Índice de Capítulo

    Voltando um pouco no tempo…

    Momentos antes do locutor anunciar a final entre Viktor e Gong, o jovem se juntou às garotas.

    E, na conversa que teve com Lilac (no capítulo 13), ele comentou sobre algo importante.

    — Tem uma coisa que eu queria perguntar a vocês.

    — E o que seria? — perguntou Lilac.

    — O que é Nirvana?

    — Hã? Onde você ouviu isso?

    — Bem, eu estava no banheiro e ouvi dizerem isso.

    Sabíamos que isso era um pretexto para esconder da dragão a real história, mas sua curiosidade o fez insistir neste assunto.

    Lilac, como boa amiga, lhe respondeu.

    — É a essência das nossas habilidades especiais.

    — Como assim, Lilac? No meu mundo essa palavra tem outra definição, mas, pelo o que você acabou de dizer, se aproxima muito do que eu sei.

    — Só conseguimos desenvolver nossas habilidades especiais após o aflorar do Nirvana. É algo que alcançamos por treinarmos com afinco e determinação. Não é uma coisa fácil de obter, por isso só é realizada após o conhecimento de nós mesmos.

    — Nossa! Isso foi bem profundo, sabia?

    — Mas porque está interessado em saber do Nirvana? Ou no seu mundo você tem habilidades especiais e não nos contou?

    — Não, Lilac. No meu mundo o Nirvana1 tem outro significado, mais espiritual e filosófico. Mas, depois que ouvi o que disse, acho que são coisas diferentes. Ou não. Eu realmente não sei agora.

    — Não se preocupe, Viktor. Com o tempo você vai aprendendo mais coisas de Avalice.

    — Você tem razão. E obrigado pela explicação.

    A dragão sempre manteve um sorriso franco enquanto explicava a seu novo amigo sobre as particularidades do planeta Avalice.

    Era uma terra rica em história.

    O Nirvana era a força motriz das habilidades especiais. Por isso Shion comentou com Viktor sobre isso.

    Avalice era um planeta vasto, com vários sistemas e entendimentos.

    E sua cultura continha diversos elementos fantásticos.

    Era só o começo


    Voltando ao presente…

    A acachapante vitória de Neera, polivalente panda que era extremamente forte, não trouxe surpresas em seu resultado, mas em seu fim.

    Todos que assistiram a final ficaram com sentimentos mistos, entre “aquele tal Viktor era um fracote” e “eu tenho medo daquela panda”.

    Não era para menos: Neera era temida por uns e respeitada por outros. A bela panda possuía uma personalidade bastante pragmática, sendo muitas vezes arrogante e prepotente.

    Mas tinha boas intenções, mesmo que não deixasse isso bem claro a todos.

    O povo de Shang Tu tinha comportamento dividido quanto a Neera Li: uns tinham medo dela, outros um forte respeito.

    O prêmio foi entregue, simbólico. Já que o Reino de Shang Tu era o detentor da Bededst, no fim a espada retornou a zona de proteção, sob os cuidados da própria tenente e do General Gong.

    Minutos depois…

    Na tribuna real do Coliseu, Royal Magister, que acompanhava todo o ocorrido, se levantou e passou a caminhar até a saída.

    Observado por Gong, ele disse:

    — Estou muito satisfeito pelo resultado. O plano foi concretizado. Gong, peça para que Neera Li leve o jovem até o castelo assim que ele estiver melhor, está bem?

    — Como quiser, Vossa Excelência. Mas tenho uma pergunta.

    — O que foi, General Gong?

    — Sobre o que acabamos de ver, Vossa Excelência. A minha teoria não pode ser descartada. A tenente tomou seu juízo, e eu tenho o meu.

    — Acalme-se, Gong. Vamos averiguar tudo. No momento, siga com o ordenado.

    — Afirmativo, Majestade.

    Devidamente escoltado por dezenas de soldados, com Royal Magister se retirou da arena, seguindo para o castelo em seu veículo real.

    Mas as coisas não esfriaram totalmente no Coliseu de Shang Tu.

    Momentos depois…

    Enfermaria do Coliseu | Início da noite

    O lugar, limpo e sóbrio como um hospital, estava silencioso.

    Lilac, Carol e Milla aguardavam ansiosas por notícias da saúde de Viktor.

    Sentadas nas poltronas no saguão, conversavam sobre o ocorrido. O clima não era dos melhores.

    Lilac estava irritada, ainda que tentasse se controlar. A dragão, olhando para suas amigas, falou:

    — Eu juro, Carol: se a Neera machucou o Viktor a ponto de ter de ficar internado, eu vou pessoalmente lá no castelo tirar satisfações com ela!

    — Ih, Lilac. Tô com medo de você. Pra tu falar assim é porque a coisa é séria mesmo.

    — Ela não tinha que ter pegado tão pesado com ele! Tenho respeito por ela, mas há um limite!

    Quem era a mais sensibilizada com toda essa situação era Milla. A pequena ainda se sentia culpada.

    — É tudo culpa minha! — Disse Milla, ainda bastante abatida.

    — Milla, fica sussa — disse Carol, abraçando carinhosamente sua amiga. — Tu não tem culpa de nada. O piá que deve explicações, tá?

    Pelo outro lado, Lilac, a exemplo da gata, também a abraçou. E atenuando a carga emocional que o momento trazia, a dragão buscou explicações.

    — Milla, o que aconteceu? Porque ele entrou nesse torneio? — perguntou Lilac, mais calma.

    — Lilac, Carol… Bem, Viktor me disse que…

    E, antes que Milla pudesse continuar, um dos médicos da enfermaria apareceu. Isso chamou a atenção do trio, pois haveriam notícias.

    — Senhorita Lilac?

    — Sim, sou eu! Como está o Viktor?

    — É sobre isso que eu queria falar. Ele está bem.

    — Bem?! É sério?

    — Como posso dizer… — ele falou, coçando o próprio queixo. — Bem, ele está melhor do que qualquer um aqui poderia imaginar.

    Só em ouvir isso, a dragão, com um só movimento, usou sua velocidade supersônica e entrou no leito onde o jovem estava, indo contra totalmente os protocolos.

    Ela se esquivou categoricamente dos profissionais de saúde do leito, encontrando Viktor deitado em uma das camas.

    Lá, ele se surpreendeu com Lilac surgindo quase como uma flecha próximo onde estava acamado.

    — Hã? Lilac?! — disse o rapaz, surpreso ao vê-la.

    — Viktor, você está bem mesmo!

    — Como você entrou aqui?! Os médicos disseram que… — suas falas foram interrompidas, pois Lilac o abraçou bem forte.

    O carinho que a dragão púrpura teve com ele o silenciou, entendendo seus sentimentos.

    E, entrando ao recinto, estavam Carol e Milla, sendo acompanhadas pelo médico, que disse:

    — Senhorita Lilac, poderia ir mais devagar? Eu não havia autorizado sua entrada. Há normas que precisam ser seguidas.

    — Me perdoe, senhor. Mas precisava ver se ele estava mesmo bem.

    — Ele teve algumas luxações na mão e dorso e seu braço estava deslocado quando chegou aqui, mas já o colocamos no lugar. As dores talvez durem um ou dois dias, mas ele vai ficar bem. Nada muito diferente do que acontece com lutadores.

    — Muito obrigado por ter ajudado, senhor.

    — Disponha — o servo médico se colocou a seu serviço, caminhando em seguida até um balcão. — Eu vou protocolar a alta do paciente, tudo bem? Fiquem à vontade

    Enfim, boas notícias.

    Com Viktor ainda deitado na cama, Carol, sempre ela, brincou com o momento.

    — E aí, piá? Tá pronto pra mais um round?

    — Carol, não é hora pra isso! – disse Lilac, repreendendo sua amiga.

    — Ih, relaxa. O cara tá bem, fica sussa.

    E Viktor a respondeu.

    — Eu estou bem, Carol. Só um pouco triste.

    — Triste? Porque? Tu quase foi morto pela panda tsundere!

    — Carol, já falei pra não chamar a Neera assim! — Lilac estava impaciente com sua amiga.

    — Tá, Lilac. Pô, para de cortar o diálogo! Sabia que essa parada ferra com o ritmo?

    — Do que você está falando? — a dragão não entendeu o que sua amiga quis dizer.

    Todavia, o diálogo de Viktor prosseguiu.

    — Eu nunca lutei contra alguém como ela. A senhorita Neera é fantástica.

    — Piá, aquela pandurona lá é zirimba demais. Pô, tu só sentiu uma fração do que ela pode fazer. Mas, serião, fiquei mó surpresa com você ficando de pé encarando a demônio, nyah! Deu mó orgulho!

    — Sério?! Você achou mesmo que fui bem?

    — Tô falando, tá falado! Mas, uma hora ela batia e na outra você apanhava, né? Dava não, piá!

    Esse foi o momento que Lilac puxou sua amiga pelo lenço em seu pescoço. A dragão não estava de bom humor.

    — Quantas vezes eu vou ter que insistir pra que você não faça das suas? Pare de ficar caçoando dele, Carol!

    — Tá, tá! Desculpa! Pega leve, diva linda, nyah!

    No fim, Lilac respirou fundo e soltou sua amiga.

    Controlando melhor seu gênio, ela voltou suas atenções a Viktor.

    O tom de sua voz, mais acometida, antecedeu uma conversa franca com Viktor.

    — Deveria ter ficado no chão até o juiz terminar a contagem, Viktor. Você não tem ideia de como eu fiquei preocupada com você. A Neera poderia ter te machucado gravemente naquela luta.

    — Mil perdões, Lilac. Mas eu precisava — o rapaz desviou o olhar.

    — Porque? Estou até agora tentando entender essa história. Milla ia me contar, inclusive.

    Os olhos do rapaz tomaram como foco onde a pequena estava. Por isso mesmo, ele a chamou.

    — Milla, vem aqui — ele estendeu sua mão a ela.

    A canina se aproximou do jovem. Muito abatida, ela cobriu seus olhos com suas longas orelhas.

    Viktor, percebendo isso, tratou de abraçá-la, confortando-a.

    — Milla, obrigado por sua ajuda.

    — Viktorius, eu tentei te contar sobre minha mestra, mas eu esqueci. Eu que fui a culpada por tudo!

    — Não, Milla. Você não tem culpa de nada. Eu assumo essa responsabilidade — ele se sentou na cama, puxando a pequena para seu lado — Você só fez o que eu te pedi. O culpado sou eu.

    — Viktorius, você está bem mesmo? — ela perguntou, o abraçando.

    — Estou sim, Milla. Estou acostumado com lutas.

    — Minha mestra é muito forte. Ela te machucou.

    — Não se preocupe. Quem luta espera por isso, então tudo isso não foi nada diferente do que acontece no meu mundo.

    — Viktorius, eu tenho que te pedir perdão!

    — Milla, não tem que me pedir isso. Eu que devo desculpas a todos vocês. Eu deveria ter contado tudo desde o início.

    — Isso! Finalmente! — disse Lilac, o olhando nos olhos. — O que aconteceu, Viktor? Porque entrou nesse torneio?

    — Bem, eu…

    E, antes que pudesse continuar, eis que Neera Li entrou no leito de Viktor.

    — Só eu ou mais alguém aí se ligou que toda vez que vão contar a bagaça que rolou, aparece outro abençoado e interrompe? — falou Carol, com suas habituais traquinagens.

    Causando comoção por parte das garotas, a bela panda abriu caminho até o karateca, dizendo em seguida:

    — Ah, então está acordado. O médico me disse que você havia se recuperado.

    — Neera?! — perguntou Lilac, pasma com a presença da panda. — O que está fazendo aqui?

    — Dragão, não lhe devo satisfações. Estou aqui por causa de Viktor.

    — O que? Por minha causa? — perguntou Viktor, surpreso.

    — Exatamente — a panda se virou para o rapaz, o fitando. — Estou aqui pra saber sobre sua saúde. Você está bem?

    — Estou sim. Obrigado por perguntar, Senhorita.

    — Que bom. Poderia me dizer se consegue se levantar?

    Essa pergunta causou estranheza por parte de todos, inclusive Viktor. Mas ele respondeu.

    — Bem, eu ainda não tentei, mas acho que sim.

    E fazendo a vontade de Neera, Viktor ficou de pé, na frente dela.

    Neera, demonstrando serenidade, continuou.

    — Muito bom. Você conseguiria estender suas mãos de punho fechado para frente?

    — Hã? Bem, posso tentar. Mas, pra quê isso?

    — Você seria capaz de fazer isso ou não?

    Dito e feito, Viktor fez exatamente o que Neera havia pedido.

    E logo veio a surpresa: Neera Li encaixou um par de algemas nos pulsos de Viktor, dizendo:

    — Viktor, você está preso. Tudo o que disser poderá ser usado contra você no tribunal. Recomendo que não resista, para que não seja preciso que o deixe inconsciente outra vez.

    O trio arregalou os olhos no mesmo instante da apreensão de Neera. E, claro, de Viktor também.

    — Mas o que? Eu, preso?!

    — Neera, o que é que você pensa que está fazendo? — gritou Lilac, assustada com o ocorrido.

    — Mestra, não faz isso com o Viktor! — implorou Milla, com terror estampado em seu rosto.

    A panda já levava Viktor, mês com Carol tomando a frente.

    — Tu espanca o cara e depois vem aqui e leva o piá em cana? Tá maluca? — a gata estava incrédula.

    — Vindo de uma arruaceira, não admira que este patife seja o problema.

    — O que? Mas tu tá lelé, duas cores? Viktor é mó escoteiro de tão certinho que é! Como tu vem aqui e se acha na moral de fazer essa papagaiada aí?

    — Cale-se, gata tagarela! Chega!

    Todavia, era fato de que a panda levava Viktor preso. E não havia o que fazer.

    Lilac, olhando para Neera, mostrou que não estava gostando de nada que estava acontecendo.

    — Neera, isso que está fazendo é uma imensa injustiça! Você está cometendo um erro absurdo!

    — Dragão, eu não me importo com sua opinião. Agora, saiam da frente!

    — Neera! — ela encarou a panda, ficando a sua frente.

    — Saia da frente! Eu não irei dizer outra vez.

    — Vai me prender também?

    — Não seria difícil, dragão.

    — Posso pagar pra ver isso, sabia? — Lilac cerrou os punhos, desafiando Neera.

    — Hum… Débito ou crédito? — a panda pôs seu cajado a frente, apontando para a dragão.

    Milla, que até então estava acuada, se aproximou de Neera. A canina disse:

    — Mestra, me leva no lugar dele.

    As palavras de Milla deixaram suas amigas completamente imóveis, até mesmo Neera. Mas seus modos não mudaram por causa das súplicas de sua pupila.

    — Milla, não se intrometa. Eu estou trabalhando.

    — Ele não fez nada demais. Eu sou a culpada.

    — Se quer fazer uma coisa útil, saia da minha frente. Mais tarde prometo conversar com você, em particular.

    — Mas eu estou preocupada com o que está fazendo com o Viktorius. Ele não tem culpa de nada!

    — Ele será bem tratado, eu prometo a você. Porém, tenho um dever a cumprir com meu reino, e assim o farei. Eu entendo seu lado e espero que entenda o meu. Então, afaste-se. Estou fazendo o meu trabalho como oficial da lei.

    Era inútil os esforços de Lilac e suas amigas de tentarem convencer Neera de soltar Viktor.

    A bela panda estava mesmo determinada em cumprir com sua missão, levando o jovem algemado até o veículo do DPST (Departamento de Polícia de Shang Tu).

    O destino: o Palácio Real.

    Entretanto, Lilac não deixaria isso barato. Ema sabia o que fazer.

    — Royal Magister irá nos ouvir. Vamos, não podemos ficar paradas!

    — Sim! Vamo nessa. Milla, sobe na garupa, vai! – disse Carol, já sentada em sua moto.

    E logo as garotas seguiram rapidamente para o palácio.

    Um dia longo, com vários vieses, prosseguiu.

    Perguntas seriam respondidas desta vez?

    1. Nota: de acordo com o budismo, o Nirvana é um estado de calma, paz, pureza de pensamentos, libertação, transgressão física e de pensamentos, a elevação espiritual, e o acordar à realidade. Alcançando este estado, quebra-se o processo de samsara, interrompendo os contínuos renascimentos.[]

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