Índice de Capítulo

    Avalice era um planeta com vários biomas. No extremo noroeste havia as zonas desérticas, áreas com muitas histórias, enquanto no outro extremo encontrávamos terras mais envolvidas por mares.

    Todavia, os acontecimentos que veremos a seguir ocorreram no local considerado “o vento do planeta”, mais precisamente em:

    Planícies de Orvalho | Noite

    Era uma noite bem escura, com a lua encoberta pelas nuvens que passeavam pelo céu naquele instante. Uma brisa fraca balançava as folhas das árvores, assim como o mato rasteiro da região.

    Porém, toda essa calmaria chegou ao fim por um ruído de motor anunciando a aproximação de alguém motorizado.

    Ao fundo, uma moto surgiu, cortando um descampado a toda velocidade.

    Era Carol, uma felina com pelugem verde, olhos azuis e uma longa cauda felpuda, com a ponta em um tom mais escuro.

    Ela vestia shorts da cor verde estilo chinês com uma camisa regata da cor preta e portava como calçado botas de cor verde musgo.

    Além disso, tinha amarrado em seu pescoço um lenço vermelho, que o ostentava para onde fosse.

    Ao chegar até um local de divergência, olhou para um tipo de sensor. Após isso, passou a olhar à região, com árvores ao horizonte, além de pequenas lagoas à margem.

    Ela procurava por algo, mas sua localização estava prejudicada.

    — “Ok, essa leitura do sensor tá estranha — pensou, ainda a olhar o local. — A energia aqui parece mais forte e com um raio maior. Lilac tava certa, não parecia um simples evento.”

    Tomando sua moto outra vez, continuou pelo rastreamento, aumentando a velocidade de sua motocicleta ao contornar uma viela formada por árvores, não muito longe dali, depois de alguns metros.

    Carol desceu de sua moto e começou a caminhar, olhando o tempo todo para o sensor.

    Ainda que não precisasse, mas para ter como recurso, retirou uma lanterna de dentro do bolso de sua bermuda e iluminou o lugar, insistindo mais em sua procura.

    Continuou seu caminho até uma mata mais densa, que tremulava ao vento fresco da noite.

    Adentrava com facilidade, cortando os ramos com suas garras, conseguindo assim penetrar na vegetação densa da região.

    Ao fim, avistou um pequeno riacho, onde emanava um tipo de aura, com pequenas fagulhas indo ao solo. Carol estava surpresa com o ocorrido.

    — Era isso mesmo! Aqui é onde a maior parte da pedra do reino caiu. Caraca, isso é muito maneiro!

    Mas antes que pudesse fazer contato em seu rádio, eis que ouviu ruídos de passos. Ela, ao ouvi-los, precisou tomar uma postura mais cuidadosa.

    — Ah, fala sério! Tava tudo de boa e agora essa? Até parece que foi combinado.

    Os passos ficavam ainda mais próximos, com Carol já se colocando em base de luta, esperando por um embate iminente.

    E eis que, da folhagem de onde veio, apareceram criaturas parecidas com plantas, com corpo humanoide apresentando cipós como pernas e braços e um caule como dorso. Sua cabeça era formada por lama.

    Ao avistá-los, ela tratou de se impor.

    — Mano, como vocês são feios. O que querem aqui?

    Porém, as criaturas ignoravam sua pergunta, como esperado. Pareciam agir sem pensar e investiram contra a felina que, com um salto para trás, se esquivou do ataque.

    Ela, ao perceber que era inútil dialogar e que a luta era inevitável, com os punhos cerrados chamou para o embate.

    — Então tá, podem vir! Hora de jogar o lixo fora!

    Carol, pulando contra as criaturas, executou uma sequência de chutes consecutivos, conseguindo eliminar meia dúzia delas.

    Sua força era incrível. Com suas garras, derrubou mais delas, numa sequência única.

    Mesmo ao ficar encurralada entre os seres, se abaixou e tomou impulso, a saltar para frente e executando um chute lateral rápido contundente, que limpou o caminho.

    Assim que caíram ao chão, as criaturas se desmantelaram, com seus restos de misturando com a mata.

    A gata, com semblante triunfante, comemorou sem cerimônias.

    — Ah, eu sou o terror da floresta! Neera Li morreria de inveja, nyah!

    Mas, de forma abrupta, um estrondo é ouvido no escuro da mata. Evidente que reagiria ao evento inesperado.

    — Ah, droga! O que foi agora?

    Eis que, correndo ensandecido em sua direção, uma criatura quadrúpede muito maior que as demais que havia derrotado justamente no lugar de onde havia lutado antes.

    Ela, olhando ainda mais assustada, não escondeu esse sentimento:

    — Caraca, fala sério, pô. Justo agora que… — Carol interrompeu sua fala, por ter se surpreendido por mais um dos ataques.

    E antes que pudesse dizer mais alguma coisa, assim que iria se esquivar ou atacar a criatura monstruosa, um feixe de luz verde apareceu a sua frente cortando o ar, formando um tipo de barreira.

    O tal movimento se mostrou bem efetivo e poderoso: a criatura, ao se chocar contra a proteção, além de ter seu ataque neutralizado, foi jogado para trás.

    A inércia o fez rolar, se chocando contra uma enorme árvore que ali havia.

    Carol já sabia do que se tratava, deixando aparecer um sorriso amistoso no rosto. Ela estava bem acompanhada.

    — Hehehe. Detonou, Milla. Que isso, hein!

    E aparecendo a sua frente, a executar um pulo, era Milla, uma canina com pelugem marrom, enormes orelhas com cristais nas suas laterais.

    Seus olhos eram verde rubi, possuía uma cauda felpuda e vestia um collant todo preto que lhe cobria parte das pernas e todo seu dorso, com um pequeno agasalho de estilo chinês de cor amarela por cima.

    Milla, um pouco sem jeito pelo elogio de Carol, se mostrou agradecida.

    — O-obrigada. Mas ele ainda não foi vencido.

    — É, tô ligada.

    E ambas estavam concentradas, o suficiente para lutarem. A nova investida do monstro não demorou, investindo contra a dupla.

    Mas, como um raio, outra pessoa passou por entre as duas, golpeando a criatura em uma velocidade incrível, deixando faíscas no solo.

    Com isso, uma explosão ocorreu, eliminando por completo o monstro que, a exemplo das outras criaturas humanóides que Carol havia derrotado, seus restos vão ao chão, se misturando ao solo.

    A própria gata selvagem, despojada como já demonstrou, deu as boas vindas a sua melhor amiga.

    — E no último minuto, para salvar o dia mais uma vez, é a Lilac, a super heroína número um do planeta! — Com uma das mãos, apontou para a jovem que havia chegado.

    À frente das duas, caminhava ao encontro delas Lilac, uma garota dragão com escamas sedosas de tom púrpuro, portando um short azul, com uma camisa branca com detalhes azulados, inclusive combinando com suas botas.

    Seus “cabelos” de cor lilás (que na verdade também eram escamas) completavam seu visual com duas longas madeixas. Sobre sua cabeça, naturalmente, havia dois pequenos chifres de dragão.

    Ela olhou para sua amiga, dando sinais que estava levando a sério a situação.

    — Você é muito boba, sabia?

    — Ué, tô falando mentira? Minha heroína púrpura formosa! — Ela sorriu ao abraçar Lilac.

    — Não exagera, Carol. Estamos em uma missão.

    — Ah, relaxa. Parece até a Milla, que não sabe receber um elogio.

    Milla, até então calada, explicou melhor:

    — Mas eu gosto de elogios. Eu só não sei porque você me elogia tanto.

    Carol, espirituosa como sempre, a abraçou carinhosamente enquanto disse:

    — Porque você é muito forte e bonitinha. Muito fofinha, nyah! — Ela lhe fez cócegas.

    — Ah, pára com isso. Está me envergonhado — Milla tentava se soltar, rindo.

    — Tá vendo? Por isso que você é bonitinha!

    — Tá, para! — a canina gargalhava a ponto de chorar.

    — Hehehe, nyah!

    Cortando o clima festivo de Carol, Lilac tomou a palavra. Havia uma missão a ser cumprida e por isso seguiu com o foco.

    — Carol, conseguiu achar a fonte de energia?

    — Consegui sim. Tá logo ali perto do riacho — Ela apontou para a direção. — Só que essas criaturas foram pura treta e não deu pra te passar um zap. Foi mal aí, falou?

    — Tudo bem. O que me deixou preocupada é que muitos monstros passaram a aparecer por aqui com frequência.

    Após averiguar mais o local, a dragão púrpura continuou sua indagação.

    — Os pesquisadores de Shang Tu disseram que é por causa dos resquícios maiores da pedra que não foram obliteradas na atmosfera, lembra?

    — Tô ligada mas, na minha opinião, eles que deveriam estar aqui, não a gente.

    — Eu sei, Carol. Mas eu prometi que iria ajudar no que pudesse.

    — “Estamos aqui para salvar o dia”, por Sash Lilac. Heroína profissional dot com.

    — Sua boba! — Lilac franziu uma das sobrancelhas, acompanhado por um sorriso.

    — Tamo junto, diva linda!

    Depois da conversa, Lilac e suas amigas se aproximaram do riacho.

    Milla, usando de seus poderes, usou feixes contra a água, fazendo içar um pequeno resquício da pedra do reino.

    A dragão, surpresa com seu poder, justificou seu raciocínio.

    — É impressionante o quão poderosa essa parte da pedra é. Realmente precisamos coletá-las.

    — Essa parada em mãos erradas pode dá ruim, cê é loco — Carol coçou sua cabeça, mostrando preocupação.

    — Pegou a redoma na sua moto, Carol?

    — Ih, esqueci. Pera que eu vou pegar, tá beleza? — Ela saltou o riacho para seguir o caminho de volta.

    — Tudo bem, mas não demore.

    A jovem gata caminhou até sua moto para pegar o item citado por Lilac. Era uma tarefa fácil, mas ela ouviu um ruído vindo da trilha.

    Passou a acompanhar sua origem e, com o tempo, os ruídos ficaram ainda mais nítidos.

    Na verdade, depois de analisar bem, eram sons de alguém correndo.

    Carol ficou em alerta: tomando uma base ofensiva, pressentiu o perigo iminente, se valendo das suas habilidades como felina.

    Foi quando conseguiu ver ao fundo que alguém trajado com um kimono estava vindo em sua direção.

    Sua face estava encoberta pela escuridão do local, onde as luzes do luar ainda não iluminavam.

    Ela, sem pensar duas vezes, foi bastante direta para tratar da suposta ameaça.

    — Ah é, marimbondo? Vem então, péla! — Carol pôs uma de suas mãos na frente de seu dorso.

    Entretanto, ao olhar melhor, percebeu que esse alguém, na verdade, fugia de uma legião de criaturas de vinhas, as mesmas que ela havia derrotado mais cedo.

    Carol não poderia pensar em algo para lidar rapidamente, ainda mais com o histórico passado.

    — Lilac! Milla! — gritou, com suas mãos próximo a boca para amplificar sua voz.

    Suas amigas não tardaram em correr até o local onde ela estava.

    Com a chegada das duas, a dragão púrpura, líder do grupo, agiu prontamente, porém com uma ressalva a seguir.

    — O que houve, Carol? Porque está gritan… — ela interrompeu suas palavras.

    Lilac poderia ser poderosa, e tinha Milla e Carol como fortes aliadas, mas a quantidade de criaturas era enorme.

    Tanto que precisou mudar de postura rapidamente.

    — “São muitos! — a dragão pensava. — E é bem possível que seja por causa da pedra!”

    Mas não eram só as criaturas que trouxeram preocupação.

    Aquele alguém que trajava o kimono passou correndo pelas três, ignorando a presença do trio.

    Lilac, assustada, emoção visível em seu olhar, observou para o rosto da pessoa assim que passou por ela.

    Desta vez foi possível analisar melhor quem seria: era um rapaz.

    — “Quem é ele? Seu rosto é de desespero — ela novamente pensou. — Como se estivesse lutando pela vida. O que está acontecendo aqui?”

    — Garota, se mexe! — bruscamente, Carol puxou sua amiga pelo braço. — deixa de ficar aí paradona feita bocó vendo as coisa feia chegar e vamo metê o pé daqui!

    Aquela região arborizada, cujo solo era acidentado e cheio de pegadas, guardava mais segredos do que imaginavam.

    Não era atoa os cuidados que cada uma tomou para chegar ao local sem que houvesse maiores danos.

    Porém o cenário havia mudado, com mais vieses a serem levantados e, principalmente, os riscos.

    Contudo, no meio de toda a confusão, restou à mente de Lilac a visão daquele rapaz.

    — “Ele está mesmo sem rumo. Acho que… Devemos ajudá-lo também!”

    O trio estava em fuga, mas deixaram alguém que precisava de ajuda para trás.

    Provavelmente haveria uma mudança de planos, se depender de Lilac.

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