Índice de Capítulo

    Hora: 09:50 PM

    Zona Norte

    O clima estava bem tenso na zona mais abastecida da Zona Milenial de Shang Mu.

    Lilac lidava com um lutador disposto a duelar, desafiante cuja ideologia queria ditar o que era certo sobre o errado.

    Com vários observando a iminente luta em plena praça, a jovem tentava evitar a peleja, com o panda à sua frente.

    Alguns dos populares passaram a entender o ponto de vista do panda, construindo em seus pensamentos uma rivalidade velada entre os dois.

    “Ele está certo! O panda aí merece seu lugar!”

    “Todo lutador é um lutador! Não o menospreze!”

    “Deixa o moço ter seu momento também!”

    Essa era uma das sentenças que o povo, afoito, começava a inflamar.

    Para a dragão, era um sério atraso à missão.

    — Não tenho tempo a perder! Muito está em jogo… e não tenho que lutar contra ninguém! Parem com isso!

    Enquanto ela dialogava, pensando, não perdeu o foco:

    — “Se eu não correr, não vamos encontrar o Santino Rock e… Essa comoção toda de gente só está piorando a situação!”

    Essa não era a opinião do panda:

    — Você não tem escolha, dragão! Seu legado único deve ser testado. Ou admite que seu caminho simplório não se compara à supremacia do meu?

    — Legado?! — Lilac estava confusa, mas começava a entender. — Essa sua vontade de lutar tem a ver com o que eu fiz na minha vida, é isso?

    O anônimo não estava disposto a deixar Lilac ir sem antes fazer sua vontade.

    — Você tem habilidades especiais impressionantes, mas renega seu potencial em me mostrar o que sabe fazer. Isso é uma forma de menosprezo… como muitos aqui perceberam!

    — Não tenho interesse algum em menosprezar as pessoas! — indagou Lilac, mostrando seriedade em sua fala. — Pare de pôr palavras na minha boca! Você só está me fazendo perder tempo…

    A garota até tentou sair do local, sendo impedida por uma das pessoas simpatizantes com a causa do panda:

    — Dá pro moço o que ele quer, mocinha! — um texugo andarilho falou. — Vocês mais jovens gostam de diminuir os mais velhos.

    Lilac só ignorou o pedido, ficando em silêncio. Ela não queria envolver pessoas inocentes em um ataque sem sentido de um anônimo perturbado.

    Foi quando o anônimo, enfim, respondeu:

    — Quero te testar.

    — Hã? Mas por que?

    — Saber até onde você reconhece quem quer ter o seu lugar, Sash Lilac.

    Ele sabe o nome todo de Lilac.

    Isso mudou a forma que ela levava a conversa.

    E o panda, a surpreendendo ainda mais, foi além:

    — Você traiu pessoas no passado, não reconheceu seu legado… — disse, armando uma base de luta. — Agora, munida de habilidades especiais, se nega a ser testada por um “simples lutador” que só quer um lugar ao sol.

    Lilac não ficou calada. Sua dúvida se somou ao fato de desconfiar dos conhecimentos do panda sobre sua vida.

    Desta vez ela mostrou reações, franzindo sua testa e mudando seu semblante: não só curiosa, mas também irritada, como ela deixou claro em sua voz:

    — Ok, isso já está passando dos limites. Você está insinuando coisas da minha vida e também do meu presente… e isso está mesmo me incomodando! — ela foi tomada pela curiosidade — Quem é você?

    — Um lutador… que, desculpe a falta de modéstia, é melhor que você.

    — Isso não responde minha pergunta! Quem é você? Qual o seu nome… e por que está tão interessado na minha vida?

    — Me mostre que você está certa na sua sina de lutador, dragão! Ou não é capaz disso? — ele a atacou, onde lançou um violento chute contra seu rosto.

    Lilac, no puro reflexo, se esquivou para um dos lados, com sucesso.

    Mais outros dois vieram, desviados.

    E ele, ainda falador, continuou a provocá-la:

    — Um lutador como eu tem condições de te diminuir e fazer de você um símbolo do meu caminho! Sash Lilac, você não mereceu nenhuma das oportunidades que teve na sua vida!

    Ele tentava provocar, o que trouxe a Lilac um possível ponto sem volta.

    A missão se tornava, cada vez mais, um martírio.

    — Estou em uma missão importante! — falou, se esquivando dos golpes do panda. — Nenhuma luta está acima do meu dever!

    — Seu dever? Baseia deveres como algo que só você é a predestinada a tê-lo? Tolice! — disse, tentando acertá-la com um soco.

    A facilidade de Lilac evitar os golpes não era a mesma de evitar ouvir a conversa pouco produtiva e contida de mistérios acerca do anônimo panda.

    Ele insistia na ideia de manter as entrelinhas, como se fosse uma estratégia contingente.

    — Pessoas como você querem sempre justificar algo… assim como as coisas que você fez na sua vida!

    Ele não saía da frente e mais pessoas chegavam. A exposição era muita.

    O povo, em volta da situação sem controle, marcava burburinhos aos montes, sejam dos entusiastas do panda ou desavisados expondo suas opiniões.

    — “Porque sinto que algo de muito ruim está acontecendo?” — mais sensível, Lilac passou a perceber detalhes, sejam físicos ou além disso. — Ele… esse panda… roupas vermelhas?!”

    Ao perceber este detalhe, sua mente foi longe, já maquinando absurdos.

    Ela até mesmo olhou ao redor, temendo pelo pior e sabendo que cada segundo perdido eram passos para trás na sua missão de se inscrever para o torneio.

    Aliás, encontrar Santino se tornou prioridade faz tempo.

    Os pensamentos da dragão trouxeram várias questões.

    Seu suor deixava evidente a urgência e o nervosismo latente, chegando a trincar seus dentes, denunciando seu estado emocional.

    A missão estava caminhando para o fracasso.

    Como um vitral fragmentado, as frentes que se dividiram para encontrar Santino Rock multiplicavam-se de problemas e dúvidas, em um ciclo de caos sem controle.

    Não importava em qual direção estivessem, o limbo de insatisfações e derrocadas só aumentava.

    Sendo assim, a epopeia conflituosa continua.

    Cheia de reveses, tempestuosa e incontrolável.

    Em outro ponto da Zona Milenial…

    Zona Leste

    Hora: 09:51 PM

    Armazém de vasos

    O embate contra os Vaidels, ramificação do clã Red Scarves, continuava, terrível e sem perspectivas de vitória por parte de Carol e Milla.

    Enquanto, juntas, evitavam uma saraivada de kunais arremessadas pelos Gêmeos Carmesim, sua líder, no ápice de sua intromissão, estava com imensa vantagem.

    Hong Se, com um simples movimento ofensivo, apareceu à frente de Milla, golpeado com força usando sua shuriken gigante.

    O escudo da canina era muito resistente, mas a assassina era poderosa, chegando a criar faíscas a cada golpe.

    Milla, testada como nunca, chegou a recuar um passo, pela pressão imensa que os golpes tortuosos e potentes da ninja causavam a cada lampejo de sua fúria fatal.

    Carol não ficou só olhando, caindo na ação desenfreada: a gata selvagem desferiu um chute contra a ninja, que se defendeu com um dos braços.

    — Mediocridade. É isso que você se tornou…

    Hong Se falou cedo demais: desferindo vários outros chutes, a felina mostrou a ela que era mais forte e habilidosa do que imaginava.

    Com toda certeza, a gata verde entregou tudo de si para tirá-la de perto de Milla.

    Dotada de grande força física unida com sua habilidade felina, Carol combinava explosão com rapidez, estratégia que estava trazendo resultados: seus chutes sequenciais — incríveis 18 em menos de 5 segundos — estavam fazendo Hong Se recuar.

    Mas não seria tão fácil.

    — Gêmeos… — ela chamou pelos irmãos.

    Como agentes de suporte, eles destilavam muito mais da pane caótica da luta.

    A ordem fez com que a dupla surgisse e, munidos com uma corrente, os dois conseguiram enrolá-la na gata. O ataque surpresa foi efetivo nesse ponto.

    Eles, com esse artifício, conseguiram levar Carol para o outro lado do salão.

    Ela foi jogada com violência contra o chão, onde seu corpo chegou a quicar, levantando a poeira do assoalho nobre de madeira.

    Já farta de tanta importunação, deixou bem claro esse seu sentimento aos irmãos:

    — Vocês são o tipo de peste que me fizeram meter o pé dos Red Scarves! — ela se levantou, para evitar ser atingida.

    Ela estava sendo testada ao máximo, com os ataques terríveis dos gêmeos: mais kunais arremessadas, com ainda mais quantidade.

    Com um sincronismo impressionante de seus golpes, não dando muitas chances para Carol contra atacar, os gêmeos eram um empecilho para que a gata conseguisse raciocinar.

    Enquanto Carol afundava ainda mais, lotada de pura mágoa e derretimento de seu brio, Milla agiu como a contraparte que ainda tinha razão.

    Sabendo da ligeira desvantagem e com a luta sob domínio de oponentes poderosos, tentou equilibrar as coisas:

    — Lilac! — ela tentou sua amiga, enquanto lutava pela vida — Hã?! Porque ela não responde?!

    Sua inocência era uma de suas principais características: Milla não percebeu que Hong Se já preparava o mesmo truque usado em Shuigang1

    O resultado: não havia sinal onde estavam.

    Hong Se pensou nisso e ativou o mesmo recurso da divisão do Reino dos Pandas:

    — Ruby Scarlett foi perspicaz… mas ela não tem o mesmo talento que o meu.

    Não só a canina como Carol também tentou entrar em contato com sua amiga dragão, sem sucesso.

    — Meleca! — ela apertou seu ponto eletrônico também. — Eles fizeram isso de novo!

    Era um cenário aterrorizante, fora do controle e com iminência de um final trágico.

    Um ruído agudo foi ouvido: era a espada de Hong Se sendo retirada da bainha.

    Aquilo soou como um ritual, uma ruptura do silêncio que se tornou no local, marcando o início da escalada insalubre da natureza mortal da ninja.

    — Hora de reclamar do que é meu de direito…

    A ruptura emocional de Carol só aumentava.

    Bruto e insaciável.

    Contudo, não era o único lugar com tramas soturnas.

    Longe disso: era um amontoado de eventos paralelos que trilhavam o destino do time por um caminho cheio de provações.

    Em um outro lugar, na Zona Leste, próximo do armazém repleto de incertezas, outros entraves ocorriam.

    No lado de fora correndo a toda velocidade estava Noah, que se aproximava do centro da área convergente da Zona Milenial de Shang Mu.

    A localidade, escura por causa da baixa luminosidade, guardava desconfiança dos transeuntes que por lá estavam — trabalhadores e monges que terminavam seus afazeres.

    “O que está acontecendo?”

    “Eu ouvi ruídos estranhos do armazém…”

    “Acho que devemos chamar a guarda!”

    Eram algumas das questões e indagações da comunidade naquela noite cheia de rupturas.

    Longe da visão das pessoas, o albino viu que o lugar ecoava boatos, como se houvesse algum tipo de celeuma nas sombras.

    Foi nesse instante que ele percebeu algo no ar — próximo do baque emocional que Carol e Milla estavam passando.

    — “Essa sensação…” — ele passou a caminhar, cuidadoso. — “Sinto uma pressão no peito, isso incomoda…”

    Sua percepção trouxe resultados, que ainda não conseguiu decodificar: pôde ver uma intensa movimentação no interior do local.

    Uma viela, escura e sóbria, por onde corria uma brisa fraca, mas que trazia consigo um odor de mistério e desolação.

    Todavia, seu senso estava aguçado e viu um pequeno movimento: indivíduos mascarados rondando a área.

    Eles travavam a cor vermelha, mas não como os Vaidels.

    Noah desconhecia essa diferença.

    — “Droga…” — ele se escondeu a tempo atrás de uma parede. — “Não me viram, mas… Quem são eles? Será que…”

    Com isso, usando seu poder de dedução, escolheu o elo mais duvidoso — ele usou sua inteligência.

    — “Lilac falou sobre os Red Scarves… então creio que sejam eles. Mas porque estariam aqui neste lugar?” — ele ligou os fatos.

    Noah pegou as sentenças guardadas em sua mente, chegando a hipóteses:

    — “Alguém me mandou aquela mensagem, Carol está por aqui na Zona Leste… Isso me leva a crer que tudo isso está interligado!”

    Ele escolheu a cautela, se aproximando de uma entrada: ela dava para o subsolo.

    — “Procurar por Carol ou entrar neste lugar? Droga… Seja qual for a minha escolha, ela pode influenciar o desenrolar de tudo! Sem Santino não conseguiremos participar do torneio, mas Carol pode estar em perigo…”

    O jovem não poderia demorar, o tempo era um inimigo implacável.

    Sem perder tempo, adentrou, sabendo que a escolha poderia mudar o panorama.

    Para o pior ou…?

    — Na e lagonaina le mamafa? O lou mana’o e tau…

    Em sua mente, em seu interior mais profundo, aquela voz sussurrante e maldita ecoou.

    Noah entendeu…

    “Você sentiu a pressão? É seu desejo por luta…”

    Isso gerou desconforto ao jovem, que se descuidou: um dos mascarados notou certa movimentação, o que forçou Noah a se esconder em umas outra parede, evitando ser pego.

    Ele, acuado, ouviu passos, leves e espaçados, do indivíduo que o procurava.

    Por sorte, ou ironia do destino, a ameaça se deu por entender que não havia nada e, para alívio do mestiço, voltou a seu posto.

    O suspiro veio a seguir, mas longe da paz.

    Noah tinha algo dentro de si, como um mensageiro oriundo do desconhecido.

    Tais notícias eram tão pavorosas que a economia de palavras era necessária.

    A redundância martelava: Colapso.

    Uma emoção ofensiva, que cegava o maior do indivíduo, seja qual fosse seu nível.

    A ignorância norteava o ser; o conhecimento o golpeava com a razão.

    Diante dessas incertezas, voltamos ao armazém de vasos, onde tudo ocorria dentro do avanço temporal simultâneo

    A hora: 09:53 PM.

    Lá, o desenrolar maldito ganhava ares angustiantes.

    Aquilo seguiu minando o brio de Carol, se sentindo culpada pelo fatídico indício do que fizeram a Santino e, ao Hong Se brandir sua espada, piorou a situação.

    Milla, aproveitando uma abertura, executou uma sequência de chutes contra Hong Se, que os evitou sem maiores problemas, esquivando de cada um deles com passos categóricos laterais.

    Ao fim, com a canina em base de luta, ela falou:

    — Criança, não há valor algum… em te eliminar. Fuja… É sua última chance.

    — O meu lugar é ao lado da Carol! — sua fidelidade era exemplar.

    Só essa frase já foi o suficiente para acender a faísca no coração da felina.

    Porém, ela sabia que a escolha teria um preço, talvez alto demais.

    — Milla, mete o pé daqui! — gritou Carol.

    — Eu nunca faria isso! — sem desviar o olhar da ninja, ela falou.

    — Pô, tu não tem noção do perigo! Pode deixar que eu cuido desses desgraçados!

    A exposição do emocional ruído de Carol foi concretizada.

    Por mais que ela tivesse algo que nenhum dos Vaidels possuía — a amizade genuína — o grupo não tinha escrúpulos.

    — Criança tola… — disse Hong Se, olhando para Milla.

    Em um movimento rápido, ela arremessou contra a pequena uma mísera shuriken. O ruído seco foi ouvido, com Milla tendo o estímulo mínimo para defender sem maiores dificuldades com seu escudo de feixes.

    Isso foi um engodo.

    Milla, por mais que tivesse habilidades especiais mirabolantes e incríveis, não tinha maldade no coração e muito menos pensamentos impuros.

    Diferente de Hong Se: ela usou de estratégia e tirou sua atenção, tempo suficiente para surgir por trás dela, como toda ninja assassina faria.

    — Técnica de imobilização: Talaske.

    Com um simples toque nas costas de Milla, Hong Se fez criar uma soma de energia.

    Um som áspero de ondas sonoras espaçadas propagou-se pelo ambiente, chegando a atingir o solo — até farpas de madeira reagiram, sendo suspensas no ar.

    Essa energia se expandiu, cobriu o corpo da menina, a imobilizando totalmente.

    Somado a isso, a ninja pôs a lâmina da espada próximo a seu pescoço, tomando para si a custódia de Milla.

    Um flashback momentâneo cortou a mente de Carol, lhe trazendo uma imagem, um dejavu indigesto.

    Ela viu uma situação parecida, desde que Lilac e ela eram Red Scarves… onde a vida e a morte surgiram como escolhas, delimitando o existir de um inocente.

    Após a breve visão, Carol gelou, com as mãos trêmulas mostrando seu nervosismo literal, ficando tão imóvel quanto sua amiga, e não poupou no seu grito desesperado.

    — SOLTA ELA, HONG SE!

    — Renda-se.

    A ninja foi direta e seca, dando a exigência.

    Carol não pensou duas vezes: ele se ajoelhou e levantou seus braços.

    Os Gêmeos Carmesim a prenderam com a corrente, deixando a felina imobilizada por completo.

    Neste cenário, a gata verde, irritada, gritou:

    — Tu já conseguiu o que queria! Solta ela!

    — Não.

    A simples resposta soou como um ato de execução. Carol entendeu com o pouco que estava prestes a perder muito.

    Seu olhar atônito, deixou claro sua plena interpretação.

    A traição. Palavras vagas. Promessas quebradas. Um caráter sujo e baixo.

    Esse era seu sentimento.

    O fundo de seu colapso.

    — Não faça isso, Hong Se!

    — Como eu te disse: eu te atacarei… onde dói mais.

    O fio da lâmina da ninja parecia causar um dano à alma de Carol.

    Como nunca antes em sua vida, sentiu o terror de ter alguém tão importante estar prestes a encontrar seu fim.

    Bem na sua frente e incapaz de fazer alguma coisa a respeito, viu escorrer lágrimas dos olhos inocentes de Milla, que sequer conseguia se mexer, muito menos esboçar alguma emoção.

    A técnica de Hong Se que a imobilizou causou ainda mais angústia.

    A ninja até a privou de esboçar emoções.

    Um ato cruel e frio, que parecia se orgulhar.

    O pior cenário possível.

    1. Nota: como visto no Capítulo 28 – O desafio da Kunoichi: luta em Shuigang[]

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