas não antes do lobo perguntar:

    — Garotinha, você vai participar do torneio, não vai?

    — Ah, sim! Eu vou! Só que… — ela mudou de semblante, mostrando preocupação. — Tenho que encontrar esse moço que te disse pra isso acontecer!

    — Hm… — ele fechou seus olhos, como se se controlasse. — Esse moço… acho que eu o vi sim.

    Milla arregalou seus olhos, ao mesmo tempo que cresceu sua animação.

    — Sério?! Onde? Onde? — a canina chegou a pular de ansiedade.

    — No leste… — disse, apontando para a direção. — Há, pelo menos, uma hora atrás…

    — Nossa, eu tenho que ir pra lá então! — falou, correndo para a direção. — Obrigada, moço! Eu sabia que alguém ia me ajudar! Tchau!

    Milla, pela pressa, não se conteve: usou seus poderes de feixes verdes.

    Ela desferiu um grande jato de energia para trás, que a impulsionou para frente, ganhando muito mais velocidade.

    O lupino viu aquilo, o que lhe trouxe “estranheza”.

    Não.

    Não era só estranheza.

    Era repulsa — da pior espécie.

    — Se ela tivesse conquistado esse poder… até seria respeitável…

    E um pouco mais: puro preconceito.

    — Uma Alquimista… — falou, mostrando irritação em seu rosto. — Como eu suspeitava… esse poder desnatural… um dom não lapidado! Uma vergonha para qualquer caminho marcial…

    Seu olhar demonstrou até nojo, dado o sentimento negativo que sentiu.

    Mesmo assim, agiu com frieza: ele pegou um celular do bolso e começou uma conversa.

    — Uma das amigas da dragão esteve por aqui… e eu passei a informação. Está tudo dentro do planejado…

    Sua fala pausada era de alguém bem centrado e doutrinado, mantendo a aparência.

    Após a ligação breve, ele guardou o celular e continuou seu caminho, sumindo sob as árvores que adornavam o ambiente oriental.

    Enquanto caminhava, murmurou com desdém:

    — O espírito da arte… é inimigo do artificial.

    Mas por que a atitude? Qual o motivo de sua repulsa à Milla?

    De qualquer forma, sua informação a encheu de esperança, a movendo a toda velocidade para o local indicado.

    O tempo, impiedoso, não parava.

    Ao mesmo tempo, em uma outra área…

    Hora atual: 09:42 PM

    Zona Norte

    Lilac, sempre correndo, passava a toda velocidade perto de pessoas que estavam transitando pelas dependências da Arena Shang Mu.

    Por estar em um local residencial e de práticas de artes marciais, seu vulto lilás realçado pela escuridão tinha um brilho quase como o de uma estrela, que causou fascinação em alguns dos transeuntes.

    Esse detalhe passou a atrapalhá-la, já que curiosos paravam para a observar.

    — “Estou chamando muito a atenção…” — ela percebeu, diminuindo o ritmo logo a seguir. — “Toda essa gente junta é mais uma dificuldade para investigar… e eu não tenho muito tempo!”

    O local, limpo e com farta área aberta para caminhadas, e que também continha templos diversos, não era barulhento.

    Pelo contrário: as práticas de meditação eram o principal evento naquela hora da noite.

    A decisão da garota foi muito acertada.

    Todavia, seu cuidado não trouxe resultados, já que o paradeiro de Santino era uma incógnita.

    Sua presa era ressaltada.

    — “Não posso abusar da velocidade e também não posso perder tempo… É uma situação complicada a que estamos!”

    Durante sua sina por pistas, Lilac precisou se esquivar logo após cruzar uma esquina: tinha alguém caminhando, o que a fez evitar o choque no último instante com um incrível salto.

    Ele, surpreso, a observou, não esboçando nenhuma outra reação.

    Mas a jovem sim.

    — Ah, nossa… — ela aterrissou, tendo o cuidado de consertar a situação. — Peço desculpas por ter te assustado!

    O máximo que Lilac causou foi lhe tirar o manto que cobria o rosto, mas que o panda não fez questão alguma de voltá-lo para o lugar.

    Ele vestia, além do manto marrom, uma calça branca de moletom, sapatilhas de combate e uma blusa com manga longa de cor vermelha.

    O panda, que tinha olhos azuis e um longo cabelo preto, ficou impressionado com a performance da dragão.

    — Bons reflexos, moça… E certo talento também… — disse, sem lhe tirar os olhos. — Poderia dizer que você sabe lutar… mas…

    Porém, a pressa de Lilac era maior que a vontade de ficar e responder a pergunta.

    Ela, educada, deixou isso claro:

    — Olha, desculpa… Mas eu preciso mesmo ir. Queria conversar mais sobre isso, mas se eu não correr, não vou poder disputar o torneio.

    Ela tomou a posição para um novo impulso, com a urgência consumindo.

    Mas não seria tão fácil deixar o lugar sem antes algumas respostas.

    Principalmente porque o panda não ficou calado:

    — Odeio essa sua postura. Aposto que pratica um só caminho…

    — Hã?! Bem, você quis dizer “uma arte marcial”, não é?

    — Sim. Se limitar a uma doutrina e respeitar suas normas… — Ele continuou, com um tom de arrogância em sua voz. — Ter tudo na mão e se sujeitar a isso… é patético.

    Esse comentário vago chamou a atenção de Lilac, que o confrontou.

    — Porque você disse isso? — ela se voltou a ele com seriedade no rosto. — O que quer dizer?

    — ‘Conserve um só estilo e colha o esperado, mas cultive vários outros e seja um vencedor’… — seu olhar provocador tinha esse interesse. — Dragão, pense bem antes de entrar nesse torneio. Deveria desistir, ignorar que o Tormenta existe… e reconhecer sua inferioridade como artista marcial.

    Mesmo com pouco tempo, o que ela viu ao olhar para o celular, ficou claro que Lilac iria responder a altura — até um pouco além.

    — Idiota, eu não me importo com o que você pensa! — ela lhe deu as costas, se virando para o outro lado da zona. — Não tenho tempo para esse tipo de papo!

    Lilac estava concentrada na missão, conectada no mais profundo senso do dever e responsabilidade.

    Seria uma resposta a altura e adequada ao momento, para que deixasse claro para a pessoa que estava sendo inconveniente.

    Porém, não seria tão fácil: o panda se colocou à frente de Lilac, em base de luta.

    Ela, confusa, se manifestou:

    — O que pensa que está fazendo?!

    — Uma luta… — ele apertou com força os seus dois punhos. — Para que me mostre esse seu “caminho único” que tanto valoriza.

    — O que?! Você está louco? Eu não tenho que lutar contra você, cai fora daqui! — ela gesticulou, apontando para o outro lado.

    — Privilégios como os seus devem ser reclamados… pelos punhos dos que anseiam por um lugar digno!

    — Do que você está falando?!

    Poucas palavras, muito mais ação: o panda investiu com tudo contra ela, desferindo fortes socos em sequência. Lilac quase foi atingida.

    Seus dotes como velocista foram bem úteis, evitando o pior.

    Mas, mesmo neste cenário, ela evitou o conflito, só se esquivando, confusa, do ataque inesperado do lutador errante.

    Um anônimo, que nunca viu na vida, estava clamando por batalha.

    Mas porquê? O que estava acontecendo?

    Enquanto isso, as coisas em um outro lugar ocorriam ao mesmo tempo.

    Hora: 09:40 PM

    Zona Leste

    Sob o alto de uma das torres de um templo erguido no meio dos prédios mais densos da zona, Carol observava com maior clareza.

    Como Lilac comentou, ela tinha a facilidade de usar suas garras como uma ninja, sem chamar a atenção dos proprietários.

    Atenta e apressada, tentou como nunca achar pistas.

    — É, tá brabo… — murmurou, descendo do prédio. — Já tava pensando que meu filme tava queimado com a Lilac por causa do Santino. Só que agora o camarada tá numa treta que nem ele é. Mó vacilação…

    Aterrissando, concluiu que naquele lugar não havia muito o que ver.

    Escuro e de difícil assimilação, a gata selvagem tagarela confiou nos seus próprios instintos para encontrar algo.

    Nesse meio tempo, recorreu ao básico:

    — Lilac? — falou, contactando pelo ponto eletrônico em sua orelha. — Tá aí, divalinda?

    — Carol, não é uma boa hora… — a dragão foi direta, dada a urgência. — A-achou alguma coisa?

    — Ia te fazer essa mesma pergunta!

    — Ok, então a minha resposta é não, que deve ser igual a sua! — gritou, onde deixou vazar alguns ruídos de luta corporal. — Droga…

    Isso causou estranheza em Carol.

    — Aí, que tá rolando?!

    — Ah, se preocupe com a missão, Carol! Eu… eu vou dar um jeito! Temos pouco tempo!

    Lilac desligou… e coisas sinistras estavam acontecendo por toda a Zona Milenial.

    — É uma titica mesmo. Tá tenso o bagulho…

    Carol analisou a situação, voltando à ronda.

    O local era ainda mais quieto e vazio que a das outras zonas.

    Explicando melhor, a zona Leste era a região de armazenamento de vários utensílios utilizados nos demais templos habitados da Zona Milenial de Shang Mu.

    Haviam muitos galpões e armazéns, mesmo que com a fachada oriental.

    Já era tarde e o expediente do grupo docente do lugar já havia ido embora.

    Por causa disso, a corrida ritmada de Carol era constante, facilitando o rastreio de evidências.

    O único porém era que não as haviam.

    E essa situação só deixava Carol ainda mais irritada.

    — Caraca! O que vamo fazer?! — ela corria, enquanto olhava para todas as vielas do lugar.

    A felina, no fim de um dos corredores, executou um salto, visando passar por sobre um dos templos menores para cortar caminho.

    Uma manobra simples, que dominava muito bem.

    Contudo, ao efetuar a acrobacia aérea, eis que outras duas pessoas surgiram ao seu lado e no ar, realizando, como se fosse sua sombra, o mesmo movimento arrojado.

    — Mas o que… — a surpresa dela veio acompanhada por uma constatação. — Gêmeos Carmesim?!

    Eles usavam máscaras vermelhas, que lhes cobriam todo o rosto, com o único detalhe que os diferenciam um do outro: o olho direito de um e esquerdo do outro são visíveis, com os restantes da cor preta.

    Também utilizavam lenços vermelhos enrolados em seu pescoço.

    Era o que Carol queria.

    — Beleza, então! Tava na hora de ter treta! Adoro isso!

    Os dois, ao mesmo tempo, arremessaram várias kunais contra a gata que, em um momento de extrema destreza, usou suas garras afiadas para evitar ser alvejada.

    Teve sucesso, para cada um dos projéteis.

    Sem parar ao aterrissar, Carol precisou manter o ritmo para segui-los, pois tentavam fugir de sua visão.

    — O que vocês tão fazendo aqui, seus pintores de rodapé?

    Eles nada falavam, mas a provocavam rindo dela.

    Um engodo, sem que ela suspeitasse, por ser impulsiva demais.

    Hora: 09:45 PM | O tempo era seu maior inimigo

    Sabendo das responsabilidades, isso tirou a razão da gata, que foi ao encalço pelos estreitos corredores, ignorando os perigos.

    Eles se aproveitaram da facilidade e adentraram em um dos balcões, antes que Carol pudesse acompanhar.

    Assim que também entrou no espaço, lá dentro não os encontrou, mas sim muitas outras coisas: vasos de mármore fina e bem cara.

    — Ah, qual foi? Tá certo que tenho orelha pontuda, garras afiadas e sou verde, mas essa piadinha é ridícula! — tagarela como sempre, mas a tensão voltou a seguir. — Não tô com tempo pra pique esconde! Vocês não são tão covardes assim, então… Vamo tretar!

    Ela entrou ainda mais, caminhando com mais precaução.

    Carol sabia que os Red Scarves não eram confiáveis.

    — Ouviram? Vocês são traiçoeiros! — gritou, fazendo ainda mais barulho. — Vai, duplinha do mal. Mete a cara aí pra gente trocar um lero… Agora!

    Ela teve seu desejo atendido, mas não do jeito que queria: não só os Gêmeos Carmesim surgiram, mas também outro Red Scarves.

    Por ser ex-membra, a gata sabia exatamente o nome de cada um deles… e da nova figura.

    Ver a nova persona à sua frente, sem que esperasse, foi um golpe poderoso do inusitado, quase como um mal agouro encomendado.

    Aliás, muito tem acontecido na noite, tão sinistro quanto.

    A gata, ao ver quem os liderava dessa vez, arregalou seus olhos, ficando com um semblante mais fechado que de costume.

    Carol não tinha o terror nos olhos, mas a preocupação lhe cobriu como um cobertor no frio.

    Mas que, pelo contrário, a encheu de tremor, lhe ouriçando os seus pelos verdes.

    Ela parecia ter visto um fantasma.

    Pasma, Carol não ficou calada.

    — Hong Se?!

    Ela disse um nome cheio de nostalgia, mas amargo em um ponto bastante indigesto.

    A felina não tinha ciência do que estava acontecendo, mas sabia que, com certeza, um embate feroz aconteceria a qualquer momento.

    Seu olhar, temeroso e rúbio, era uma analógica a sua incredulidade.

    Ela sentiu.

    E forte.

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