Capítulo 23 - Os preparativos para a viagem
Os acontecimentos no palácio mudaram abruptamente.
De uma baita condição e clima nada agradável, agora havia um horizonte de possibilidades e, para alegria de uma certa felina, o conserto de algo inestimável.
Enfim, o cenário criado era de uma iminente viagem por vir.
Shuigang era o destino.
Horas depois…
Floresta do Dragão | Meio da noite
Casa da árvore de Lilac
Logo depois de Carol ter retornado do Palácio Real de Shang Tu para deixar sua moto com os engenheiros do setor científico, a gata se juntou ao time na casa de Lilac.
Já fazendo companhia à mesa de jantar a Lilac e Milla, o trio aguardava, como sempre, mais uma refeição.
Viktor trouxe o prato preferido delas:
— O piá fez sushi! Ah, eu tô maluca! — disse Carol, pulando de alegria.
— Viktor, mesmo depois desse dia conturbado, fez isso pra gente! — Lilac estava encantada com a refeição.
— Viktorius é demais mesmo! Eles parecem deliciosos! Adoro esse cheiro! — Milla também estava faminta.
O jovem também pegou um prato, se servindo após se sentar ao lado da dragão.
Ele também estava muito feliz.
— Bem, é o mínimo que eu deveria fazer pra compensar a preocupação que eu causei a vocês — disse Viktor, sentando-se à mesa.
— Sim, Viktor. Mas estou feliz por você estar bem. Ficamos mesmo preocupadas porque a sacerdotisa Neera é muito forte – Lilac comentou, enquanto comia sushi.
— Ela é sim, Lilac. De longe a pessoa mais forte que eu já lutei.
— Digo o mesmo. Também já lutei contra ela
— Hã?! — o rapaz se surpreendeu. — É sério isso?
— Sim. Mas isso é uma longa história.
— Gostaria de ouvi-la em breve, se você quiser me contar.
— Pode deixar, hehe.
Mas Carol comentou algo bem relevante. Era um assunto referente a missão.
— Tipo, façam o visto: guardião de Shuigang que ninguém conhece. Já pararam pra pensar que isso tá estranho?
— O que foi agora, Carol? — disse Lilac.
— A Neera Li já foi a zirimba em Shuigang, saca? Como que ela não sabe quem é o guardião do reino do Dail? Pô, ela já foi de lá!
— O que você disse faz sentido, mas… — a dragão estava pensativa.
— Qual foi, agora? Diz aí o “mas”!
— Neera não pode ir com a gente porque tem uma missão a fazer em outro lugar. Então, supondo que ela soubesse quem de fato era o guardião, não iria ajudar muito, já que ele precisaria ter confiança na gente.
E Milla concluiu:
— Entendi, Lilac. Mesmo que a gente soubesse quem é, ele não ia saber quem nós somos, não é?
— Exato, Milla!
A análise da dragão foi certeira.
Realmente, a condição atual não alteraria o desenrolar da missão.
Mas, levantando novamente a questão, Carol abriu sua boca (novamente).
— Tá de saca, né? Não saber da gente? Olha pra nossa face, diva púrpura! A gente ajudou o Dail lá, lembra? Ele até trollou o time durante a fanfarra da gente ter solado o surtado!
— Isso não muda nada, Carol! E não fale do Dail assim! Ele não teve culpa do que Brevon fez a ele e a seu pai.
— E o que tu quer dizer com isso?
— Um guardião não se deixaria levar por coisas fúteis, por isso! Então acabou essa discussão!
— Cabou nada! Amanhã tamo firme e forte pra ir até Shuigang com essa mamona pra resolver, tá? — Carol disse, enquanto comia dez sushis de uma só vez.
A discussão inútil só serviu pra Carol tirar a atenção da mesa e ela mesma comer nada sushis. Foi o que Lilac reparou, mas deixou para lá.
Milla também tinha o que falar.
— Minha mestra disse que Shuigang é muito grande. Tem muitos templos lá, inclusive o dela — disse a pequena, comendo cinco sushis.
— Ah, Milla, é claro que a iceberg de saia iria contar vantagem. Ela brotou de lá. Tu sabe do orgulho dela — Carol tratou de mostrar sua opinião, ainda devorando mais uma porção de sushi.
— Carol, não comece! — a dragão disse, cutucando a gata com suas palavras. — Aproveitando a comida, não é? Está muito boa, sim, mas você deu uma de esperta e comeu mais do que deveria!
— Ah, pô… — ela sorriu, ficando sem jeito. — Mas tá mó bom, né?
— Está muito bom. Ah, como eu adoro sushi! Muito obrigada, Viktor! — a dragão não perdeu tempo.
— Tu-tudo bem, Lilac — o humano respondeu, um pouco envergonhado. — Eu fico feliz por ter gostado da refeição.
Foi um jantar tranquilo.
Um alívio para o time das garotas.
Minutos depois…
Já com as garotas deitadas em seu quarto, Milla e Lilac dormiam.
O dia seguinte seria bem cheio e logo trataram de descansarem.
Porém, apoiando sua cabeça sobre seus braços, estava Carol, ainda acordada, em uma das camas.
Pensativa, logo percebeu que a luz da cozinha estava acesa.
Preocupada, se levantou e foi até lá a fim de saber o que estava acontecendo.
Chegando até a cozinha, viu Viktor, que estava bebendo água.
Sonolento, percebeu a presença de Carol. Um diálogo havia começado.
— Carol?! Oi… Ainda acordada?
— Oi, piá… Digo, Viktor. Tô sim. Mas foi bom eu ter levantado.
— Ué, porquê?
— Assim eu posso conversar contigo, em particular.
— Em par-particular? — entre ficou mesmo surpreso com isso.
— Ah não precisa gaguejar, piá. Relaxa, tá? Tamo todos na paz.
Ela então se sentou em uma cadeira próximo a Viktor. O jovem estava curioso.
— O que quer conversar, Carol?
— Ah, tipo, tu tá sempre querendo ajudar a gente e, bem, tu entrou nesse torneio pra conseguir o bagulho lá. Pô, essa parada foi massa.
— Eu só entrei pra te ajudar. Ia gastar muito dinheiro por minha causa, então tomei essa responsabilidade pra mim.
— Ah, esquece isso, piá. Tu não fez por mal o lance de kaboonizar minha motoca. Aliás, tu nunca faz as coisas pensando primeiro em você, tô ligada nesses lance.
— É o mínimo que deveria fazer depois de vocês terem me ajudado aqui. Eu não tenho a mínima ideia de como voltar para casa, então devo mesmo ajudá-las como eu puder. Te causar prejuízo me causou uma sensação de culpa muito grande.
Carol, ao ouvir isso, demonstrou um olhar mais maduro, bem diferente da sua natureza despojada de quem viveu na periferia de Avalice.
Ela, então, se levantou, ficando de pé frente ao jovem, abraçando-o forte, como da última vez. Viktor ficou um pouco confuso, pego de surpresa com a atitude da jovem felina verde.
Só que desta vez Carol parecia mais emotiva que antes e, enquanto seus olhos aos poucos se umedeciam de lágrimas, ela lhe disse:
— Eu não esperava e tô mesmo falando bem sério agora, piá. Não esperava que alguém iria se importar tanto pra me ajudar. Pô, eu te tratei mal mas tu só ignorou. Cara, tu é fora de série.
Viktor, gentilmente, apoiou a cabeça da gata sobre seu ombro, ouvindo o que ela tinha a dizer, o que continuou.
— Eu não mereço tanto respeito — Carol falou. — Sou chata, espoleta, tonta, debochada, marrenta, criadora de caso, shippadora, briguenta, “badgirl” de carteirinha… Mas quando você faz algo, eu me sinto muito mal em não poder fazer algo útil pra te retribuir. Tu tem cuidado da gente esses dias bem pacas, quase como um irmão mais velho.
As palavras honestas de Carol acertaram em cheio Viktor.
A carga emocional que o jovem carregava, desde a morte de sua avó, eram pesadas demais.
Tanto que, entendendo os sentimentos da felina, percebeu que tinha importância na vida das garotas agora.
Retribuindo o gesto carinhoso de Carol, beijou seu rosto, dizendo:
— O-obrigado, Carol. Muito obrigado. Ouvir isso representa muito pra mim. Eu vou fazer o que for preciso pra vê-las bem. Ah, e pode ficar tranquila que já vou te soltar… — Viktor se lembrou da última vez que a abraçou.
— Não, piá. Não precisa fazer isso. Hoje tô relax, a Carol carinhosa… — disse a felina, mantendo sua cabeça no ombro do rapaz.
— Sério que você tem esse lado mesmo? Você não é uma badgirl?
— Sim, acredite. Mas não tira casquinha, tá? Posso ter uma recaída… — Carol logo voltou a brincar, com um sorriso no rosto. — Aí volto a ser a badgirl e te finalizar igualzin no Vale Tudo, nyah!
— Pode deixar, senhorita “meiga”, hehehe.
— Ih, olha lá o piá tirando onda da minha cara. Gostei, hehe!
Os laços entre os dois jovens pareciam estar ainda mais fortalecidos depois dessa conversa amistosa.
A atitude de Carol serviu como retribuição a tudo que Viktor fez às garotas até aqui, fazendo com que seu espírito se renovasse.
O jovem percebeu que Carol se importava mesmo com ele.
Os dois estreitaram a amizade ainda mais.
No dia seguinte…
Floresta do Dragão
Casa da árvore de Lilac | Manhã

Já devidamente arrumados para seguirem em destino a Shuigang, Lilac ajudava Milla com sua roupa.
Carol estava ao pé da escada da casa da árvore aguardando pelas garotas, enquanto Viktor treinava chutes e socos próximo ao riacho próximo a residência.
Não demorou muito e as outras duas desceram da casa, com Carol começando um diálogo:
— Finalmente, hein! — a gata falou, ficando encantada com o que viu em seguida. — Oh, minha nossa! Milla, tu tá muito, muito, muito, muito kawaii com esse traje, nyah!
— Carol, para com isso! Você está me deixando envergonhada… — disse Milla, visivelmente vermelha.
Sua roupa era uma atualização de seu traje, com um colante preto que cobria seu corpo a partir das suas coxas até seu dorso, e um agasalho chinês amarelo cobrindo seu busto. Completando o visual, braceletes de cor laranja e verde adornavam seus pulsos e tornozelos. Milla não usava calçados.
Viktor, aproveitando a situação, não perdeu tempo:
— Você está bem bonita, Milla.
— Viktorius?! Ai, nossa… Não diga isso de mim. Só estou estreando a roupa que minha mestra pediu pra fazerem pra mim.
O momento era o mais fofo possível, com a canina gostando dos elogios.
Porém, Carol mudou totalmente o assunto.
— Aí, diva linda. Tu mudou o visual também, né? Por isso o piá e você dão um casalzin bem da hora, nyah!
— Carol, não comece! Para com isso! — Lilac logo disse a verdade à felina, ficando corada.
— O shipp é meu e de ninguém mais! Haha! Vou zuar pra dedéu agora!
Viktor, para completar, também sabia provocar.
— E a Carol “meiga”, hein?
— Carol meiga? — Lilac perguntou, confusa.
A felina logo tratou de se aproximar do jovem rapidamente, abraçando-o pelo pescoço, mas dizendo com um tom bem sério. Ela parecia possuída por alguma entidade maligna, com seus olhos bem intimidadores.
— Bonito, se tu falar mais uma gracinha dessa, pode ter certeza que vou te bagunçar tanto que tu vai parar em uma outra dimensão cheia de lápides. Então, fica sussa aí, tá?
— Tu-tudo bem, Ca-Carol. E desculpe. Eu me empolguei.
— Firmeza. Fica na atividade, piá.
E, já com todos prontos, Viktor logo mostra sua ansiedade de sair em viagem.
— Agora sim. Cara, eu nunca estive tão ansioso por uma viagem. Eu nunca me aventurei dessa forma antes. Vamos caminhar até o horizonte, desbravar o desconhecido até chegar ao nosso destino. Nossa, isso é ótimo!
As garotas não entendiam absolutamente nada do que o jovem dizia.
Lilac, estranhando o comportamento dele, criou uma dúvida:
— Viktor, do que está falando?
— Vamos começar uma aventura, não é?
— Bem, Viktor, eu não sei bem o que você entendeu em “ir a Shuigang”, mas…
— Mas o que?
— Piá, nós vamos de busão até Shuigang — Carol logo tratou de dar a notícia. — Tipo aqueles frescões de viagem com o ar-condicionado no modo ártico ativado no talo e suspensão a ar que mais parece um pula pula. Resumindo: boring.
— Espere, deixe ver se eu entendi: nós vamos viajar até Shuigang de ônibus?
— Drim Drim! Aceitou! E seu prêmio será sentar na janelinha!
Depois da quebra de expectativas de Viktor, a realidade era uma só: a viagem aventuresca do time de Lilac havia começado, ainda que dependendo do transporte público.
Não demorou muito e um ônibus azul estacionou em um ponto próximo a estrada que ligava a Floresta do Dragão à Shang Tu.
Além do time, havia até outras pessoas embarcando.
Sem perder tempo, todos os jovens subiram ao ônibus, que tinha como destino a cidade de Shuigang.
A missão começaria dentro de algumas horas na cidade dos pandas.
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