Capítulo 22 - A nova missão
Palácio Real | Noite
Sala de reuniões

Depois de toda a confusão que aconteceu durante o torneio de Shang Tu, todos seguiram com Royal Magister para a sala de reuniões do palácio.
O lugar era luxuoso e com o que havia de mais tecnológico no reino de Shang Tu. De monitores a gabinetes e sensores, tudo foi planejado para que daquela sala se pudesse obter qualquer informação de forma rápida e prática.
Ao centro do enorme salão havia uma grande mesa oval, poltronas com ornamentos orientais de cor azul, simbolizando as cores características da histórica monarquia de Shang Tu.
Com todos sentados, Royal Magister, em pé, falou sobre toda a investigação que ocorreu até o torneio.
— Como havia dito antes, nós conseguimos rastrear correspondências do ladino chamado Spade. Embora tenha ajudado seu irmão Dail a restabelecer o reinado de seu irmão, voltou a sua vida criminosa.
— Peraí! Tipo, o mané do Spade tinha deixado essa vida — disse Carol, um pouco surpresa.
— Você mesma conhece muito bem Spade. Já deveria saber que ele não se reabilitaria por tão pouco. É um criminoso que deve ficar preso pelo resto de seus dias! — disse Neera Li, mostrando irritação.
— Tu falando assim até parece que não sabe que o “le ninja” ajudou a gente a acabar com o insetão do Brevon — Carol disse, alfinetando Neera.
— Ele agiu por conveniência, gatinha. Acho que é melhor você tirar essa bola de pelos da garganta e parar de falar besteiras.
As duas tinham uma rivalidade bem explosiva. Carol e Neera, na maioria das vezes, viviam disputando egos e essa relação não poderia ser mais instável.
— Ah, como eu gostaria de fazer “1×1” com você, Kung Fu Panda. Só pra tirar essa tua marra à força.
— Será divertido. Venha então — a panda estava mesmo disposta a lutar com Carol, pegando seu cajado.
Todavia, Lilac era a voz da razão de Carol, e a dragão sempre resolvia a disputa entre as duas a tempo da discussão terminar com feridos.
— Vocês duas, parem com isso. Estamos todos do mesmo lado. Carol, não a provoque. E Neera, tenha paciência — Lilac logo tratou de dar um fim em todo o conflito desnecessário.
— Você é uma ótima diplomata, dragão. Eu aceito sua ideia — Neera Li recuou em sua investida, voltando a colocar seu cajado apoiado à mesa.
— Tá, Lilac. Tá de boa. Sempre tá de boa… — Carol também recuou, voltando a se sentar.
A dragão púrpura conhecia muito bem Carol e, quanto a Neera, tinha uma mescla entre forte respeito e intensa rivalidade. Era isso mesmo: Lilac também tinha um relacionamento de rivalidade com a panda.
Mas, desta vez, ela apaziguou bem a situação, como Royal Magister disse.
— Obrigado, Sash Lilac. Bem, eu sei que os ânimos estão um pouco acalorados, mas peço a todos a mais completa atenção e cooperação.
E, até então calado, Viktor tomou a palavra:
— Vossa Excelência, poderia me dizer quem é Spade?
— Spade é um panda treinado pelo clã de ninjas chamado The Red Scarves. Seu mentor, antes de morrer, deu-lhe total autonomia sobre seus comandados e hoje ele é um dos líderes desse clã. E, além disso, ele é irmão de Dail, o jovem monarca do reino de Shuigang.
— Espere, deixe ver se eu entendi: ele é um panda, assim como o irmão dele? Então quer dizer que a Neera também é dessa família?
O comentário de Viktor causou um mal estar com Neera. A panda franziu sua testa em desagrado ao que ouviu. Até mesmo Carol ressentiu.
— Ih, olha o piá falando besteira. Não, Viktor. Embora Neera pareça ser de “uma família muito ouriçada”, ela não tem nada a ver com essa parada que tu disse — Carol explicou ao jovem.
E, para explicar melhor, a panda sacerdotisa disse:
— Viktor, não diga idiotices. Eu sou de Shuigang, de fato. Fui a sacerdotisa do reino, mas decidi vir para Shang Tu há alguns anos atrás. Isso é tudo que precisa saber. Tenha cuidado com o que diz sobre mim.
Terminadas as explicações, Royal Magister voltou a ter a palavra. O monarca sabia que o tempo era importante e se apressou a explicar o seu ponto.
— Continuando, nós usamos vários de nossos agentes para rastrear os membros da The Red Scarves por toda Avalice. Percebemos que todos estavam também atrás dos resquícios da pedra do reino. Bem, nós acreditamos que Spade esteja com várias dessas pedras. Por algum motivo ele as está guardando.
— Mas onde a Bededst entra na história? — perguntou Viktor.
— Essa espada consegue rastrear a pedra do reino. Enfim, se ela tem tais propriedades, também conseguiria rastrear os resquícios, por menor que sejam.
— O que? Mas como?
— Sua lâmina se ilumina ao se aproximar da pedra. Tanto quanto, sua reação se aplica a fragmentos dela. É um subterfúgio esplêndido.
— Nossa! Por essa eu não esperava. É algo incrível!
Lilac, percebendo que o momento era de preocupação por parte de Royal Magister, se levantou. A dragão se aproximou do monarca, buscando demonstrar interesse maior em ajudar.
Era certo que iria divagar sobre o assunto.
— Majestade, acredito que Spade tem uma boa razão para estar fazendo isso. Uma bem ao modo dele.
— Eu também, Sash Lilac. Mas, como Spade é um indivíduo ambíguo, não sabemos suas reais intenções. Os resquícios, por menor que sejam, são artefatos poderosíssimos. Em mãos erradas podem nos trazer problemas.
— Eu entendo. Muito bem, o que podemos fazer?
O regente do Reino de Shang Tu se sentou na poltrona onde era seu lugar, ao extremo da mesa. Desta vez ele daria mais informações do suposto plano.
— Eu gostaria que vocês fossem até o reino de Shuigang para conversar com Dail sobre Spade. É de extrema importância estreitarmos relações investigativas com nossos vizinhos. A guerra contra Brevon por lá deixou cicatrizes que ainda estão sendo curadas.
Carol tomou a frente, fazendo ponderações, por mais inesperado que isso fosse. Foram questões pertinentes.
— Peraí. Tipo, porque a neura de falar diretamente com Dail? Por ele ser o dono do pedaço, acho que Sua Majestade teria essa moralzinha, né? — a gata verde escolheu usar a razão, antes de mais nada.
— É uma boa análise, Carol Tea. Mas o grande problema é com a repercussão que isso iria se tornar. Eu chamaria toda a atenção e, na certa, Spade ficaria sabendo, direta ou indiretamente.
— Tá, mas a gente já tem os sensores pra rastrear. Porque usar a espada?
— Não podemos usar nossos instrumentos em outro país. Isso poderia ser considerado espionagem. Respeitamos as leis locais e não queremos mais problemas. Shuigang é uma grande nação parceira e só queremos sua cooperação.
— É. Tem isso aí. Tá certo.
A eterna rivalidade entre Carol e Neera havia saído da zona de paz. Novamente as provocações surgiram de ambas as partes.
— E lá vem novamente a gata borralheira falar idiotices — Neera Li não perdeu tempo.
— Não comece, gelo seco. Me deixe!
— Do que você me chamou? Quer ser congelada?
— Fica fria! Ops… Você já é fria, né? — disse Carol, mostrando a língua.
Lilac, então, voltou ao seu lugar, dizendo a Royal Magister:
— Majestade, pode contar conosco. Iremos até Shuigang e trataremos com Dail sobre isso.
— Agradeço a cooperação, Sash Lilac. E, por isso, eu emprestarei a espada, caso precisem. Será uma peça fundamental para concluírem a missão, pois ela ajudará se haver resquícios por perto, em Shuigang.
— Tudo bem. Aceitamos essa missão.
A confirmação da dragão deixou o monarca contente. Royal Magister providenciou junto a Neera toda uma estrutura de monitoramento que seria realizada em Shang Tu.
Entretanto, ainda havia ressalvas, levantadas por Magister.
— Preciso avisá-los que a única forma de chegarem até Dail em seu castelo é encontrando o guardião e ganhando sua confiança.
— Entendo. E quem é esse guardião?
— Esse é o ponto que nossa inteligência não conseguiu descobrir. Ninguém sabe quem é o guardião do monarca — ele disse, pensando após sua fala. — “A não ser Neera Li, mas sei que ela não irá dizer por enquanto. Guardiões possuem códigos entre si. Nem mesmo os monarcas estão acima deste protocolo. Conto com seus dons de dragão, Sash Lilac.”
Era esperado que tal pensamento do monarca fosse compartilhado. Lilac tinha uma inteligência acima da média, por isso seu grau de empatia e entendimento era maior que os demais de seu time.
— Então, pra podermos falar com Dail, precisaremos achar o guardião de Shuigang? Mas pra quê isso? Ele deveria ser encontrado no castelo, não?
— Depois de tudo que aconteceu naquele reino, principalmente com o assassinato do Rei de Shuigang, o guardião tornou-se quase como um juiz. Ele vigia a todos na cidade. No mínimo que desconfiar de alguém, essa pessoa deixa de existir. Em outras palavras, seu julgamento primário é posto em prática a qualquer ameaça ao monarca.
— O Reino de Shuigang está desta forma atualmente? — Lilac ficou surpresa. — Nossa, que cruel.
— São suas normas e devem ser respeitadas, Sash Lilac. Você, melhor do que eu, sabe dos percalços do país vizinho. A guerra deixou estigmas.
— Entendo, Majestade.
A conversa não se prolongou por muito mais tempo. O planejamento foi concluído e, após a confirmação, Shuigang seria o próprio destino do time de Lilac.
Além disso, por Viktor ainda estar se recuperando do torneio, seria prudente ajudá-lo a se recompor antes de seguir para mais uma missão, a sua primeira por sinal. Como exigência, Royal Magister insistiu em sua presença no grupo, como condição ao habeas corpus.
Porém, antes que pudessem deixar o castelo, Neera Li foi até o jovem humano, que caminhava junto a Carol, Milla e Lilac.
A panda, educadamente, lhe disse:
— Viktor, poderia conversar com você em particular?
— Senhorita Neera Li?! — ele disse, confuso. — Ah, bem… Tudo bem. Estou à sua disposição.
— Ótimo — ela se virou, começando a caminhar para o sentido contrário do grupo. — Me acompanhe.
Só que Lilac achou isso estranho.
— Neera, o que vai fazer agora? — a dragão estava desconfiada.
— Não se preocupe, dragão. Irei trazê-lo inteiro. Tive a chance de trucidá-lo mais cedo, lembra? Ou você tem alguma objeção?
— Não, tudo bem. Eu confio em você, sacerdotisa Neera.
— Gostei da sua etiqueta.
A panda conduziu o jovem humano até a área onde ficava a chefatura de polícia do palácio.
Chefatura de polícia | Noite
Escritório da tenente Neera
Os dois adentraram em sua sala particular, fechando a porta em seguida.
Viktor, um pouco desconfortável, chegou até a gaguejar:
— O q-que quer conversar, senhorita? Essa sala não me traz boas lembranças.
— Se quiser, pode se sentar. E peço desculpas pelo o que houve nada cedo. Mas você mereceu.
— Hã?! Eu mereci?! Do que está falando? Eu pensei que já tínhamos superado o que houve.
Ela se aproximou dele, olhando para dentro de seus olhos, bem profundamente.
Os olhos roxos penetrantes de Neera causaram calafrios ao jovem, que recuou um passo para trás.
A panda explicou seu ponto de vista.
— Durante nossa luta, eu não gostei da forma que me tratou. Você tem algum tipo de déficit mental?
— Olha, eu não fiz nada daquilo pra faltar com respeito, senhorita!
— Seja honesto em suas palavras. Porque me disse aquilo?
— Senhorita Neera Li, eu não tinha intenção de discriminá-la nem nada. Eu só não me sinto confortável em lutar contra garotas. Em meu mundo existem competições para ambos, por isso estranhei.
— Eu entendi seu ponto. Mas, caso queira mesmo respeitar as “lindas donzelas indefesas” de Avalice, melhor tratar seus oponentes como um só. Tem ideia de que seus critérios não podem ser usados aqui?
— Depois de hoje, sim. Tenho ciência que meu comportamento a desagradou, senhorita Neera Li.
— O que quer dizer?
— Eu a menosprezei, essa é a verdade. Mas acho que já paguei pelo meu erro. Peço gentilmente desculpas pela forma grosseira que te tratei.
Mesmo que o rapaz tenha se retratado, isso não queria dizer que tudo estaria resolvido.
Isso porque Neera era pragmática demais partes meras palavras ditas por um estrangeiro. Sua intenção era além de desculpas.
— Isso não é o suficiente.
— O que eu poderia fazer além de pedir desculpas? Você está ignorando meu pedido de desculpas?
— Não foi o que eu quis dizer, Viktor.
— Então o que foi? Poderia me dizer? O que a senhorita deseja de mim?
— Simples: fique fora de problemas. Me prometa isso.
— Fora de problemas?!
— Prometa que não irá se meter em encrencas nem pensar em fazer coisas inconsequentes como as que você fez hoje no Coliseu. Eu poderia tê-lo ferido de uma forma mais brutal e dolorosa. Você, caso tenha mesmo essa honra como mestre de artes marciais, sabe muito bem de seus limites.
Ele entendeu onde Neera queria chegar.
— Tudo bem. Eu prometo. Não vou me meter em confusões. Está bom assim?
— Por enquanto, sim — ela se virou, indo se sentar em sua poltrona na sala. — Bem, pode ir agora. Está liberado.
Viktor caminhou até a porta que levava ao pátio principal, onde as garotas o aguardavam.
Mas, antes que saísse pela porta, Neera o chamou:
— E, Viktor, mais uma coisa.
— Uh?! O que seria, senhorita?
— Da próxima vez, desista antes que se machuque. Eu não tenho misericórdia por adversários fracos. Peguei bem leve com você para não te machucar gravemente. Fiz isso em respeito a você, embora não merecesse, e principalmente a minha discípula, a Milla. Trate de seguir as leis de Shang Tu, e a de Shuigang também.
Por um instante, Viktor manteve-se em silêncio, fitando Neera.
Seu olhar dizia que não estava gostando do que havia ouvido da panda. Neera meio que o provocou, causando atrito na relação entre eles.
Mas, pacientemente, Viktor se retirou do lugar calado, não respondendo a provocação.
Voltando para próximo das garotas no pátio, Carol logo se aproximou do jovem, dizendo:
— E aí? O que ela te fez?
— Nada. Só conversamos sobre o torneio. Acabou. Já estamos entendidos.
— Sei… — ela o rodeou, perguntando em seguida. — Ela não tentou fazer nada com você, né?
— Não, Carol. Só foi uma conversa amistosa.
— Tipo, ela não tentou fazer nenhuma gracinha, né?
— Carol, onde você quer chegar?
— Ah, sei lá, piá. Ela é tão solitária que eu pensei que… — Carol foi interrompida.
Lilac logo interveio, antes que sua amiga felina dissesse mais besteiras.
— Carol, sua louca! Deixa o Viktor! Para com essa conversa!
— Ah Lilac… Tu sabe que eu gosto de shippar casal, né?
— Pare com essa sua mania feia! Vai deixar o Viktor constrangido.
— Tá, parei. Tu não leva na zuera nem um minuto, hein!
— Sua maluca! Cresça, por favor!
E, surpreendendo a todos, eis que General Gong apareceu no salão.
O grande panda foi até Carol até, dizendo:
— Garota, fiquei sabendo pelo Royal Magister que sua moto foi destruída. Isso é verdade?
— Sim, pô. Mas o que tem, Gong?
— Nosso monarca pediu para que eu viesse até aqui oferecer ajuda. Já contatei nosso centro de tecnologia. Eles irão reconstruí-la.
Carol quase caiu para trás tamanha era sua alegria.
Isso fez até com que, repentinamente, uma espada larga aparecesse em suas costas e cabelos loiros espetados surgissem sobre sua cabeça, com ela segurando a arma branca e a fazendo girar em sua palma quase como mágica.
— Tãtãtãtã, tã tã tã tã tãrã! — ela cantarolou, possivelmente uma fanfarra de vitória de algum jogo de J-RPG — UPEI NÍVEL, PÔ! Agora vi vantagem! Valeu, Gong! Mó sinhozin gente fina, nyah!
— Disponha. Bem, a equipe espera pela sua moto no laboratório. Não demore.
— Pode deixar! Caraca, que da hora é essa gente daqui!
Uma ótima notícia para a gata selvagem, que ainda comemorava.
Sua motocicleta seria consertada, sem custos ao time.
Entretanto, ela não se esqueceu dos acontecimentos que os levaram até o palácio, o porquê de tudo.
E, nesse cenário, uma nova missão estava por vir, em Shuigang.
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