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    A reviravolta na disputa do torneio de artes marciais de Shang Tu trouxe um certo nervosismo por parte de Milla, que havia dito que sua mestra, Neera Li, iria disputar a final contra Viktor, que se apresentava com o pseudônimo Red Mask.

    A correria continuava, com Milla seguindo a toda velocidade até às dependências da arena. No mesmo instante, enquanto corriam atrás da canina, Lilac diz:

    — Mas como é que a Neera foi aceitar disputar esse torneio? Ela não é de se envolver em atividades da cidade dessa forma.

    — Ah na certa a “tsundere de gelo” tá tentando se enturmar — Disse Carol, em tom de deboche.

    — Não, Carol. Não é do feitio dela. Tem algo estranho nisso tudo.

    — E porque a Milla está tão preocupada assim? — a gata estava quase descobrindo. — Será que ela conhece o Red Mask e vai tentar evitar que o sortudo leve um piau da panda tsundere?

    — Carol, já entendi. Não precisa ficar chamado a Neera disso. Mesmo ela sendo meio durona, é uma aliada.

    — E daí? Ela só gosta da Milla. Da gente ela quer distância…

    — Eu entendo, mas é o jeito dela.

    — Tá, Lilac. Vou pegar leve com ela. Até porque, se eu falar demais, eu que serei esfolada.

    — Tudo bem, chega!

    E ao chegarem até a entrada das dependências da arena, Milla percebe que já era tarde. Seus belos olhos verdes contrastavam com sua temeridade.

    E como esperado, sua mestra já estava na arena, frente a frente com Red Mask. Paralisada por causa da aflição, Carol logo se preocupa com sua amiga:

    — Milla? Oi? Tá tudo bem? Que que houve, kawaiizinha?

    — Eu cheguei tarde… — disse Milla, ainda aflita.

    — Milla, tu tá me assustando. Diz pra gente o que tá acontecendo.

    — Milla, desde que viemos pra cá, você e o Viktor estavam agindo de forma estranha. Poderia me dizer o que está acontecendo? — perguntou Lilac, visivelmente preocupada com toda a situação.

    Milla continuou estática, atônita. Sem expressar nenhum movimento, ficou ali, pensando.

    — “Viktorius, que confusão nós estamos! Agora eu não posso fazer nada e é tudo culpa minha.”

    A dragão púrpura, ainda mais preocupada, foi até Milla, ficando a sua frente.

    Olhando nos olhos da canina, ela insistiu.

    — Milla, cadê o Viktor? E o que está acontecendo?

    — Lilac, eu…— ela tentava falar.

    — Diga, Milla

    A pequena não parecia estar em condições de dialogar, ainda mais observando o que estava acontecendo no Coliseu.

    E justamente sobre isso mesmo, indo até a arena, mostrando os fatos, dizia para todos os telespectadores de Shang Tu e reinos vizinhos, Galv Aon.

    — É uma situação completamente inusitada. Arn Aldun, meu amigo, me diga: isso é permitido?

    — Bem, Galv Aon, permitido é. Só que, como eu disse antes, faltou bom senso. Esse tipo de coisa deixa todo mundo confuso e fere um pouco a credibilidade do torneio.

    — Eu acho que depois dessa podemos esperar que algum dos monges do reino de Shuigang participem também.

    — Não. Aí viraria uma bagunça. Estou certo que dessa vez é a decisão, mas está muito estranho.

    — Bem, como já estamos testemunhando tudo isso, vou dar a palavra a Ever Aldon. Diga a todos o que acha dos dois lutadores.

    — Bem, Galv Aon… Acho que todo mundo já entendeu porque Red Mask chegou onde chegou. Na insistência e no imponderável, conseguiu vencer Gong. Porém com Neera Li as coisas mudam de figura.

    — Como assim? Essa eu não entendi.

    — Neera Li treinou durante toda sua infância e parte de sua adolescência no monastério de Shuigang. São poucos os que têm essa honra. Só isso já daria a Neera uma imensa vantagem.

    A análise precisa do lobo ex-lutador continuou, cheia de informações.

    — Porém ela é a alta sacerdotisa de Shang Tu, tenente do palácio e também atual chefe da força policial do Reino, fora suas outras atribuições. E ela tem pleno domínio do poder do gelo, dom que desenvolveu desde que era uma postulante mirim. Ou seja, ela não é qualquer pessoa.

    — Sim, mas o uso de poderes especiais são estritamente proibidos no torneio.

    — Essa será a única coisa que Red Mask não precisará se preocupar. Mas aí que eu te pergunto, Galv Aon: e o resto? Neera Li é uma das melhores artistas marciais do Reino e de Avalice, e eu só estou me referindo a suas habilidades físicas. Suas habilidades especiais dispensam apresentações.

    — Então seria um duelo desigual, é isso?

    — Não, Galv Aon… Eu seria mais drástico.

    — O que seria então?

    — Será uma execução sumária. Neera Li será a vencedora. O que devemos ver agora é quanto tempo Red Mask vai resistir.

    Pelo visto os comentaristas não eram muito otimistas quanto ao sucesso de Viktor.

    Após o acompanhamento da transmissão de TV, agora as atenções estavam dentro da arena.

    Os dois oponentes já estavam no meio da área de luta, olhando um para o outro.

    E quando o juiz estava prestes a anunciar o início do embate, Red Mask o impediu, dizendo:

    — Ei! Um momento! Um momento, por favor!

    — Hã? O que foi, Red Mask?

    — O que houve? Você ainda pergunta? Olha só pra ela! — disse, apontando para Neera.

    — Hã? O que tem?

    — Vocês estão loucos? Como eu poderia lutar contra uma garota?! Vocês perderam o juízo?

    — Red Mask, não estou entendendo.

    — Como assim? Vocês permitem esse tipo de coisa por aqui? Eu não quero machucar ninguém e muito menos ter na minha consciência o fato de levantar meu punho pra uma dama.

    — Red Mask, melhor retirar o que você disse já, senão terei de desqualificá-lo por falta de decoro!

    — O que? Mas olha só pra ela! Eu nunca poderia agredir alguém como ela!

    Neera Li, que estava pacientemente aguardando o início da luta, não demorou muito para mudar totalmente seu humor.

    Seu rosto já evidenciava uma irritação absurda, franzindo suas sobrancelhas.

    Ela, já não resistindo mais a ficar calada, se manifestou. Sua voz autoritária foi ouvida.

    — Cale a boca, seu miserável!

    — Hã? — disse Red Mask, surpreso com a intimidação.

    — Já estou farta de suas palavras, seu desgraçado! Eu odeio pessoas como você!

    — Olha, moça, eu não queria te ofender.

    Neera então, apontando seu cajado para Red Mask, instantaneamente fez com que sua máscara se cobrisse de gelo, a congelando.

    Viktor logo reagiu.

    — Ei! O que está acontecendo? Como é que minha máscara congelou? Socorro! — ele gritou, tentando retirar a máscara.

    E, ao movimentar suas mãos, as fechando, acidentalmente quebrou a máscara de Red Mask, fazendo com que todos vissem o seu rosto .

    Nem é preciso dizer que a reação das garotas viria logo a seguir.

    — V-viktor? Mas, então… era ele alí o tempo todo?! — disse Lilac, quase tendo um ataque.

    — O piá era o Red Mask? Ele era o Red Mask? — Carol estava na mesma situação que sua amiga.

    Milla, ao ver que todo o plano de Viktor havia desmoronado, não pensou duas vezes: correu até a arena, se aproximando de Neera. A pequena disse, aos berros:

    — Mestra! Mestra! Por favor, me ouve!

    Mesmo longe, a panda conseguiu ouvir os pedidos de sua pupila.

    — Ele não tem nada a ver com isso! Não machuca ele!

    — Milla, não se intrometa. Isso é um duelo — disse Neera, sem desviar o olhar de Viktor.

    — Mas ele não é um… — Milla foi interrompida.

    — Não irei dizer outra vez. Não se intrometa.

    — Mas…

    Lilac, a fim de evitar maiores problemas, foi até Milla, a abraçando.

    Mas no mesmo instante, ela falou com a canina, como se já estivesse ligado os pontos.

    — Milla, você sabia disso desde o início, não é?

    — Lilac, me desculpa!

    — Milla, como pôde? Olha onde o Viktor se meteu!

    — Eu tentei evitar, tentei convencer ele de não participar, mas eu não pude fazer isso. Desculpa! — a pequena abraçou forte a dragão, passando a chorar.

    — Milla… — Lilac a confortou, mesmo após a notícia.

    Carol então se aproximou de suas amigas. Mas suas atenções estavam na panda.

    — Ei, Neera! Esse cara aí tá com a gente. Você não… — a interrupção foi mais brusca em Carol.

    — Ah, então esse indivíduo desconhecido é amigo de vocês? Isso faz todo sentido, sabiam?

    — Olha, não é o que tu tá pensando!

    — Gatinha, eu não pedi sua opinião. Fique de boca fechada!

    — Tá maluca, duas cores? O piá aí não é um inimigo!

    — Já chega! Estou cansada de ouvir idiotices. Juiz, que comecemos com essa luta!

    — Neera, não faça isso! Eu te peço! — disse Lilac, ainda abraçando Milla.

    — Guardas, levem-as até os acentos! E as vigiem! — ordenou Neera, apontando seu cajado aos soldados.

    — O que? Neera, você perdeu a noção? Vai fazer isso mesmo com a gente?

    Mas a panda ignorou qualquer manifestação das garotas após isso, com seus guardas acompanhando-as até acentos próximos a arena.

    A situação não era das melhores.

    Lilac e Carol estavam quase em choque, com Milla escondendo seu rosto com suas mãos.

    A felina verde, que não estava mesmo concordando com nada disso, falou:

    — Lilac, a Neera tá falando mesmo sério. Ela vai varrer o chão com o Viktor!

    — Carol, ia pedir pra você não falar assim, mas é bem isso que vai acontecer. Nós precisamos fazer alguma coisa.

    — Fazer o que? Esses gambé puliça aí tão na nossa cola até se a gente assoar o nariz.

    Milla só se expressava em pensamentos. Parecia mesmo que ela tinha sentido muito com o ocorrido.

    — “O que eu fiz? Viktorius vai se machucar por minha causa. E minha mestra não me ouviu. Ela não gostou do que eu fiz! O que eu vou fazer?!”

    — Lilac, a gente só pode torcer pro Viktor agora – disse Carol, tão tensa quanto sua amiga dragão.

    — Torcer? Você está louca? Não tem como Viktor vencê-la.

    — Não é isso, sua boba.

    — Então?

    — Torcer pra ele sair vivo, porque ele não vai.

    — Carol! Cala a boca! — gritou Lilac, bastante irritada.

    — Tá, tá! Já fechei e joguei a chave bem longe, tá?

    E voltando a arena…

    Viktor estava completamente desnorteado com o que Neera fez.

    Na verdade ele não entendeu o que havia acontecido, pois não tinha conhecimento de que algumas pessoas desse mundo tinham poderes especiais além da velocidade sônica de Lilac ou do poder alquimista de Milla.

    — Como é que você fez isso com minha máscara?!

    O juiz então tomou a palavra:

    — Alta Sacerdotisa Neera Li, porque usou seu poder? Tem conhecimento que não pode usar habilidades especiais?

    — Não se preocupe. Eu conheço bem as regras, talvez até melhor que você.

    — Então, qual sua justificativa?

    — Fazer justiça. Isso está bom pra você? Podemos começar?

    Viktor estava mais confuso com a situação que antes. Sem medir as consequências, ele tentou perguntar do que se tratavam as palavras da panda.

    — Justiça? Mas do que você está falando?

    — Cale-se! Eu não quero ouvir sua voz proferida a mim. Vou fazer com que pague por faltar com respeito.

    — Espera, deixa eu ver se entendi: você quer mesmo lutar contra mim? E, senhor juiz, vocês irão deixar que isso aconteça?

    O juiz respondeu:

    — Red Mask, não sei porque você destratou a senhorita. Caso não se retrate, terei que desqualificá-lo.

    — Ora, me perdoe. Não era minha intenção causar esse mal estar.

    Mas Neera já estava furiosa.

    Talvez Viktor tivesse mais sorte se não tivesse usado de seus princípios.

    Mas agora teria uma reação bem acalorada por parte da panda mestra do gelo.

    — Eu não o perdoo, seu miserável! Juiz, comece a luta!

    — Mu-muito bem! — disse o árbitro — A luta decisiva será entre Neera Li e Re… digo, qual seu nome, jovem?

    Perguntou o juiz, desconfortável como Neera o olhava. Ele esperava pela resposta do jovem.

    — Viktor. Mas é sério que va… — sua fala foi interrompida.

    — Neera Li contra Viktor. LUTEM!

    O jovem sequer pôde perceber a aproximação de Neera segundos depois do anúncio do início da luta, surgindo a sua frente como se fosse mágica.

    Na verdade, sua movimentação era aligeira, como de um lutador ultra treinado e doutrinado.

    E, de uma forma seca e limpa, a panda golpeou Viktor em sua barriga com um soco poderosíssimo. A força foi tanta que foi possível ouvir o ruído do golpe ecoar pelo Coliseu todo.

    Ao ser atingido daquela forma terrível, ele ficou imóvel, ressentido pela dor de ter sido golpeado em cheio. A potência lhe tirou todo o ar, impedindo Viktor de gritar até.

    Por causa disso, um silêncio imperava no lugar, enquanto o corpo inerte do jovem ia ao chão, tão dramático que parecia câmera lenta.

    Neera havia derrubado Viktor com menos de cinco segundos de luta.

    O juiz começou a contagem.

    — Um, dois, três…

    Assim que os acontecimentos ocorreram, as garotas logo tentaram correr para próximo da arena, sendo impedidas pelos guardas.

    Lilac, desesperada, gritava com todo o vigor de seu pulmão.

    — Viktor! Não! Isso não pode estar acontecendo!

    — Tu tá louca, Neera?! — disse Carol, tão desesperada quanto Lilac. — Perdeu a noção de vez!

    — Mestra, não faça isso! Deixa ele em paz! Isso tudo é culpa minha! — Disse Milla, começando a chorar.

    As coisas não iam bem.

    Neera foi implacável em seu golpe, não pegou leve.

    E no chão permaneceu Viktor.

    Toda a arena estava em silêncio.

    Mas a batalha estava apenas começando.

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