Índice de Capítulo

    A arena estava completamente lotada. Embora isso fosse redundante, talvez não expressasse devidamente a proporção.

    Não havia lugar para mais ninguém.

    Pela primeira vez em muito tempo a cidade não tinha um grande evento como o torneio de artes marciais.

    Isso foi uma ideia de Royal Magister e do prefeito do Bairro Milenar para manter a cultura e os costumes de seus antepassados.

    Como a cidade estava se modernizando, os mais jovens traziam novas tendências e, para evitar que perdessem sua essência oriental tradicional, o torneio criou um interesse nos jovens em conhecer artes marciais e manter viva a chama dos conhecimentos milenares.

    Sentadas na arquibancada, as garotas assistiam a cerimônia de abertura do torneio.

    Assim como eles, Viktor, que tentava esconder a todo custo seu plano.

    Como estava ansioso, logo tratou de se acalmar:

    — “Devo ficar frio. Está tudo correndo bem. Nenhuma delas desconfiou e Milla está guardando segredo. Só faltam duas luas pra ajudar a Carol.”

    E falando na tagarela, a própria tomou a palavra.

    — Só eu tô entediada com essa cerimônia?

    Carol comentou esse detalhe, pois a única coisa que havia acontecido até agora eram mulheres com vestimentas orientais dançando usando leques.

    E ela não parou com suas críticas.

    — Boring, boring. Borin logo daqui, gente?

    — Carol, deixa de ser chata! É uma cerimônia, não um baile! — disse Lilac, um pouco impaciente com sua amiga.

    — Ah Lilac, não defende não. Tá chato demais.

    — Mas o que você queria? É nossa cultura sendo representada.

    — Só se for a sua. Na cultura que eu conheço, ao invés de dança chata, teria porrada e sangue jorrando!

    — Carol, não diga essas coisas! Milla está aqui!

    — Que tem eu? O que estão falando aí? – disse Milla, confusa e curiosa.

    — Ah, nada não, Millazinha. Tá tudo bem! — disfarçou Carol, apontando para as dançarinas. — Relaxa e continua vendo as bonecas de Olinda com câimbras dançarem, tá?

    — Carol, do que você está… — Lilac logo se manifestou, mas foi interrompida.

    — Piada interna, boba. Quarta parede quebrada. Segue o baile!

    Ao final da dança, as mulheres se retiraram, dando lugar a um grupo de alguns monges que entraram na arena.

    E na TV, que estava dentro de uma das casas dos habitantes da cidade de Shang Tu, retratou o momento.

    Era Galv Aon outra vez no comando.

    — Sob a regência do excelentíssimo mestre Iang, agora veremos em primeira mão, de forma inédita, a apresentação do grupo de monges Faixa Azul de Shuigang, nação essa rica em cultura marcial e vizinha de nosso reino.

    Voltando à arena, era visível que o respeito pelo monastério era enorme. Todos na arquibancada estavam a postos para vê-los.

    Trajados com vestimentas chinesas de cor branca, simples e suaves, e usando faixas azuis na cintura, os monges mostravam-se pessoas ágeis, com pleno conhecimento do próprio corpo, pois seus movimentos eram precisos e belos. O sincronismo era perfeito.

    Carol, que até então estava entediada, ficou com um astral mais renovado.

    — Ah, aí sim! Agora tá na moral! Tô falando, Lilac! É disso que o povo gosta!

    — Tudo pra você é isso, não é?

    — Claro! Porrada é vida! Vida é porrada!

    — Carol, isso que você está falando não faz o mínimo sentido!

    — Relaxa e curte o momento, heroína! Haha! Isso é muito maneiro! Coisa linda de se ver, rapá!

    — Está muito legal mesmo, Lilac. Foi nesse monastério que minha mestra treinou desde pequena — disse Milla, citando uma curiosidade.

    — É verdade, Milla. Por isso que ela é tão forte. Depois deveríamos falar com ela.

    — O que? Tá maluca, Lilac? Procura problema, não — Carol parecia mesmo não gostar da mestra de Milla. — Ela pode dar uma de boazinha perto da Milla, mas tu sabe que ela é a Dona Encrenca!

    — Carol, tudo mudou depois que detemos Brevon e seu exército. A N… — a dragão foi interrompida.

    — Não, Lilac! Não diz o nome dela. Vai que ela aparece! Fica chamando a coisa ruim, não!

    A apresentação prosseguiu, chamando a atenção de todos e subindo muito o nível do evento. Viktor havia adorado, além de Carol e as garotas.

    — Tudo isso foi incrível!

    Um dos organizadores fez um pronunciamento.

    — Convidamos os participantes das quartas de finais do torneio de Shang Tu a se apresentarem no salão principal da arena. O confinamento começará em dez minutos. Grato.

    Havia chegado a hora.

    A última chamada antes de Viktor lutar.

    Ele se levantou rapidamente, mas sendo questionado por Lilac. A dragão, como esperado, iria falar algo.

    — Viktor, o que houve? O torneio já vai começar.

    — Ah, Bem, Tipo… — ele tentava raciocinar, para falar uma boa desculpa. — É que eu exagerei mesmo na comida, sabe?

    — Piá, vai logo! — Carol não perdeu tempo. —Vai na pressa porque se essa bomba explodir aqui vai levar muita gente junto.

    — Carol, isso foi ainda mais grosseiro que antes! — Lilac falou, não gostando do que sua amiga disse.

    — Quando a natureza chama não tem jeito, sabichona. Tu queria o que? Sinal de holofote no formato do logotipo do banheiro? Isso é cafona, sabia?

    — Está bem, Carol. Sem muitos detalhes.

    Pelo visto teríamos uma longa tarde pela frente.

    E nos bastidores da arena…

    Viktor, já como Red Mask, aguardava sua luta.

    Já na área de aquecimento do coliseu, o rapaz se alongava e executava alguns katas para relaxar.

    Se sentou em uma cadeira, após o treino, para descansar, se colocando a meditar em seguida.

    Seus pensamentos diziam por si só.

    — “Foco. Devo manter o foco. Só faltam três lutas, só isso. Vou fazer o meu melhor. Meu karatê é bom. Em breve vou poder ajudar a Carol, então devo manter o foco.”

    Mantendo sua atenção ao objetivo, Viktor ficou por alguns minutos imóvel, só se atendo a si mesmo em sua mente.

    Mas, quebrando totalmente o clima, um grupo de pessoas foi visto entrando no recinto.

    Isso fez com que Viktor se levantasse, para ver o que de fato estava ocorrendo.

    Ao abrir caminho no meio de tanta gente, entre pode ver que dos lutadores estava sendo carregado em uma maca.

    Gritando de dor, o felino lutador deixou intrigas no ar, as quais Viktor ouviu.

    — Socorro. Aquele panda… A força dele… Aquilo não era normal. Bastou um golpe, um mísero golpe…

    Isso gerou preocupações no jovem carateca.

    Sem perder tempo, ele então perguntou a um dos membros da equipe responsável pela organização do evento que estava próximo.

    — Moço, por favor. O que está acontecendo?

    — Hã? O que foi, Red Mask? A sua luta é a próxima, se é o que quer saber.

    — Ah, obrigado. Mas não era isso.

    — O que deseja então?

    — O que aconteceu na luta? O lutador parece estar bem machucado.

    — Bem, não podemos dizer muito sobre as lutas, mas ele ficará bem. Só vai precisar ficar um tempo no hospital.

    — O que?! No hospital? — disse Viktor, preocupado. — Isso não é tão animador assim.

    Voltando a se sentar depois disso, o rapaz continuou a meditar.

    Mas não pôde deixar de notar que um outro participante estava discutindo com um dos funcionários.

    Percebendo isso, foi até um deles e perguntou:

    — Nossa, o que aconteceu desta vez?

    O funcionário, que era um jovem canino, usando vestimentas orientais, respondeu. Mas não do jeito esperado.

    — Não se envolva, Red Mask. Isso não é assunto seu!

    — Como não? Estou aqui há menos de dez minutos e é a segunda vez que vejo confusão em uma área que deveria ser tranquila!

    — Recue e fique longe. É só isso que eu lhe peço. Só estou fazendo o meu trabalho.

    — Então me diga o que está acontecendo!

    A conversa foi cortada, já que um suposto participante do torneio, por estar usando uma credencial como a de Red Mask, apareceu aos gritos.

    Era uma manifestação bem acalorada.

    — Vocês não vão nada! Tô sabendo o que vocês querem fazer deste torneio! Isso é uma armação! — disse o jovem felino.

    Ele usava uma calça preta e uma camisa vermelha como vestimentas.

    Viktor ouviu isso e não ficou calado.

    — Armação? Do que você está falando? — perguntou.

    E foi respondido pelo próprio felino.

    — Essa gente aí organizou esse torneio pra beneficiar quem é da elite!

    — Como é?

    — Esse cara que saiu aí todo machucado, você viu?

    — Sim, mas o que tem?

    — Ele lutou contra um dos generais do Royal Magister! Isso não é justo!

    A situação estava fora de controle. Tanto que um funcionário, ao ouvir isso, logo tratou de impor sua autoridade e efetuar o devido tratamento.

    — Lang Shion, por quebrar as normas de conduta do torneio de Shang Tu, está a partir de agora desqualificado das quartas de finais!

    — Ah, tudo bem! Legal! Show! — Liang disse, demonstrando toda sua irritação. — Não queria continuar mesmo!

    Todo aquele alvoroço deixou o jovem apreensivo com o desenrolar dos fatos que acabou de presenciar.

    Por muito pouco, desqualificaram um dos participantes. Era óbvio que isso não era normal.

    Percebendo que era uma injustiça, foi até o funcionário que condenou o lutador. Ele precisava saber o que estava acontecendo.

    — Espera, deixa ver se eu entendi: você o expulsou só porque ele opinou, é isso?

    — Red Mask, são as normas. Vocês não podem ficar sabendo de nada sobre seus oponentes, muito menos insinuarem da nossa conduta.

    — Mas o que ele disse aí é sério. Esse lance de colocar generais pra lutar é legal e correto? Não li nada disso nas regras do torneio.

    — Como você é novo aqui, vou ser bem razoável: sim, é permitido oficiais, generais e qualquer membro das forças de defesa da cidade.

    — Mas isso não é justo!

    — Não deixá-los participarem seria discriminação. Todos têm os mesmos direitos, concorda?

    A organização tinha um ponto.

    Porém Liang falou um detalhe considerável.

    — Mas colocar o Gong pra lutar e deixar ele usar o escudo dele é muito injusto!

    — Armas não letais são permitidas, Liang Shion! Agora, trate de pegar seus pertences e saia da zona de aquecimento. Você está expulso deste torneio!

    Era fato: Lang foi mesmo desqualificado.

    A atitude que o funcionário teve para com o monge causou um pouco de revolta entre os participantes, mas não havia nada a se fazer.

    Visivelmente preocupado, Viktor então caminhou até a porta principal, onde havia o comissário da arena.

    Ele estava preocupado com a situação incômoda, mas tinha também que saber sobre a sua.

    Por isso mesmo foi até o comissário do evento, lhe perguntando:

    — Senhor, e minha luta?

    — Red Mask, sua luta com Lang Shion se iniciaria agora. Mas, como ele foi desqualificado, você passou para as semifinais por desistência do seu oponente.

    – Sério?! Assim, sem luta nem nada?

    — Seu oponente cometeu um ato de indisciplina. Não há lugar para baderneiros aqui.

    — Mas ele não parecia um desordeiro. Só não concordou com algumas coisas. É proibido perguntar ou criticar?

    O senhor, que era um urso pardo, olhou bem nos olhos de Viktor. A pergunta que fez serviu como resposta.

    — Algo mais, Red Mask?

    — N-não. Tudo bem, senhor. Eu só fiquei curioso mesmo.

    — Ótimo. Agora aguarde a próxima luta.

    O carateca então retornou para dentro das dependências do coliseu. Frustrado e irritado, Viktor tratou de tentar recuperar sua concentração inicial.

    Mas o comissário, que se manteve no mesmo lugar, olhou para o jovem até que sumisse de seus olhos.

    Assim que ocorreu, tratou de usar um tipo de comunicador que estava em seu bolso, dizendo:

    — Silver Ring falando. Uma possível ameaça já foi neutralizada. Esperando novas ordens.

    Havia algo muito estranho acontecendo.

    Nenhum dos participantes até agora havia levantado suspeitas.

    Lang, o único que causou comoção, ainda que tímida, já se encontrava fora do recinto, expulso do torneio.

    Mas, mesmo assim, os cuidados por parte da administração do torneio se mantiveram as mesmas, rigorosas e nem criteriosas.

    Havia algo no ar.

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