Capítulo 17 - Red Mask vs Gong (Parte 2)
A fé, para muitos, é uma força motriz que age como motivação, trazendo movimento a uma direção, seja no plano espiritual, místico, natural e outros campos.
A base era uma: determinar uma meta e cumpri-la. Não importa o desafio: a direção trilhava o resultado vindouro.
A concretização levava a explosão, seja qual fosse ela.
Mas até que a fé e a explosão se juntassem, a jornada a essa dualidade era repleta de obstáculos.
Muitos ficavam pelo caminho, mas outros, os vitoriosos, rompiam o seu limite, indo além, chegando até o milagre.
Não era um caminho fácil, sequer para qualquer um.
Era preciso fatores nobres e autênticos.
Corações puros e sinceros.
Era um caminho árduo, repleto de provações, mas que levava a luz.

Voltando ao torneio…
Viktor estava demorando mais tempo para se levantar do que antes. Desta vez os danos foram maiores.
Mesmo com a dor que sentia, o rapaz se esforçava para se levantar, ainda que em seus pensamentos o peso da decisão de continuar lutando disse um fardo enorme.
— “Não tem como vencê-lo na força nem na habilidade. Dois golpes e estou novamente no chão. Ele é um oponente terrível. O que devo fazer?! Tem uma forma, mas, se isso der certo, tenho certeza que todos não irão gostar. Mas só tenho isso no momento, então devo usar!”
Por pouco a contagem regressiva não o desclassificou, já que conseguiu se levantar a tempo, próximo da nona.
Em pé, mas visivelmente tonto, o jovem, restabelecendo seu equilíbrio, novamente foi interpelado pelo árbitro.
— Red Mask, você está bem?
— Sim, eu estou.
— Você pode desistir da luta se quiser.
— Não. Eu estou bem, vou até o fim — disse, sinalizando positivamente com seu polegar.
Gong ouviu o diálogo. O panda voltou a falar.
— Garoto, você já está no seu limite. É difícil pra você assumir a derrota?
— Eu já te disse, eu não sou um garoto! E está muito longe de você acabar comigo!
— Você ganhou meu respeito, Red Mask — disse Gong, ainda sorrindo. — Mas você vai ganhar uma derrota também.
O juiz reiniciou a luta.
— Lutem!
Gong mais uma vez correu em direção a Viktor, dessa vez com seus braços à frente.
Essa estratégia por parte do grande panda impediu totalmente qualquer tipo de esquiva por parte do jovem, que o aguardava imóvel em base de luta.
— “Eu só terei uma chance de fazer esse movimento. Se eu falhar, é o fim. Eu tenho que conseguir!”
Seja lá o que for que Viktor estava pensando, era muito arriscado, pois não haveria como evitar de ser atingido.
Gong, ao perceber a valentia do rapaz, também tornou a pensar:
— “Ele vai receber todo meu golpe se não desviar. Mas porque não se mexe? Está querendo entregar a luta? Bem, eu não irei julgá-lo. Se quer mesmo sentir meu cólera, então que seja! E se ele é mesmo um invasor, então tenho o dever de acabar com essa luta!”
Red Mask, conforme Gong se aproximava a tua velocidade, recuou até próximo da ponta da arena, para enfim o panda armadurado o atingi-lo com toda força em seu dorso.
Era possível até mesmo perceber todo o ombro de Gong atingir a barriga do jovem, que sentiu o golpe, evidenciado pelo grito de dor. A plateia reagiu, com burburinhos demonstrando surpresa à tragédia que parecia se desenhar.
Mas havia algo estranho: Red Mask segurou forte em Gong, se apoiando em seu corpo.
O panda, confuso, não sabia o que aquele movimento significava. Ver alguém aceitar ser atingido daquela forma foi uma surpresa.
— Você está louco? O que pensa que está fazendo? Me solte! — disse Gong, com sua face demonstrando irritação.
— Grr… — Viktor rangeu os dentes, suportando a dor. — É agora!
O carateca agarrou parte do dorso de Gong com as pernas ao mesmo tempo que entrelaçou uma de suas mãos a perna do panda. No fim, ele estava quase de cabeça para baixo.
A estratégia de Red Mask agora era evidente: ele queria fazer com que Gong caísse da arena.
Mas Gong era forte demais para que se deixasse ser arremessado.
— Está tentando me jogar para fora da arena? Você já viu meu tamanho?
— Mas é por isso mesmo!
Claro que Viktor não teria forças para arremessar Gong, tampouco puxá-lo, mas sempre existiu uma combinação de movimentos em artes marciais contra oponentes mais fortes: o pêndulo.
Embora fosse um fundamento simples, o pêndulo consiste em contrapor dois pesos e usar sua energia para causar estabilidade.
Com isso, é possível que uma parte menor consiga impor mais força contra algo maior e, como consequência, uma situação entre frequência e período1.
Red Mask então, segurando o panda, arremessou o próprio corpo para fora da arena, aproveitando a inércia causada pela corrida de Gong até ele.
O panda estava sob a atuação dessa força que Viktor o causou.
— “Mas o que está acontecendo? Porque eu estou me desequilibrando? — Gong pensou, surpreso com o que estava acontecendo. — Se eu não fizer algo, ele vai me derrubar para fora da arena! Esse garoto estrangeiro é astuto!”
Não havia o que fazer.
Era um movimento arriscado, mas a única estratégia minimamente efetiva diante a situação de luta que Viktor estava.
Contundido e sentindo dores, era o que tinha.
Porém havia um fato que o jovem não planejou, o que Gong deixou claro ao estar pensando.
— “Eu vou cair sobre ele! Red Mask não tem noção mesmo. Eu vou cair sobre seu corpo e ele pode se machucar gravemente. Não posso deixar que isso aconteça!”
Era certo que Viktor não tinha calculado bem a estratégia arriscada.
Gong era grande e pelo peso de sua armadura, seu escudo e seu corpo, seria uma tragédia se o general caísse sobre Red Mask.
Como era inevitável a queda, Gong, com um movimento rápido de corpo, se posicionou durante a queda e puxou Red Mask para cima, o abraçando.
O panda foi ao chão de costas, protegendo o jovem, mesmo que isso lhe custasse caro. ele caiu da arena.
O juiz logo proclamou o resultado do combate.
— Gong caiu primeiro da arena. A vitória é de Red Mask!
O Coliseu foi ao delírio.
Todos ficam surpresos com a reviravolta.
Um desconhecido havia vencido um oficial do reino de Shang Tu.
Um general havia sido derrotado.
Na arquibancada, as três garotas pareciam não acreditar no que havia acontecido.
— O Red Mask venceu o Gong! Inacreditável! — Lilac disse.
— Eu avisei! Eu disse! Estava certa! Isso, Red Mask! Conseguiu! Viva! — Milla estava emocionada, abraçando Carol.
— Cara, em todos esses anos nessa indústria de memes vital, essa é a primeira vez que um palito derrota uma pilastra! — a gata estava incrédula, falando a contragosto.
— Mas ele venceu, Carol. Ele vai mesmo receber a espada! — a dragão falou, se lembrando do prêmio.
Embora a vitória inesperada de Viktor, vulgo Red Mask, fosse um fato, ele não era o único.
Milla logo cessou sua alegria, se lembrando de algo.
— “Ih, minha nossa! Viktor, eu esqueci de te avisar aquilo! Ai, e agora? Nem as minhas amigas estão sabendo. O que eu faço? Essa não!”
O que tanto se lamentava era proporcional ao tamanho da encrenca que viria a seguir.
Voltando a arena, Red Mask, que ainda estava sobre Gong, mostrava-se revoltado.
E tinha um bom motivo, como um lutador orgulhoso que era.
— Por que fez isso e me puxou pra cima? Eu tinha assumido os riscos!
— Não, garoto! — Gong falou, mostrando seriedade em seu tom de voz. — Me recuso a machucar gravemente alguém só pra ganhar uma espada. Eu prefiro sua segurança, rapaz.
— Isso que você fez… — Viktor tentou falar, mas foi interrompido.
— Não diga tolices, garoto! Você lutou com garra, então não faça da sua conquista uma fraude.
O rapaz entendeu bem o teor das palavras do panda e, com esse sentimento, escolheu melhor as palavras.
— Eu agradeço sua gentileza, mas não aceito a vitória.
— Uh, você é orgulhoso. Respeito isso. Me pergunto agora se você é mesmo esse invasor que desconfiamos.
— Hã? Do que está falan… — ele foi interrompido.
E antes que pudessem continuar a conversa, eis que o locutor noticiou:
— E agora temos o vencedor do torneio de artes marciais de Shang Tu! Red Mask, a surpresa!
O anúncio gerou uma comoção absurda da torcida, pois ninguém esperava que isso poderia acontecer.
Porém o locutor continuou:
— E agora, Red Mask ganhou a oportunidade de ganhar a espada Bededst. O vencedor, por favor, retorne à arena. Vamos começar a próxima luta!
O anúncio foi ouvido por todo o Coliseu, causa do muito mais burburinhos que de costume, que iam além dos altos muros do local festivo.
Até Viktor quase teve um ataque ao ouvir isso.
— O QUE? LUTA? Outra luta?!
Gong se levantava, deixando lentamente o espaço da arena. Era óbvio que Viktor iria buscar informações ao grande panda.
— Ei! Gong! O que está acontecendo?
— Garoto, esse torneio era para saber quem seria digno para lutar a última luta. A Bededst é uma espada muito importante para cair em mãos erradas.
— O que? Como assim?
Mas Gong não ficou até o fim para continuar a conversa. Ele deu as costas a Red Mask, deixando o lugar.
Se retirou, como quis, entrando no corredor que dava acesso às dependências do Coliseu.
E lá dentro, Gong pensou.
— “Você aparenta ser um simples garoto, mas não podemos abaixar a guarda. Sinto muito, Red Mask. Mas a segurança do nosso reino está acima de qualquer coisa. Entretanto, devo informar a Royal Magister sobre essa minha desconfiança.”
Mais mistérios no ar. E mais questões a serem respondidas.
Voltando à arquibancada…
Os eventos ocorreram rápido demais.
Falando em rapidez, Lilac, percebendo uma mudança brusca de temperamento de sua amiga canina, não demorou para tirar essa sua dúvida.
— Milla, o que houve? Porque está com essa cara?
— Lilac e Carol, vocês se lembram porque Royal Magister disse para que não entrássemos no torneio? – disse, agora num tom bem mais sério, destoando totalmente de sua personalidade.
— Sim. Foi uma ótima ideia dele trazer diversão à cidade. Por isso fez questão que estivéssemos aqui.
— Essa parada mesmo! Tamo ajudando a procurar os resquícios da pedra do reino, então o maja fez esse agrado, nyah! — disse Carol, sorrindo.
Milla então elucidou os entendimentos que ela tinha.
— Vocês estão enganadas! Não foi só por isso!
— Milla, o que está acontecendo? Você sabe de alguma coisa que nós não sabemos?
— Lilac, minha mestra disse que tem alguém nesse torneio que… — ela mesma se interrompeu, arregalando seus olhos em seguida. — Oh, não! Minha nossa! Viktorius!
— Hã? O que tem o Viktor? Milla, você sabe onde ele está, é isso?
Às pressas, a pequena canina começou a correr, indo até às escadas.
Carol e Lilac a seguiram imediatamente, pois perceberam juntas que algo de muito ruim estava acontecendo
A dragão, preocupada, perguntou, mesmo durante a corrida.
— Milla, você poderia responder a minha pergunta?
— Rápido! A gente tem que ir até a arena ajudar o Red Mask!
— Hã?! Red Mask?! Milla, você está me assustando! O que de fato está acontecendo?
E voltando a arena…
Red Mask, frente ao juiz, aguardava o seu suposto adversário final.
O jovem, agora bem tenso, só queria saber o que estava por vir.
— Juiz, o que está acontecendo?
— Ora, vamos ter a última luta, Red Mask.
— Mas não era uma final contra o senhor Gong?
— Sim, era. Você lutou a batalha final para decidir quem iria fazer essa luta final.
— Isso não faz o mínimo sentido! E contra quem será, hein?
Logo um dos portões da outra extremidade da arena se abriu.
Todo o Coliseu então se calou, observando friamente para o lugar.
Dos portões era possível ver uma silhueta de alguém que caminhava elegantemente para até o centro da arena.
Era uma panda.
Ela possuía cabelos pretos com um corte estiloso, lindos olhos púrpuros, e vestia um uniforme militar, com ombreiras de metal e detalhes em azul. Embaixo do uniforme, usava um vestido todo preto, com longas meias pretas que continham laços púrpura na ponta. Em sua cintura havia uma faixa azul com um laço em formato de floco de gelo.
Seu olhar tinha uma dualidade única: transparecia paz e intimidação.
Segurando um tipo peculiar de cajado, ficava frente a frente a Red Mask, este totalmente sem ação e pasmo.
E voltando onde estavam as garotas, Milla completou:
— A minha mestra quem será a oponente dele! A Neera Li!
Uma nova luta contra uma adversária misteriosa.
O desafio não havia acabado.
- Nota: a descoberta da periodicidade do movimento pendular foi feita por Galileu Galilei. O movimento de um pêndulo simples envolve basicamente uma grandeza chamada período: é o intervalo de tempo que o objeto leva para percorrer toda a trajetória. Derivada dessa grandeza, existe a frequência, numericamente igual ao inverso do período, e que, portanto, se caracteriza pelo número de vezes que o objeto percorre a trajetória pendular em um intervalo de tempo específico. A unidade da frequência no SI é o hertz, equivalente a um ciclo por segundo.[↩]
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