Índice de Capítulo

    Enquanto isso, na tribuna real…

    General Gong, como sabido, subiu os andares para conversar com o monarca.

    Já ao seu lado, prestando reverências, já havia começado a conversa.

    — O plano está indo bem. Conseguimos o isolamento, Majestade.

    — Ótimo, General Gong. E sua ajuda foi primordial para o plano.

    — Porém, tenho algo a dizer, senhor.

    — Diga.

    — Esse jovem não demonstra ser quem esperávamos.

    — Gong, eu entendo sua preocupação. E agradeço pelo zelo que teve com a segurança. Entretanto, devemos seguir com o combinado.

    — Neera nunca pega leve, senhor. Por isso estou aqui para perguntar sobre os planos da tenente.

    — Acalme-se, Gong. Ela sabe o que está fazendo.

    — Mas ele pode se machucar.

    — Não se preocupe. Nossa Alta Sacerdotisa é habilidosa.

    — E bem forte, também.

    — De fato, Gong. Bem, acho que o jovem precisará de ajuda para se levantar.

    E voltando a arena…

    Neera, ao derrubar Viktor com seu golpe impactante, deu-lhe as costas e passou a caminhar em direção a saída do ringue.

    Mas antes disso, atentou de dizer ao juiz:

    — Não gaste sua saliva, árbitro. Ele não vai se levantar. O golpe que lhe apliquei foi para deixá-lo incapacitado.

    — Sa-são os procedimentos, senhorita… — o mangusto disse, se sentindo pressionado — Eu devo seguir com o protocolo.

    — Faça como quiser.

    A panda, caminhando de forma elegante, era acompanhada pelo silêncio das arquibancadas

    O público, de forma geral, se sentiu intimidado por sua presença, enquanto o árbitro fazia a contagem.

    Neera, ainda mostrando irritação, pensava:

    — “Esse imbecil chamado Viktor vai se ver comigo depois disso tudo. Mesmo com o plano de Royal Magister em andamento, em algum momento esse miserável irá me ouvir.”

    Viktor se manteve no chão. Porém, não estava inconsciente.

    O jovem, ainda sentindo fortes dores no lugar onde recebeu o soco, tentava raciocinar.

    — “Ela me derrubou com um golpe! — ele pensava. — Um soco que quase me fez apagar de vez! As pessoas daqui são completamente diferentes do meu mundo. Aqui eu não posso menosprezar ninguém, nem pensar em seguir etiqueta de cavaleiros. Essa panda é muito forte! Eu nunca recebi um golpe assim em toda minha vida. Me sinto humilhado com isso. Eu não posso deixar as coisas terminarem assim… Eu não posso desistir!”

    Surpreendendo todo o público, Viktor lentamente se levantava. Com muita dificuldade, diga-se de passagem.

    Cambaleando e puxando o ar, ele se colocou em base de luta, ainda pensando:

    – “Esse golpe que ela me aplicou foi muito poderoso. Eu não sei como estou de pé, mas se eu receber mais um como esse eu não vou conseguir me recompor.”

    O juiz então anunciou:

    — Vi-Viktor se levantou. A luta continua!

    Neera Li manteve-se de costas para Viktor, mesmo com ele se levantando.

    Ela, de olhos fechados, e com um semblante mostrando irritação, expôs sua opinião.

    — Volte para o chão, onde é o seu lugar.

    — Você é bem forte, sabia?

    — Me elogiar não vai te livrar.

    — Eu te devo desculpas, senhorita Neera Li.

    Neera, sem que o desse chances de dialogar, executou um rápido salto para trás, indo em direção a Viktor, executando um chute.

    Por pouco o jovem conseguiu evitar o ataque repentino da bela panda, mas não sem antes sentir o deslocamento de ar do golpe: ele chegou a rasgar parte da vestimenta do rapaz.

    Impressionado com o poder de Neera, Viktor pensou novamente.

    — “Ela é incrível! Não somente é rápida como é bem forte. Seus golpes são precisos. Eu estou em desvantagem. Não! Eu estou em extrema desvantagem. Vencê-la será bem difícil.”

    Ainda colocando-se novamente em base de luta, o rapaz passou a observar Neera Li, que olhava para o jovem segurando seu cajado.

    — Você é patético, Viktor — ela disse, fitando-o.

    — Estou vendo que dialogar com você é inútil — disse, voltando a sua base — Bem, você já me atacou duas vezes. Agora é a minha vez!

    Viktor partiu em disparada contra a panda, que não esboçava nenhuma reação.

    Com o jovem já bem próximo, ele então executou um violento chute contra o rosto de Neera, que se esquivou facilmente, dando um passo para trás.

    Viktor, sem perder tempo, voltou a atacá-la, desta vez de forma mais sequencial: utilizando seus punhos, executou sucessivos golpes, estes sendo esquivados facilmente por Neera, movimentando seu corpo conforme os socos de Viktor eram aplicados.

    — Já vi golpes em câmera lenta mais rápidos que o seu, Viktor. Miséria.

    E, surpreendendo o jovem, assim que ele tentou atingir a tenente com um soco, ela simplesmente aplicou um soco em seu golpe, fazendo com que seu braço fosse arremessado para trás, o desequilibrando.

    Sim, Neera golpeou o soco de Viktor.

    E, por estar completamente exposto, a panda aplicou-lhe um violento soco em sua barriga mais uma vez.

    Instantaneamente, o karateca vai ao chão, inerte.

    O juiz abriu a contagem.

    — Um, dois, três…

    O momento era de desolação por parte de Lilac e das garotas, que observavam a tudo aquilo sem poderem fazer nada para ajudar.

    — Não! Neera, pare com isso!

    — Não adianta, Lilac. A Dona Encrenca tá possuída pelo demônio! — disse Carol, bastante assustada.

    — Não adianta?! Carol, é o Viktor lá na arena! Se a gente não fizer alguma coisa, ele pode se machucar gravemente!

    — Mas porque o piá entrou nessa bagaça? Pera… Milla, tu sabe, né? Vai, diz! Desembucha!

    Embora Carol tentasse conseguir alguma informação de sua amiga canina, Milla não estava mesmo em condições de dizer absolutamente nada.

    Ela se manteve cabisbaixa e nem sequer conseguia olhar para a luta.

    A forma fria com que Neera Li a tratou pelo visto lhe trouxe um sentimento de culpa gigante.

    As coisas estavam mesmo sem controle.

    Viktor se manteve no chão, imóvel.

    A sacerdotisa era absurdamente habilidosa e não estava dando a mínima chance para o jovem que, caído, pensava:

    — “Ela… Ela pode ter rosto de anjo, mas ela é um demônio! Golpeou meu soco, o meu soco! Eu senti todo meu braço perder a força. Meu punho deve ter luxado em três dos meus dedos e perdi a força no meu braço. Eu nem sequer deveria estar acordado. A dor é imensa, como se meus músculos estivessem dilacerados. Mas eu ainda estou acordado! Isso não pode acabar assim!”

    E, quase ao fim da contagem, Viktor se levantou novamente.

    O Coliseu foi a loucura, explodindo em exaltação pela força de vontade do jovem.

    Isso até causou comoção em Galv Aon.

    — É incrível! Nós estamos vendo o que é ser determinado! Embora seja inevitável sua derrota, esse jovem está provando que tem espírito de lutador!

    — É, Galv Aon. Essa determinação é inspiradora. Dá gosto de ver que essa nova geração não desiste nunca e não fica se lamentando. É isso aí, garoto! — disse Ever Aldon, elogiando Viktor.

    E voltando a arena, já de pé, Viktor ficou claro esse seu sentimento de lutador.

    — Eu não vou desistir, senhorita Neera Li!

    — Está certo que quer continuar, Viktor? — disse o juiz, preocupado com o estado do jovem.

    — Sim, eu estou! Oss!

    Viktor estava com seu braço esquerdo machucado, pois não conseguia mantê-lo à frente do corpo, estando pendurado.

    Neera, percebendo isso, usou para provocá-lo ainda mais.

    — Um guerreiro desarmado não tem condições de se defender. Viktor, desista dessa luta.

    — Não se preocupe comigo.

    — Eu não me preocupo com você. Eu só não tolero valentia desnecessária. Você não tem ideia do quão patético é.

    — O que? Eu não admito que diga isso de mim! Tenha honra!

    — Honra? O que você entende de honra, seu insolente? Você está em um estado lastimável depois de receber somente dois golpes. Perdeu seu braço, seu físico já está comprometido. Acha mesmo que me agrada lutar contra alguém fraco?

    — Cale-se! Eu não… — ele teve a fala interrompida.

    Viktor mal conseguiu perceber a aproximação de Neera, que segurou seu braço direito e o arremessou para longe, fazendo-o cair de costas no chão.

    A panda não cessou seu ataque: aproveitando que o rapaz estava caído, executou um salto para trás, visando golpear o jovem que ainda estava no chão.

    E próximo de ser pisoteado, Viktor conseguiu rolar para o lado, evitando o pior.

    Ao aterrissar, um sonoro estrondo é ouvido, evidenciando o poder do golpe.

    O rapaz, olhando para Neera, pensou:

    — “Ela está mesmo disposta a me machucar, não está pegando leve. Eu nem consegui vê-la se aproximar. Ela é um monstro. De longe a melhor artista marcial que tive a oportunidade de lutar. Mas, se eu não tomar cuidado, posso perder meus do que a luta aqui! Ela quer acabar comigo!”

    Neera Li, de costas para Viktor, mostrava serenidade em seu rosto.

    Já mais calma, lhe disse:

    — Desista dessa luta. Meu próximo movimento será para deixá-lo plenamente incapacitado. Quer lidar com essa humilhação?

    — Eu sou um karateca do estilo Shorin Ryu. Meus treinamentos sempre foram para suportar a dor. Então, eu não vou desistir!

    — Idiota. É o que você é — disse, se movimentando rapidamente a ponto de sumir do raio de visão de Viktor.

    Na verdade, a panda se movimentou para um dos lados, tirando qualquer possibilidade de ser vista, indo até ao encontro do rapaz.

    Ela então executou um soco contra o rosto de Viktor, o fazendo recuar, demonstrando que o golpe foi forte.

    Mas seus ataques ainda não haviam terminado: ela o golpeou nas costas com um poderoso chute, fazendo com que o jovem fosse arremessado para frente.

    E, terminando a sequência, ela correu até a frente de Viktor e, fechando com força seu punho, acertou mais uma vez sua barriga com ainda mais força.

    Isso fez com que Viktor fosse ao chão, mais uma vez e, provavelmente, de forma definitiva.

    A combinação de movimentos de Neera foi devastadora, causando até calafrios para o público na arquibancada.

    Lilac e as garotas não resistiram e, ao observar o massacre que Viktor estava recebendo, fez com que todas fossem até próximo da arena, mesmo com o forte aparato dos guardas que tentaram impedi-las.

    A dragão púrpura, desesperada, disse:

    — Neera, pare com isso! Eu te imploro! O Viktor é nosso amigo!

    — Dragão, poupe-me de suas súplicas! E não me culpe pelo que está acontecendo. Foi ele mesmo quem pediu por isso! — Neera falou, se virando para a dragão.

    — Mas ele não tem a mínima chance!

    — Ele não pode se defender, é isso? Então porque está nesse torneio? Por isso mesmo, dragão! Há algo de muito errado nisso tudo. E eu irei ir a fundo quando tudo isso acabar — ela então se dirigiu ao árbitro. — Juiz, abra a contagem e termine logo com essa luta desnecessária.

    — Tu-tudo bem. A-abrirei a contagem. Um, dois, três, quatro…

    Viktor estava mal, pior do que antes.

    Recebeu cada golpe de forma integral, sem tempo para se defender.

    Mas mesmo caído e muito contundido, pensava:

    — “Eu não consigo fazer nada. Ela não é uma adversária qualquer. Eu a menosprezei e estou pagando por isso. Era pra eu estar totalmente quebrado, mas eu ainda estou acordado. Nunca senti tanta dor, mas eu ainda estou acordado!. Eu preciso levantar. Não pode acabar assim!”

    E, surpreendendo a todos no Coliseu, mesmo com muita dificuldade, Viktor se levantou, bastante ferido.

    Um silêncio toma conta de todo o Coliseu, impressionado com a força de vontade do jovem.

    Lilac, ainda desesperada, tentava a todo custo acabar com o combate.

    — Não, Viktor! Não lute mais! Já chega! A Neera é incrivelmente poderosa!

    — Não posso desistir… Não mesmo!

    Mesmo depois de ser totalmente massacrado pelos golpes poderosos de Neera, seu ímpeto ainda continuava intacto.

    Até mesmo Ever Aldon se manifestou:

    — Galv Aon, isso não é normal.

    — Como assim?

    — Já vi Neera Li em outros combates. Poucos lutadores como o Viktor conseguiram resistir a mais de dois golpes dela. Mas esse jovem… Bem ele resistiu a cinco golpes violentos e conseguiu se levantar.

    — Mas Ever Aldon, ele está bastante contundido. Eu acredito que Neera Li esteja até pegando leve com ele e o rapaz está todo machucado.

    — Mesmo assim, existe algo de diferente nele. Pode ser um treinamento específico, sei lá. Mas que bela prova de determinação estamos tendo com ele.

    — E é por isso que eu digo: querem causar confusão num torneio de artes marciais? Vão em frente. Mas, que os lutadores honrem a chama da paixão pela batalha!

    Voltando à arena…

    Viktor estava em frangalhos, mas de pé. Os ferimentos pelo corpo eram visíveis, além de sua respiração ofegante e seu olhar combalido.

    A panda o fitava incessantemente, parecendo procurar por algo oculto.

    — Porque continua se levantando? Porque não desiste?

    — Eu tenho um bom motivo pra não desistir, senhorita!

    — E o que o motiva?

    — Eu devo seguir com meu plano!

    — Seu plano?! — ela explanou, demonstrando curiosidade — Então… Me diga tudo! Qual é o seu plano, seu patife? Eu sabia! Eu sabia que havia algo por trás disso tudo!

    Viktor então, pela primeira vez, mudou sua base de luta: moveu uma de suas pernas para trás, flexionando-a um pouco.

    Colocou seu braço direito para trás de seu dorso e o outro, mesmo contundido, para frente, elevando em antebraço até seu rosto.

    Era uma base defensiva, como assim Neera Li analisou:

    — “O que? Mesmo estando praticamente destruído, ainda tem forças para me confrontar? Não me faça rir, invasor! Já estou farta disso tudo. Já não tenho mais duvidas sobre você, Viktor. Você nunca vai causar mal algum a ninguém dessa cidade!”

    Ela pôs seu cajado apontado na direção do rapaz, como se o estivesse provocando.

    — Eu nunca irei permitir que tire nossa paz! Poderia ter acabado para você de um jeito mais digno, mas irei lhe entregar uma derrota humilhante. Eu irei deixá-lo inconsciente na frente de todos, para que não possa mais se levantar!

    E parecia mesmo que tudo iria se decidir nesse último confronto.

    A base defensiva de Viktor estava mesmo incomodando Neera Li.

    A alta sacerdotisa do reino de Shang Tu, então, correu em direção a Viktor, implacável como estava sendo desde o início dessa luta.

    O karateca, concentrado, parecia ter algo em mente.

    — “Meu último movimento. Minha última alternativa. Como meu mestre me ensinou, só tenho uma chance!”

    Mas antes que pudesse pensar em mais uma de suas estratégias, o jovem percebeu algo inesperado: uma borboleta azul estava exatamente entre ele e a panda, voando sobre o solo do espaço de combate.

    — “Hã? Uma borboleta?! Ela vai ser morta! Eu não posso deixar! Ela não tem nada a ver com isso. Eu preciso protegê-la a todo custo!”

    O rapaz abdicou totalmente da luta nesse instante, correndo em direção a borboleta azul.

    Num movimento de mãos, Viktor conseguiu abrigar a pequena borboleta azul entre suas mãos, a poucos segundos de ser acertado por um violento soco de Neera, que o atinge em seu dorso com toda sua força.

    A intensidade do golpe fez com que fosse arremessado para além da arena, indo para fora do espaço. Seu voo foi longo, o que trouxe terror para quem assistia, do público e as garotas, principalmente.

    Viktor então se chocou contra a parede da arquibancada do Coliseu, caindo em seguida no gramado externo.

    Lilac e suas amigas logo correram para perto do jovem, a fim de ajudá-lo.

    Com o pouco de consciência que ainda tinha, mesmo bastante tonto, ele abriu suas mãos e conseguiu ver a borboleta são e salva alçar vôo, voltando a seu rito.

    — “Eu… consegui…”

    Lilac, Carol e Milla gritaram pelo seu nome, enquanto lentamente ele começava a fechar seus olhos, perdendo os sentidos em seguida.

    Viktor nem mesmo pôde ouvir o anúncio do juiz, pois caiu para fora da arena.

    O árbitro proclamou a vitória de Neera Li.

    E, com isso, o fim do torneio de artes marciais de Shang Tu.

    Um final inesperado.

    E ainda cheio de questões.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota