Olá, leitor.
Está gostando da história até aqui? Fico feliz que esteja curtindo.
Há um ano atrás comecei aqui no Illusia (Vulcan) um pouco receoso. “Nossa, ele está escrevendo uma novel baseada em um jogo Indie bem nichado e com personagens antropomórficos.” era uma de minhas indagações internas, que me impediam, a princípio, de expôr minha obra.
Mas o tempo foi passando e, a cada capítulo publicado, percebi que muita gente estava interessada, mesmo sem reagir ou comentar.
Os views foram aumentando, mais do que eu imaginava. Superaram minhas expectativas com muita folga. Em outras plataformas, mal atingiu 2k views em 3/4 anos.
Mas aí percebi que o Illusia é um lugar diferenciado. As obras são degustadas com um paladar sofisticado, por leitores mais assíduos por histórias, sem preconceito e que se importam com o escritor.
Eu gostei disso.
Então, em um capítulo muito especial, presenteio a todos com o capítulo número 100 de Freedom Planet: Faith and Shock.
Agradeço imensamente pela audiência (views) e atenção. Sem vocês, eu não chegaria a uns marca tão significante na minha vida de escritor. Seus views são um combustível poderoso.
Muito obrigado! De coração.
Um agradecimento especial para meu primeiro “agenciador” OUmaMão (que já não faz mais parte do staff do Illusia). Cara, você é lendário! Tudo de bom para você!
Bem, deixo aqui um capítulo um pouco mais longo, mas especial.
Boa leitura.
Capítulo 99 - Alma Etérea
“No Kiai ressoa a voz da essência; não é apenas grito, mas o eco do espírito que rompe o véu da matéria.
Cada pulsar de energia transcende o corpo e invade o espaço, tornando-se lâmina, muro e ponte.
Quem domina o Kiai não apenas ataca, mas convoca o cosmos a testemunhar sua presença.
Cada som carrega a memória de quedas, suor e disciplina, projetando não só força, mas a consciência de quem domina a si mesmo.
O Kiai revela o caminho percorrido: um fio invisível que une corpo, espírito e intenção, e faz do golpe uma oração e do combate uma meditação em ação.
Essa é a essência do carateca.
Seu grito é seu legado.”
Uma das essências do Karate-Dō (空手道)
O Caminho das Mãos Vazias
Arena Shang Mu | Área externa
Hora: 09:55 PM
No local mais urbano, Viktor precisava lidar com um desafio maior — o kiai fortificava lutadores, mas não parava o tempo.
— Droga! O que eu vou fazer?
O desespero atacou Viktor com força, tendo em vista o pouco tempo que estava e, o pior, a falta de notícias do seu time.
— O Santino não apareceu até agora! — exclamou, correndo um pouco mais à frente das proximidades da arena. — Cadê a Carol? Milla, Noah…? A senhorita Lilac? Ninguém voltou e o tempo está acabando!
Ele estava mesmo descontrolado.
Perto dele, preocupada, estava Tats, que não demorou em ir a seu auxílio.
— Viktorius, acalme-se!
— Senhorita Tats, meu time precisa inscrever o Santino Rock o mais depressa possível e ninguém apareceu!
— Ligue para eles!
— Sem chance! Meu celular não funciona aqui.
— Nossa, isso é mesmo um problema.
Vê-lo daquela forma tão aflitante moveu a felina até ele.
Ela parou na sua frente, o fitando.
— Eles não chegarão aqui antes das dez. Reconheça isso, Viktorius Ashem!
— Se-senhorita Tats, não diga isso! — ele estava falando sério.
— Eu respeito sua confiança na amizade entre vocês. Mas o que estou me referindo é unicamente a você!
— Hã? Como assim?
— O tempo está passando, ninguém à vista de seu time. Você está incomunicável…
— Mas o que… — sua pausa foi causada por Tats.
Não foi uma mera interrupção.
— O tempo está acabando! — ela gritou, muito mais alto que o do rapaz mais cedo.
Até a poeira do piso de granito fino da região levantou, quase como uma revoada de insetos.
Viktor sentiu no corpo a vibração de sua voz, indo até a alma.
Tats lhe entregou só os fatos:
— A única coisa que você precisa fazer é lutar contra o que te impede! Você é um lutador, será que não enxerga isso?
Ele gelou, tomando um baque imediato.
Aquilo foi necessário, para que ouvisse Tats — o desespero se calou, dando lugar a surpresa.
— Escute: eu sei que você tem um grau enorme de respeito por Sash Lilac. Mas o que você quer da sua vida? Não é hora de se segurar!
Ela falou mais:
— Você precisa usar sua força agora, pelo seu time! E pela sua líder!
Ele parou, sua mente ressentiu tudo aquilo.
Viktor foi levado para longe, em sua mente.
Lembranças não muito distantes realçaram uma mensagem deixada, que revigorou seu ímpeto no passado, mas que pediu licença no presente.
Uma voz aveludada e suave sussurrou em seu íntimo1:
“Você nunca irá descumprir (uma) promessa se seguir seus códigos como mestre. […] (A promessa) nunca poderá passar por sobre sua honra. […] tenha ciência até onde ela te impede de fazer por valer sua honra como mestre.”
Não demorou muito até que ele encontrasse sua essência.
Viktor já tinha tudo dentro de si, por onde passou, com quem falou.
Tudo estava lá.
Ele tinha as respostas.
— “Eu sou um mestre! Eu conquistei isso e não posso recuar no que eu construí.”
Um lutador, por mais que pare de lutar, mantém suas colunas firmes.
Os alicerces não se desgastam.
Eles esperam por uma nova fachada.
Foi nesse momento que voltou a si, no minuto seguinte.
Hora: 09:56 PM.
Nesse instante, ele percebeu a importância do tempo.
Ele não era um adversário e sim aquilo que demarcava o momento dos desafios, onde deveria agir e como fazer isso.
— Eu tenho o poder de resolver as coisas me inscrevendo. E eu tenho tempo para fazer isso!
— Isso mesmo, Viktorius Ashem! — ela ajeitou seus óculos, sorrindo largo. — A Arena Shang Mu está logo ali. Hora de fazer história.
A motivação que Tats impusera no jovem era incrível. Ele nem precisou responder com palavras: um simples sorriso bastou.
— “Obrigado, senhorita Tats…” — correndo, ele pensou, sabendo que devia muito a sua nova amiga. — “O pouco tempo que estivemos juntos já me diz muito sobre você!”
Enquanto tomou vontade para se mover, ele se lembrou das amizades que havia conquistado no passado.
— “E obrigado, Ying. Nunca me esquecerei do que você me disse naquele dia, meu amigo.”
Enfim, juntos eles correram em direção ao portão principal, com o peso da responsabilidade todo nas mãos de Viktor.
Em seus punhos, para ser mais preciso.
Todavia, a ação de Viktor trouxe obstáculos vivos: a revolta dos demais lutadores.
Cessou sua corrida, caminhando no meio de muitos olhares hostis e carregados de discriminação.
Quase chegando ao fim do caminho até a arena, deu de ombros com um urso, que usava uma vestimenta oriental preta.
Ele ficou na sua frente.
— Como ousa tocar em mim, escória?
— Desculpa, foi sem querer — Viktor não buscou contato visual, pedindo passagem.
— Não é tão fácil assim, miserável.
— Por que está dizendo isso? — O jovem pensou em debater, mas se lembrou da missão. — Olha, não tenho tempo para discutir com você. Tenho que entrar!
— Sem Valor, acho que você não entendeu bem sua situação aqui — o urso falava. — Você não é bem-vindo. Volte para o buraco de onde veio!
— Hã? Do que você está falando?
— Viktor, não caia no erro de tentar dialogar — Tats interviu, lhe mostrando a realidade. — Você sabe muito bem que todos estavam te olhando!
Aquilo era preconceito puro. Discriminação total. O lado podre de Avalice.
— Sua namoradinha aí do Monastério Omna tem noção do ridículo mais que você!
— Hã? Monastério?! — Viktor ficou confuso com isso. — “O que ele quis dizer com isso?”
A dúvida do rapaz foi logo dissipada, já que a junta de lutadores aumentou, gerando mais burburinhos, mas todos audíveis dessa vez.
“Sai daqui! Você desonra o caminho dos lutadores!”
“Me dá nojo te ver! Desapareça!”
“Fora! Fora! Sem Valor desgraçado!”
Não só isso, agora era um protesto físico: pedaços de papel, dedos em riste, testas franzidas com ódio, bufadas…
A dura realidade caiu sobre as costas de Viktor.
O mundo da luta em Avalice mostrou seu lado sujo.
A hora: 09:57 PM.
Três minutos. Era o que restava.
A poucos metros da entrada, Viktor era o que mais estava próximo de resolver o problema.
Ao abrir do portão principal da Arena Shang Mu, o vento causado pelo movimento fez com que a roupa de todos tremulasse, a força foi tremenda.
Não era para menos: de lá surgiu um lobo alto, com um traje militar, que segurava um escudo bruto e pesado.
Sua pelagem branca com cabelos que se misturavam e tinham detalhes em vermelho uniforme.
Seus olhos eram vermelhos, tão intensos que intimidava só em olhar.
Além disso, ele possuía um chifre no meio da testa, que brilhava à luz lunar.
E seu porte físico deixava claro que daria muito trabalho em combate contra qualquer lutador.
Ele não tinha um semblante fechado e mal encarado. Pelo contrário: possuía confiança e pleno controle emocional.
Todos olharam para trás, principalmente o urso.
Seus olhos, arregalados, vieram com o silêncio que eles trouxeram. O respeito voltou, com força.
Os olhares, antes de preconceito, agora eram de espanto.
— Joshy Sapphire Omna, o Escudo Impenetrável das Forças Armadas?! — o urso sabia quem era.
— A ordem Omna está aqui?! — disse um dos bullies.
A presença da figura imponente foi sentida, e seu caminhar entre a gentalha abria caminho até onde seus passos foram.
Ruídos de seu escudo marcavam sua marcha até Tats e Viktor.
— Tats… — ele tinha uma voz grave e gutural — O que está acontecendo aqui? Quem são eles?
Joshy já possuía força em cada palavra, tamanho era o poder de sua voz. Ele tinha força em coisas simples.
Tats respondeu:
— Se eu falar que “não são ninguém”, você entenderia? — seu sarcasmo foi certeiro.
— Hm… Muito bem — ele voltou a caminhar, ignorando os demais. — Vamos, temos uma reunião a fazer.
— Joh… Precisa mesmo ser agora?
O apelido denunciou intimidade.
— Sim, e você sabe o porquê — respondeu o lobo.
O urso e os demais abriram caminho conforme o lobo branco caminhava. Era visível sua postura ereta e presença respeitada frente aos lutadores.
Contudo, Joshy parou, olhando para Viktor.
Observando-o de baixo para cima, fitou o jovem, que retribuiu.
Tats interviu.
— Joh, esse é Viktorius Ashem. Ele precisa entrar para se inscrever no torneio.
— Ele é seu amigo? — perguntou, sem desviar o olhar do humano.
— Sim. Nos conhecemos faz alguns minutos. Não se preocupe, ele é uma boa pessoa.
Ao ouvir isso, o lobo forçou o olhar, tentando encontrar algo no olhar fixo do jovem.
Viktor não desviou, o encarando.
Não era uma provocação. Era uma mensagem clara que ambos se respeitavam.
— Ótimo. Rivais, não inimigos — falou, voltando ao seu caminho. — Vamos, Tats. E boa sorte, estrangeiro. Ou melhor dizendo: Viktorius.
Viktor não o conhecia, mas ao ouvir seu nome sendo proferido pelo combatente, foi o suficiente para que seu ego recebesse um ganho emocional gigante.
O rapaz nem falou, só reagiu: um pomposo sinal positivo de seu polegar, humilde, já valeu por mil palavras.
No fim, Joshy sorriu, continuando o caminho, sendo acompanhado por Tats.
O compromisso da felina era um sinal de que ali terminaria a parceria.
Ela sentiu, mas não ficou calada.
— Viktorius… — Tats o olhava, ao mesmo tempo que segurava sua mão direita. — Quero que saiba que foi um prazer te conhecer. E sei que seu time vai se orgulhar, principalmente sua líder.
— Muito obrigado, senhorita Tats — ele cobriu a mão de Tats com sua esquerda. — Espero te encontrar outra vez.
A cena, que fincava uma amizade breve, foi coroada pelo sorriso de ambos, um para o outro.
A gata, virando o rosto, se aproximava do colega lobo, seguindo ao seu lado.
Mas havia uma última mensagem:
— Senhorita Tats — gritou Viktor. — Prometo que vou cozinhar pra você na próxima, combinado?
Ele sabia agradar uma dama.
Tats sorriu ainda mais, entendendo a referência.
Ela piscou, usando seu charme.
E ali foi o momento que se separaram.
— “Hehe, ele não para de ser fofo!”
Não havia mais tempo a perder.
Viktor tinha uma missão. Agora era pessoal.
Deixando para trás as conversas paralelas dos que o odiavam, o jovem adentrou ao salão, seguindo até Huli.
No balcão, o raposo o recebeu.
— Ashem Viktorius, a que devo a sua presença?
— O Santino não apareceu. Eu quero me inscrever como o quinto membro!
Huli não esboçou surpresa, mas fixou seu olhar ao de Viktor, entendendo que o rapaz estava falando sério.
E, com isso, sua resposta.
— Não.
— O que?! — o espanto do jovem foi imenso.
— Seu desejo é nobre, mas indigno.
— Por que está falando isso? Minutos atrás você me… — ele foi pausado.
— Não são vontades que movem um lutador — divagou o raposo, caminhando até fora do balcão. — Você é um estrangeiro. Visitantes são bem-vindos como tal.
O tom da conversa transcendeu o formal — era uma discussão marcial.
— Mas um Natural, estrangeiro ou não, deve ser digno da honra de pisar na arena.
— O que? Mas, caro Huli…
A mudança repentina de ares trouxe aflição a Viktor.
A hora: 09:58 PM.
Dois minutos.
Tão perto, ao mesmo tempo tão longe.
A inscrição do quinto integrante atingiu um novo ápice dramático.
E só havia uma solução.
— Naturais não possuem Nirvana, mas isso não os impede de resistir a um combate aberto contra habilidades especiais.
— Eu devo lutar contra você, é isso?! — o nervosismo ressoava em Viktor.
— Não seja tolo — o ruivo caminhou para o centro do salão. — Acha mesmo que teria tamanha honra? Continue com os pés no chão.
— Então me diga o que devo fazer!
— Ashem Viktorius, venha ao centro — ele o chamou, com seu punho virado em sua direção.
Sem perder tempo, o humano atendeu ao pedido, se posicionando logo à frente do raposo.
Huli, enfim, lhe deu as condições:
— Um teste de resistência, Ashem Viktorius. Caso suporte a pressão do meu golpe, mostrará que é digno. Essas são as condições. Você a aceita?
— É claro que sim!
Viktor não tinha outra escolha. Ele sequer pensou duas vezes.
Os minutos eram preciosos.
Ele já estava no centro, pronto para o teste.
Porém, o portão estava aberto.
Vários dos lutadores do lado de fora se amontoaram no espaço, demarcando a zona onde os dois estavam frente a frente.
O cenário era desfavorável.
— O que é isso? — perguntou o humano. — Por que eles estão aqui?
— Como eu lhe disse mais cedo: você está em um ambiente hostil o tempo inteiro.
— Não acho isso justo! — a irritação de Viktor era visível.
— Um lutador não busca justiça, não é heroísmo. Você faz seu caminho ou segue por um. O justo é abstrato. A luta é concreta.
O comportamento do jovem só serviu para aumentar ainda mais a pressão social: os insultos vieram.
“Ele não vai conseguir.”
“Haha! Sério mesmo que o Sem Valor vai tentar a sorte contra o Huli?”
“Esse miserável vai receber o que está procurando. Huli vai fazer o que todos nós queremos!”
Eram burburinhos baixos, mas chegaram aos ouvidos de Viktor, que ficou acuado.
— “Todos eles me odeiam, mas porque? Qual o problema de não ter esse tal Nirvana que tanto dizem?”
O nervosismo dele era muito visível, com a plateia preconceituosa tomando força e o diminuindo ainda mais.
Como um guardião dos bons valores, Huli tomou partido e impôs sua autoridade.
Seu único foco era Viktor.
— Faça valer minha fé em você, garoto! — gritou o raposo ruivo, tão alto que ecoou por todo salão.
Aquele brado, forte e cheio de clamor marcial, tocou no espírito do humano.
— Aplicarei um golpe com Nirvana aflorado. Sinta-se honrado pela oportunidade. Ashem Viktorius, prepare-se… e avise quando estiver pronto!
Ouvi-lo daquela forma, o provocando a se mover e valorizar a chance que tinha fez com que o rapaz interiorizasse sua própria sina.
Ele se concentrou, mesmo com as provocações e xingamentos, criando para si seu momento de catarse marcial.
A hora: 09:58:45… 45… 45…
Foi nesse instante que o tempo parou.
Assim que Viktor fechou seus olhos, mergulhou em águas profundas da sua mente.
— “Concentração esplêndida: contenção de danos através da mente.”
Seus ensinamentos, um presente dado por seu mestre, surgiram em seu subconsciente, aflorado pelo momento propício.
Viktor estava usando uma técnica chamada Mushin (無心).
Significa literalmente “mente sem mente” — um estado de plena consciência e espontaneidade, onde técnica e espírito se tornam um só.
Mentalmente, Viktor estava mergulhado nas águas do campo vetorial e espacial do karatê. Um lugar etéreo, onde a chuva surgia de baixo para cima, mostrando o fluxo reverso da natureza.
— “Partir de dentro para fora: o Ki delimita a força. Maai: medida entre eu e o oponente. Sanchin: prontidão absoluta…”
Por mais que não possuísse as características dos avaliceanos, Viktor estava usando o que o levou a ser um mestre.
Ele possuía um caminho.
Sua concentração o colocou em um estado pleno de controle emocional, onde o único intuito era a resistência.
Isso anulou sua audição, onde o silêncio tomou seus ouvidos.
Privar sentidos era um dos efeitos do frenesi estalante do karatê.
Ele voltou à realidade, com Huli a sua frente, pronto para golpeá-lo.
Ele ajustou sua respiração, coordenada e pulsante.
Sua postura, firme e forte.
Seu corpo, enraizado e contraído.
E seus olhos… se abriram.
Ao fazer isso, foi o sinal que o raposo precisava, indo ao encontro de Viktor emanando uma aura bordô.
— “Há um hospital a poucos metros daqui. O risco é alto, garoto…”
Seu punho fechado se aproximava da barriga de Viktor. Punhos não tinham força e sim peso — era monstruoso.
O choque veio, com um ruído abafado.
O ar explodiu atrás do humano, como se o soco o atravessasse.
Huli recuou, o local atingido pelo violento soco marcou a blusa branca de Viktor.
Seu rosto se contorceu, com a dor estampada. Tomar um golpe direto tinha seu preço.
A dor angustiante tomou todo seu corpo, o fazendo lembrar da luta contra Neera Li, talvez a pior experiência que sentiu na vida.
Incapaz de suportar, seu dorso tendeu para um dos lados, iria desabar.
Suas pernas, antes firmes, perdiam a tensão, bambas como elástico.
E seus olhos, até então abertos, se rendiam à escuridão.
Foi um golpe poderoso demais para suportar.
— “Então foi assim que eu fracassei…?”
Seu estado ainda era de extrema atenção.
A dor, insuportável e opressora, era imensa.
Mas, lá dentro, em seu âmago, no ponto de maior contato com seu núcleo existencial, seu ego encontrou uma centelha, rica e brilhosa, que não era alcançada pela agonia.
Era um feixe púrpuro.
Neste ponto luminoso, ele ouviu em alto em bom som uma voz querida:
— Tenho certeza que, em seu mundo, você protagoniza tudo à sua volta, não é?
Um pulsar abrupto ocorreu em seus músculos, como espasmos involuntários.
Outra vez, a voz:
— Em um torneio como esse, estar em um nível aceitável é a primeira coisa que um lutador tem que se preocupar.
Seu coração começou a bater mais forte, chegando a aquecer seu corpo como um motor a toda potência.
E, por uma última vez:
— Eu realmente precisava ouvir isso. Obrigada, Viktor. De verdade!
Alguém que ele estimava muito, que o acolheu e o tratou sempre com igualdade e justiça, e que o respeitava como quem ele é, era a motivação que o fez criar forças.
Lilac levantava suas duas mãos, e as apertava.
Essa foi a imagem e sensação que o adornou.
— “Ela me deu um teto, uma direção e uma chance… de mostrar quem eu sou!”
Com essa força latente, chegando ao extremo, Viktor pôs seu pé com força no chão, joelhos flexionados e contraiu seu abdômen como nunca antes.
Gritou com toda a fúria e revolta:
— EU NÃO VOU DESISTIR! KIAI!
Ele não parou de gritar, a dor o dominava, mas a vontade de ficar de pé e manter a missão de Lilac o alimentou a ponto de manter seu brado.
Huli o olhava, mantendo seu rosto sóbrio, onde uma lágrima solitária caiu no canto do olho que estava coberto por um de seus cabelos.
A gota estava escondida, mas não o sentimento.
No fim, bufando e respirando fundo, Viktor resistiu.
Sua base se manteve rígida.
— Ashem Viktorius, você é digno.
Huli só lhe disse isso, enquanto o rapaz buscava fôlego.
Mesmo sofrendo, Viktor fez questão de dizer:
— A inscrição… no torneio. Rápido!
O raposo ruivo não perdeu mais tempo: foi até o balcão e protocolou os papéis necessários.
Viktor, com muita dificuldade, assinou seu nome, onde recebeu o carimbo de Huli.
— Parabéns. O time Lilac está escalado.
Em nada isso mudou o cenário preconceituoso dos demais lutadores, que voltaram a clamar frases maldosas.
Viktor ignorou tudo aquilo.
Mas ele ouviu os fogos, que foram lançados por Huli, celebrando assim o final das inscrições.
Feliz, Viktor caminhou para fora do salão, ainda infestado pela gentalha barulhenta, que insistia em diminuí-lo.
Mas o jovem só tinha um pensamento.
— “A missão… continua.”
Enquanto caminhava, no meio da gentalha ensandecida uma figura se misturava à confusão, mas que o olhava diferenciado.
— Mandou bem, estrangeiro… Mas você já chegou longe demais.
Discursos quase inaudíveis, que o tempo levou.
Foi quando, ao sair, a primeira pessoa que viu, no pé da escadaria da Arena Shang Mu, foi a que o moveu além das suas capacidades.
Ele escondeu dela a dor que sentia, soltando sua barriga atingida.
E, como ato de empatia, ele simplesmente sorriu.
— Senhorita Lilac!
A jovem, engolindo seco, não ficou parada.
— Viktor… — ela correu até ele, o abraçando. — O que você fez?!
— Lilac… eu sei que fui um idiota em ter feito o que fiz, mas… — ele, com lágrimas nos olhos, expôs seu sentimento. — Nós ainda temos uma missão a cumprir!
Ouvir tais palavras fez com que a garota dragão o abraçasse ainda mais forte.
Por tudo que aconteceu, ela não poderia jamais o punir ou coisa do tipo.
Lilac só o abraçou, sobrecarregada de tantas sensações que estava sentindo.
Mas uma delas, a que mais valorizou naquele instante, fez questão de expressar com palavras:
— Tenho orgulho de você… Viktor!
A inscrição foi concretizada e a missão foi mantida.
O torneio TORMENTA era o próximo desafio.
- Nota: visto no Capítulo 27[↩]
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